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Obrigações materiais regionais no sistema africano

11 Guiné-Bissau como destinatário de obrigações internacionais materiais

11.2 Obrigações materiais regionais no sistema africano

No continente existe igualmente uma série de acordos e instrumentos em defesa e promoção dos direitos humanos. A seguir, analisar-se-ão exclusivamente dois instrumentos, os quais foram considerados como os de maior relevância, em termos de abrangência, em todo o continente. O primeiro deles será a Carta da Organização da Unidade Africana (COUA), e o segundo é a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (CADHP).

11.2.1 Carta da Organização da Unidade Africana de 1963

A COUA30 deu origem à Organização da Unidade Africana (OUA)31, hoje conhecida como União Africana (UA), foi adotada em maio de 1963, na Etiópia, e passou a vigorar em setembro do mesmo ano. É um documento que foi criado com o objetivo único de legitimar a criação da então OUA. Na época da sua edição, muitos Estados do continente estavam ainda sob controle dos colonizadores, por isso, faz ampla menção ao processo de descolonização, da emancipação e da soberania de todos os povos do continente.

Mesmo assim, a Carta trouxe também importantes pontos abordando sobre os direitos e liberdades fundamentais da pessoa humana no continente africano. Os primeiros líderes africanos nunca esqueceram que a liberdade, a igualdade, a justiça social e a dignidade humana são itens incondicionais à sobrevivência da qualquer que seja o ser humano na face da Terra. Veja-se uma parte da redação, que vem logo na parte inicial desse instrumento:

29 Exemplo disso seriam: aqueles livros literários românticos e biográficos, os periódicos de um associação ou

grupo e partido político com fins de informar seus militantes, os folhetos e cartazes usados por um determinado grupo espelhados nas ruas e avenidas informando sobre um evento cultural e científico que acontecerá em certas localidades e na data preestabelecida.

30 Nessas primeiras escritas, decidimos colocar COUA com fins de facilitar as nossas pesquisas, como também

dos possíveis leitores interessados, mas daqui para frente mudar-se-á a sigla para CUA, que significa Carta da Unidade Africana.

31 No dia 09 de julho de 2002, foi realizada a 38ª cimeira da OUA na República da África do Sul, na cidade de

Conscientes do facto de que a liberdade, a igualdade, a justiça e a dignidade são objectivos essenciais para a realização das aspirações legítimas dos povos africanos... Persuadidos de que a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a cujos princípios reiteramos a nossa adesão, oferecem uma base sólida para uma cooperação pacífica e frutuosa entre os nossos Estados. (HEYNS; KILLANER, 2008, p. 2).

Tirando esses quatro atributos – a liberdade, a igualdade, a justiça e a dignidade –, a própria Carta afirma os valores incorporadas na Carta da ONU e na DUDH, alegando que estes apresentaram os alicerces necessários à cooperação na base da paz entre todos os Estados e Nações da África. Com base nesses argumentos trazidos na Carta da União Africana (CUA) e ao ressaltar com muita veemência a Carta da ONU e a DUDH, implica-se que os Estados-membros da UA têm a obrigação de seguir os modelos dos direitos e liberdades fundamentais apresentados por estes dois instrumentos, uma vez que todos os Estados-membros e Estados-partes seguem a CUA e a CADHP, e estes dando uma relevância enorme aos dois instrumentos internacionais acima citados.

11.2.2 Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos de 1986

Na décima oitava Conferência dos Chefes de Estados e de Governos dos Estados da África, foi perfilada a CADHP. Os membros da antiga OUA aprovaram esse instrumento em 26 de junho de 1981, em Nairóbi, capital da Quênia, vindo a valer somente em 21 de outubro de 1986, em conformidade com o seu artigo 63º.

A CADHP, em nível continental, é o principal instrumento em matéria de proteção e promoção dos direitos humanos; todos os outros instrumentos o acompanham como instrumento de referência, por estar no topo da pirâmide. A Carta na sua íntegra reconhece tanto os direitos individuais como também os direitos coletivos, porém dá mais ênfase por estes, faz defesa dos direitos civis e políticos, mas, olhando criticamente os conteúdos da totalidade dos seus artigos, acaba-se percebendo que teve mais interesse pela defesa dos direitos econômicos, sociais e culturais.

Ressalta no seu preâmbulo que: a liberdade, a igualdade, a justiça e a dignidade da pessoa humana seriam fins primários à concretização das pretensões dos povos do continente. Confirma também que todos os Estados-partes e toda a sociedade zelem pela cooperação internacional, dando uma atenção especialíssima à Carta da ONU e à DUDH. Destarte, a CADHP reconfirma a indivisibilidade, a interdependência e a unicidade de todos os direitos e

liberdades humanas, ou seja, os direitos civis e políticos são incompletos sem os direitos econômicos, sociais e culturais, o mesmo aconteceria destes em relação àquelas.

Esse instrumento, no seu artigo 9º32, dá todas as garantias às pessoas humanas de receberem informação, de expressar-se, como também de disseminar as suas opiniões sobre os assuntos dos seus interesses.

A Guiné é um Estado-membro da UA desde 4 de dezembro de 1985, reconhecendo as obrigações jurídicas da Carta que orientam e regulam o comportamento de todos os seus Estados-membros. A Carta, por sua vez, também reconhece o valor jurídico da Carta da ONU e da DUDH; nesse sentido, entende-se que, de uma forma automática, como também tacitamente, a Guiné-Bissau reconhece os direitos gravados nesses dois grandes instrumentos internacionais de referência.

Esse instrumento africano acompanha, em termos de proteção da liberdade de expressão e de mídia, todos os outros tratados e instrumentos internacionais, acima citados, que consideram tais liberdades como sendo obrigações internacionais. Partindo dessas constatações, a CADHP protege a liberdade de expressão, por intermédio do seu artigo 9º, como sendo uma liberdade obrigatória e que deve ser respeitada por parte de todos os Estados africanos.

12 Mecanismos internacionais competentes para impor a liberdade de expressão na

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