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2.2 A INTELIGIBILIDADE EM QUASE 30 ANOS: A AGENDA DE INVESTIGAÇÕES DA ESCOLA

2.2.1 A agenda de 30 anos de contribuições

2.2.1.5 Munro e Derwing (2001)

Novamente, com a contribuição de Munro e Derwing (2001), os autores investigam a taxa de elocução nos julgamentos de ‘grau de sotaque estrangeiro’ e ‘compreensibilidade’ com a fala de aprendizes não nativos de inglês como L2. Assim como em Munro e Derwing (1998), foram realizados dois experimentos no estudo, sendo que o primeiro tinha o objetivo de investigar a avaliação nos julgamentos de fala naturalmente produzidos. De modo a testar uma relação curvilínea entre a taxa de elocução e o julgamento do Ouvinte, os autores utilizaram uma análise de regressão de segunda ordem, de forma a se basear no trabalho prévio de (DERWING; MUNRO; WIEBE, 1998), o qual procurou testar o efeito da taxa de elocução manipulada em um software. Para o experimento 1, foram utilizados os mesmos 48 Falantes do estudo de Derwing, Munro e Wiebe (op. cit.), i.e., Falantes de árabe (3), cantonês (1), japonês (2), mandarim (2), persa (2), polonês (9), russo (3), croata (11), espanhol (8), turco (1), ucraniano (4), vietnamita (2), e os Ouvintes foram 48 Falantes nativos de inglês, todos canadenses. Para o experimento 2, foram utilizados outros Falantes, 10 de mandarim e 7 canadenses e outros 27 Ouvintes canadenses.

Acerca dos resultados, o experimento 1 mostrou uma relação curvilínea significativa entre a taxa de elocução e ‘sotaque estrangeiro’ e ‘compreensibilidade’, a qual endossa os achados de Munro e Derwing (1998) no que concerne ao entendimento da existência de uma taxa ótima para as produções acentuadas dos estrangeiros. É importante lembrar que se trata de resultados correlacionais, então, não se pode falar de causa e efeito. Os resultados do experimento 2 indicaram que a taxa de elocução em si pode causar um impacto nos julgamentos de ‘sotaque estrangeiro’ e ‘compreensibilidade’, mesmo quando erros segmentais são levados em conta. Os autores

57 chamam a atenção para a influência na mudança da variável “taxa de elocução”, a qual pode atuar na dificuldade ou facilidade de compreensão. Conforme mencionam os autores, quando há um aumento da taxa de elocução em 10%, nota-se, aparentemente, uma melhora na compreensão. No entanto, quando o aumento se dá em 30%, a mudança possui um efeito negativo, uma vez que diminui a capacidade de compreensão. Chama- se a atenção, aqui, para o fato de que uma mudança relativamente pequena em uma das variáveis pode causar um efeito de grandes proporções no julgamento dos Ouvintes. Posteriormente, no Capítulo 3, serão discutidas as implicações desse comentário em relação a se assumir uma concepção de língua como SDC.

De modo geral, os experimentos possibilitam o entendimento de que os Ouvintes tenderam a avaliar com notas mais altas os áudios que possuíam uma velocidade maior do que as velocidades comumente apresentadas pelos Falantes. Contudo, ambas as falas, rápidas ou lentas, tenderam a ser altamente avaliadas. A respeito da contribuição e discussão teórica, novamente os autores apresentam pequenas nuanças nas definições, de modo a dizerem que definem ‘compreensibilidade’ como “o grau de dificuldade que o Ouvinte reporta na tentativa de compreender um excerto” (MUNRO; DERWING, 2001, p. 454). Aqui, chama-se a atenção para os termos “grau”, “reporta” e “tentativa”, os quais não pareciam estar presentes nas definições anteriores. Ao utilizar tais expressões, os autores acabam por ora modalizar, ora especificar a relação entre Falante e Ouvinte, questão essa que será trazida de modo mais explícito em estudos posteriores, como por exemplo as pesquisas de Munro, Derwing e Morton (2006) e Derwing e Munro (2015). O construto de ‘inteligibilidade’ também sofre pequenas alterações, uma vez que passa a ser definido como “a extensão na qual uma produção em particular é de fato compreendida (como acessada por um ditado)” (MUNRO; DERWING, 2001, p. 454). Aqui, assim como já foi mencionado anteriormente, o delineamento experimental, o modo como se acessa o construto, parece entrar como parte da definição. A expressão “produção em particular” parece enunciar algo sobre o papel do contexto no julgamento do construto, i.e., foca-se em determinados aspectos/partes da produção do Falante.

É importante ressaltar que neste estudo, diferentemente de outros anteriores, a relação com o conceito de “percepção de fala” é trazida como base e como parâmetro de comparação, uma vez que ao longo do trabalho os autores resenham modelos de percepção de fala não nativa, como os de Best (1995) e Flege (1995), fazendo inclusive considerações, na página 452, a respeito do ‘sotaque estrangeiro’ se originar de questões de fenômenos perceptuais entre L1 e L2. Além disso, os autores também fazem uma

58 pequena reflexão a respeito da necessidade de se desenvolver um modelo no qual aspectos específicos que contribuam para os julgamentos sejam identificados conforme seus pesos em um dado sistema.

Para além dessas contribuições, uma reflexão parece ser importante a partir dos resultados. Autores como Lindemann e Subiterelu (2013) vão criticar os resultados de estudos de ‘inteligibilidade’ por esses apresentarem achados que podem ter outras explicações que não linguísticas, mas sim advindas de questões relacionadas a pré- conceitos sobre quem são os Falantes em questão. Tal questão parece ser respaldada por um comentário feito por Munro e Derwing (2001), a respeito de que os julgamentos de ‘compreensibilidade’ explicaram apenas 7% da variância e os de ‘sotaque estrangeiro’, 15%, i.e., 78% da variância dos dados é explicada por outras questões que não essas. Tal problematização será levantada na seção 2.3.1, quando se reportarem os achados de estudos como os de Lindemann e Subiterelu (op. cit.). Nessa esteira, nota-se que parece haver espaço para a incorporação de outros modos de mensuração que levem em conta medidas um pouco menos subjetivas e que possam tentar explicar o resto da variância, como é o caso de medidas de tempo de processamento de informação linguística. Entre as propostas para o delineamento experimental da presente Tese, se encontra a testagem de modos de mensuração mais e menos subjetivos, como formas complementares de um entendimento mais aprofundado dos processos cognitivos envolvidos no gradiente da compreensão de fala estrangeira.