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Lei (nº 2/2013) reguladora da liberdade de imprensa

6 Liberdade de expressão e de comunicação social no sistema jurídico guineense

6.1 Proteção material

6.1.2 Legislação complementar

6.1.2.1 Lei (nº 2/2013) reguladora da liberdade de imprensa

A atual lei nº 2, de 2013, sobre o regime jurídico da liberdade de imprensa, revogou, em 2013, a antiga lei nº 4/91, que até então regulamentava a liberdade de imprensa. Aquela, no momento, é a principal lei complementar que regula o setor da imprensa guineense, a respeito da qual faremos uma interpretação, especialmente do artigo que se relaciona diretamente com o nosso trabalho. Na época do partido único, o Estado não se preocupava com as normas infraconstitucionais. O regime era bastante centralizado, não dava margem a nenhum tipo de ideia oposta e que pudesse questioná-lo.

Para sustentar, ainda mais, a existência das bases legais, protegendo não somente a imprensa escrita em particular, mas sim a mídia no seu todo, trazemos à baila a lei da

imprensa – que garante o direito à liberdade de comunicação social em alguns de seus artigos7.

Segundo essa lei, ao seguir os mesmos mandamentos da Constituição, logo no seu capítulo II, que fala exclusivamente sobre a liberdade de comunicação social e de acesso às fontes de informação, o artigo 3º, inciso primeiro, é bem simples e categórico ao declarar que é assegurada a liberdade de comunicação social na Guiné-Bissau dentro dos parâmetros estipulados pela sua Constituição, ou seja, a imprensa guineense – como também a estrangeira residente neste Estado – tem a sua liberdade garantida na forma da lei, o que é inviolável; caso haja violações, tais atos não serão somente ilegais, mas também inconstitucionais, pelo simples fato de a própria Constituição ser a base de tudo.

Na mesma linha de pensamento, o inciso segundo garante que, qualquer que seja, o indivíduo humano tem todo o direito e liberdade de falar e divulgar o seu pensamento, em

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Artigo 3º (Liberdade de Imprensa) 1. É assegurada a liberdade de Imprensa nos termos da Constituição e da lei; 2. Todo o cidadão tem o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento através da imprensa, não podendo o exercício deste direito ser subordinado a qualquer forma de censura, autorização, caução ou habilitação prévia; 3. Nenhum cidadão pode ser prejudicado na sua vida privada, social ou laboral em virtude do exercício legítimo do direito à liberdade de expressão do pensamento através da imprensa; 4. É licita a discussão e crítica de doutrinas políticas, filosóficas, sociais e religiosas, bem como dos atos dos órgãos de poder do Estado e da administração pública, dentro dos limites da presente lei. Artigo 4º (Conteúdo) 1. A liberdade de imprensa implica: a) O reconhecimento dos direitos e liberdades fundamentais dos jornalistas, nomeadamente os referidos no artigo 6º da presente lei. b) O direito a livre expressão e circulação de publicações, sem que alguém a isso se possa opor por quaisquer meios não previstos na lei; 2. O direito dos cidadãos a serem informados é garantido, nomeadamente, através: a) De medidas que impeçam níveis de concentração lesivos do pluralismo da informação, b) Da publicação do estatuto editorial das publicações informativas, c) Do reconhecimento dos direitos de resposta e de rectificação, d) De identificação e veracidade da publicidade, e) Do acesso ao Conselho Nacional de Comunicação Social, para a salvaguarda da isenção e do rigor informativos, f) Do respeito pelas normas deontológicas no exercício da atividade jornalística. Artigo 5º (Limites) A liberdade de imprensa tem como únicos limites os que decorrem da Constituição da República e da lei, de forma a salvaguardar o rigor e a objetividade da informação, a garantir os direitos ao bom nome, a reserva da intimidade da vida privada, à imagem e à palavra dos cidadãos e a defender o interesse público e a ordem democrática. Artigo 6º (Direito dos Jornalistas) Constituem os direitos fundamentais dos jornalistas, com o conteúdo e a extensão definidos na Constituição, na presente lei e no Estatuto do Jornalista: a) A liberdade de expressão e de criação, b) A liberdade de acesso às fontes de informação, incluindo o direito de acesso a locais públicos e respectiva proteção, c) O direito ao sigilo profissional, d) A garantia de independência e da cláusula de consciência, e) O direito de participação na orientação do respectivo órgão de informação. Artigo 7º (Acesso às fontes de informação e sigilo profissional) 1. No exercício das suas funções, é garantido aos profissionais dos órgãos de comunicação social o acesso às fontes de informação necessárias ao exercício do direito do cidadão à informação; 2. O acesso às fontes de informação referidas no número anterior não é consentido em relação aos processos em segredo de justiça, aos factos e documentos qualificados pelas entidades competentes, segredo militar ou de Estado, aos que sejam secretos por imposição legal e ainda aos que digam respeito à reserva da vida privada dos cidadãos; 3. As entidades oficiais deverão facilitar o acesso às fontes de informação, nos termos estabelecidos no número anterior. Os jornalistas não são obrigados a revelar as fontes de informação, não podendo o seu silêncio sofrer qualquer sanção directa ou indirecta; 4. Os directores dos órgãos de comunicação social e das empresas jornalísticas, quando conhecerem tais fontes de informação, não as poderão revelar; 5. Os direitos previstos nos números anteriores abrangem a escusa de depoimento judicial, salvo se os mesmos forem considerados indispensáveis por razões de interesses públicos pelo tribunal competente.

qualquer amplitude, por intermédio de comunicação social, sem margem à censura, à autorização, à caução ou à habilitação prévia; a comunicação social pode ser empregada como um meio para que as pessoas desfrutem das suas liberdades de expressar, assim sendo, para usar tais meios com o objetivo de expressar a sua vontade como uma pessoa humana e membro de uma comunidade e/ou sociedade, a pessoa não precisa de autorização estatal e muito menos de entregar valores que sirvam de garantia, como condições ao exercício desse direito fundamental. Já o inciso terceiro faz questão de declarar que ninguém deverá ser sujeito a retaliação, em todos os sentidos da sua vida civil, por causa de exercício legal da sua liberdade de expressão por meio da comunicação social. No último inciso, o quarto, deste artigo, reconhece-se a importância do confronto de ideias não somente entre doutrinas políticas, filosóficas, sociais e religiosas, como também dos próprios integrantes do poder estatal, sem extrapolar os procedimentos legais.

O artigo 4º, por sua vez, aborda o que deveriam ser os conteúdos materiais protegidos pela liberdade de comunicação social; logo no seu inciso primeiro, alíneas a) e b), determina o que seria a imprensa, ou seja, a comunicação social, quer dizer, o reconhecimento dos direitos fundamentais dos profissionais desta área, sobretudo os que se encontram plasmados no artigo 6º dessa lei, que será abordado mais na frente, como também seria o direito de profissionais da mídia a expressar livremente e a fazer circular as suas publicações, mas sem entrar em confronto com a ordem legal.

Por outro lado, o mesmo artigo 4º traz explicações sobre os direitos dos cidadãos guineenses, que teriam de ser informados por intermédio de: multiplicidade de informação; em caso de ofensas e acusações, a suposta vítima tem direito de resposta, como também de retificação em casos de erros na publicação de determinadas informações, para adequá-las à veracidade; a própria sociedade, ao ser informada, tem direito à identificação e à veracidade da informação publicada; para garantir a imparcialidade nos conteúdos informativos, é garantido, também, aos cidadãos, que seja tornado público o próprio estatuto editorial das publicações; o cidadão tem o seu direito fundamental, também, de recorrer ao CNCS para comprovar e ressalvar a placidez e a imparcialidade da informação; os profissionais dessa área também são obrigados a respeitar o conjunto de deveres (deontologia) dos jornalistas nas suas atuações como profissionais midiáticos.

O artigo 5º fala dos limites da liberdade de comunicação social, e adota a tese de que a liberdade de comunicação social não é absoluta, mas a sua limitação deveria ser aplicada somente nos casos autorizados pela legislação, com fins de não colocarem outros valores em

causa, por exemplo: a unidade nacional; a ordem pública; a segurança pública; a democracia; a soberania e a independência nacional, como também a integridade dos cidadãos.

No seu artigo 6º, que fala dos direitos jornalistas, a lei demonstra que são direitos fundamentais dos profissionais da área o que está garantido nesta lei da liberdade de imprensa; como também aqueles garantidos na lei sobre o Estatuto de Jornalista, e principalmente na Constituição da República. O conteúdo básico de tais direitos assegurados nas leis, acima descritos, como também na Constituição, é basicamente o seguinte: os profissionais de comunicação social são portadores do direito à liberdade de expressão e de criação, podem gozar dessa liberdade para produzir novas ideias na seara jornalística; os jornalistas devem ter acesso às fontes de informações necessárias e sem impedimento algum, salvo na forma expressa da lei, e também têm o direito de locomover-se às localidades públicas e, consequentemente, de serem protegidos, caso haja necessidade para tal; está garantido também o sigilo profissional dos profissionais da mídia; estes, também, devem atuar sob independência e sem pressão, tanto por parte do poder público como do poder privado, e o empregador, por exemplo, não pode obrigar um jornalista empregado a atuar, ou emitir uma informação fora do seu agrado ou que fira a sua consciência; e, por fim, os jornalistas, como também os técnicos da comunicação social, devem ter o direito de emitir recomendações e orientações que julgarem necessárias ao melhor funcionamento do próprio órgão de comunicação social do qual fazem parte.

E, por fim, o artigo 7º aborda questões ligadas ao acesso às informações, como também ao sigilo do profissional midiático, determinando que estes tenham, nas suas árduas funções, o direito de acessar as fontes de informação que julgarem indispensáveis ao exercício do direito à informação dos cidadãos. Oportunamente, lembrando que os autos considerados segredos de justiça; os assuntos entendidos como sendo segredo militar e de Estado; os documentos e fatos legalmente vistos como secretos; como também os temas relacionados à reserva da vida privada (a reputação, a honra e a imagem) das pessoas humanas podem ser configurados como sendo inacessíveis por profissionais de comunicação social, isto é, a garantia da liberdade de acesso às fontes de informações por um jornalista encontra restrições dentro dos itens acima citados. Indo mais, o próprio artigo afirma que as instituições públicas e/ou oficiais do Estado têm obrigações de facilitar que as fontes de informação sejam acessadas por profissionais midiáticos, respeitando, claro, as restrições legais e constitucionais. Afirma ainda que os integrantes dos meios de comunicação social guineense não devem ser obrigados a revelar as origens de suas informações e, consequentemente, o seu

direito constitucional de silêncio não pode ser violado e muito menos sofrer qualquer sanção. Mesmo os principais responsáveis (os diretores) dos órgãos de comunicação social e das empresas do ramo jornalístico não podem revelar tais fontes de informações, sem o consentimento do jornalista. Essa proteção legal de não revelar as fontes de informações jornalísticas é válido mesmo nos depoimentos judiciais, ou seja, nos tribunais judiciais, mas, em situações de relevante interesse público, o tribunal judicial pode paralisar essa proteção legal.

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