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Introdução de Religiões de Origem Japonesa no Brasil 45 

CAPÍTULO 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA IGREJA MESSIÂNICA NO

1.3 IMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O BRASIL 43 

1.3.1 Introdução de Religiões de Origem Japonesa no Brasil 45 

Muitas foram as transformações radicais às quais o imigrante japonês se sujeitou ao se fixar em terras brasileiras: alimentação, vestimentas, moradia, língua, além de outras vividas no campo da religiosidade.

Diferentemente dos países da América do Norte, onde muitos templos budistas e santuários xintoístas foram erguidos desde a fase inicial da imigração, no Brasil, devido às restrições impostas pelo governo local e ao fato da religião da maioria hegemônica ser a católica, as religiões japonesas eram praticadas informalmente.

A partir de 1918 até o fim da Segunda Guerra Mundial, era proibida a vinda de religiosos japoneses não católicos para o Brasil (MORI, 1995, p. 564). Conta-se que alguns imigrantes comprometeram-se a não fazer pregações de caráter religioso no país. Tais medidas visavam combater o crescente movimento antijaponês. Contudo, a despeito das restrições, algumas religiões japonesas foram introduzidas através de imigrantes. Já em 1914, havia fiéis da Tenrikyo entre os imigrantes japoneses; sendo que, apenas em 1930, após a chegada de famílias missionárias, construiu-se um pequeno local de culto na Fazenda Tietê (atualmente Pereira Barreto/SP). Outro exemplo é o caso da família de Terukichi Oya, adepta da religião Oomoto, que chegou ao Brasil em 1924 mas não se ocupou de atividades de propagação da religião devido às necessidades de sobrevivência (PEREIRA, 1992, p. 149 e 158).

Definitivamente, a fase anterior ao início da guerra (entre 1908 e 1941) não foi favorável à prática religiosa entre os imigrantes japoneses. Desejosos de “fazer a América” e retornar à pátria o quanto antes, seu objetivo maior era a obtenção de êxito no trabalho. No início, houve quem optasse por não construir moradias para o caso de necessitarem mudar de local, conforme as condições de trabalho. Contudo, a realidade da imigração mostrou-se diferente. O período de estadia prolongava-se e muitos colonos tornaram-se produtores independentes passando a constituir colônias, ou seja, a reunir-se em torno de comunidades étnicas. Se, no período anterior à guerra, a maioria dos ritos funerários era feita informalmente e de maneira simplificada, depois da fixação definitiva em terras brasileiras, a questão do culto aos ancestrais passou a ser algo de maior relevância para os imigrantes japoneses.

A partir da década de 30, iniciaram-se atividades religiosas praticadas por budistas leigos independentemente de laços institucionais. Nesta época, apenas alguns santuários xintoístas foram construídos. Em 1928, havia uma movimentação para a construção de um templo xintoísta na colônia Aliança. No entanto, como esta ação violaria a política de assimilação (douka seisaku) brasileira, a construção não ocorreu. A religião xintoísta

desempenhava muito mais uma função social de coesão grupal em torno da veneração do Imperador como uma espécie de deus protetor do povo japonês (WATANABE, 2001, p. 61).

Koichi Mori (1995) propõe uma periodização histórica das religiões japonesas no Brasil dividida em quatro fases distintas. Com base nesta divisão, acrescida de informações obtidas a partir de outros autores, apresentarei uma abordagem geral da vida religiosa dos imigrantes japoneses desde sua chegada ao Brasil até a fase do pós-guerra.

A primeira fase compreende os anos entre 1908 e a década de 1920, época em que os imigrantes estavam voltados para sua subsistência através do trabalho agrícola, de caráter temporário, em fazendas de café com vistas a um breve retorno ao Japão. Segundo Mori, nesta fase, a atividade religiosa teria sido inexistente. Embora houvesse religiosos dentre os primeiros imigrantes, vários fatores teriam contribuído para a falta de atividade religiosa do período.

Registros biográficos do sacerdote budista Tomojiro Ibaragui39, imigrante japonês que aportou em Santos em 18 de junho de 1908 e posteriormente reconhecido como fundador da

Honmon-butsuryu-shu no Brasil (um dos ramos do Budismo japonês), apontam a dificuldade

de se propagar uma religião naqueles tempos:

Não faltava a vontade de fazer a conversão de novos fiéis, mas o ambiente não era propício para tal; as pessoas que passam a viver em um país estrangeiro, em virtude de seu isolamento, acreditam mais em suas próprias forças, não tendo a serenidade de espírito suficiente para compreender a necessidade de se praticar a fé (NAKAMAKI, 2002, p. 80).

Por outro lado, a política de imigração do governo japonês inibia qualquer tentativa de criação de comunidades religiosas em um país católico temendo a criação de problemas diplomáticos, a exemplo das religiões Tenrikyo e Honmon–butsuryu-shu, que tiveram seus

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pedidos de autorização para criação de comunidades religiosas negadas pelo Ministério das Relações Exteriores (IDEM, p. 80-82).

A segunda fase, que abrange as décadas de (19) 20 e 30, caracteriza-se por atividades religiosas nas colônias de imigrantes, sobretudo, no interior do Estado de São Paulo. A divulgação era feita através dos fiéis de forma não sistemática e isoladamente. Na ocasião, mesmo as colônias maiores não tinham condições financeiras para sustentar sacerdotes. Além da Honmon–butsuryu-shu, anteriormente citada, desenvolveram-se as religiões Tenrikyo (cujos fiéis se dedicavam à expansão desde o início da imigração), a Oomoto, que iniciou atividades a partir de 1924, e a Seicho-no-Ie, que começou a se propagar em 1930 (IBIDEM, p. 89).

A terceira fase corresponde ao fim da década de (19)30 até o início dos anos (19) 50, tendo sido marcada pela política nacionalista do governo Vargas. Dentre as várias medidas restritivas em relação aos imigrantes, destacam-se a proibição do uso e o ensino de língua estrangeira bem como a publicação de jornais, além da aglomeração de mais de três imigrantes num mesmo recinto. Em 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Japão, o que acarretou o congelamento de bens de capital japonês e a proibição de viagens sem a licença da polícia para cidadãos provenientes de países do Eixo. Esta fase também foi marcada pela disputa entre “derrotistas” e “vitoristas”40 ― um problema complexo de ordem social que abalou profundamente a colônia japonesa. Diante de tantas condições desfavoráveis, é natural que a propagação de religiões japonesas não corresse a contento. A quarta fase, a partir da década de (19)50, caracterizou-se pela intensificação da migração de japoneses para centros urbanos e pela sua gradativa ascensão social. A partir de então, não somente a realidade sócio-econômica dos imigrantes japoneses se alterava: o panorama religioso do período subseqüente também sofreu grandes transformações. Mori

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aponta o fenômeno usando a expressão “ressurreição das religiões japonesas”, que me soa por demais ampla pois engloba tanto religiões estabelecidas como o Budismo e Xintoísmo como as NRJ, que, conforme a época de surgimento, são completamente distintas. Além deste fator, estudos recentes sobre o Budismo no Brasil apontam que, anteriormente à década de (19)50, o Budismo de imigração ou de “raízes étnicas” já assumia dois contornos: um familiar, antes da organização oficial dos cultos, e outro missionário, cujo fluxo maior desencadeou-se a partir de 1940 (GONÇALVES, J.A.T., 2002, p. 109).

Independentemente das categorias para efeitos de sistematização, é importante salientar que a efetiva introdução das NRJ no Brasil deu-se, em sua maioria, no pós-guerra, a exemplo da Igreja Messiânica (1955), Perfect Liberty (1957), Soka Gakkai (1960), Konko-kyo (1964), Rissho Kosei-kai (década de 1970), Sekai Mahikari Bunmei Kyodan (atualmente chamada de Sukyo Mahikari (1974), Reiyukai (1975), GLA (1977), Shuuyoudan Houseikai (1981), Ciência da Felicidade (década de 1990), Agonshu (1990), além de outras organizações não registradas como instituição religiosa como é o caso da Moralogia (1963) e Shuuyou-dan (N.T: grupo de aperfeiçoamento espiritual) (1971) (WATANABE, 2001, p. 65-66).

Quadro 1

Religiões Japonesas no Brasil

Ano de

Introdução Fatos relacionados a cada religião japonesa

1908 Budismo – Honmon Butsu-ryu-shu. O monge Ibaragui Nissui imigra com aspirações à prática missionária. Início das atividades – a partir da década de (19)30

1926 Oomoto – Membros imigram com aspirações à prática missionária. Início das atividades – a partir da década de (19)30

1929 Tenrikyo – Nove famílias de membros imigram com aspirações à prática missionária 1931 Oomoto – Construção do Jinrui Aizen-do

1935 Tenrikyo – Construção da Grande Igreja Noroeste.

Brasil. Autorização para a construção da filial brasileira

1939 Budismo – Shingon-shu. Construção da filial brasileira do Koya-san Taishi 1949 Xintoísmo – Introdução da Confraria Yasukuni

1951

Seicho-no-Ie - Constituição da Associação Brasileira da Seicho-no-Ie. Autorização para a

criação da Seicho-no-Ie do Brasil

NRJ surgida no Brasil – Construção do Templo Kannon (Seibo Kannon). Em 1958,

torna-se filial do Templo Asakusa.

1952 Budismo - Início das atividades da Shinsho-Otani

1954 Budismo – Início das atividades da Jodo Shinshu Honganji

Budismo - Início das atividades da Jodo-shu e Nichiren-shu

1955

Budismo - Início das atividades da Soto-shu Oomoto – Instalação da Oomoto Nanbei Shu Kai

Tenrikyo – Instalação do Dendo-cho da Tenrikyo do Brasil IMM – Início da difusão da Igreja Messiânica

1957 PL – Início das atividades da Perfect Liberty (PL)

1958 Budismo – Instituição da Federação das Seitas Budistas do Brasil 1960 Soka Gakkai – Instalação da filial brasileira da Soka Gakkai

1961

Xintoísmo – Construção do Templo brasileiro Ishizuchi

NRJ surgida no Brasil – Construção do Templo Tendai-shu Jyoganji Fudoson (Em 1975,

filia-se ao Templo no Japão) 1963 Moralogia (Shuuyou)

1964 Konko-kyo – Construção da Igreja Birigui, da Konko-kyo

1965

Seicho-no-Ie – Construção do Santuário Hozo (N.T.: dedicado ao culto aos antepassados) NRJ surgida no Brasil – Templo Kaminoya (ou Templo Iwato), filial do Templo Ise, no

Japão

1966 NRJ surgida no Brasil – Instalação da Inari-kai

1970 NRJ surgida no Brasil – Instalação do Templo xintoísta Wakyo Daijingu 1971 Kosei-kai – Instalação da Risho Kossei-kai do Brasil

Shuuyou-dan – Entrada de grupos de aperfeiçoamento espiritual

1974 Mahikari – Início das atividades da Sekai Mahikari Bunmei (nome atual: Sukyo Mahikari) 1975 Reiyu-kai – Instalação da filial brasileira da Reiyu-kai

1977 GLA – Início das atividades da GLA – God’s Light Association

1979 Xintoísmo – Templo Konpira, criado pelos membros de Kagawa Kenjin-kai (Associação de Nativos da Província de Kagawa)

1981 Hosei – Início das atividades da Hoseikai, com objetivos de aperfeiçoamento espiritual 1990 Agonshu – Construção do Templo Agonshu