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Capítulo III Situação sociolinguística de Angola

LÍNGUAS Kikongo

3.3. Realidade histórico-social geral de Luanda

3.3.2. Luanda: aspetos sociológicos e sociolinguísticos

3.3.2.2. Línguas estrangeiras presentes em Luanda

O quadro sociolinguístico de Luanda remete-nos também para o uso de línguas estrangeiras (LE) nessa cidade, em consequência não só da presença de indivíduos de outros países, mas também do facto de essas línguas serem faladas por alguns luandenses, aprendidas localmente, na escola ou noutras situações. Assim, uma breve reflexão se impõe, para a compreensão dos contextos de uso e a relevância social das mesmas na sociedade em análise.

As várias LE em presença são usadas concretamente na comunicação externa ou com os estrangeiros que vivem ou trabalham em Luanda, oralmente ou por escrito, sobretudo por pessoas com grau de escolaridade médio ou alto (aspeto não necessariamente ligado à classe social). As esferas de uso são diversas, vão desde a

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comunicação institucional (sobretudo na diplomacia), diferentes atividades laborais (com ênfase para as áreas dos hidrocarbonetos e construção civil), comércio, igreja, imprensa (rádio e TV), até a Internet e outras tecnologias afins. Para aquelas LE ensinadas na escola, no entanto, este espaço não constitui um contexto de uso, mas apenas de aquisição, pois não há comunicação através das mesmas fora das aulas, tão pouco elas servem como meio de ensino, mesmo nas universidades.

O seu nível de expressão e a relevância social são diversificados, havendo línguas mais usadas e mais relevantes do que outras, embora não tenhamos dados palpáveis para provar esta constatação. Sendo assim, passamos apenas a apresentar alguns aspetos específicos de cada uma das seis LE mais presentes no panorama linguístico de Luanda: • Árabe: esta língua é falada principalmente por imigrantes muçulmanos, provenientes maioritariamente de países da África Ocidental e do Médio Oriente, que se dedicam ao comércio diverso; é mais usada nas mesquitas construídas em alguns bairros da cidade, onde a presença desses indivíduos é bastante significativa. Mas, aos poucos, alguns angolanos vão aprendendo a falar o árabe, uma vez casados com esses imigrantes ou trabalhando para eles, ou ainda convertendo-se ao islão.

• Chinês: é falado pela comunidade chinesa, fortemente presente nesta cidade. Nos últimos tempos, Luanda e todo o país vão recebendo milhares de chineses que trabalham em várias áreas, mas sobretudo na construção civil e no comércio137. As marcas

dessa língua asiática são notórias no contacto diário entre os angolanos e os chineses, na interação laboral, quando até os nativos são levados a experimentar algum chinês138. Mesmo não sendo tão influente, nota-se também a presença dessa língua nas inscrições em placas publicitárias, espalhadas por toda a cidade, e em rótulos de produtos importados da China. Já se ensina formalmente essa língua, através do Instituto Confúcio, instalado numa das universidades de Luanda.

• Espanhol: já foi muito falado no passado, logo após a independência até o final da década de 90, por milhares de cubanos, enviados para Angola, como militares ou como cooperantes nas áreas da educação, saúde, construção civil, etc. Nas últimas décadas, essa

137 Considera-se Angola o segundo destino preferido da emigração chinesa em África, depois da África do Sul, e estima-se que trabalham no país cerca de 200 mil chineses

(http://www.plataformamacau.com/angola/200-mil-chineses-ja-trabalham-em-angola; acesso: 01.02.2017). 138 Nestes casos, a comunicação só é possível, recorrendo-se a uma variedade simplificada do português, sobretudo da parte dos chineses. É possível falar-se, portanto, da emergência de um pidgin “português- chinês” local, por solidariedade comunicativa de ambas as partes, como meio de facilitar a interação.

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presença reduziu-se e o espanhol continua a ser falado residualmente em situações de comunicação esporádicas pelos antigos estudantes em Cuba e pelo número razoável de cubanos que contiuam a residir e trabalhar em Luanda.

• Francês: a língua francesa é uma das duas LE constantes do currículo escolar e ensinada desde a sétima classe. Trata-se de uma língua com uma presença bastante notória no panorama linguístico luandense, não pelo seu uso em alguns contextos particulares por indivíduos escolarizados, mas sobretudo por estar fortemente implantada na comunidade de angolanos regressados da RDC e de outras diásporas francófonas, assim como por milhares de congoleses que vivem em Angola. O seu ensino é também apoiado pela ação da Alliance Française, através de cursos intensivos e de formação de formadores.

• Inglês: também constante do currículo escolar, igualmente a partir da sétima classe, é falado por angolanos da classe média-alta, em vários contextos, mas sobretudo em ambientes de negócios e atividades ligadas à exploração petrolífera. No entanto, a maior influência dessa língua no quotidiano dos luandenses, sobretudo dos jovens, provém dos diferentes produtos audiovisuais de origem americana, com destaque para a música, o cinema e o uso da Internet e de outros meios digitais. O ensino do inglês, que começou nos anos 80 do século passado, hoje, massificou-se, e muitos indivíduos aprendem-no em várias escolas particulares, espalhadas por quase toda a cidade.

• Lingala: esta língua banta, originária da RDC, tem uma forte implantação em algumas zonas de Luanda, constituindo mesmo um elemento identificador de certas comunidades bem definidas. Objetivamente, os falantes do Lingala repartem-se em dois grupos: um constituído por angolanos regressados da RDC e aqueles que contactam com a população congolesa, em zonas de comércio fronteiriço; e outro, formado pela vasta comunidade de congoleses imigrados em Luanda. Restringe-se mais à comunicação oral e usada em contextos informais, como ambiente familiar, negócios e cultos religiosos.

Com esta breve descrição, podemos concluir que luandenses e estrangeiros podem interagir através de outras línguas que não sejam o português ou as LN.

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