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3. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA COLETA DE DADOS DA PESQUISA

3.3 Métodos, técnicas e abordagens

Conforme o que foi apresentado no capítulo anterior, esta pesquisa tem como aporte teórico a sociologia da literatura e da leitura, que busca descobrir o modo como os estratos de

um sistema literário se organizam e se inter-relacionam para promover a produção, a publicação e a circulação dos textos.

De todo modo, o formato deste trabalho exigiu o estudo e a escolha da técnica mais adequada para a realização da pesquisa de campo acerca dos editores e escritores da região. A partir da busca dessas informações, constatou-se que parte da organização dos dados era de caráter quantitativo, enquanto outra parcela indicava informações que deveriam ser analisadas de forma qualitativa. Isso foi identificado com o auxílio do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Assessoria Estatística (NEPAE) da Universidade de Caxias do Sul.

No capítulo 4, especificamente, ver-se-á que houve a necessidade da escolha de um método de pesquisa quantitativo, além dos critérios iniciais estabelecidos para a seleção dos escritores. O modelo de pesquisa escolhido foi a exploração de dados secundários, ou seja, a busca de informações que já foram coletadas e organizadas em outras ocasiões. Cita-se a consulta de dados acerca da população dos municípios contemplados neste trabalho, encontrados no site do IBGE. Além disso, a principal fonte de pesquisa para proceder ao levantamento dos escritores da Serra e suas obras foram as informações já organizadas pelas bibliotecas municipais, disponíveis, na maioria dos casos, em bancos de dados online. Malhotra (2005) explicita o que é a exploração de dados secundários:

Antes de iniciar a coleta de dados primários, o pesquisador deve lembrar-se de que o problema em estudo pode não ser único. É possível que alguém tenha investigado o mesmo ou um problema de pesquisa similar. Uma busca pelos dados existentes pode levar a informações relevantes. Dados secundários representam quaisquer dados que já foram coletados para outros propósitos além do problema em questão (2005, p. 72).

Também foram consultadas outras fontes de informações online, como Plataforma Lattes, LinkedIn, blogs, sites de associações de escritores e prefeituras municipais, redes sociais, entre outros, principalmente para verificação de dados, como a formação acadêmica e a profissão dos autores. O processo de busca por dados secundários possibilitou a sistematização dos escritores da Serra Gaúcha, suas obras, editoras ou gráficas nas quais publicam, ano de publicação, gênero textual, grau de escolaridade e campo profissional em que atuam.

Todas as informações foram organizadas em um quadro no programa Excel 2016 e, em seguida, introduzidas no softwareIBM® SPSS® Statistics19, que recolheu, organizou e analisou os dados que serão apresentados no capítulo 4.

Conforme o exposto no site de divulgação do próprio IBM® SPSS® Statistics 19, esse programa analisa dados, faz predições confiáveis e simplifica a introdução de informação,

mesmo que o volume seja grande ou com muitas variáveis. Além disso, ele realiza testes e análises de vários tipos e disponibiliza os resultados em quadros. Esses quadros e os testes realizados pelo programa, assim como suas respectivas interpretações, também serão exibidos no próximo capítulo.

Na sequência, constatou-se a necessidade de uma técnica qualitativa para a seleção dos escritores que seriam entrevistados, devido ao grande número de nomes encontrados na região. Inicialmente, a proposta de trabalho previa entrevistas com o maior número possível de autores considerados parte do sistema literário da Serra Gaúcha. Contudo, o grande volume de informações tornou essa prática insustentável, considerando o tempo limitado para a realização da pesquisa. Desse modo, optou-se por selecionar os escritores que seriam entrevistados, caracterizando, assim, parte da pesquisa (especificamente o capítulo 5) como amostragem não probabilística da população dos escritores da Serra Gaúcha.

A escolha desses autores ocorreu por conveniência e julgamento. Conforme Malhotra, “a amostragem por julgamento é uma forma de amostragem por conveniência na qual os elementos da população são escolhidos com base no julgamento do pesquisador. Este escolhe os elementos de amostragem porque acredita que representam a população de interesse” (2005, p. 266). Além de ser uma forma de escolha atraente, conveniente e rápida, o autor ainda aponta que ela é “subjetiva, dependendo da criatividade do pesquisador. Portanto, generalizações para uma população específica não podem ser feitas, porque em geral a população não é explicitamente definida” (MALHOTRA, 2005, p. 266).

Apesar dessas e de outras considerações do autor, optou-se pela técnica de amostragem por julgamento para selecionar os escritores a serem entrevistados. Independentemente da impossibilidade de se fazerem generalizações acerca dos escritores da Serra Gaúcha, acredita- se que a realização dessas entrevistas é o primeiro passo para compreender a atuação de alguns escritores no sistema literário da região.

Para conduzir a coleta direta de informações tanto com os escritores quanto com os editores, optou-se pela técnica de execução de entrevistas pessoais ou de profundidade. Malhotra explica que:

As entrevistas de profundidade são conversas levemente estruturadas com indivíduos escolhidos do público-alvo. Assim como as discussões em grupo, as entrevistas de profundidade não são um meio estruturado e direto de obter informações. Porém, diferentemente daquelas, as entrevistas de profundidade são conduzidas uma a uma. Elas duram de 30 minutos a mais de uma hora, e tentam descobrir os motivos básicos, os preconceitos e as atitudes em relação a questões delicadas (2005, p.119).

Assim como em discussões em grupo ou entrevistas simplificadas, em entrevistas pessoais de profundidade, o pesquisador tem de preparar um esboço com perguntas que poderão dirigir a entrevista22. Além de obter respostas às perguntas pré-elaboradas, é propósito desse tipo de entrevista descobrir questões implícitas que, talvez, não seriam compartilhadas em um grande grupo acerca do atual ambiente literário da Serra Gaúcha.

Conforme Alves e Silva, a análise qualitativa de dados “visa apreender o caráter multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural, bem como captar os diferentes significados de uma experiência vivida, auxiliando a compreensão do indivíduo no seu contexto” (ALVES; SILVA, 1992, p.61). Nesse sentido, essas autoras concordam com Malhotra, ao afirmarem que a realização de entrevistas de profundidade é uma técnica que pode ser utilizada para coletar dados qualitativos. Para isso, elas ressaltam que o pesquisador precisa ter consciência da necessidade de obter as informações dentro de um contexto específico e da grande quantidade de dados que deverão ser sistematizados, para que, em seguida, seja realizada a composição do texto de análise das informações coletadas.

Portanto, a análise qualitativa de dados “se caracteriza por buscar uma apreensão de significados na fala dos sujeitos, interligada ao contexto em que eles se inserem e delimitada pela abordagem conceitual (teoria) do pesquisador” (ALVES; SILVA, 1992, p. 65).

Em suma, observa-se que, neste trabalho de pesquisa, há análise de dados quantitativos, que são apresentados no capítulo 4, e qualitativos, nos capítulos 5 e 6. O uso das duas técnicas deve-se ao grande volume de informações encontradas. Acredita-se que isso contribuiu para a coleta, organização e análise dos dados, além do aperfeiçoamento das discussões realizadas nesta pesquisa.

22 As perguntas realizadas para os escritores e editores serão apresentadas, respectivamente, na introdução dos capítulos 5 e 6.

“Um bom escritor em geral nasce —creio— com a vocação para a literatura. O resto, que é muito, dependerá de artesanato, experiência, paciência, persistência, trabalho. Está claro que não estamos falando dos gênios, esses bichos raros que aparecem esporadicamente nas literaturas.” (ERICO VERISSIMO, 1970)23

23 FONTE: Nós somos mais mágicos que lógicos. Folha de S. Paulo, São Paulo, 7 de junho de 1970. Disponível em http://almanaque.folha.uol.com.br/entericoverissimo.htm. Acesso em 17 de novembro de 2017.

4. A CONFIGURAÇÃO DA CENA EDITORIAL DA SERRA GAÚCHA DE 2000 ATÉ