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CLEBER FERREIRA JÓIA (*)

LUÍS SÉRGIO VANZELA (*)

A violência no Brasil está manifestando-se de maneira alarmante e transformando a vida da população de forma acelerada. O medo e a insegurança tomam cada vez mais espaço nos grandes e pequenos centros urbanos, e o aumento da criminalidade se deve a um conjunto de fatores que passam pela aceleração do processo de urbanização, pela concentração dessa população nas áreas metropolitanas e o processo de migração do crime de áreas tradicionalmente violentas para as periferias das cidades, criando, assim, um novo cenário: as novas territorialidades.

Para Pinheiro (2003), a violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos públicos, ceifa vidas, dilacera famílias e modifica nossa existência para pior.

Nesse sentido, este trabalho é relevante porque evidencia que a violência e suas consequências se tornaram um grave problema de saúde pública e deve ser assistida pelo Ministério Público, promovendo políticas mais eficazes ao atendimento do problema, como também de suas vítimas.

Considerando, nesse contexto, que as características socioambientais são diferentes em centros urbanos de diferentes dimensões, este trabalho objetivou avaliar a relação entre algumas características socioambientais (índice de desenvolvimento humano, índice de pobreza, densidade demográfica no município, densidade demográfica na área urbana, produto interno bruto per capita) sobre os casos de todos os tipos de violência e a violência psicológica e moral, em municípios do estado de São Paulo.

O presente trabalho se justifica pela potencialidade de reflexão de cada cidadão e dos órgãos públicos no que tange ao atendimento às vítimas de violência dos grandes centros urbanos, sobre as leis que a regem como também sobre novas propostas para o enfrentamento desse fenômeno social e mundial.

(*)Faculdade de Ciências Ambientais, Universidade Camilo Castelo Branco, Fernandópolis-Brasil. Actas do 11º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde

Organizado por Isabel Leal, Cristina Godinho, Sibila Marques, Paulo Vitória e José Luís Pais Ribeiro 2016, Lisboa: Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde

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168 MÉTODO Participantes

Para este estudo, utilizou-se uma amostra de 7,4% do total de municípios do estado de São Paulo, resultando em um total de 48 municípios estudados. Foram selecionados, aleatoriamente, municípios dentro dos seguintes extratos populacionais: (1) 0 a 20.000 habitantes (2) 20.001 a 50.000 habitantes, (3) 50.001 a 100.000 habitantes, (4) 100.001 a 500.000 habitantes e (5) acima de 500.001 habitantes.

A base de dados utilizada para realização do trabalho está apresentada na Quadro 1. Quadro 1

Base de dados utilizados neste estudo

VT Todos casos violência Casos (105hab)-1 SINAN (2010) VPM Casos violência psicológica e moral Casos (105hab)-1 IBGE (2014) IDH Índice Desenvolvimento Humano Adimensional IBGE (2014) PIB Produto Interno Bruto R$ hab-1mês1 IBGE (2014) IP Índice Pobreza Adimensional IBGE (2014) Dd Densidade Demográfica Municipal Hab KM2 IBGE (2014) Ddau Densidade Demográfica Urbana Hab KM2 IBGE (2010-2014)

Total Hab KM2 SINAN/IBGE

Fonte: Dados criados pelos autores.

Material

As variáveis VT e VPM foram obtidas do banco de dados do SINAN (2014) para o ano de 2010. Assim, os dados foram obtidos de forma absoluta (total de casos registrados) e, posteriormente, convertidos em valores relativos (total de casos por 100.000 habitantes) para as análises estatísticas.

Os valores de IDH, PIB, IP e Dd foram obtidos diretamente para cada município avaliado, do banco de dados do IBGE (2014), para o ano de 2010, visando compatibilizar o período estudado entre as variáveis analisadas. Os valores de Ddau foram determinados pelo quociente entre a população urbana e a área urbana. Os dados de população urbana absoluta foram obtidos diretamente do banco de dados do IBGE (2014), enquanto as áreas urbanas dos municípios foram determinadas a partir dos mapas estatísticos do IBGE (2010), utilizando técnicas de geoprocessamento.

Procedimentos

A análise estatística consistiu na análise de regressão entre as variáveis dependentes e independentes. Foram testados os modelos lineares, quadráticos e logarítmicos. A avaliação dos melhores modelos entre as variáveis dependentes e independentes foi realizada

considerando o maior nível de significância (valores de p) e do melhor ajuste da regressão

(coeficiente de determinação r2). As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do

software SPSS.

RESULTADOS

A resposta dos casos de todos os tipos de violência foi significativa se comparada à densidade demográfica do município para o extrato populacional 2 (Figura 1, a) e densidade demográfica do município, índice de desenvolvimento humano e índice de pobreza para o geral dos municípios (Figura 1, b, c e d).

Figura 1. Resposta dos casos de todos os tipos de violência – VT em função da densidade demográfica dentro extrato populacional 2 – Dd (a) e do índice de desenvolvi - mento humano – IDH (b), do índice de pobreza – IP (c) e da densidade demográfica – Dd (d) no geral dos municípios.

Os resultados demonstram tendência de crescimento nos casos de todos os tipos de violência com o aumento da densidade demográfica municipal e do índice de desenvolvimento humano nos municípios. Entretanto, para o índice de pobreza, a tendência de crescimento nos casos de violência somente é observada a partir de cerca de 30% de pobreza (Figura 1, c).

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Esses resultados corroboram a pesquisa de Santos (2005), quando relata que o índice de pobreza é um dos causadores dessas violências totais, que ainda se concentram no sexo feminino, mas que apresentam causas diferenciadas, embora a questão de gênero se sobressaia.

Com relação à violência psicológica e moral, foram observadas respostas significativas com o produto interno bruto per capita no extrato populacional 1 (Figura 2, a) e com a densidade demográfica municipal e densidade demográfica na área urbana no extrato populacional 4 (Figura 2, b e c).

Figura 2. Resposta dos casos de violência psicológica e moral – VPM em função do produto interno bruto per capita – PIB (a) no extrato populacional 1, da densidade demográfica municipal (b) e da densidade demográfica na área urbana – Ddau (a) no extrato populacional 4.

Como pode ser observado para o extrato populacional 1 (Figura 2, a), os casos de violência psicológica e moral tenderam a aumentar significativamente a partir de um produto interno bruto per capita de cerca de R$ 3.500,00. Já para no extrato populacional 4 (Figura 2, b e c), os casos de violência psicológica e moral tenderam a aumentar tanto com o crescimento da densidade demográfica municipal quanto com a densidade demográfica na área urbana.

DISCUSSÃO

O que se apresenta quanto aos dados da violência psicológica, fator difícil de ser apontado em pesquisas, principalmente nas causas e consequências desse ato, é que estas se originam de conflitos familiares, ocorrem geralmente com o gênero feminino e crianças e jovens, conforme relata Lippi (2003). Para este autor, as consequências desse tipo de violência ainda desenvolvem diferentes psicopatologias que, se não diagnosticadas e tratadas de maneira adequada, tendem a criar novos padrões comportamentais mais violentos.

Sabe-se que quanto maior a população, maior é o índice de violência praticada, e que as condições econômicas e financeiras da população afetam esses índices, resultados corroborados por Pimentel e Flores (2012), que relatam que os municípios da região sudeste, sobretudo no estado de São Paulo, apresentam índices altíssimos, principalmente nas regiões metropolitanas e, também, por seu crescimento não planejado nas cidades mais afastadas do centro e pelo crescente aumento da população das classes populares.

Em estudos de Paz (2006), há relatos de que a violência psicológica ocorre em 26,7% dos casos pesquisados, tendo o parceiro jovem como agressor, com menos de cinco anos de estudo e que consumia álcool e outras drogas. Os dados também revelam que nos municípios pesquisados, os índices de densidade demográfica e de pobreza estão sumariamente ligados aos índices de violência psicológica e moral, além de estarem intrinsicamente ligados aos outros tipos de violência, tendo em vista que um tipo de ato violento não ocorre sozinho, mas está vinculado a outros.

Assim, a violência, seja ela qual for, necessita de um espaço entre as políticas sociais na agenda do Estado, o que requer destas um resgate histórico e crítico do papel de todos sobre a participação efetiva nessas conquistas e lutas pela democracia, cidadania e igualdade; requer também a reconstrução de um paradigma social mais amplo, no qual cada indivíduo não age sozinho, mas coletivamente.

Existem outros fatores que vêm a influenciar, também, o perfil do agressor, que são causas de caráter social: a definição de papéis dentro da própria família, a questão da renda e do sustento da casa, o estímulo da mídia no que se refere aos diferentes papéis que tanto mulher como homem devam exercer, a preferência sexual de cada um, o uso abusivo de álcool e outras drogas, entre outros.

A violência contra qualquer indivíduo se torna um grave problema no Brasil e nos demais países, e seu enfrentamento se faz urgente e necessário, mas é preciso questionar como a sociedade é estruturada e organizada, através das relações desiguais de poder; significa, também, que se tem que desarticular os pilares que sustentam esses atos violentos, que a sociedade, junto aos órgãos governamentais, por meio de suas políticas públicas, a combatam, que a previnam. Esse trabalho deveria contemplar a diferença entre os papéis que homens e mulheres exercem dentro da sociedade, dentro dos grupos sociais com os quais convivem e se relacionam.

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Os casos de todos os tipos de violência em municípios do estado de São Paulo tendem a crescer com o aumento da densidade demográfica municipal, com índice de desenvolvimento humano insatisfatório e a partir de 30% de índice pobreza. A violência psicológica e moral tende a crescer a partir de um produto interno bruto per capita municipal de R$ 3.500,00 para municípios com população de até 20.000 habitantes e também com a densidade demográfica municipal e da área urbana para municípios com população entre 100.001 a 500.000 habitantes.

REFERÊNCIAS

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. @Cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2014. Disponível em http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/home.php

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mapas Municipais Estatísticos do Censo 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em http://www.ibge.gov.br Lippi, J. R. S. (2003). Tentativa de suicídio associada à violência física, psicológica e

sexual contra crianças e adolescentes. Teses de doutorado em Saúde da Mulher e da Criança. Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Fernandes Figueira. Rio de Janeiro. OMS. (2002). Relatório Mundial sobre violência e saúde. Genebra.

Paz, A. M. (2006). Violência por parceiro íntimo durante a gravidez: Um estudo de prevalência do distrito sanitário II da cidade do Recife. Dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva. Universidade Federal de Pernambuco. Recife-PE.

Pimentel, A., & Flores, R. B. (2012). Violência psicológica: A produção científica no Brasil de 2000 a 2012. Revista Dossier: Gênero da Amazônia, 2, jul./dez.

Pinheiro, P. S. (2003). Violência urbana. São Paulo: Publifolha.

Santos, B. S., & Oliveira, A. F. (2005). O papel do álcool na sociedade. Sociologia. Lisboa: Texto.

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação. (2014). Tabulação de dados. Brasília: Ministério da Saúde. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/ index.php

A pessoa idosa na atenção básica e especializada:

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