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Mudança lexical, criação neológica, inovação lexical

Capítulo I Questões introdutórias ao estudo

1. Alguns conceitos de base e especificação do objeto de estudo

1.2. Mudança lexical, criação neológica, inovação lexical

Nesta subsecção, privilegiando os aspetos que mais se adequam ao nosso estudo, fazemos algumas considerações sobre mudança no léxico e inovação lexical. No conjunto dos empréstimos lexicais das LBA, muitas das palavras sofrem transformações estruturais, categoriais e de significado. Por estas razões pode afirmar-se, assim, que as vertentes da mudança e da inovação lexical da subvariedade do português em análise são relevantes, enquadrando-se numa situação condicionada por fatores extralinguísticos que marcam a situação histórica e sociológica de Luanda.

A mudança por contacto, à qual estão sujeitas inúmeras línguas, tem sido objeto de muitos estudos, procurando-se compreender as causas e as consequências desse mesmo fenómeno (cf. 2.2.2). Essa mudança pode incluir inovações por influência de línguas ou variedades com as quais a língua de dada comunidade estabelece contactos mais ou menos prolongados e mais ou menos intensos.

Milroy e Milroy (1985:347-348), escrevem, sobre a relação entre inovação individual e sua extensão ou não à comunidade, o seguinte:

As inovações dos falantes, como outras inovações, podem ser classificadas em termos do seu sucesso na subsequente difusão: (1) uma inovação pode não se difundir, ficando restrita ao falante que a produz; (2) uma inovação pode difundir-se numa comunidade com a qual o falante tenha contacto, mas não ir mais adiante; (3) uma inovação pode difundir-se numa comunidade com a qual o falante tenha contacto e, posteriormente, passar dessa comunidade para outras comunidades através de um falante inovador adicional que tenha laços com ambas as comunidades relevantes. Quando os resultados desse processo são

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observados, tendemos a rotulá-los como "mudança linguística". O conjunto de comunidades através das quais tal mudança se pode difundir é, em princípio, infinito, e embora restrições linguísticas e sociais sobre a mudança possam ser especificadas em alguns casos, os limites da difusão POSSÍVEL não podem ser estabelecidos com precisão, seja em termos de espaço e tempo seja em termos de situações linguísticas ou sociais que podem favorecer ou desfavorecer a mudança (t.n.).

A mudança e a inovação operam em todos os domínios da gramática, embora com maior visibilidade no léxico, domínio que, como já notado, é de natureza a facilitar esses processos, nomeadamente pelo facto de o dicionário/léxico mental refletir as representações dos falantes e a designação das entidades da realidade, elas mesmas sempre em mudança. Deste modo, qualquer alteração dessa realidade afeta direta, rápida e fundamentalmente as unidades que constituem o sistema lexical (Correia 1998:59; Thomason 2001:64; Correia e Lemos 2005:10) e novas unidades lexicais são ou podem ser introduzidas no léxico da língua, enriquecendo-o.

O processo de inovação pode envolver a reativação de determinadas palavras desusadas, passando-as para o léxico corrente (quer individualmente quer coletivamente), a criação de novas palavras, a partir das palavras vernáculas já existentes ou das suas bases morfológicas, a diferente utilização dessas mesmas palavras (constituindo neologismos semânticos) ou a adoção de palavras de outras línguas (consideradas empréstimos) com ou sem adaptação à gramática da língua de acolhimento. Todos esses processos apelam à própria criatividade lexical dos usuários da língua, por razões diversas e em contextos diferentes.

Nesta tese, interessam-nos os empréstimos lexicais. Estes elementos constituem um dos aspetos da criação neológica das línguas (Correia e Lemos (2005:17-18) e é nessa perspetiva que se consideram como um dos mecanismos de inovação lexical; trata-se consequentemente de um dos principais processos de evolução e de mudança linguística (Karaağaç 2009:154), a par de outros, mencionados em 1.3.4, sobre o português.

O conceito de inovação lexical é aqui tomado como “forma ou construção nascida de uma mudança linguística, criada no interior de um determinado sistema linguístico, ou tomado como empréstimo numa dada época. Este termo aplica-se também ao processo que conduz ao aparecimento dessas formas ou construções novas. A inovação pode acrescentar elementos a um sistema linguístico ou substituir elementos existentes que se tornarão arcaísmos” (APL/ILTEC 1990:211). Admite-se, deste modo, que todos os

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elementos que se vão afastando dos padrões atuais de uma língua constituem uma inovação, são alterações introduzidas e fixadas num determinado subsistema linguístico.

As inovações lexicais podem ser consideradas como resultado de um processo diacrónico; a mudança linguística implementada representa a expansão das inovações lexicais surgidas ao longo do tempo, mas só há mudança efetiva quando, por influências internas ou externas, as inovações passam a integrar o domínio do conhecimento comum dos falantes. Nesse sentido, a mudança, como imagem da renovação/inovação linguística, contraria o risco de dada língua se tornar obsoleta e estar condenada à morte (ver, entre outros, Vilela 1994:14; Quivuna 2014:10; Costa 2015:37):

A inovação lexical é um indício da vitalidade de uma língua. Quanto maior o número de novas palavras mais “viva” estará uma língua, se assim podemos dizer. A realidade envolvente determina e condiciona, de forma directa, a criação de novas palavras. Uma vez que a criatividade lexical dos falantes é quase ilimitada, estando perante novos conceitos e novas realidades, é necessário dar-lhes um nome. Assim, os novos usos e novas exigências do mundo serão traduzidas em novas denominações: podemos “fazer um print” ou “printar”, colocar notícias no twitter, ou “twittar”, etc. (Cameron 2010:2).

As diferentes transformações socioculturais e as inovações tecnológicas concorrem para a evolução do léxico, por se tratar do “subsistema da língua mais dinâmico, (…) o elemento mais directamente chamado a configurar linguisticamente o que há de novo, e por isso é nele que se reflectem mais clara e imediatamente todas as mudanças ou inovações políticas, económicas, sociais, culturais ou científicas” (Vilela 1994:14).

Tendo em conta o acima referido, o nosso objeto de estudo é, em suma, o conjunto das palavras atestadas no POL, cuja origem é o léxico banto e cujas formas morfológica e fonológica revelam frequentemente mas nem sempre, a sua origem banta; sem se fazer a periodização da sua entrada no léxico do POL, assumimos que palavras totalmente adaptadas têm entrada mais antiga do que palavras que ainda revelam traços da morfologia e da fonologia bantas. Do ponto de vista da sua significação, todas estas palavras herdam parte dos traços semânticos de origem, sendo que as mais recentes revelam, de forma mais evidente, esse facto e são sentidas como inovações. Centrando- nos na inovação que afeta o subsistema lexical do POL, assumimos “inovação” como processo e este processo como envolvendo a criação de novas palavras a partir das (bases das) já existentes na(s) língua(s) banta(s).

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