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Mecanismos no sistema africano de direitos humanos

12 Mecanismos internacionais competentes para impor a liberdade de expressão na

12.2 Mecanismos no sistema africano de direitos humanos

Na África, também, há instituições que monitoram a aplicabilidade da CUA e da CADHP, ou seja, dos direitos e liberdades fundamentais. Como em qualquer dos outros continentes, também existe explícita unanimidade por parte dos Estados africanos quanto à valorização dos direitos humanos, apesar da abundância das violações desses direitos básicos. Em nível da União Africana, apesar de avançar-se em ritmos lentos, encontram-se progressos no que se relaciona ao cumprimento dos conteúdos gravados na CUA e na CADHP; prova disso são os vários protocolos e tratados específicos criados nestes últimos quinze (15) anos, inclusive com a criação da Corte Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (Cor.ADH). O ponto problemático desses tratados específicos é o seu devido respeito nos territórios dos Estados-partes, o empenho efetivo pelo respeito às pessoas humanas não está acompanhando o ritmo acelerado da criação das normas regionais.

Quanto às instituições que monitoram a aplicação da CUA e da Carta Política Africana, far-se-á questão de citar as duas maiores delas, os principais órgãos do continente em promoção e defesa dos direitos humanos: a Com.ADHP e a Cor.ADH; esta, por questões estruturais da Tese, será analisada no capítulo posterior. A Guiné, por ser um Estado-membro da UA, tem a obrigação legal de obedecer às recomendações provenientes da Comissão, uma vez que esta Comissão foi criada por intermédio da própria Carta Africana. Quanto à Corte, o Estado em estudo assinou o protocolo em junho de 1998, mas até o presente momento não houve adesão; nessa ordem, os casos de violência nesse Estado não podem ser submetidos, por enquanto, à jurisdição dessa Corte.

12.2.1 Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos

A Carta Africana, em seu artigo 30º, instituiu a Com.ADHP. Criada pela Organização da Unidade Africana, está prevista na Parte II, Das Medidas de Salvaguarda, e seria uma instituição incumbida de proteger, promover e resgatar os direitos humanos no

continente. Trata-se de uma instituição supostamente independente, responsável especificamente pela defesa e promoção dos direitos humanos.

Atualmente a sua sede central foi fixada na zona Ocidental da África, em Banjul, capital de Gâmbia. A Comissão conta com 11 integrantes, entre pessoas com reconhecido alto teor de conhecimentos em matéria de direitos humanos e dos povos, sem a exigência de ter necessariamente uma formação acadêmica de base na área jurídica, embora estes sejam privilegiados na escolha dos membros. Ao serem eleitos proferem, em um ato solene, um juramento, comprometendo-se, assim, a exercer a sua missão na base da moralidade, da imparcialidade e da boa-fé. Cada um deles recebe seis (6) anos de mandato, com direito a uma reeleição.

A mais importante Carta do continente, no seu artigo 45, reza o seguinte sobre a missão da Com.DHP34, entre as suas principais tarefas encontram-se: realizar estudos e pesquisas sobre problemas africanos no campo dos direitos humanos, reunindo documentação; preparar informações pertinentes e emitir sugestões e recomendações aos governos; formular e elaborar princípios e regras que permitam resolver os problemas jurídicos referentes ao gozo dos direitos humanos e dos povos e às liberdades fundamentais, com vistas a servir de base à adoção de textos legislativos pelos governos africanos; cooperar com as outras instituições africanas ou internacionais que se dedicam à promoção e à proteção dos direitos humanos e dos povos; interpretar quaisquer disposições da Carta a pedido de qualquer Estado-parte, de uma instituição da UA ou de uma organização africana reconhecida pela UA; executar quaisquer outras tarefas que lhe sejam eventualmente confiadas pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo.

34

Artigo 45 - A Comissão tem por missão: 1. Promover os direitos do homem e dos povos e nomeadamente: a) Reunir documentação, fazer estudos e pesquisas sobre problemas africanos no domínio dos direitos do homem e dos povos, organizar informações, encorajar os organismos nacionais e locais que se ocupem dos direitos do homem e, se necessário, dar pareceres ou fazer recomendações aos governos. b) Formular e elaborar, com vista a servir de base à adoção de textos legislativos pelos governos africanos, princípios e regras que permitam resolver os problemas jurídicos relativos ao gozo dos direitos do homem e dos povos e das liberdades fundamentais. c) Cooperar com as outras instituições africanas ou internacionais que se dedicam à promoção e à proteção dos direitos do homem e dos povos. 2. Assegurar a proteção dos direitos do homem e dos povos nas condições fixadas pela presente Carta. 3. Interpretar qualquer disposição da presente Carta a pedido de um Estado-Parte, de uma instituição da Organização da Unidade Africana ou de uma organização africana reconhecida pela Organização da Unidade Africana. 4. Executar quaisquer outras tarefas que lhe sejam eventualmente confiadas pela Conferência dos Chefes de Estado e de Governo.

A partir de 2006, essa Comissão passou a ter também competência para promover ações contra um Estado-parte junto à Cor.ADHP, sendo provocadas ou não por pessoas, associação, sociedade civil ou entidade nacional de defesa de direitos humanos.

A Guiné é um dos poucos Estados africanos que, em toda a sua história, nunca encaminhou o relatório periódico à Comissão Africana. O que comprova que, apesar de ser Estado-parte desta instituição, é um Estado que nunca se preocupou com as suas obrigações em relação àquela instituição. A submissão dos relatórios periódicos é um dever deste Estado, por ser um Estado integrante da UA; estes relatórios são o que indica os avanços e os retrocessos sobre as proteções e promoções dos direitos humanos na Guiné, e é a partir dessas indicações que a Comissão africana estaria em condições de acompanhar, com todas as facilidades, as formas como este país está lidando com os direitos fundamentais da pessoa humana naquele Estado.

Por outro lado, por ser uma instituição que nunca recebeu relatório do Estado da Guiné-Bissau, a Comissão africana, em contrapartida, também nunca chegou a emitir decisões sobre o Estado guineense. Mas, mesmo assim, a Comissão Africana, em 2005, produziu um relatório geral relativo à missão de promoção dos direitos humanos à República da Guiné- Bissau, onde fizeram as seguintes recomendações:

Recommendations To the Government:

1. The Government of the Republic of Guinea Bissau should fulfil its obligation under Article 62 of the Charter and submit its long overdue initial State Report to the African Commission;

2. The Government of the Republic of Guinea Bissau must, as far as possible, involve all Government Departments with responsibility for the promotion and protection of human rights, opposition parties, NGO’s, Civil Society Organisations (CSOs) and the private media in the preparation of the Republic’s Reports to be submitted to the African Commission so as to ensure that they are truly reflective of the human rights situation in the country;

3. The Government of the Republic of Guinea Bissau should ratify the Protocol to the African Charter on the Establishment of an African Court on Human and Peoples’ Rights, and the Protocol to the African Charter on the Rights of Women in Africa; […]

6. The Government of the Republic of Guinea Bissau should outline clear guidelines on access to governmental institutions; It should also strive towards the maintenance of an affective and independent media; […]

15. The Government of the Republic of Guinea Bissau should ensure increased and equitable participation of women in decision-making process including bolding high governmental offices and ministerial positions; […] To the Government and Private Media:

25. Both the Government and Private Media should disseminate accurate information and educate the public about human and people’ rights, the culture of peace generally and the African Carter on Human and Peoples’

Rights particularly; (AFRICAN COMMISSION ON HUMAN PEOPLE RIGHTS, 2005).

No seu relatório sobre a Guiné, a Comissão emitiu uma série de recomendações, a primeira das quais diz respeito ao cumprimento do artigo 6235 da CADHP, em apresentar o relatório periódico à Comissão, o que este Estado não está fazendo. Solicitou que o governo adotasse as medidas plausíveis na elaboração dos relatórios que serão encaminhados à Comissão e, para garantir que tais relatórios refletissem as verdadeiras situações dos direitos humanos, a sua elaboração deve aglomerar as instituições governamentais responsáveis pela proteção e promoção dos direitos humanos, os partidos políticos na oposição, ONGs, Organizações da Sociedade Civil, como também a mídia privada.

Pediu também que o Governo ratificasse o Protocolo da Carta Africana, que deu origem à criação da Corte Africana e da Carta Africana sobre os Direitos das Mulheres. Além disso, estabelecer diretrizes transparentes sobre o acesso a instituições governamentais, como também abrir caminhos para uma mídia efetiva e não dependente. Que as mulheres devem ser beneficiadas por uma cota especial, com fins de dar-lhes uma maior participação no processo de decisão, incluindo altos cargos no governo e assumindo as funções de titulares das pastas ministeriais. Concluiu que o governo e a mídia privada devem disseminar informações e educar o público sobre os seus direitos básicos, sobre a cultura da paz, sobre a CADHP e sobre os direitos humanos. Este relatório demonstrou que a Comissão Africana sempre se preocupou com questões relativas aos respeitos dos direitos humanos em toda a África, incluindo a Guiné. Verdade é que, apesar da existência desse sistema africano de defesa e promoção dos direitos humanos, o continente precisa, e muito, de labutar para garantir que as liberdades humanas sejam respeitadas.

13 Interesse político-jurídico dos Estados da comunidade internacional de obrigar um

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