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O fato motivador dessa reflexão

Nunca fui personagem importante nos meios estudantis, mes- mo porque, vindo do interior, nunca cheguei a assumir o status de cidadão metropolitano. Fiz toda a minha formação anterior à universidade no interior e em intenso contato com o meio ru- ral. Minha experiência com a vida metropolitana foi inaugurada com o acesso à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em janeiro de 1967, por ocasião do primeiro vestibular classificató- rio. Essa modalidade de vestibular pôs fim à tradicional ques- tão dos “excedentes” — assim eram chamados os estudantes

que ano a ano conseguiam ser aprovados nos vestibulares, mas não podiam ser admitidos porque não havia vagas suficientes. Daí por diante, o problema da aprovação ou não foi devolvido à sociedade, pois os candidatos deveriam esforçar-se por obter boas classificações, pois, em princípios, todos estariam aprova- dos, mas somente seriam admitidos os que obtivessem as me- lhores classificações, até o número de vagas determinados para cada curso. Semanticamente, mudou-se a situação de “repro- vado, ou excedente”, para “não classificado”.

A condição de pequenos agricultores de meus pais, acrescida ao fato de termos migrado recentemente, em 1959, de Boquim, no Estado de Sergipe, para Itapetinga, no Sudeste da Bahia, na época uma ainda nova fronteira agrícola, tornou-se demasia- damente fragilizada, ao ponto deles não terem condições de custear os meus estudos, pois na cidade somente havia colégio privado. Para aquela região também já havia migrado grande parte da minha família e legiões de sergipanos, para o trabalho na lavoura cacaueira. Seria o nosso Eldorado, na expectativa de meu pai. Mas continuamos nesse estado de penúria por quase 10 anos mais. Desse modo, quando conclui o curso ginasial em 1963, continuávamos sem condições econômico-financeiras de providenciar meu deslocamento para Salvador, centro urbano mais desenvolvido e mais próximo na época. Assim, não pude acompanhar a maior parte dos meus colegas de turma após a conclusão do curso. Convivi, nessa fase da adolescência, sob o pesadelo de ver frustrados os meus sonhos de chegar à universi- dade e seguir uma carreira acadêmica.

Diante disso, para dar continuidade aos meus estudos, tive de migrar mais uma vez e, nesse caso, já sem a família. Ainda em 1962, graças à mediação de meu cunhado Getro Guimarães, praticamente um dos fundadores da cidade, conheci o Padre Melo do Cabo, que foi a Itapetinga visitar os pais dele, também migrantes sergipanos e moradores da cidade, após a realização

do I Congresso de Trabalhadores Rurais do Norte Nordeste do Brasil, do qual teria sido Presidente de Honra, na cidade de Ita- buna. Vale lembrar que foi nesse evento que os trabalhadores rurais, com o apoio de frações progressistas da Igreja Católica, conseguiram “arrancar” do Governo João Goulart as primeiras 22 cartas sindicais dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais, no dia 13 de maio de 1962, mesmo sem ter sido ainda aprovado o Estatuto do Trabalhador Rural, o que veio a ocorrer somente em março de 1963.

Meu cunhado, também migrante para a região, egresso da Paraíba, tornara-se amigo do jovem padre, recém-ordenado, desde os tempos de juventude, quando juntos promoviam es- petáculos teatrais na região em prol da construção do primeiro templo católico da cidade. Conhecedor das dificuldades econô- mico-financeiras de minha família e da minha vontade de con- tinuar meus estudos, meu cunhado resolveu apresentar-me ao padre com o propósito de estudarmos a possiblidade de conse- guir um trabalho em Recife, em cuja arquidiocese estava basea- do o padre, de tal modo que eu pudesse adquirir o necessário para dar continuidade aos meus estudos, até então, em minha ansiedade de adolescente, um sonho quase impossível.

O encontro foi promissor, mas eu deveria concluir o ginásio ainda na casa de meus pais. Enquanto isso, em mais um ano, ele já estaria melhor instalado no Recife e certamente teria melho- res condições para me receber, e assim aconteceu. Como não havia linha de ônibus entre as duas cidades, viajei durante três dias, fazendo baldeações, de Itapetinga até Recife, onde che- guei no dia 11 de janeiro de 1964. Na época, eu nem entendia bem o que significava aquele movimento de criar sindicatos e estender direitos trabalhistas aos trabalhadores rurais. Embo- ra, ainda criança, em companhia de meu pai, já tivesse partici- pado, em Sergipe, de uma reunião de lavradores com o então Bispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora, para implantar em

nosso Município o Movimento de Escolas Radiofônicas — Mo- vimento de Educação de Base (MEB), o qual, somente depois de 1964, tomei consciência da sua importância para o processo de emancipação dos trabalhadores do campo.

Passaram-se mais três anos até que eu pudesse chegar à universidade. Estudei à noite em uma escola da Campanha Na- cional de Escolas da Comunidade (CNEC) e trabalhava em tem- po integral durante o dia ligado às obras sociais dirigidas pelo Padre Melo na Paróquia do Cabo. Mais tarde, depois que fiz ves- tibular, passei a trabalhar, em tempo parcial, em Recife, para o Departamento Nacional de Mão de Obra Ministério do Traba- lho. No entanto, durante todo esse período, desde o colégio e todo o tempo de faculdade, morei na cidade do Cabo de Santo Agostinho, situada na região metropolitana, distante de Recife a apenas 30 km.

Foram vários os momentos, na minha vida estudantil e aca- dêmica, em que me deparei com a repressão militar. O primei- ro grande impacto aconteceu em menos de três meses depois de ter chegado a Recife, com o golpe militar, na madrugada de 31 de março para o 1º de abril de 1964. Passamos toda a ma- drugada deitados no assoalho do casarão paroquial ouvindo as últimas transmissões da Radio Mayrink Veiga até o momento em que, já alta madrugada, os seus transmissores foram silen- ciados. Daí em diante, sintonizamos a “cadeia verde e amarela de libertação nacional”, formada pelas emissoras que já haviam aderido ao golpe, e passaram a anunciar a vacância da Presi- dência da República e a posse de Ranieri Mazzilli, então pre- sidente do Congresso Nacional, e o cercamento do Palácio das Princesas em Recife, onde estava o governador Miguel Arraes, por tropas do Exército e todas as operações militares que esta- vam sendo feitas pelo país afora. Já quase amanhecendo o dia, chegaram no casarão aonde estávamos duas lideranças da Ligas Camponesas do Cabo pedindo asilo ao Padre Melo, pois estavam

sendo procuradas pelo Exército. Essas duas pessoas passaram a conviver conosco sob as medidas de segurança que tivemos de estabelecer para que elas fossem realmente protegidas até que a poeira dos dias iniciais do golpe fosse baixando e permitisse a transferência delas para outros esconderijos mais seguros.

Passados os três anos iniciais do golpe, enfim cheguei à tão sonhada universidade, em 1967. Morando no Cabo de Santo Agostinho, tinha de acordar, das segundas às sextas feiras, às 4h30 para alcançar o primeiro ônibus que fazia a linha inte- rurbana entre as duas cidades, pois eu tinha que trabalhar na Delegacia Regional do Trabalho pelas manhãs. Uma vez cum- prida a jornada de trabalho no Cais de Santa Rita, onde estava situada a DRT, saía às pressas para almoçar no restaurante uni- versitário, na Fafipinha — antiga sede da Faculdade de Filosofia de Pernambuco, na Soledade. Daí, seguia no ônibus da própria universidade para a Cidade Universitária, onde permanecia em aulas até o final da tarde.

Na Faculdade de Filosofia, apesar da sensação agradável de haver conquistado um grande tento em relação à perspectiva anterior de não poder chegar à universidade, sentia-me pro- fundamente estranho diante daquela mobilização estudantil como nunca tinha visto antes. Desde o momento da matrícula, já encontrávamos veteranos e experientes militantes estudan- tis que buscavam angariar a simpatia da calourada. Lembro-me que me tornei amigo de uma menina do curso de História que, anos mais tarde, viria a ser presa acusada de participar de um assalto a um Banco nos arredores de Recife. Os convites para reuniões de diretórios acadêmicos dificilmente podia atender, devido aos compromissos de trabalho que tinha de realizar de- pois da faculdade no Colégio Comunitário do Cabo de Santo Agostinho, onde estudei.

Contudo, mesmo não sendo um ativista estudantil junto com os demais colegas da universidade, estive envolvido em vários

episódios marcados pela repressão direta, sobretudo nas pas- seatas de protesto, contra a Guerra do Vietnam, contra o Acor- do MEC/Usaid que transformou as universidades brasileiras em caudatárias das universidades americanas. No entanto, um de- les pareceu-me mais significativo pela repercussão que alcan- çou tanto na minha história pessoal, como na vida da faculdade. Cursávamos, em 1969, o terceiro ano do curso de Filosofia da UFPE. No ano anterior, 1968, mais precisamente no segundo se- mestre, houve um movimento grevista dos trabalhadores rurais do Cabo, reivindicando pagamento de salários, férias, 13º salário e outros direitos trabalhistas já conquistados, mas que usineiros e senhores de engenho se recusavam a respeitar.

Além disso, reivindicavam também o cumprimento do Con- trato Coletivo de Trabalho, cuja primeira experiência ocorrera no final de 1963, ainda no Governo Arraes; requeriam também a extensão da previdência social aos trabalhadores rurais, uma vez que ainda não eram beneficiários, e, por fim, ainda ha- viam incluído na pauta das reivindicações a divisão das terras da Cooperativa Agrícola de Tiriri entre as famílias camponesas que a constituíam. Aquela já era a terceira paralisação que se fazia no município do Cabo depois do Golpe Militar. Como as moagens do início da colheita da cana aconteciam em setem- bro, depois do período chuvoso mais intenso, era considerado o momento mais adequado para a paralisação dos canaviais, pois tanto senhores de engenho como usineiros estavam mais vul- neráveis perante o mercado financeiro, necessitavam urgente- mente refazer os caixas.

Era já de costume surgirem incêndios nos canaviais por oca- sião dos movimentos grevistas dos anos anteriores. Senhores de engenho e usineiros costumavam acusar os trabalhadores de atearem fogo aos canaviais. E tudo acabava em prisões de tra- balhadores inocentes e repressões. Diante disso, como medida cautelar, naquele ano de 1968, os trabalhadores, juntamente

com suas lideranças, decidiram que, tão logo tivesse início a paralisação, os que haviam aderido à greve deveriam vir para a cidade, mesmo sem terem abrigo certo. A liderança do movi- mento teve a iniciativa de convocar um grupo de estudantes da Cidade do Cabo para montar um espetáculo teatral a ser apre- sentado nas principais faculdades do Recife, com o objetivo de esclarecer à população universitária sobre os objetivos do mo- vimento e torná-la avisada antecipadamente. Com essas apre- sentações em 25 faculdades, tinha-se a expectativa de angariar apoio logístico dos estudantes e da sociedade em geral, uma vez que não se dispunha de acesso aos meios de comunicação no caso de haver repressão ao movimento. Entre esses estudan- tes, lá também estava eu. Assim, antes de cada apresentação da peça escolhida (Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto), os atores faziam uma exposição sobre o trabalho de or- ganização de base que vinha sendo feito entre os trabalhadores rurais no município do Cabo e em alguns municípios vizinhos, assim como esclareciam as reivindicações do movimento.

Quando efetivamente começou a paralisação, as lideranças dos trabalhadores, juntamente com seus assessores, voltaram às faculdades para falar aos estudantes e pedir-lhes apoio logístico. Prontamente, os estudantes saíram às ruas e, fazendo pedágios, conseguiram alimentos e jornais para alimentar e aquecer as noites mal-dormidas nas calçadas das ruas centrais da Cidade do Cabo. Foi uma mobilização muito intensa. Na minha facul- dade, de modo particular, passei a acompanhá-los de sala em sala, onde foi feita uma breve fala aos estudantes. No curso de Filosofia, a professora mais reacionária do curso tentou impedir a entrada dos trabalhadores e dos estudantes, mas nós entra- mos assim mesmo, enquanto os estudantes nos aplaudiam. Com esse episódio, desapareci da faculdade e somente fui reaparecer no período de provas finais. Com a chegada de dezembro, desa-

bou a noite escura sobre o que ainda havia de esperança no povo brasileiro — o Ato Institucional nº 5.

No ano seguinte, 1969, portanto, primeiro semestre após a edição do Ato Institucional nº 5 e do Decreto n° 477, embo- ra a cidade estivesse chocada com a ação do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) que acabara de torturar e assassinar o Padre Antônio Henrique, de 28 anos de idade, e secretário de D. Helder Câmara para a juventude, voltei à faculdade e come- cei a frequentar regularmente as aulas como todos os outros colegas, mas a cada dia a comunidade universitária tornava-se mais aterrorizada. Naquele ano, no entanto, foi-nos oferecida a disciplina de Filosofia da História, ministrada pelo professor Jarbas Maciel, também músico e matemático. Como matemáti- co, havia trabalhado para a National Aeronautics and Space Ad- ministration (NASA) — Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço —, nos Estados Unidos, até que a sua repulsa ao ra- cismo americano — apartheid — o levou à decisão de retornar ao Brasil. Como músico, violista erudito, amigo e companheiro de Ariano Suassuna, ajudou a implantar o Quinteto Armorial, tornando-se um dos cinco instrumentistas do grupo.

Como professor de Filosofia da História, levou-nos a pro- fundas reflexões sobre a história e sobre a constituição do fazer histórico, destacando o papel dos historiadores no desenvolvi- mento da consciência nacional e nas reflexões sobre as possibi- lidades de construção de um mundo mais harmonioso, apesar de toda ameaça que pairava no ar da eclosão de uma guerra nuclear que poderia levar a humanidade à extinção. Dentre os autores que nos pôs em contato, esteve Arnold Toynbee, histo- riador inglês, com o qual manteve uma relação de proximidade na medida em que foi tradutor da conferência que ele profe- riu naquela faculdade, em 31 de agosto de 1966. A conferência de Toynbee (1966) intitulou-se História, função e valor (por que estudar história?) e foi publicada, em forma de fascículo,

pela UFPE. Nessa publicação, estão o texto da conferência em inglês, como falou o historiador, e sua tradução para o portu- guês, feita pelo próprio professor Jarbas Maciel.

As reflexões que o professor Jarbas desenvolveu em suas aulas expositivas sobre o pensamento de Toynbee, entre tanto outros que foram considerados, serviram para nos alertar, ain- da que muito veladamente, para/contra a presença ostensiva na cena política brasileira de economistas e engenheiros, e não mais de políticos e humanistas. Consequentemente, o equacio- namento de nossos grandes problemas nacionais passava pela intensificação do alinhamento do Brasil com as políticas de aju- da externa dos Estados Unidos. Assim, o próprio valor e sentido da história naquele contexto nacional tornava-se indispensável para a reconstrução da nossa nacionalidade, pois, como reco- nhecia o historiador inglês:

Há, entretanto, um outro campo da vida prática em que o estudo da história tem indubitavelmen- te servido como uma força efetiva nas relações humanas, especialmente em tempos recentes. Os estudos históricos têm sido um dos fatores que estimularam o despertar de uma consciência na- cional adormecida. Uma das características mais salientes da história contemporânea tem sido o ressurgimento de nacionalidades submersas. Este movimento teve o seu início no Século XIX, na Europa, com a revivescência as consciências nacionais germânica e italiana. A partir daí, esse despertar tornou-se um fenômeno mundial. Foi responsável pela queda de uma série de impérios e fez surgir um número ainda maior de estados nacionais. Esta foi uma grande revolução, e uma boa revolução. O conhecimento que um povo tem de sua história nacional — ou a redescoberta desse conhecimento, quando houve interrup-

ção da continuidade histórica — constitui uma das forças motoras responsáveis por esta revo- lução. É uma que, no período de vida da minha geração, mudou o mapa político da superfície da terra ao ponto de torná-lo quase irreconhecível. (TOYNBEE, 1966, p. 26)

Como tarefa para a avaliação do meio do ano em Filosofia da História, conforme de costume na época, o professor nos pro- pôs a elaboração de um texto com reflexões sobre o pensamen- to de Toynbee. Para os padrões da época, o historiador britâni- co era considerado um conservador, pois, embora houvesse no seu pensamento um profundo reconhecimento das mudanças e das suas necessidades no curso da história, não assumia ex- plicitamente nenhum compromisso com o marxismo, com a luta de classe, pelo contrário, reconhecia um certo empenho de setores das elites dominantes no sistema mundial, no sentido superar as desigualdades sociais. Tanto que, no texto, reconhe- ce que:

Durante os 5.000 anos de história da civilização, até os nossos dias, quase todos os benefícios da civilização foram monopolizados por uma pe- quena minoria. A maioria, a bem dizer, custeou a civilização, sem ter participado das suas ame- nidades. Em nossos dias, a ciência moderna e a sua aplicação, forneceram-nos os meios de pro- ver uma participação nos benefícios da civiliza- ção acessível a todos. A injustiça social deixou de ser inevitável e, portanto, tornou-se intolerável. Felizmente, tornou-se intolerável, tanto aos seus beneficiários quanto às suas vítimas. Quase em toda a parte, a minoria privilegiada está fazendo esforços e sacrifícios de modo a diminuir o abis- mo tradicional entre ricos e pobres. (TOYNBEE, 1966, p. 32)

Evidentemente, o historiador tinha em mente a construção do Welfare State, tanto na Inglaterra como em outros países eu- ropeus, onde o Estado amparava os desempregados, os desvali- dos e, dentro de certas condições, também os outsiders, sobre- tudo perseguidos políticos em seus países de origem. (ELIAS, 2000) Mas para o desempenho da avaliação proposta pelo próprio professor Jarbas Maciel foram constituídas equipes de trabalho, posto que a elaboração do texto deveria ser coletiva. O meu grupo especificamente foi constituído por, além de mim, mais três colegas (um rapaz e duas moças). Após algumas discussões em horários que havíamos previamente combinado, chegamos à divisão de tarefas, ou seja, quem escreveria o quê.

A mim coube escrever a introdução do texto coletivo, en- quanto aos demais coube o desenvolvimento de aspectos que consideramos importantes para compreendermos o contexto em que estávamos vivendo no Brasil e no mundo com base no que havíamos lido em Toynbee. A ideia geral, enfim combina- da, era a de traçar um panorama com base nas perspectivas teóricas expostas pelo historiador em sua conferência, do per- curso a ser realizado para termos um possível futuro como povo brasileiro e como humanidade. Concluídos os textos, deixamos a cargo dos colegas que moravam em Recife a edição final do trabalho e, posteriormente, a entrega ao professor. Vieram as férias de meio de ano e nos dispersamos.

Retomado o ano letivo, um mês depois, no primeiro dia aula de Filosofia da História, recebemos os trabalhos devidamen- te avaliados e com as respectivas notas. Para minha surpresa, o nosso grupo não obteve a nota que esperávamos, tendo sido bem aquém da média da sala. Quando fui rever o texto que havia sido entregue ao professor no final do semestre anterior, perce- bi que não constava a parte que eu havia escrito. De imediato, procurei o professor e o interpelei quanto à ausência da minha participação escrita. Prontamente, respondeu-me que somente

havia recebido aquele texto do nosso grupo. Os demais mem- bros do grupo, embora estivessem ouvindo o diálogo entre eu e o professor, permaneceram calados. Até que o mestre dirigiu-se aos meus colegas de equipe, coautores do trabalho, e pergun- tou-lhes o que teria havido com o texto que eu havia escrito.