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Multiplicidade de tramas em Dark

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CAPÍTULO IV – ANÁLISE DE PRODUÇÕES ORIGINAIS DA NETFLIX

4.2 Sense8

4.4.4 Multiplicidade de tramas em Dark

A multiplicidade de linhas narrativas é, ao lado da concepção espaço-temporal, a principal característica de Dark. Além de se ter três temporalidades para acompanhar, o público precisa identificar diferentes versões dos mesmos personagens em cada um dos tempos, pois só assim é possível compreender a história contada. Mesmo que a série coloque Jonas Kahnwald como personagem principal do conflito central, integrantes das quatro famílias de Dark possuem grande importância para a movimentação dos acontecimentos, caso de, por exemplo, Ulrich Nielsen e Helge Doppler. Na verdade, podemos indicar três tramas principais (e seus personagens) e dez arcos menores, que dão apoio à grande narrativa, mas não menos importantes para a concretização da história, conforme tabela abaixo a seguir:

Tabela 10: Linhas/tramas presentes em Dark

Tramas principais (arcos maiores) Tramas secundárias (arcos menores)

1. Desaparecimento de Erik Obendorf, Mikkel Nielsen e Yasin Friese: trama conduzida por Ulrich Nielsen; 2. Cavernas de Winden e buraco de

minhoca: trama conduzida por Mikkel Nielsen e Jonas Kahnwald;

3. Disputa pelo controle das viagens no tempo: trama conduzida por Noah, Helge Doppler e Claudia Tiedemann.

1. Caso extraconjugal de Hannah Kahnwald e Ulrich Nielsen;

2. Obsessão de Hannah por Ulrich;

3. Triângulo amoroso entre Jonas, Martha e Bartosz; 4. Descoberta do câncer de Regina Tiedemann; 5. Quem é Aleksander Köhler/Boris Niewald e do

que ele está fugindo;

6. Homossexualidade de Peter Doppler e fim do casamento com Charlotte;

7. Romance entre Magnus e Franziska; 8. Atividades de Franziska na floresta; 9. Sumiços constantes de Tronte;

10. Quem é Noah e qual sua participação nas viagens do tempo.

As três principais tramas são compreendidas apenas quando entendidas em correlação, e as tramas secundárias auxiliam no suporte dessas linhas narrativas. No caso da trama principal 1, o desaparecimento das crianças (e especialmente de Mikkel) faz com que Ulrich acaba de 1953 e lá fique preso até o fim da temporada. O sumiço de Mikkel também leva à trama principal 2, quando o menino fica preso em 1986 e se torna Michael, pai de Jonas que, em 2019, é levado a investigar as cavernas de Winden e descobrir os portais de passagem do tempo e buscar H.G. Tannhaus para saber mais sobre o buraco de minhoca e a máquina do tempo. Finalmente, essa busca de Jonas acaba por conectá-lo aos desaparecimentos e assassinatos realizados por Helge Doppler e Noah, que deseja ter o controle das viagens no tempo e impedir que Claudia Tiedemann siga fazendo o mesmo.

Para entender como todas essas tramas de entrelaçam, se faz necessário observar atentamente a estrutura familiar dos Kahnwald, Doppler, Tiedemann e Nielsen, ação trabalhada por diversos episódios. Como existem as três temporalidades, é comum encontrar na internet diversos artigos na imprensa e vídeos no YouTube que buscam explicar não só a série, mas principalmente a árvore genealógica dos personagens e suas ligações, como a arte apresentada abaixo em matéria da revista Mundo Estranho, de dezembro de 2017 (Figura 28).

Figura 28: Árvore genealógica das quatro famílias de Dark

Fonte: Revista Mundo Estranho100

Do primeiro ao último episódio da primeira temporada, todas as histórias de cada personagem são trabalhadas, fazendo com que o público descubra informações pouco a pouco sobre os personagens a cada episódio, uma estratégia que mantém o suspense e a curiosidade da audiência. Há detalhes sobre a criação e o caráter dos personagens que são apresentados até mesmo no último episódio, quando, costumeiramente, a trama já está dada ao público e se espera apenas seu fechamento coerente.

No caso de Jonas, no episódio 1, ele se mostra como um rapaz perturbado com o suicídio do pai, que passara dois meses internado em uma clínica psiquiátrica e apaixonado por Martha Nielsen. No capítulo 2, ele deseja entender melhor o pai e visita com frequência o ateliê do patriarca, fazendo com que encontre o mapa das cavernas de Winden. No terceiro episódio, no entanto, ele não aparece, retornando somente no capítulo 4, quando entra na caverna e passa a investigar. No episódio 5, ele encontra o Estranho/Andarilho pela primeira vez diante da lápide de seu pai, beija Martha e recebe a encomenda enviada pelo Estranho em que lê a carta deixada por Michael no dia de seu suicídio. A revelação de que Michael era Mikkel o perturba demais e o personagem passa a viajar no tempo nos episódios seguintes, até ser raptado por Helge e Noah e despertar no futuro. A descoberta de que o Estranho/Andarilho é Jonas mais velho e que ele impede que Jonas saia do bunker, pois precisa sofrer para se transformar no homem que se tornou é entregue nos últimos momentos da temporada.

100 https://super.abril.com.br/mundo-estranho/um-mapa-das-familias-de-dark-da-netflix-para-voce-nao-se-perder/

Além de entregar dados sobre a história dos personagens vagarosamente, o que engaja a audiência a acompanhar muito além do primeiro episódio, Dark também constrói linhas narrativas que se cruzam e colidem por diversas vezes e nas três temporalidades apresentadas, o que exige do espectador uma grande atenção para entender quem é qual personagem em qual tempo. Logo no episódio 1 (Figura 29), a imagem de uma parede repleta de fotos ligadas por fios de lã não dá (ainda) a dimensão de quantos personagens serão apresentados na série. A mesma parede volta a aparecer somente no episódio 8, quando o público tem uma noção bastante clara de quem são as fotos apresentadas.

Figura 29: Mural com fotos de todos os personagens nas três temporalidades

Fonte: Dark, Episódio 1, Netflix.com

No total, a série trabalha com 27 personagens, sendo que cinco destes transitam pelas três temporalidades (Ines, Tronte, Jana, Helge e Claudia) porque possuem idade equivalente às décadas, além de Jonas, Ulrich e Noah, que conseguem viajar no tempo. Há ainda personagens que o público só conhece em uma temporalidade, caso de Agnes Nielsen, Greta Doppler e Dora Tiedemann, de 1953, e as crianças e adolescentes Jonas Kahnwald, Magnus e Martha Nielsen, Bartosz Tiedemann, Franziska e Elizabeth Doppler, de 2019. Todos os rostos são mostrados com clareza, um após o outro, os personagens em todas as temporalidades, no início do episódio 8, enquanto um narrador em voice-over fala sobre as dúvidas que os seres humanos têm sobre sua criação, evolução e existência de Deus – são 46 rostos em sequência. Portanto, seguimos

os mesmos personagens em 1953, 1986 e 2019, entendendo como os laços existentes se constroem, atam e desatam, e compreender esses encontros e desencontros é fundamental para o entendimento da série e das referências citadas.

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