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Inventários de Interesses e de Valores Vocacionais

A avaliação dos interesses e dos valores relativos ao trabalho e à carrei- ra constitui um dos principais contributos da Psicologia Vocacional para o domínio da avaliação psicológica. É um facto bem conhecido que a maior parte da investigação sobre a medida dos interesses tem sido realizada por psicólogos vocacionais, desde que nos finais dos anos vinte, do século passa- do, E. K. Strong, Jr. desenvolveu o inventário de interesses mais provecto da história da avaliação de carreira. Os interesses e os valores (juntamente com

as necessidades) são características do funcionamento psicológico, geralmen- te, classificadas no domínio da motivação humana. A motivação refere-se aos processos e factores que permitem explicar aspectos importantes do com- portamento, como a direcção, o esforço e a persistência ou perseverança pe- rante situações desfavoráveis, ou adversas. Por vezes os conceitos de interes- se e de valor são tratados como equivalentes, todavia, constituem constructos distintos (Dawis, 1991; Rokeach, 1973). Os valores são os objectivos que as pessoas almejam alcançar, enquanto que os interesses são as actividades e os objectos através das quais os indivíduos procuram atingir os objectivos, ou metas, quer no trabalho/carreira, quer noutras esferas da vida. Dito de ou- tras forma, os valores revelam-nos o que é importante para as pessoas (e.g., independência, variedade, prestígio), ao passo que os interesses revelam os meios que os indivíduos gostariam de utilizar para alcançarem os seus objec- tivos finais (e.g., ser o Administrador Geral de uma das 10 principais em- presas nacionais, para alguém que valoriza o prestígio). Tradicionalmente, a avaliação dos interesses tem predominado sobre o exame dos valores. Todos os anos milhares de estudantes portugueses respondem a inventários de inte- resses vocacionais, com o objectivo de “descobrirem” quais os seus gostos ou preferências, a respeito de múltiplas actividades profissionais. Em contrapar- tida, os inventários de valores só esporadicamente serão avaliados nos SPO´s, na maioria das escolas nacionais. No entanto, com as transformações e mudanças aceleradas nas carreiras, determinadas pelo advento da socie- dade pós-industrial, alguns autores defendem que a avaliação dos valores, rapidamente alcançará uma posição central, no conjunto das estratégias que serão mobilizadas pelos psicólogos para ajudarem os seus clientes a gerirem eficazmente as suas carreiras.

A avaliação dos interesses vocacionais, no nosso país, está menos desen- volvida que a área da inteligência e das aptidões, apesar dos esforços apre- ciáveis que têm sido feitos por alguns autores, desde a década de noventa, do século passado, (Ferreira e Hood, 1995; Leitão e Miguel, 2001; Taveira, Nu- nes, Mesquita, Alves e Milhazes, 1995; Teixeira, 2000). A avaliação neste do- mínio, crucial para uma escolha vocacional cientificamente fundada, é, ainda neste momento, realizada em muitos SPO’s, com base em versões experimen- tais, não comercializadas, de inventários de interesses. De seguida, vamos analisar, com maior detalhe, dois dos mais populares instrumentos desta cate- goria.

California Occupational Preference System – Interest Inventory (COPS) [re- nomeado Career Occupational Preference System, ou COPSystem Interest In- ventory: Knapp e Knapp, 1976; Knapp-Lee, 2000]. O Inventário de Interesses

do COPSystem faz parte de um programa compreensivo de orientação de carreira que, para além dos interesses vocacionais, avalia, igualmente, as ca- pacidades (CAPS: Career Ability Placement Survey) e os valores (COPES: Ca- reer Orientation Placement and Evaluation Survey), tendo sido desenvolvido com a intenção de ajudar os indivíduos (alunos do ensino pré-universitário, universitário e adultos) no processo de tomada de decisão de carreira. Em Portugal, existe apenas uma versão experimental do Inventário de Interesses (COPS) que, apesar do seu estatuto algo provisório, tem sido amplamente uti- lizada na avaliação de carreira de jovens e jovens adultos (segundo os dados do inquérito realizado por Cussecala e colaboradores, acima referido, o COPS é o inventário de interesses mais frequentemente utilizado pelos Psicólo- gos integrados na CAE de Coimbra). Actualmente, a EdITS comercializa diver- sas formas, revistas e novas, para avaliação dos interesses (cf. Knapp-Lee, 2000). O COPS foi construído, nos finais dos anos 60, como medida dos inte- resses dos indivíduos nas oito dimensões, ou clusters de interesses, propostas por A. Roe: Ciência (A); Tecnologia (B); Economia (D); Secretariado (E), Arte (F); Serviços (G); Ar Livre (J); Comunicação (L). Para além destes oito agrupa- mentos principais existem outros seis sub-clusters, que resultam do desdobra- mento de alguns dos grupos anteriores, e dizem respeito a actividades profis- sionais com níveis educacionais mais baixos de preparação: Ciência (Preparação técnica, H); Tecnologia (Preparação Técnica, I; Economia de mer- cado e de consumo diário, C); Economia (Preparação técnica, K); Arte (Prepa- ração técnica, M) e Serviços (Preparação técnica, N).

Taveira e colaboradores (1995) realizaram o primeiro estudo de valida- ção deste instrumento numa amostra de 852 alunos de ambos os sexos, que frequentavam o 9º, 10º, 11º e 12º anos de escolaridade em estabelecimentos de ensino, públicos e privados, de Braga. Recorrendo à análise factorial, os autores extraíram 9 factores que contribuíram para explicar cerca de 52.1% da variância total. Com a excepção do factor 9 (integrando maioritariamente itens do cluster Economia de mercado e consumo diário), a maior parte dos restantes itens mostraram correlações significativas num dos oito agrupamen- tos principais (a sub-divisão por níveis de formação não foi corroborada). Os autores concluíram que a consistência interna dos nove clusters era suficiente, justificando a utilização do instrumento com fins aplicados (alfas entre .83 e .94).

Interesses e preferências Profissionais (IPP: De La Cruz, 1993/2001). Este inventário, comercializado em Portugal pela CEGOC-TEA, foi desenvolvido em Espanha, no início dos anos 90, por De La Cruz, e desde que foi adapta- do para Portugal tem vindo a registar uma forte utilização na avaliação de

carreira, por parte dos profissionais dos SPO’s (e.g., Cussecala et. al., 1999). O inventário permite avaliar os interesses dos indivíduos, jovens (a partir dos 13 anos) e adultos, em 17 campos profissionais (e.g., Científico-Experimental, Científico-Técnico, Literário, etc.), utilizando como estímulos títulos de profis- sões e actividades/tarefas profissionais. O relatório técnico apresenta infor- mação detalhada sobre o estudo de adaptação realizado no nosso país, no- meadamente, estatísticas relativas a diversos parâmetros dos itens e das escalas do inventário (por exemplo, os coeficientes alfa de Cronbach, variam entre .61 e .85, encontrando-se a maioria acima de .70). O manual portu- guês contém tabelas com normas diferenciadas, para os distintos campos, se- gundo o ano de escolaridade (do 9º ao 12º ano) e o género. Existe uma dis- quete para a realização da cotação automática das respostas.

Há outros instrumentos validados para a população portuguesa que, mes- mo não sendo tão utilizados como os dois referidos nesta súmula, merecem maior atenção no futuro, por parte dos Psicólogos Vocacionais. A título de exemplo, destacamos os seguintes:

• Inventário de Interesses Vocacionais de Jackson (Teixeira, 2004b) • Inventário de Interesses Vocacionais (Ferreira e Hood, 1995)

• Inventário de Interesses Vocacionais de Amsterdan (Evers, Miguel e Lei- tão, 2000).

As medidas dos valores do Trabalho/Vida podem ser utilizadas na ava- liação de carreira, como os interesses, para ajudar os indivíduos a discrimina- rem entre diferentes fileiras educativas (e.g., áreas de estudos, cursos) e distin- tos sectores de actividade profissional, defendendo alguns autores, inclusive, que os valores profissionais suplantarão os interesses nessa função. Apesar de serem menos frequentemente avaliados que os interesses, há, em Portugal, uma forte linha de investigação sobre os valores, que se tem desenvolvido no contexto de estreitas relações internacionais (e.g., Duarte, 2004; Marques, 1980/81/82,1995). A construção de escalas de avaliação dos valores e de outros instrumentos similares (e.g., o Inventário sobre a Saliência das Activida- des) foram alguns dos resultados importantes do envolvimento dos portugue- ses no Work Importance Study (WIS).

A Escala de Valores WIS (edição de 1981) permite avaliar 21 valores (e.g., Utilização das Capacidades, Realização, Promoção, Estético), nove dos quais podem considerar-se intrínsecos e os restantes extrínsecos. Dentro de ca- da escala respectiva, os primeiros cinco itens revestem-se de carácter geral e os cinco últimos estão estreitamente ligados ao trabalho. O estudo de valida- ção nacional incidiu sobre 3 amostras (estudantes do 9º, do 12º ano e adul-

tos), tendo as análises revelado que a precisão das escalas é, em geral, ade- quada (as medianas dos coeficientes alfa nas três amostras são .83, .85 e .79). Outros estudos realizados, nomeadamente, no âmbito de dissertações de mestrado, têm mostrado a robustez teórica e empírica dos constructos psicoló- gicos avaliados.

Para além da Escala de Valores WIS existem outras escalas e inventários validados para a população portuguesa, nomeadamente:

• Inventário de Valores Pessoais (L. V. Gordon; CEGOC-TEA) • Inventário de Valores de Vida (LVI: Almeida e Fraga, 2004)