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Modo de pensamento visual-espacial resultante da construção de

No documento MARIA DA CONCEIÇÃO MONTEIRO DA COSTA (páginas 148-151)

5.1. Caracterização empírica dos modos de pensamento visual-espacial

5.1.3. Modo de pensamento visual-espacial resultante da construção de

Os dois episódios seguintes pretendem ilustrar e caracterizar o novo modo de pensamento PVR (resultado de se dividir o modo PVMM/PVR) definido por operações intelectuais relacionadas com a construção mental de relações entre imagens, a comparação de ideias, conceitos e modelos e identificar os processos mentais que lhe estão associados: intuições antecipatórias; comparações, descoberta de relações entre imagens, de propriedades e de factos; abstracção reflexiva; síntese e metacognição. O processo de metacognição vai ser entendido como regulação da cognição que inclui o planeamento antes de começar a resolver um problema, e avaliação contínua durante a resolução do problema (Schoenfeld citado em Dahl, 2004).

Vamos novamente examinar o episódio 9 para analisar agora o pensamento visual- espacial do Abel. Os dois alunos estavam a resolver a tarefa flor e o Abel diz ao Delfim os comandos a executar:

50 Abel: pa, enter, l, virar enter.

(Ficam os dois alunos a pensar um pouco, olhando para a figura do ecrã, falavam entre si, mas era indistinguível ... Abel muda o passo do Tarta, como se pode ver pelo aparecimento da caixa, tecla l, para mandar construir uma linha, com as setas de direcção escolhe os pontos por onde essa linha irá passar e manda virar, apareceu a nova construção no ecrã T14).

(Abel fica tão contente que bate as palmas e põe-se aos pulos a cantar. Delfim está muito calado, espantado com a alegria do colega e não muito crente no que via, e parecendo não perceber o pensamento do Abel. Este mexe com as mãos na cabeça e nos cabelos faz o movimento correcto com a mão no ecrã, para dar a indicação do movimento, direcção e sentido).

51 Abel: Desliza para baix.o

(Sai para ir dar uma volta. Delfim então muda o passo para cm, fazendo aparecer a caixa de mudança do passo, faz o que colega lhe mandou, teclando db seguido de enter e surge-lhe a construção T15

52 Delfim: Estás a ver, está mal, está mal, Abel....Estás a ver, estás a ver...

O Abel pareceu envolvido num modo de pensamento visual-espacial resultante da manipulação mental de imagens (parágrafos 50 e 51) onde imagens dinâmicas e antecipadoras estiveram presentes. Ele descreveu essa sua dinâmica mental verbalizando (parágrafo 51) em simultâneo com a representação de uma imagem cinestésica (gesto icónico, descrição entre os parágrafos 50 e 51).

53 Abel: (Abel chega-se ao pé do computador, pensa uns segundos e diz:) Não. Desliza para

baixo. (Simultaneamente faz um gesto com a mão para baixo.)

(Delfim tecla o que o colega lhe mandou, db apareceu uma nova construção T16 .)

54 Abel: apa.

55 Delfim: apa (indicando com o dedo que estava a perceber). Agora sou eu que faço.

O Delfim parecia perturbado com a figura que tinha construído segundo as indicações de Abel, T15 (parágrafo 52). Este veio examiná-la e ao fazê-lo, pareceu envolver-se num modo de pensamento resultante da construção de relações entre imagens, modo PVR. Repare-se Abel depois de pensar uns segundos (parágrafo 53) dá uma ordem ao colega com segurança. Talvez se possa induzir daqui várias coisas. Uma é que o Abel ao dizer ao Delfim “Não. Desliza para baixo” integrando também o respectivo gesto icónico (parágrafo 53) se envolveu em actividades de construção de relações entre imagens, de raciocínio transformativo (gerando imagens antecipadoras), de planeamento mental da acção seguinte, de

metacognição, sempre num processo onde imagens dinâmicas estiveram presentes com o fim de prever visualmente a construção de diferentes partes da flor. Uma outra análise pode ser a seguinte: Abel deu uma ordem ao Delfim (parágrafo 51) sem a ter planeado completamente ou talvez tivesse pensado que o Tarta activo era outro. Só depois de ser chamado pelo Delfim para examinar o que tinha acontecido é que foi avaliar as imagens construídas e estabelecer relações entre essas imagens. Quando Abel proferiu o segundo “deslizar para baixo” isso acarretou execuções mentais complexas (para o aluno Abel), resultantes de antecipações e de diferentes transformações O Abel também integrou esta dinâmica mental com um gesto icónico que envolvia por tal abstracções elaboradas a partir da acção (abstracção pseudo- empírica), isto é, baseadas nas relações percebidas no micromundo Tarta. Os processos mentais observados neste modo PVR são: descoberta de relações entre imagens, abstracção reflexiva, metacognição.

Com o episódio 17 podemos aprofundar a descrição do modo PVR. A investigadora pergunta ao Gil, qual das três figuras rectangulares dispostas horizontalmente na folha da tarefa V é a mesma que a figura rectangular de cima?

2 Gil: Esta (indicando a figura do meio). 3 Inv.: Porquê?

4 Gil: Se eu virar ao contrário. (Simula rodar a mão.) Isto aqui é a bola.

5 Inv.: Virar? É isso o que queres dizer? O que fazias à peça?

6 Gil: Rodar uma volta.

7 Inv.: Uma volta? Ficas no mesmo sítio.

8 Gil: Um quarto de volta.

9 Inv.: Rodavas um quarto de volta, e depois?

10 Gil: Rodava meia volta. A bolinha fica aqui e o quadradinho fica ali.

11 Inv.: Se pensares da mesma maneira, qual destas três figuras (aponta as figuras dispostas

horizontalmente no fim da página) é a mesma que a de cima (quadrado A)?

12 Gil: Esta (figura D) rodava meia volta. A bolinha fica aqui e o quadradinho... (Vai

apontando).

13 Inv.: Rodavas em torno de que ponto?

14 Gil: Em torno deste. (Centro do quadrado.)

Pelos gestos e verbalizações observados parece que o modo de raciocinar do Gil estava próximo do modo de pensamento visual-espacial resultante da manipulação mental de imagens. O Gil começou por rodar mentalmente uma imagem, como o gesto deiético o assinala (parágrafo 2). A respectiva descrição dessa dinâmica mental não esteve coerente com o gesto (parágrafo 4) e foi melhorada por alterações a essa descrição mediadas pela investigadora (parágrafos 5 a 10). O Gil também apontou breves relações entre as imagens

(parágrafo 10). Depois o Gil transformou uma imagem, visionou o resultado dessa transformação rotação e comparou-o (parágrafo 12), começando também a apontar novamente relações entre as imagens por gestos deiéticos (parágrafos 12 e 14). O pensar visual-espacial de Gil envolveu talvez o modo de pensamento PVR, se bem que ainda duma forma muito básica e pouco clara, quando expressava relações entre imagens (parágrafos 10, 12 e 14). Só usou uma vez uma imagem cinestésica quando se não lembrava do vocabulário adequado (parágrafo 4). As outras imagens eram imagens dinâmicas (parágrafo 3, 10 e 12). Os processos mentais observados neste episódio são: transformações mentais, descoberta de relações entre imagens.

O pensamento visual-espacial do Abel, no episódio 9 revela um pensar visual-espacial resultante da construção de relações entre imagens, modo PVR. Os processos mentais observados neste modo PVR são: descoberta de relações entre imagens (episódios 9 e 17), abstracção reflexiva (episódio 9) e metacognição (episódio 9).

No documento MARIA DA CONCEIÇÃO MONTEIRO DA COSTA (páginas 148-151)