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Os escritores serranos e a publicação na internet

5. OS ESCRITORES DA SERRA GAÚCHA: ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

5.2 As entrevistas: escritores no sistema literário da Serra Gaúcha

5.2.2 Os escritores serranos e a publicação na internet

FONTE: Elaborado pela autora desta tese.

Observa-se que mais da metade dos escritores publica ou já publicou na internet. Dentre os escritores que já o fizeram, há diferentes modalidades de publicação online. Cerca de 28% dos entrevistados publica alguns poemas, trechos de contos ou romances para divulgar o seu trabalho e tentar formar o seu público leitor. A maioria deles usa o meio digital para divulgar o que fazem no meio impresso e/ou como forma de memória do que produzem no impresso, ou seja, publicar online facilita a busca de textos de anos anteriores.

Existem também aqueles que publicaram um livro na internet e não gostaram da experiência. Eles afirmam que poucos leram o seu texto e não conseguiram a visibilidade que esperavam alcançar. Para eles, ao mesmo tempo que os blogs, as redes sociais, as plataformas de publicação de livros parecem ser um espaço bem visível, através dessa experiência, ficou a impressão de que esses espaços são invisíveis, pois não conseguiram dar continuidade ao trabalho e angariar leitores para a sua obra.

Há, ainda, escritores que estão passando por uma fase de transição. Um dos escritores entrevistados, além de publicar alguns de seus textos online para a divulgação do seu trabalho, também tem um público leitor que recebe os seus textos através de cartas. Quando ele começou a escrever, o acesso à internet era muito precário; assim, consciente de que precisava conquistar seu público, ele divulgava o seu trabalho através de cartas que até hoje são enviadas a pedido de alguns leitores específicos. De qualquer forma, a internet é uma poderosa ferramenta de que os autores dispõem para divulgar o seu trabalho. Através da velocidade do acesso à informação, quem faz uso desse recurso pode conquistar um público leitor maior e em menor tempo.

Sim (publico periodicamente)

12%

Não 44% Sim (apenas para a

divulgação do meu trabalho) 28% Sim (já publiquei livros) 16%

A internet também facilita o contato entre o escritor e os seus leitores, pois, ao publicar online, mesmo que seja um pequeno texto para a divulgação de determinada obra, por exemplo, os autores, em sua maioria, conseguem um retorno quase que imediato dos leitores que comentam as suas publicações.

Em torno de 16% dos escritores publicaram um livro em alguma plataforma digital, e ressalta-se que 8% o fizeram no ano de 2016. Dois autores publicaram um livro na plataforma Wattpad, na qual qualquer pessoa pode publicar no formato de capítulos, além de poder incluir músicas, imagens e vídeos. Esses autores destacam que o que os motivou a publicar online foi o fato de poder receber um feedback em curto espaço de tempo por parte dos leitores. No caso do livro físico, o retorno dos leitores pode ser um pouco mais demorado. Eles destacam que publicar nessa plataforma foi uma experiência bem interessante, especialmente por causa do contato imediato com os leitores e pela visibilidade que ganharam, chegando a alcançar mais de duas mil leituras.

A partir do Wattpad, muitos livros passaram do meio digital para o impresso. Um exemplo é a coletânea de livros After, que teve mais de um bilhão de leituras online, e que também foi projetada para o cinema. Esses escritores ponderam que essa pode ser uma porta de entrada significativa para o cenário literário nacional e internacional.

E, finalmente, 12% dos entrevistados publicam periodicamente na internet, mas nunca publicaram livros online. Alguns deles administram sites e/ou blogs nos quais divulgam o seu trabalho e publicam crônicas, tiras, contos e trechos de romances. Outros também mantêm colunas em revistas e jornais, portanto, publicam periodicamente na internet. Mesmo assim, o número de escritores serranos que nunca publicou ou divulgou o seu trabalho na internet ainda é grande, cerca de 44% dos entrevistados. Entretanto, acredita-se que esse cenário, mesmo que lentamente, está mudando. Com exceção de poucos que dizem que não gostariam de ver o seu texto online e que “não têm tempo para internet”, os autores estão se dando conta de que ela é uma ferramenta eficiente em termos de divulgação de seu trabalho e captação de leitores. Muitos acreditam que, se sua obra estivesse toda publicada na internet, o seu número de leitores seria bem maior.

Em suma, a ideia romântica de que o escritor fica no seu sótão escrevendo a sua obra não existe mais. As pessoas, de modo geral, estão cada vez mais conectadas, interagindo com os participantes do seu círculo de convivência, de sua comunidade ou de fora dela através dessa ferramenta. Por isso, é preciso que os escritores da atualidade, se desejarem promover a sua obra, serem (re)conhecidos enquanto escritores, criarem o seu público leitor e publicarem em uma grande editora, façam uso das redes sociais, blogs, sites etc. De fato, a internet pode ser

um instrumento bastante eficiente de divulgação do texto literário e de seus escritores, além de contribuir para a captação de novos leitores.

É no final do século XX que surgem os e-books (os livros eletrônicos). A partir da ampliação da capacidade de armazenar informações virtualmente, é possível encontrar uma grande quantidade de livros disponíveis online, que permitem o download (sob pagamento ou não) e, até mesmo, podem ser impressos pelo leitor. Este ainda tem a possibilidade de fazer uso da tinta eletrônica, ferramenta com que é possível grifar trechos e fazer anotações no e-book, que também ficarão armazenadas.

Através da internet, é possível difundir o conhecimento de forma eficiente e veloz. Zilberman (2001) afirma que as transformações tecnológicas, especialmente o surgimento de novos instrumentos de computação e multimídia, estão contribuindo para que ocorram mudanças nas atividades de leitura e escrita, por um lado, “mais solitárias e menos dialógicas, porque resultantes da relação do sujeito com a máquina” (ZILBERMAN, 2001, p. 115); de outro, porém, “apresentam-se alternativas técnicas de manipulação colocadas ao alcance do recebedor, o usuário do mecanismo, a quem se faculta intervir no texto, driblando a proibição imposta pela noção de propriedade intelectual” (ZILBERMAN, 2001, p. 116).

A pesquisadora acrescenta que o equipamento eletrônico é também meio de comunicação que ocorre através da internet. Como foi possível observar, muitos escritores da região já fazem uso dessa ferramenta como forma de divulgação de seu trabalho para formar seu público leitor. A socialização da consulta é outra consequência apontada pela autora, pois “operações em rede disponibilizam todo e qualquer tipo de informação, corporificando, ainda que de forma virtual, a biblioteca de Babel ideada por Jorge Luis Borges” (ZILBERMAN, 2001, p. 116). Além disso, conforme a autora, os custos de acesso ao conhecimento e à cultura acabam tornando-se menores e podem assessorar o trabalho das escolas.

Ao refletir acerca das transformações que o livro vem sofrendo diante dos avanços tecnológicos, muitos anunciavam que o livro físico, no formato como o conhecemos, desapareceria da sociedade. Para a estudiosa, outros produtos culturais, como o teatro e o cinema, por exemplo, também sofreram previsões de que iriam desaparecer. O surgimento do cinema ameaçou a hegemonia no teatro, “mas os dois gêneros harmonizaram-se, acabando por se subsidiarem mutuamente” (ZILBERMAN, 2001, p. 117). De mesmo modo, o surgimento da televisão ameaçou o cinema, entretanto, a convivência se restabeleceu. Para a autora, as mudanças são necessárias, porque o mercado precisa se renovar “para que o consumidor se interesse por equipamentos mais novos e eficientes” (ZILBERMAN, 2001, p. 117), de modo a atender aos interesses comerciais de uma sociedade capitalista.

As mudanças no sistema literário “determinam não apenas rupturas, mas também continuidades, desde que adaptações ocorram” (ZILBERMAN, 2001, p. 117). Para a autora, o livro não desaparecerá, apenas se adaptará às condições de sua época para encontrar o seu espaço e estabelecer novamente a sua rede de relações.

Chartier (2001a) também advoga que o livro não desaparecerá, mas ganhará um novo suporte. Mesmo assim, o estudioso não garante que o livro no formato físico continuará fazendo parte de nossas vidas. Por outro lado, ele pondera que a profissão de editor sempre terá o seu valor, porque, mesmo que o livro seja publicado online, ainda existe a necessidade de um editor para garantir que seja oferecido um e-book de qualidade em termos de edição para os leitores. Dessa forma, o editor deverá utilizar os recursos multimídia a seu favor, de modo que venha a qualificar sua função.

Darnton (2009) acrescenta que o e-book é uma saída interessante para as editoras acadêmicas, por exemplo. Segundo o autor, os recursos digitais facilitam a organização das pesquisas realizadas, como monografias e artigos, além de possibilitarem o acesso à informação para a comunidade acadêmica em geral. Contudo, para que isso ocorra, é preciso investir em um sistema de produção e edição digital e distribuição original de alta qualidade. Apesar de não estabelecer relações entre o livro eletrônico e textos de ficção, Darnton (2009) acredita que ‘o mundo do saber’ “continuará dentro dos limites da galáxia de Gutenberg – ainda que essa galáxia vá se expandir graças a uma nova fonte de energia, o livro eletrônico, que servirá como suplemento, e não substituto, da grande máquina de Gutenberg” (DARNTON, 2009, p. 95).

A tecnologia avança de forma bastante rápida, por isso, torna-se difícil prever como será o mundo dos livros no futuro. Observa-se que na Serra Gaúcha há uma movimentação dos escritores para se inserirem no mundo digital, com o propósito de divulgar o seu trabalho ou de publicar seus textos online. No entanto, observa-se também que há uma forte tendência no mercado do livro brasileiro acerca da publicação de pequenas tiragens. Nesses casos, os livros, normalmente, têm um aspecto artesanal e são muito bem trabalhados esteticamente.

Assim como as opiniões apresentadas, acredita-se que o livro não vai desaparecer no formato como o temos hoje, mas não se pode ignorar a revolução pela qual os livros estão passando. O custo-benefício para as editoras e para os escritores, a rapidez com que o livro pode chegar aos leitores, a possibilidade de amplo campo de divulgação e distribuição de livros, os baixos custos de distribuição dos exemplares, o feedback quase que imediato dos leitores são aspectos que contribuem para que o e-book seja uma forte tendência do mercado do livro e para que escritores dos mais diversos lugares, inclusive os serranos, busquem se inserir no mundo digital.