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2.2 Novos instrumentos para o Observat´orio de Coimbra

2.2.2 S˜ao necess´arias informa¸c˜oes

As diligˆencias com vista a cumprir-se a lei iniciaram-se rapidamente. O Minist´erio do Reino atrav´es da 1aReparti¸c˜ao da 1aDirec¸c˜ao oficia, a 30 de Abril, o Conselho Superior de Instru¸c˜ao P´ublica sobre qual ser´a o melhor modo de levar a efeito a execu¸c˜ao da mesma. Por sua vez, o conselho superior entra em contacto com a Faculdade de Matem´atica. Na Congrega¸c˜ao de 28 de Maio

decidio-se que o Director do Observatorio [interino, Thomaz d’Aquino] empregar´a os meios conveni- entes a fim de informar o Prelado sobre os meios praticos de levar a effeito a compra dos instrumentos na forma da mencionada Portaria.68

Na Congrega¸c˜ao de 26 de Julho, Thomaz de Aquino,69 apresenta como prioridades

• a compra do Circular Mural, na impossibilidade de adquirir simultaneamente todos os aparelhos e “porque uma vez colocado esse no Observatorio nos habilita desde logo para fazer muitas observa¸c˜oes que possam ser uteis no estado de perfei¸c˜ao a que tem chegado a Astronomia Practica”;

• “examinar principalmente em Londres, Paris ou em Munich se por ventura haver´a ali algum Artista naquellas circunstancias [isto ´e capazes de se poderem convenientemente encarregar da constru¸c˜ao dos instrumentos], quais sejam os instrumentos astronomicos que tenham sahido das suas officinas; em que Observatorios est˜ao elles collocados, e que credito merecem depois de postos em exercicio”;

• “dever´a ir um membro da Faculdade pressidir ´a feitura daquelles instrumentos sendo que ao mesmo tempo dever´a tomar conhecimento de tudo o que nos Paises aonde tiver de demorar-se houver de notavel relativamente aos objectos que forem parte do ensino da nossa Faculdade, ou ent˜ao com elles intimamente ligados, e muito principalmente em rela¸c˜ao aos observatorios que lhe for possivel visitar; de todos os perfei¸coamentos que se tiverem introduzido na forma e methodos de observar”;

• n˜ao lhe parece conveniente ser mais detalhado por essa informa¸c˜ao ser prematura.70

A 17 de Setembro o Conselho Superior de Instru¸c˜ao P´ublica responde ao Minist´erio do Reino que a 8 de Outubro entra em contacto com os ministros de Portugal em Londres e Paris, com vista a obter as necess´arias informa¸c˜oes.71 O ministro em Londres, Morais Sarmento72, envia

67

Mata, Maria Eug´enia; Val´erio, Nuno; Editor. : Cap. A discuss˜ao parlamentar dos or¸camentos da regenera¸c˜ao `

a rep´ublica In Os Or¸camentos no Parlamento Portuguˆes. Assembleia da R´epublica e Publica¸c˜oes D. Quixote. 2006, p. x.

68

Universidade de Coimbra. Faculdade de Matem´atica: Actas da Congrega¸c˜ao da Faculdade de Mathematica, vol. 2 . 1826-1852, 18 de Maio de 1850.

69

Thomaz d’Aquino de Carvalho e Lemos (1789–1862), habitualmente conhecido por Thomaz d’Aquino ou por Thomaz d’Aquino de Carvalho.

70

Ibidem, 26 de Julho de 1850.

71

Thomar, Conde de: Carta para Visconde de Moncorvo, 10 de Outubro. 1850; Minist´erio do Reino: Minist´erio do Reino. Registo de correspondˆencia recebida. 1849-1850.

72

as informa¸c˜oes pedidas a 2 de Novembro e um of´ıcio sobre o pre¸co dos instrumentos a 16 do mesmo mˆes. A 22 de Outubro o Minist´erio do Reino contactou o Minist´erio dos Neg´ocios Estrangeiros com o objectivo deste ´ultimo obter informa¸c˜oes dos fabricantes de instrumentos de Munique. Informa¸c˜oes estas que foram remetidas pela Secretaria de Estado dos Neg´ocios Estrangeiros, a 30 de Dezembro, ao Minist´erio do Reino. No dia seguinte, o ministro em Paris, Francisco Jos´e Pais e Pereira,73 enviou as informa¸c˜oes solicitadas. Nesse mesmo dia o Minist´erio do Reino oficiou o Conselho Superior de Instru¸c˜ao P´ublica que, por sua vez, contactou a Faculdade de Matem´atica.74 No dia 29 de Janeiro de 1851 foram

presentes a Conselho os papeis contendo as informac¸˜oes e esclarecimentos obtidos de Londres, Paris e Munich, sobre a acquisic¸˜ao de diversos instrumentos para o Observatorio Astronomico da Universi- dade por Portaria do Conselho Superior de Instruc¸˜ao Publica de 8 de Janeiro de 1851, e do Reitor de 11 de Janeiro75

Uma comiss˜ao de trˆes elementos constitu´ıda por Thomaz de Aquino, director interino, Ro- drigo Ribeiro de Sousa Pinto,76 2o astr´onomo do observat´orio e Jos´e Maria Baldy77 foi en- carregada de informar “´acerca do melhor modo de levar a effeito a referida acquisi¸c˜ao”.78 A comiss˜ao apresenta o seu parecer aproximadamente trˆes meses depois na Congrega¸c˜ao de 20 Maio.79 Ap´os analisar os documentos enviados pelos astr´onomos estrangeiros, a comiss˜ao

achou que n˜ao tinha elementos suficientes para decidir entre a compra de um circular me- ridiano aconselhado por Airy, ou manter o seu plano original de adquirir um c´ırculo mural e uma luneta meridiana, especialmente, visto que “o Astronomo de Paris, n˜ao se inclina a dar-lhe [circular meridiano] a preferencia”.80 Nestas condi¸c˜oes a

Commiss˜ao vˆe-se portanto perplexa na escolha; e entende que, para decidir uma quest˜ao fundamental de tanta importˆancia; para conhecer e apreciar practicamente os aperfeic¸oamentos, que se tem intro- duzido na Astronomia; e para contrahir relac¸˜oes, que ponham o nosso Observatorio em communicac¸˜ao directa com os mais acreditados estabelecimentos analogos: ´e necessario consultar os registos das observac¸˜oes dos Observatorios de Paris e Greenwich; examinar pessoalmente a construcc¸˜ao, uso e collocac¸˜ao, dos seus melhores instrumentos astronomicos; e conferir com os respectivos astronomos para obter plena e seguramente todos os esclarecimentos necessarios.

´

E evidente que, se por um lado a correspondˆencia dos astr´onomos estrangeiros levanta d´uvidas sobre o instrumento meridiano mais conveniente, por outro lado refor¸ca a ideia de que ser˜ao necess´arias mais informa¸c˜oes, de preferˆencia recolhidas in loco atrav´es de uma viagem ao estrangeiro para que se possa decidir convenientemente. De facto,

julga a Commiss˜ao indispensavel enviar a Paris e Londres um ou dous Lentes da Faculdade, que se encarreguem de empregar a devida inspecc¸˜ao, estudo, e diligencia, para dotar o nosso Observatorio de bons instrumentos, e para fazer d’elles o uso conveniente; e tambem um artista, que os ajude na escolha dos mesmos instrumentos, e que pelo exame deles se preparasse para bem os collocar.

73

Francisco Jos´e Pais e Pereira (1815–1868).

74

Minist´erio do Reino: Minist´erio do Reino. Registo de correspondˆencia recebida. 1849-1850.

75

Universidade de Coimbra. Faculdade de Matem´atica: Actas da Congrega¸c˜ao da Faculdade de Mathematica, vol. 2 . 1826-1852, 29 de Janeiro de 1851.

76

Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto (1811–1893).

77

Jos´e Maria Baldy (1800–1870).

78

Ibidem

79

Ibidem, 20 de Maio de 1851.

80

Infelizmente o observat´orio de Paris estava tamb´em a necessitar de um reequipamento. Le Verrier, Urbain: Rapport sur l’observatoire imp´erial de Paris et projet d’organisation. Annales de l’Observatoire de Paris, 1 1855.

Note-se, por exemplo, que embora o Circular Meridiano de Airy tenha sido instalado em 1850, a sua descri¸c˜ao detalhada apenas aparece num dos anexos das Greenwich Observations publicado quatro anos depois.81

A no¸c˜ao das vantagens de se realizarem viagens de estudo ao estrangeiro n˜ao era nova. J´a o primeiro regulamento do observat´orio astron´omico especificava, claramente, no seu ponto 13 que

Logo que houver hum Ajudante perfeitamente instruido na Theorica, e bem desembaracado na Pra- tica das Observac¸oens, e de comportamento tal que com credito da Universidade possa apparecer nos Paizes Estrangeiros, mandar-se-h´a visitar os Observatorios, onde a Arte de observar estiver na maior perfeic¸a˜o para tomar conhecimento do modo com que nelles se pratica, da qualidade dos seus Ins- trumentos, de tudo mais que convier; deixando estabelecidas correspondencias para se fazerem as Observac¸oens da Universidade de acordo com os ditos Observatorios. Para tudo o que se lhe dara˜o instrucc¸oens circunstanciadas por escrito; e o Reitor lhe arbitrar´a a ajuda de custo conveniente, e es- crever´a aos Meus Ministros Residentes nos dictos paizes para que lhe dem o auxilio, que necessario for para o dezempenho da sua Commiss˜ao, e como cauza do Meu Real Servic¸o.82

No entanto, desde a viagem de Manuel de Mello83 realizada no in´ıcio do s´eculo XIX, entre

1801 e 1815, nenhum membro da Faculdade de Matem´atica tinha usufruido desta disposi¸c˜ao regulamentar.84

Nesta situa¸c˜ao em particular, a comiss˜ao entendia que a viagem ao estrangeiro era “o unico [meio] verdadeiramente seguro” de se obterem as informa¸c˜oes.85 Num contexto de

falta de bibliografia actualizada e na ausˆencia de contactos internacionais compreende-se a cautela da Faculdade de Matem´atica, visto que a aquisi¸c˜ao de dispendiosos instrumentos ´e um acontecimento raro na vida de um observat´orio e, consequentemente, pode condicionar o trabalho a ser desenvolvido por v´arios anos. Uma decis˜ao incorrecta pode ter, como iremos ver, consequˆencias nefastas para o futuro de uma institui¸c˜ao.

Prudentemente, a comiss˜ao previu a eventualidade do governo rejeitar o envio de um lente ao estrangeiro e lembrou que nessa situa¸c˜ao

´e necessario, pelo menos, que se pec¸am informac¸˜oes claras e explicitas sobre a construcc¸˜ao do circular meridiano, e sobre as observac¸˜oes, que se tiverem feito com elle; e que se procura saber:

1. se um Observatorio, onde est´a adaptado o circular meridiano, se tem prescindido do uso do circular mural e da luneta meridiana:

2. se nelles se prefere o circular meridiano por ser mais perfeito, ou simplesmente por dipensar um observador.86

A proposta terminou com a inevit´avel compara¸c˜ao desfavor´avel entre os aparelhos existentes em Coimbra e os mencionados na correspondˆencia estrangeira. Ap´os aprova¸c˜ao da proposta da comiss˜ao pela Faculdade foi enviada para o Conselho Superior de Instru¸c˜ao P´ublica que,

81

Airy, George Biddell: Astronomical and Magnetic and Meteorologic Observations made at the Royal Observa- tory Greenwich in the year 1852 . London: George Edward Eyre and William Spottiswoode. 1854a.

82

Universidade de Coimbra. Observat´orio Astron´omico: Ephemerides Astronomicas calculadas para o Meridiano do Observatorio da Universidade de Coimbra para o ano de 1804 . Imprensa da Universidade de Coimbra. 1803.

83

Manuel Pedro de Mello (1765–1833).

84

Freire, Francisco de Castro: Memoria Historica da Faculdade de Mathematica nos cem annos decorridos desde a reforma da Universidade em 1772 at´e o presente. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. 1872, p. 81.

85

Universidade de Coimbra. Faculdade de Matem´atica: Actas da Congrega¸c˜ao da Faculdade de Mathematica, vol. 2 . 1826-1852, 20 de Maio de 1851.

86

por sua vez, a comunica ao Minist´erio do Reino. Como j´a vimos, a situa¸c˜ao pol´ıtica portu- guesa tinha-se alterado significativamente entre o envio do of´ıcio do Minist´erio do Reino, a 31 de Dezembro de 1850, e a recep¸c˜ao da resposta, a 28 de Junho de 1851. A quest˜ao da com- pra dos instrumentos encontrava-se, agora, nas “m˜aos” do primeiro governo da regenera¸c˜ao. A secretaria do minist´erio do Reino enviou, a 5 de Julho de 1851, o processo da compra a instˆancias superiores.87 Dois dias depois o Ministro do Reino, Jos´e Pereira Pestana,88 foi substitu´ıdo por Rodrigo da Fonseca.89 N˜ao sabemos se existe uma rela¸c˜ao causal entre ambos os eventos mas o que ´e certo ´e que a mat´eria parece ter ca´ıdo no esquecimento das instˆancias governamentais. A compra dos instrumentos foi, assim, relegada para a proverbial “gaveta”, situa¸c˜ao similar `a ocorrida com as diligˆencias efectuadas em prole do Observat´orio da Marinha. Sete meses se passaram. Na congrega¸c˜ao da Faculdade de Matem´atica de 11 de Fevereiro de 1852, Agostinho de Almeida90 propˆos ao conselho que se contactasse o go-

verno com vista a resolver o impasse atingido. Rodrigo Sousa Pinto, 2o astr´onomo e director

interino, por ausˆencia de Thomaz d’Aquino que se encontrava em Lisboa, tendo sido eleito deputado pelo c´ırculo de Coimbra nas elei¸c˜oes de Novembro de 1851, foi escolhido para ela- borar a referida representa¸c˜ao.91 A 19 foi apresentado `a congrega¸c˜ao o documento pedido no

qual Sousa Pinto resume as iniciativas anteriormente desenvolvidas, relembra a proposta de Maio de 1851 enviada ao Minist´erio do Reino e justifica esta nova diligˆencia visto que o

Conselho da Faculdade de Mathematica, reconhecendo que os progressos da Astronomia, e o aperfeic¸oamento das Taboas Astronomicas, dependem da bondade dos instrumentos empregados nas observac¸˜oes, que devem servir de fundamento a novas Taboas, ou ´as correcc¸˜oes das existentes; e que as observac¸˜oes feitas em um logar de pouco ou nada servem para aquelle fim, quando os limites dos seus erros, provenientes da imperfeic¸˜ao dos instrumentos, s˜ao consideravelmente superiores aos dos feitos nos outros logares

e que o

Conselho da Faculdade de Mathematica, Senhora, n˜ao sabendo at´e agora se o Governo de Vossa Magestade se conformou com aquelle parecer, nem se deo algumas providencias tendentes a remover as difficuldades n’elle ponderadas, julga-se obrigado, em comprimento dos seus deveres, a respeitosamente expˆor a Vossa Magestade a urgente necessidade de se tomar alguma resoluc¸˜ao sobre um objecto, que ´e da mais transcendente importancia, e de vital interesse para o credito da Universidade e para a Sciencia; resoluc¸˜ao, sem a qual o Observatorio n˜ao pode satisfazer ao fim principal para que foi creado pela Carta Regia de 4 de Dezembro de 1799 . Vossa Magestade ordenar´a o que for servida.92

Esta representa¸c˜ao ´e enviada, simultaneamente, para o Minist´erio do Reino, no qual deu entrada a 1 de Mar¸co, e para Thomaz d’Aquino que responde de Lisboa comprometendo-se a

fazer todos os meios para conseguir que alguˆa cousa se fac¸a a nosso favor, e conclue assegurando o seu ardente desejo de que cheguemos a conseguir, o que ´a tanto tempo temos sollicitado

mas apresenta um novo dado que pode colocar em causa os esfor¸cos at´e ent˜ao desenvol- vidos pela Faculdade. Tinha-lhe sido mostrada uma mem´oria, no Minist´erio dos Neg´ocios Estrangeiros, na qual Mr. Struve aconselhava

87

Minist´erio do Reino: Minist´erio do Reino. Registo de correspondˆencia recebida. 1849-1850.

88

Jos´e Pereira Pestana (1795–1885).

89

Rodrigo da Fonseca Magalh˜aes (1787–1858). Maltez, Jos´e Adelino: Tradi¸c˜ao e Revolu¸c˜ao - Uma biografia do Portugal Pol´ıtico so s´eculo XIX ao XXI. Em 1820-1910 . 1 Tribuna da Hist´oria. 2004, p. 333.

90

Agostinho de Moraes Pinto de Almeida (1817–1852).

91

onica, Maria Filomena; Editor. : Dicion´ario biogr´afico parlamentar: 1834-1910 D-M . Volume 2, Lisboa: Assembleia da Rep´ublica e Imprensa de Ciˆencias Sociais. 2004a.

92

Universidade de Coimbra. Faculdade de Matem´atica: Actas da Congrega¸c˜ao da Faculdade de Mathematica, vol. 2 . 1826-1852, 19 de Fevereiro de 1852.

ao Governo Portuguez o estabelecimento de um Observatorio em Lisbˆoa, que deve occupar-se de certas observac¸˜oes alli designadas, designando os instrumentos de que deve munir-se este Observatorio, e offerecendo-se para industriar na practicas das observac¸˜oes qualquer jovem Astronomo que o nosso Governo alli quizer mandar para aquelle fim, e superintender a construcc¸˜ao d’alguns instrumentos que elle julga devem ser construidos na officina do Observatorio de Pulkova, e que no officio do nosso encarregado de negocios, se diz; que o Mr. Struve ´e de opini˜ao, que o Observatorio da Universidade n˜ao deve por ora ser accrescentado de instrumentos em quanto o Governo se n˜ao achar mais desembarac¸ado de difficuldades pecuniarias, devendo applicar os meios de que pud´er dispˆor para o fim que aconselha.93

A existˆencia desta informa¸c˜ao no Minist´erio dos Neg´ocios Estrangeiros prendia-se com as di- ligˆencias efectuadas com vista `a edifica¸c˜ao de um novo observat´orio em Lisboa e anteriormente relatadas. Tendo em considera¸c˜ao o atraso no cumprimento da lei de 1850, esta informa¸c˜ao era certamente um desenvolvimento preocupante pois poderia significar o fim das pretens˜oes dos astr´onomos do observat´orio de Coimbra. Na ausˆencia de uma resposta governamental e aproveitando a passagem da Rainha, D. Maria II, seu marido, D. Fernando,94e seus filhos os futuros D. Pedro V e D. Luiz I,95 pela Universidade de Coimbra, em 1852, a Faculdade de Matem´atica dirigiu, a 25 de Abril, “a S. M. uma representa¸c˜ao sobre o triste estado do Ob- servatorio, em que pediam a compra de novos instrumentos”. Curiosamente, no dia anterior, a fam´ılia real assitiu `as provas de doutoramento de Luiz Albano96 o qual se debru¸cou “sobre astronomia e, principalmente, sobre a paralaxe das estrellas”.97 A 10 de Maio, tirando par- tido da visita anual do conselho da Faculdade de Matem´atica ao observat´orio astron´omico, Agostinho de Moraes de novo relembrou

ao Conselho que se instasse no Relatorio da Faculdade pela compra dos instrumentos pedidos para o Observatorio, para o qual foi o Governo authorizado pela Carta de Lei de 23 d’Abril de 1850.98

´

E crucial compreender que o observat´orio de Coimbra se encontra a lutar pela sua sobre- vivˆencia, enquanto institui¸c˜ao cient´ıfica. Na ausˆencia de novos instrumentos e na iminˆencia de ser constru´ıdo um novo e bem equipado observat´orio astron´omico em Lisboa, a institui¸c˜ao coimbr˜a iria ser relegada para uma posi¸c˜ao secund´aria no panorama da astronomia nacional, perdendo a sua capacidade de pesquisa e ficando, quando muito, reduzida a um observat´orio de ensino, isto ´e, o laborat´orio das aulas pr´aticas de astronomia. Este seria um futuro bem

diferente daquele que o seu auspicioso in´ıcio levaria a prever bem como das aspira¸c˜oes da Faculdade de Matem´atica. Nesta situa¸c˜ao de alguma tens˜ao, Sousa Pinto escreveu um artigo para o n´umero 3 do primeiro volume de O Instituto, Jornal Scientifico e Litterario99

de 15 de Maio 1852 intitulado “Breves reflex˜oes sobre as parallaxes das estrelas e sobre os instrumentos do Observat´orio de Coimbra”. Nesse artigo relembra que j´a no regulamento de 1799 do observat´orio da Universidade de Coimbra se recomendava a observa¸c˜ao da estrela

93

Universidade de Coimbra. Faculdade de Matem´atica: Actas da Congrega¸c˜ao da Faculdade de Mathematica, vol. 2 . 1826-1852, 13 de Mar¸co de 1853.

94

Fernando Augusto Francisco Ant´onio de Saxe-Coburgo-Gota-Koh´ary (1819–1885), baptizado Ferdinand Au- gust Franz Anton von Sachsen-Coburg-Gotha-Koh´ary.

95

D. Pedro V (1837–1861) e D. Luiz I (1838–1889).

96

Luiz Albano de Andrade Morais e Almeida (1819–1888), habitualmente conhecido por Luiz Albano.

97

D. Pedro V; Academia das Ciˆencias de Lisboa; Editor. : Escritos de El-Rei D. Pedro V . Volume 1, Coimbra: Imprensa da Universidade. 1923, p. 39.

98

Universidade de Coimbra. Faculdade de Matem´atica: Actas da Congrega¸c˜ao da Faculdade de Mathematica, vol. 3 . 1852 - 1857, 10 de Maio de 1852.

99

Em Abril de 1852 inicia-se a publica¸c˜ao em Coimbra de O Instituto, Jornal Scientifico e Litterario que pretende publicar “as mais importantes noticias scientificas, litterarias e artisticas, que possam obter-se” numa postura apolitica, “Que o Instituto ´e absolutamente estranho ´a politica, manifesta-o seu titulo. Esta exclus˜ao ser´a rigorosamente mantida”. Pimentel, Adri˜ao Pereira Forjaz de Sampaio : Introdu¸c˜ao. O Instituto, Jornal Scientifico e Litterario, 1 1853

αLyrae por ser pequena a sua distˆancia zenital, com o objectivo de “vˆer se na dita Estrella se descobre alguma couza de Parallaxe annua sensivel”.100 Anos de observa¸c˜oes com o sec- tor zenithal de Adams no in´ıcio do s´eculo XIX n˜ao tinham produzido, no entanto, qualquer resultado que excedesse o limite dos erros instrumentais e das refrac¸c˜oes atmosf´ericas. Sousa Pinto concorda que quanto mais perto do z´enite se der a passagem das estrelas menor ser´a o erro devido `a refra¸c˜ao atmosf´erica e que sendo esta distˆancia quase nula em Coimbra para a estrela Gmb 1830 melhor seria a sua observa¸c˜ao a partir de Lisboa (tabelas 2.6 e 2.7).

Estrela Declina¸c˜ao Referˆencia

Gmb 1830 +39o 0443′′ Cat´alogo de Groombridge (1810)

Gmb 1830 (V* CF UMa) +38o 04′ 39,1′′ FK4 (1950)

Tabela 2.6: Declina¸c˜ao da estrela Gmb 1830

Local de observa¸c˜ao Latitude Referˆencia Lisboa +38 42′ 17,6′′ Folque (1866)

Coimbra +40o 12′ 29,6′′ Ephemerides de Coimbra (1803)

Tabela 2.7: Latitudes dos observat´orios da Marinha, em Lisboa e do p´atio das escolas na Universidade de Coimbra

N˜ao deixa, no entanto, diplomaticamente de assinalar que o merit´orio esfor¸co de criar um observat´orio em Lisboa n˜ao pode levar o governo a esquecer que em Coimbra j´a existe um, embora deficientemente equipado para a resolu¸c˜ao dos mais delicados problemas da astronomia, especialmente tendo em conta que

na compra dos tres instrumentos, o Circular mural, a Luneta meridiana, e o Equatorial, que a Faculdade de Mathematica pediu, apenas se gastar˜ao cerca de seis contos de reis, quantia em si pequena, e insignificante em rela¸c˜ao ´as despesas j´a feitas com a edifica¸c˜ao do Observat´orio, e com os instrumentos que elle possue.101

N˜ao s˜ao claras as movimenta¸c˜oes que ocorreram nos meses seguintes mas conseguimos apurar