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Leitura pública de literatura dos alunos da PA 254 KM 11

(Fonte: Sandra Elena Melgaço Couto)

Como já foi salientado por Araújo e Couto (2015), as atividades de leitura pública com o uso do microfone foram bem recebidas pelos alunos. Talvez uma possível explicação para este fato seja que a Comunidade é constituída por um grande número de evangélicos tanto que conforme a (foto 7), a escola foi construída ao lado do templo da Assembléia de Deus, talvez a atividade de estar à frente de uma plateia, lendo um livro com o auxílio do microfone para todos escutarem, seja influência do ritual evangélico.

Diante dessas imagens, é possível verificar que, o mobiliário cheio de livros chamava a atenção das crianças tanto no momento que estava com as portas abertas como na hora em que estava fechado, pois todos sabiam que no interior do armário existiam livros que transmitiam ensinamentos e aventuras fascinantes.

2.4.2.1 Um ano depois

No iníco do ano de 2015, mantive contato com a professora Andria Araújo, moradora da Comunidade da PA 254 Km 11 para saber se o Armário de leitura continuava funcionando, após a confirmacão positiva, troquei e-mails e telefonemas com a professora (ressalta-se que durante a semana pedagógica do início do ano, os professores se reuném em Monte Alegre, o que facilitou o contato). Mandei um texto para ser lido para os alunos, que falava da minha convivência com a leitura, desejava um bom ano letivo, prometia que iria visitá-los em breve,

também falei da pesquisa que estava fazendo e enviei livros para aumentar o acervo do armário.

Ainda nesta conversa com a professora Andria Araújo, foi-me revelado que o projeto continuava recebendo o apoio da direção da Escola; além disso, ela dispunha de uma nova parceira para desenvolver o trabalho, a professora Maria da Conceição Lopes que ministra aulas de Língua Portuguesa no educandário. Durante o primeiro semestre de 2015, enviei por duas vezes livros para a Escola e marquei e remarquei uma visita para o segundo semestre.

Finalmente, consegui visitar a Comunidade nos dias trinta de novembro, primeiro e dois de dezembro de 2015, a confirmação da minha ida aconteceu quase que as vésperas, por- que queria observar de forma mais natural possível o dia a dia do educandário com o Armário de leitura, por isso não confirmei quantos dias ia passar na localidade, mas sabia de antemão que o dia de quarta-feira era destinado para realizar atividades de ler tanto pela manhã assim como pela tarde.

Da primeira vez que fui à Comunidade me desloquei em um carro com tração nas qua- tro rodas, com ar condicionado, não senti as agruras da viagem, talvez por ainda não ter a con- firmação de que aquelas atividades seriam alvos da minha investigação mais tarde, a impres- são que tive foi de um deslocamento fácil e rápido.

Por isso, achei que era possível ir de mototáxi até a Vila sem grandes transtornos. Sa- ímos às seis horas da manhã da cidade de Monte Alegre rumo a PA 254 KM 11. De início foi um prazer: o cheiro de mato, o sereno respingando nas folhas, o amanhecer das pessoas em seus chalés interioranos, porém depois de uma hora, conforme íamos penetrando na floresta a estrada ia ficando mais acidentada, cheia de um pó que parecia um talco de 1 metro de espes- sura. Toda vez que passava um carro em alta velocidade éramos obrigados a brecar a moto e esperar por minutos a cortina de poeira se dissipar. Era o verão intenso que chegava à região, o vento sacudia as folhas das árvores e empoeirava ainda mais, a esta altura a cor da minha roupa já havia desaparecido por causa da poeira.

Depois, a estrada começou a ficar mais perigosa, cheia de poças de lama acumuladas, formadas a partir de uma chuva de verão, rebanhos de gado que a atravessam tocados por va- queiros, também era constante o aparecimento de bois desgovernados na busca de pasto. Para fugir, o seguro era andar pelas encostas que apresentavam um terreno acidentado e duro que os comunitários chamam de “costela de vaca” (em referência a magreza do gado durante o verão). Esse sofrimento durou mais ou menos uma hora.

Na chegada ao lugar, comecei a ter noção da loucura que havia feito, segundo os co- munitários, o deslocamento de moto de Monte Alegre até lá é feito por quem é acostumado. Com os acidentes da estrada, realmente por eu não ter o costume de fazer o longo trajeto, no período da tarde desse dia, a impressão que eu tinha era de que eu continuava em cima da moto sendo sacudido pelas benditas “costelas de vaca”.

A permanência de três dias na Comunidade me possibilitou conversar com a direção da Escola, fazer entrevistas, anotações, visitar as dependências do educandário, observar a rotina escolar, perceber como as pessoas olhavam para o armário, que parecia um corpo estra- nho no meio do pátio da Escola que é toda construída em alvenaria.

No dia dois de dezembro haveria uma demonstração de algumas práticas de leitura no pátio da Escola no horário das dez às onze horas, antes disso, resolvi andar pelas salas anexas, comecei pela parte de trás da Escola, onde funcionavam duas salas de aula em um barracão antigo, que um dia já tinha sido a Escola da Comunidade. O que me chamou a atenção de iní- cio foi uma linda mangueira que encobria a visão das salas e abafava a fala das crianças em sala de aula, fiquei maravilhado com aquela paisagem e resolvi registrá-la.