• Nenhum resultado encontrado

Pacta sunt servanda no recinto de Tratados Internacionais dos Direitos

Pacta sunt servanda é um brocardo muito usado na área jurídica, o qual, traduzido, seria: “os pactos devem ser cumpridos”. Qualquer Estado, ao ratificar ou aderir a qualquer tratado e/ou convenção dos direitos humanos, é expressamente obrigado a cumpri-lo. Supoit

trouxe-nos as seguintes elucidações do francês Josserand, que pressupõe o seguinte: a força obrigatória dos contratos está na própria base da vida em comunidade; desde sempre, considerou-se que o respeito devido à palavra dada é um dos axiomas fundamentais que, oriundos do Direito natural, passaram para todas as legislações (SUPIOT, 2007, p. 97). Não custa afirmar que, atualmente, a essência do direito internacional dos direitos humanos encontra o seu conforto neste axioma de Pacta sunt servanda, uma vez que os tratados são criados para serem firmados e, consequentemente, para serem cumpridos, na medida da sua exigência.

Em todo caso, nenhum Estado pode ser submetido obrigatoriamente a assinar e a ratificar ou aderir a um tratado internacional, como também a reconhecer a jurisdição de uma Corte Internacional ou Regional de Justiça, mas, uma vez ratificado ou aderido, a sua força vinculante sobre o Estado ratificante é obrigatória.

Com este axioma de que “os pactos devem ser cumpridos”, o cumprimento das palavras dadas transforma os tratados internacionais dos direitos humanos em um instituto jurídico universal e transfronteiriço, com um modus operandi para todos os Estados-partes. A ratificação ou adesão aos tratados internacionais dos direitos humanos, por parte dos Estados signatários, seria uma prova robusta da não confiabilidade das simples promessas dos seres humanos revestidos de chefes de Estados; o objetivo primordial da ratificação dos tratados seria a exigência da honrabilidade e da obrigatoriedade no cumprimento das palavras dadas e que poderiam ser exigidas futuramente, caso for violada e descumprida por parte de um Estado.

A Guiné-Bissau é um Estado que ratificou e aderiu a uma boa parte dos tratados e convenções internacionais, inclusive de direitos humanos, nos quais é e será obrigada a submeter os ditames de tais tratados internacionais dos direitos humanos, apesar de que houve uma falha gritante quanto ao cumprimento de tais tratados, como será demonstrado e comprovado mais à frente, mas, levando em consideração a fragilidade e a constante instabilidade vivida nesse país, há-se de dizer que houve um progresso considerável e acima da média em relação a outros países instáveis ou não do continente africano, quanto ao assunto de ratificações dos tratados e convenções internacionais.

O teórico John Rawls, ao falar dos princípios tradicionais de justiça entre povos livres e democráticos, alegou que: 2. Os povos devem observar tratados e compromissos; 6. Os povos devem honrar os direitos humanos (RAWLS, 2004, p. 47-48). Isso reafirma simplesmente o princípio descrito acima. O mesmo autor, indo mais longe ainda, entende que

o núcleo de direitos que integram os direitos humanos deve ser abarcado como universais e são inseparáveis dos seres humanos, mesmo garantidos ou não pelas legislações locais. Isto é, sua força política (moral) estende-se a todas as sociedades e eles são obrigatórios para todos os povos e sociedades, inclusive os Estados fora da lei. Um Estado fora da lei que viola esses direitos deve ser condenado e, em casos graves, pode ser sujeitado a sanções coercitivas e mesmo a intervenção (RAWLS, 2004, p. 105).

É comum deparar-se, em certas obras da literatura jurídica e da ciência política, com comentários e declarações não atualizadas sobre os princípios da soberania estatal, mas resta declarar logo a priori que as jurisdições internacionais terão um impacto enorme sobre as autonomias e soberanias dos Estados ratificantes de um tratado ou convenção internacional, principalmente quando estes são de direitos humanos.

O princípio da força obrigatória dos tratados se baseia na presunção de que: o que foi ratificado ou aderido pelos Estados-partes ou Estados-membros obrigatoriamente deve ser aplicado e cumprido estritamente, objetivando a preservação da vontade dos próprios Estados- partes/membros junto da comunidade internacional, que eram livres, independentes e conscientes no momento das suas vinculações com os próprios tratados ou convenções internacionais. Ponderando que os tratados e/ou convenções internacionais não passam de um acordo internacional no qual os Estados e/ou a comunidade internacional unem-se com o intuito de atingir determinados objetivos específicos, que podem ser a preservação da paz ou a proteção dos direitos humanos, uma vez concordados, as partes ligadas pelo vínculo serão sujeitas a deveres, no que diz respeito a sua efetivação.

Seria importante observar que a força de obrigatoriedade de um tratado, formalmente, visa observar determinados requisitos para que possa ter validade e efetividade em um Estado determinado: o primeiro desses requisitos seria a vontade do próprio Estado em assinar o tratado, ou seja, a discricionariedade do Estado, não deve haver pressão alguma; o segundo requisito seria o referendo da Assembleia Nacional do referido Estado, devendo debater e aprovar em plenário o tal tratado internacional; o terceiro requisito seria a promulgação do próprio tratado internacional pelo Presidente da República e, em seguida, a sua publicação no Boletim Oficial, isto é, o aval do Chefe de Estado, que pode ser por intermédio de um Decreto Presidencial ou uma Carta de Ratificação ou Adesão, a partir dessa etapa a sua força vinculante já começa a produzir efeitos; o quarto requisito seria, simplesmente, o depósito do referido Decreto ou Carta junto do depositário, que poderia ser, por exemplo, uma instituição internacional ou regional.

Note-se que, uma vez verificadas todas essas condições, se por ventura um Estado- parte vier a descumprir os seus deveres ou violar o acordo, responderá na medida do seu descumprimento, e estará sujeito às mais diversas espécies de sanções em nível da comunidade internacional.

Pode-se, aqui, muito bem, relatar que, mesmo afirmando que o direito internacional tem uma conotação contratual, seria frustrante e inoperante alegar que um Estado seja absolutamente soberano por não estar vinculado a nenhum tratado internacional que poderia limitar o seu livre-arbítrio, tendo assim o brocardo romano Pacta sunt servanda como embasamento jurídico para a não exigência de cumprimento de certos instrumentos internacionais de direitos humanos. Ora, seria interessante saber que uma boa parte de direitos humanos tem uma posição de ordem jurídica de jus cogenes, isto é, estes direitos são obrigatoriamente válidos aos Estados, independentemente de serem ou não serem partes ratificantes de certos tratados internacionais dos direitos humanos.

CAPÍTULO II

ANÁLISE DO TEOR MATERIAL DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE COMUNICAÇÃO SOCIAL E A ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO GUINEENSE

5 Painel preliminar sobre a Guiné-Bissau

O zelo pelos direitos fundamentais, de fato, deve ser prioritário em todos os Estados de Direito. O Estado deve preservar e proteger a dignidade da pessoa humana: O Homem dos direitos humanos é, depois, um sujeito soberano. Como o “homo juridicus”, é titular de uma dignidade própria, nasce livre, dotado de razão e titular de direitos (SUPIOT, 2007, p. 235). No capítulo primeiro, foram enfocadas as relações entre as liberdades de expressão, de comunicação social e a democracia, afirmando que não existiria esta – a democracia –, de uma forma real, sem a presença dessas liberdades. Com isso se queria dizer que tais liberdades são caminhos para se chegar a um verdadeiro Estado Democrático de Direito.

Na Guiné-Bissau, a democracia ainda é muito defeituosa, originadas por razões históricas, políticas, culturais e sociais. Não podem ser analisadas, neste trabalho, todas essas razões, por serem de naturezas muito complexas. Mas nessa ordem será demonstrado – após breves explicações históricas, geográficas e socioeconômicas – que o Estado reconhece formalmente, em sua Constituição e Leis Complementares, a vigência da liberdade de expressão e de comunicação social; a grande questão seria a de colocá-las em prática.

A República da Guiné-Bissau é um Estado que se encontra na costa da África Ocidental, ao norte faz fronteira com o Senegal, a sudeste e leste com a Guiné-Conakry e a oeste com o Oceano Atlântico, e tem uma área territorial de 36.125 km2. Além do território continental, o Estado agrega ainda cerca de 40 ilhas de vegetação tropical, que constituem os arquipélagos dos Bijagós, separados do continente pelos canais de Geba, Bolama e Canhabaque. Geograficamente é constituída em grande parte por uma planície aluvial e pantanosa.

A sua independência ocorreu em 1973 e foi reconhecida pelo colonizador em 1974, após uma longa luta pela libertação nacional contra a colônia portuguesa. Foi um Estado de partido único, governado pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), até maio de 1991. O Presidente da República é o Chefe de Estado e o Primeiro- Ministro é o Chefe de Governo; este, no exercício do seu mandato, depende muito do parlamento, uma vez que só será eleito se tiver pelo menos 51% dos integrantes da

Assembleia Nacional Popular. O português é a língua oficial, porém a língua materna de maioria da população é o crioulo, e existem ainda dezenas de outras línguas étnicas.

Bissau é a Capital do Estado – conhecida administrativamente como Setor Autônomo de Bissau; além da Capital, fazem parte do território nacional mais oito regiões, que são: Tombali, Quinara, Oio, Biombo, Bolama/Bijagós, Bafatá, Gabú e Cacheu. Em conformidade com o recenseamento realizado em março de 2009, a Guiné tinha um milhão quinhentos e vinte mil, oitocentos e trinta habitantes (1.520.830)4, segundo o Ministério da Economia, Plano e Integração Regional, através do Instituto Nacional da Estatística, apud Sambú (2011). As principais atividades econômicas são agricultura, pesca e criação de gado. O setor florestal é considerado prioridade do governo, havendo conhecimento da existência de uma boa qualidade de petróleo, cuja exploração começará em um prazo indeterminado. Anteriormente, o petróleo só era encontrado nas zonas fronteiriças com Senegal, o que por muito tempo trouxe problemas de domínio territorial e impediu praticamente a exploração dos depósitos já descobertos. Além do petróleo, foi comprovada a existência de outros minerais.

Documentos relacionados