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D. Pedro regressou a Lisboa a 14 de Agosto de 1855, terminando a sua segunda viagem. A 16 de Setembro dia do seu 18◦ anivers´ario foi coroado rei e a 7 de Dezembro j´a se encontrava

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D. Pedro V; Academia das Ciˆencias de Lisboa; Editor. : Escritos de El-Rei D. Pedro V . Volume 1, Coimbra: Imprensa da Universidade. 1923, p. 196.

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Costa, Maria Clara Pereira da: Filipe Folque - O homem e a obra (1800-1874). Separata do n. 6 da Revista do Instituto Geogr´afico e Cadastral. 1986, p. 35.

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Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 2, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856a.

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Angelo Secchi (1818–1878).

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Costa, Maria Clara Pereira da: Filipe Folque - O homem e a obra (1800-1874). Separata do n. 6 da Revista do Instituto Geogr´afico e Cadastral. 1986, p. 27.

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a trabalhar no problema do observat´orio, como se vˆe pela seguinte carta.174 Meu caro Folque

Mando-lhe os livros do Struwe sobre o observat´orio de Polkowa e os pap´eis relativos ao oferecimento que ele fez ao governo.

Ver´a o que se escreveu e o pouco que se fez!!

Far-lhe-ia inc´omodo ir a Mafra connosco, n´os vamos na 2a

feira? Seu

Pedro R.

Entretanto, a 5 de Abril de 1854, o parlamento nomeou uma comiss˜ao de inqu´erito dedicada `a situa¸c˜ao e organiza¸c˜ao dos servi¸cos das reparti¸c˜oes da Marinha. A comiss˜ao era composta por Custodio Manoel Gomes, Jos´e Silvestre Ribeiro, Augusto Sebasti˜ao de Castro Guedes, Augusto Xavier Palmeirim, Antonio de Mello Breyner, Joaquim Pedro Celestino Soares e Antonio Jos´e d’Avila.175 Os trabalhos iniciaram-se apenas em Outubro de 1854 e no ˆambito destes procederam-se a visitas a diversos estabelecimentos pertencentes `a marinha (Arsenal, Hospital, Cordoaria Nacional, entre outros) e recolheram-se depoimentos de personalidades consideradas relevantes.

N˜ao existe uma descri¸c˜ao do estado do observat´orio por ocasi˜ao da visita da comiss˜ao ao Arsenal, apesar do observat´orio da marinha a´ı estar localizado desde 1847.176 A quest˜ao

do observat´orio foi abordada no depoimento que durante duas horas Filippe Folque prestou, a 18 de Dezembro de 1855, `a comiss˜ao. Respondendo `a sugest˜ao de que a ser criado um novo observat´orio em Lisboa este deveria ser uma dependˆencia da Escola Polit´ecnica, Folque afirmou177

Em parte nenhuma ´e assim. Os Observatorios que eu visitei em toda a Europa, e por onde viajei, n˜ao havia nenhum que eu n˜ao visse, s˜ao Estabelecimentos completamente sobre si; os Directores n˜ao tˆeem nada sen˜ao com o Governo, os Directores s˜ao os unicos responsaveis e entemdem-se com o Governo; agora, esses Observatorios fornecem a todos tudo o que podem fornecer, e n˜ao s´o fornecem os factos, mas at´e observam os factos quando lh’os mandam observar; mas n˜ao est˜ao ligados a Reparti¸c˜ao nenhuma.

L´a por f´ora vˆeem-se Observatorios por todos os lados. Eu encontrei em Roma o Observatorio dos Padres Jesuitas, feito ´a custa d’elles e dirigido pelo Padre Secchi (homem instruidissimo e agradabilissimo), que ´e uma das cousas magnificas que ha. Pois ent˜ao os Padres da Compa- nhia de Jesus podem fazer observa¸c˜oes d’estas, e a Na¸c˜ao portugueza n˜ao p´ode faze-las?!.... Diz-se: “L´a tem o Observatorio de Coimbra”. Deixe ter o Observatorio de Coimbra; quanto mais Estabelecimentos scientificos ha n’um Paiz, melhor, porque se estabelece uma certa rivalidade que redunda toda em beneficio da sciencia. [...] a Faculdade de Mathematica est´a ali muito bem estabelecida, e oxal´a que houvesse ali o espirito de se darem mais ´a parte pratica do que ´a especulativa! porque, (n˜ao posso deixar de o dizer) vieram dois instrumentos para a Universidade, comprados em Londres, um parallactico e um instrumento de passagens, instrumentos ricos, que estiveram na Exposi¸c˜ao de Londres, j´a est˜ao em Coimbra ha mais de uma anno, e n˜ao sei se est˜ao montados. Querem ver o inverso? O Padre Secchi, Superior dos

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D. Pedro V; Leit˜ao, Ruben Andersen; Editor. : Cartas de D. Pedro V aos seus contemporˆaneos. Lisboa: Livraria Portugal. 1961, p. 127.

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Custodio Manoel Gomes (1810–1881), Jos´e Silvestre Ribeiro (1807–1891), Augusto Sebasti˜ao de Castro Guedes (1819–1886), Antonio de Mello Breyner (1813–1886), Joaquim Pedro Celestino Soares (1793–1870) e Antonio Jos´e d’Avila (1807–1881), 1o

Duque de ´Avila e Bolama.

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Ribeiro, Jos´e Silvestre: Historia dos Estabelecimentos Scientificos Litterarios e Artisticos de Portugal nos Su- cessivos Reinados da Monarquia. Volume 3, Typographia da Academia Real das Sciencias. 1873; Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 1, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856b.

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Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 2, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856a, Acta no

Jesuitas de Roma, quando lhe chegou o seu grande parallatico, montou-o logo. Perguntei- lhe eu: “Quanto tempo levou a montar este instrumento?” Respondeu-me: “Cinco horas; passadas cinco horas depois de chegar aqui, estava montado.” Elle tinha j´a as cousas todas preparadas para o montar. E a Universidade j´a tem os instrumentos ha tanto tempo, e n˜ao me consta que estejam montados. Ora isto o que mostra ´e pouca disposi¸c˜ao para as applica¸c˜oes na Universidade, ´e que realmente o seu forte ´e a parte especulativa; a parte applicada n˜ao est´a no seu gosto. Se elles c´a estivessem e eu tivesse uma casa aonde os accomodar, ei lhes protesto que dentro de oito dias estavam montados.178

Esta interven¸c˜ao correspondeu n˜ao s´o a uma defesa da cria¸c˜ao de um observat´orio nacio- nal de qualidade independente do ensino mas tamb´em um injusto ataque ao Observat´orio de Coimbra. Os oito dias necess´arios para a instala¸c˜ao de instrumentos deste tipo foram, poste- riormente, desmentidos pela realidade das obras de renova¸c˜ao do Observat´orio da Marinha. Anos mais tarde, Folque na altura director do observat´orio escreveu que

Estas primeiras obras, pelos poucos operarios n’ellas empregados, pelas interrup¸c˜oes que tiveram, e pela costumada pouca actividade com que em geral se trabalha nas construc¸c˜oes publicas, duraram dois anuos, por isso, s´o em maio de 1858 ´e que se pˆode collocar na sala leste o zygometro, na de oeste o instrumento de passagens um theodolito e tres pendulas, bem como os instrumentos meteorologicos indispensaveis.179

A 24 de Dezembro de 1855, Folque foi nomeado director do Observat´orio da Marinha. Entre esta data e a tomada de posse que ocorreu a 15 de Janeiro de 1856, Folque ainda prestou, a 27 de Dezembro, um novo depoimento `a comiss˜ao da Marinha no qual defendeu que a oficina de instrumentos matem´aticos devia ficar anexa ao observat´orio astron´omico.180

Estes depoimentos “impressionaram profundamente”181 Silvestre Ribeiro que propˆos, a 19 de Fevereiro de 1856, o estabelecimento de um observat´orio astron´omico

perfeitamente estabelecido, e dotado dos mais poderosos meios de observa¸c˜ao, quaes os de que hoje se faz uso nos estabelecimentos analogos da Fran¸ca, da Inglaterra, da Russia, da Alemanha, da Italia e dos Estados-Unidos. O local mais proprio para a edifica¸c˜ao de um Observatorio em Lisboa, como acertadamente lembrou o Doutor Folque, ´e o bem situado Largo da Patriarchal; e o mesmo cavalheiro nos disse (se bem me lembro), que com 30 a 40:000$000 r´eis se podia levar a effeito uma t˜ao necessaria obra, incluindo a despeza dos instrumentos.182

D. Pedro, por seu lado, continuava a analisar o problema do observat´orio. Num memorando datado de 18 de Abril de 1856 e enviado ao ministro da Marinha escreveu

Os trabalhos sobre o observat´orio de Berlim devem ser remetidos ao Coronel Folque, e eu lembraria que ele fosse incumbido de redigir o projecto para o poss´ıvel estabelecimento de um grande observat´orio. Perdeu-se uma ocasi˜ao de levar a efeito este pensamento, foi em Setembro de 1855 quando o corpo comercial queria oferecer-me um baile no teatro. Eu tinha lembrado que antes aplicassem os vinte contos que tinham juntado para lan¸car os fundamentos do observat´orio. N˜ao quiseram. Riram-se da ideia que n˜ao ´e destes tempos em que s´o fazem fortuna os saltimbancos.183

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Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 2, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856a, p. 109.

179

Folque, Fillipe: Relat´orio. Di´ario de Lisboa, 1866, Nr. 195.

180

Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 2, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856a, p. 129.

181

Ribeiro, Jos´e Silvestre: O Real Observatorio Astronomico de Lisboa. Academia Real das Sciencias. 1871, p. 13.

182

Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 1, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856b, p. 115.

183

D. Pedro V; Leit˜ao, Ruben Andersen; Editor. : Cartas de D. Pedro V aos seus contemporˆaneos. Lisboa: Livraria Portugal. 1961, p. 164.

Os trabalhos da comiss˜ao de inqu´erito prolongaram-se por largos meses. A ´ultima reuni˜ao ocorreu apenas a 1 de Julho de 1856 e o relat´orio final tem data de 3 de Julho. Neste lˆe-se que

foi a Commiss˜ao de voto que o Observatorio ficasse separado e independente como fˆora desde sua institui¸c˜ao, com direc¸c˜ao e economia ´a parte, prestando ensino a todos os que em suas carreiras carecerem de conhecimentos astronomicos, e applicando o seu pessoal ´as observa¸c˜oes e trabalhos scientificos exigidos de institui¸c˜oes similhantes; acrescentando que fosse ahi que se recolhessem e regulassem os instrumentos destinados ´a navega¸c˜ao de guerra; e que a dependencia immediata do mesmo Observatorio passasse a officina de instrumentos mathematicos estabelecida e subsidiada pelo Estado na Cordoaria Nacional. [...] Os factos que interessam a sciencia ficam sempre registados cuidadosamente por ella, e perduram quando glorias e monumentos de outra ordem tˆeem passado. Era pois muito de aproveitar o momento de nos associarmos aos trabalhos astronomicos propostos, quando aquelles sabios indicam Lisboa como sendo o ponto mais conveniente ´a determina¸c˜ao das paralaxes, e portanto de sua distancia ´a terra, da estrella de Argalander, da Lyra, do Cysne e da Grande Ursa.184

Finalmente, em decreto de 31 de Janeiro de 1857, D. Pedro que se preocupava com a constru¸c˜ao de um bom observat´orio astron´omico em Portugal, pelo menos desde 1852, decidiu dar um contributo `a sua implementa¸c˜ao atribuindo para esse fim 30:000$000 r´eis da sua dota¸c˜ao pessoal. A 14 de Fevereiro foi nomeada, por decreto, uma comiss˜ao composta por

Jos´e Feliciano da Silva Costa, do meu conselho, meu ajudante de campo, e commandante geral do corpo de engenharia; do coronel graduado de engenharia o dr. Filippe Folque, do meu conselho, lente de astronomia da marinha; do coronel graduado de engenharia Jo˜ao Ferreira de Campos, lente jubilado da escola polytechnica; e do major graduado de artilheria o dr. Guilherme Jos´e Antonio Dias Pegado, lente de physica, e director do observatorio meteorologico do Infante D. Luiz185

para

1. apresentar uma rela¸c˜ao dos instrumentos fundamentaes astronomicos que satisfa¸cam completamente tanto ´as observa¸c˜oes do systema solar, como ´as que devem servir de base aos progressos da astronomia sideral, indicando quais os artistas mais acreditados, que devem encarregar-se da sua construc¸c˜ao, e informar tudo o mais que julgar conveniente sobre o asumpto;

2. escolher e indicar o local mais apropriado para a edifica¸c˜ao do observat´orio;

3. apresentar o projecto e or¸camento da construc¸c˜ao, de modo que o edificio tenha a capacidade necessaria e mais condi¸c˜oes technicas para a perfeita estabilidade de todos os aparelhos que deve possuir, no seu estado completo, e em tudo similhante ao dos mais modernos Observat´orios de primeira ordem; tendo tambem em vista, que deve poder proporcionar alojamento conveniente aos empregados que tiverem de fazer observa¸c˜oes a qualquer hora do dia ou da noite.186

Em Maio, Wilhelm Struve encarregava-se de supervisionar a constru¸c˜ao dos trˆes principais instrumentos do Observat´orio de Lisboa, incumbˆencia pela qual foi condecorado com a Ordem da Torre e Espada. A 2 de Julho, a quinta do Seabra foi designada como localiza¸c˜ao do observat´orio.187 Mais tarde, a comiss˜ao entendeu que esta localiza¸c˜ao n˜ao era vantajosa e

184

Palmeirim, Augusto Xavier et al.: Inquerito ´acerca das Reparti¸c˜oes de Marinha. Volume 2, Lisboa: Imprensa Nacional. 1856a, p. 437.

185

Oom, Frederico Augusto: Considera¸c˜oes acerca da organica¸c˜ao do Real Observat´orio Astronomico de Lisboa. Imprensa Nacional. 1875, p. 42.

186

Do decreto lei de 14 de Fevereiro de 1857, citado em Ribeiro, Jos´e Silvestre: O Real Observatorio Astronomico de Lisboa. Academia Real das Sciencias. 1871.

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expondo todas estas circunstancias a El-Rei o Senhor D. Pedro V, houve por bem S. Magestade sem a menor hesita¸c˜ao conceder immediatamente a localidade escolhida [na Real Tapada d’Ajuda], bem como a pedra de construc¸c˜ao, a areia do Alfeite, e o valioso donativo de uma penna d’agua para a construc¸c˜ao e uso perpetuo do pequeno jardim do Real Observatorio Astronomico de Lisboa.188

A primeira pedra do novo observat´orio foi colocada em 1861.189

Entretanto, tendo a comiss˜ao referido ao governo a conveniˆencia de um astr´onomo apren- der as novas t´ecnicas astron´omicas no estrangeiro e aproveitando uma oferta efectuada alguns anos antes por Wilhelm Struve, Frederico Oom,190 antigo aluno de Filippe Folque na Escola Polit´ecnica foi enviado, por decreto de 30 de Junho de 1858, para o Observat´orio de Pulkova, um dos mais bem equipados observat´orios do mundo. Oom partiu para Pulkova, a 24 de Agosto de 1858, onde iniciou os seus estudos no mˆes de Outubro. O seu regresso a Lisboa aconteceu apenas a 5 de Novembro de 1863.191