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4.1 A MULHER MAQUIADA

4.1.2 No contorno natural: a feiura da máscara artificial

Se anteriormente analisou-se a feiura que a maquiagem poderia esconder, nesse tópico se observa a feiura da pintura que esconde a beleza natural. O advento da maquiagem, embora cumprisse uma função de esconder “imperfeições” e embelezar, também surgiu como uma grande vilã para a beleza natural da pele de quem as tinha, servindo apenas para dar destaque ao que de mais bonito se tinha, usando somente um batom ou lápis de olho, por exemplo. A aposta nessa beleza natural, funcionaria principalmente para a proposta de tratar os ditos

“males” da pele, cuja maquiagem só faria encobrir. Esse discurso serviria não somente para o oferecimento dos cosméticos de tratamento do rosto, mas também para os artigos de cuidados caseiros presentes no Anuário.

Desse modo, propondo uma mudança com tratamento, algumas ocorrências demonstraram uma aversão à maquiagem:

Relativamente á maquillage tudo depende das condições de cada uma e não se pode, para tal, fixar regras. Si uma mulher é delgada e conservada, um pouco de “rouge”

nas faces e nos lábios a melhorará grandemente; mas terá que usal-o como adorno e não para illudir aos demais de que é natural. As estrangeiras usam a maquillage como usam o chapéo. Penso que uma mulher que possua a face bem modelada e bonitos olhos ficará bem com um pouco de sombra debaixo delles e uma linha escarlate no labios. Ao contrário, a que possue feições grosseiras, terá, se usa maquilage, aspecto desastroso. 243

O trecho acima pertence ao artigo “Conversa”, assinado por Catty Vicent244, no Anuário das Senhoras de 1934. Ao mencionar as dicas de como deve se maquiar uma mulher de quarenta

243 VICENT, Catty. Conversa, Anuário das Senhoras, Rio de Janeiro: Sociedade anônima “O Malho”, ano I, 1934, p. 144.

244 Nenhuma ocorrência sobre a vida da autora foi encontrada.

anos, a autora propôs duas instruções gerais: a primeira, de que a maquiagem dependeria de cada rosto ou poder aquisitivo, sendo suas regras adaptáveis; a segunda, que a maquiagem não deveria parecer algo natural, mas servir somente como ressalte. Até então essas regras básicas pareciam comuns de serem comentadas, visto que cada rosto e condição feminina era diferente, e que a maquiagem em si seria apenas uma ferramenta de embelezamento.

Entretanto, nos contrapontos das duas instruções apareceram dois focos de feiura. No primeiro caso, apesar de maquiagem surgir como algo adaptável no início do trecho, no final dele a autora dá um enfoque geral e excludente de que as mulheres com feições “grosseiras”

teriam um “aspecto desastroso” caso usassem maquiagem. Essa passagem revela um pouco de quem poderia ou não usar maquiagem aos quarenta anos, lembrando do lugar social a que pertencia a revista e a clivagem que ela produzia e reproduzia. Se a maquiagem serviria como um ponto de destaque, ressaltar as feições grosseiras, definidas a contrapelo como as mulheres que não possuíam a “face bem modelada ou bonitos olhos”, significaria revelar a idade e os possíveis sinais de velhice, isto é, sua feiura.

Assim, a feiura aparece na delimitação do uso do “rouge” caso a mulher fosse delgada e conservada, ou seja, magra e aparentasse certa jovialidade. Mais uma vez, por exclusão, mulheres consideradas gordas para época ou mesmo que parecessem mais velhas não estariam aptas para essas dicas. Além disso, embora as dicas se direcionassem às mulheres magras e conservadas aos quarenta anos, a maquiagem não poderia aparentar ser natural para não iludir aqueles que a olhassem. Percebe-se, nesse ponto, que por mais que a maquiagem funcionasse como mecanismo de disfarce, naquela época, ou pelo menos para Catty Vincent e suas possíveis admiradoras, ela não deveria passar tão despercebida assim.

Devido a desconexão entre o que era considerado artificial e natural na beleza feminina, a qual foi mais ligada pelo advento das cirurgias plásticas,245 a maquiagem ainda possuía um status de “equipamento”, ora perseguido pelo velho ideal difamatório, ora acompanhado pelas ondas da atualização das modas. De acordo com Denise Bernuzzi de Sant’anna, a maquiagem passou a ser um dos artifícios de beleza que representaria um símbolo da juventude e da modernidade, isto é, “para quem perseguia a última moda, os rostos que nunca recebiam o carmim ou traços do lápis denotavam uma personalidade avessa às mudanças”.246 Mas, de qualquer forma, “mesmo com a emergência de modas favoráveis ao uso da maquiagem, ‘pintar o rosto’ permaneceria um gesto duvidoso, sujeito a reprovações”. 247

245 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. A História da beleza no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014, p. 17.

246 Ibidem, p. 28.

247 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. op. cit., p. 27.

Foi nesse quadro que a maquiagem se tornou ao mesmo tempo uma heroína e uma vilã para as mulheres, já que, ao passo em que ela representava a adequação ao modismo, trazia consigo a bagagem do “reboque destinado a esconder uma falha do caráter ou alguma imperfeição da alma”.248 E, por que não, do corpo. No caso das recomendações de Catty Vicent, a maquiagem cumpria a função ornamentaria de encobrir ou melhorar os aspectos iniciais da idade. Indo mais adiante, a tendência do disfarce da velhice vai mais além, passa do rosto ao talhe corpóreo:

[...] A questão do porte, exige um pouco de attenção porque é um dos detalhes mais importantes da “colleção de armas” da mulher. Si uma mulher se acostumou ao uso dos corpinhos toda a vida, serà imprudente que prescinda delles repentinamente. [...]

Ir usando colletes cada vez mais flexíveis até poder suprimmil-os e reduzil-os á expressão mais simples, quando o corpo haja adquirido a flexibilidade exigida pelas modas actuaes. [...] As mulheres de certa edade devem ter cuidado com os chapéos.

[...] A primeira e mais notável parte do corpo é o rosto. Nelle se assignalam as primeiras linhas feias; mas é fácil com um pouco de cuidado dar ás feições uma expressão suave e juvenil. [...] Além do exercício, certamente tereis que aprender a dansar. Nada reduz tanto as carnes como o baile que também addiciona graça natural aos movimentos. [...] Nenhuma mulher de quarenta annos pode impunemente usar côres berrantes que assentam tão bem aos dezoito annos. Poderá usál-as com discreção, e perfeito critério de adaptação. [...] Um outro fator preponderante de mocidade e beleza é a conservação dos dentes. Nada mais repugnante que uma bocca mal cuidada. Uma dentadura sacrificada é um auto attestado de ignorância e de mau gosto. [...] Quanto as mãos é preferível trazel-as bem tratadas, de unhas polidas e limpas do que carregar os dedos de aneis. A joia chama attenção e mais depressa se percebe a mão estragada, o que é prova flagrante de falta de distincção. 249

Tendo em mente a velhice como feiura, cada detalhe no texto contaria para deixar a mulher de quarenta anos mais bela. Foi nisso que as “armas femininas” do ter porte, flexibilidade, expressões suaves e juvenis, estar modelada, com movimentos graciosos, e higiene bucal e das mãos em dia pareciam focar: maquiar o corpo. Em toda essa narrativa houve aversão às figuras que representam uma velhice caricata: da mulher curva, rígida, enrugada, gorda, desjeitosa, com a dentadura e as mãos malcuidadas.

Com o advento das investidas higienistas e dos cuidados com a saúde cada vez maiores no século XX, a beleza tornou-se ainda mais atrelada ao aspecto saudável. Contudo, a aversão à velhice e a criação de uma imagem “feia” de algumas mulheres mais velhas era, na verdade, algo mais duradouro. Se não fosse pelas localizações gramaticais temporalmente bem demarcadas, o discurso do texto poderia compor muito bem uma revista da segunda metade do

248 SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. A História da beleza no Brasil. São Paulo: Contexto, 2014, p. 27.

249 VICENT, Catty. Conversa. Anuário das Senhoras, Rio de Janeiro: Sociedade anônima “O Malho”, ano I, 1934, p. 144.

século XX e, por que não, reverberar nas ideias de “recauchutagem” dissimuladamente melhoradas do século XXI.

O ponto em comum de repercussão em ambas temporalidades era o medo da velhice, que foi socialmente fomentado ao longo dos anos. A associação de estar ou parecer velho com o final da vida, tornava quase lógico e humanamente temível pelo medo da morte, portanto, nada mais instintivo que tentar escapar dela ou dos mínimos indícios de seu surgimento. Outro ponto de associação possível é o que foi apontado por Michelle Perrot, em que a velhice, principalmente nas mulheres, foi frequentemente associada à perda da fertilidade e, consequentemente, dos “poderes” de sedução feminina; enquanto a jovialidade, se tornou sinônimo de vida, felicidade e prazer.250 Desse modo, as mulheres circunscreveram-se dentro de uma dominação masculina e aprisionaram-se na capacidade de reprodução do seu corpo, fazendo a possível associação dos elementos da velhice à uma forma de feiura, em que parecer velha para o meio social estaria fora dos padrões de beleza.

No que se trata do disfarce da velhice como feiura, o Anuário apresentou em torno de 142 ocorrências, dentre elas, as formas explícitas e implícitas de mostrar a feiura da mulher com aparência mais velha. Mas não foi somente a velhice que a maquiagem se propunha a

“esconder” ou “melhorar” no Anuário.

Ao longo de seu advento, a maquiagem recebeu um peso de recurso artificial frente as propostas de naturalização da beleza feminina. Em parte, a justificativa desse movimento se dava por quê: “o apelo aos ‘artifícios’ da maquiagem, reconhecido como necessário, deve afrontar a ideologia do ‘natural’, que busca limitar esse expediente”. Assim, “segundo a lógica higienista, os ‘artifícios’ são aceitos como último recurso para esconder a feiúra”. 251

Foi nessa dicotomia que muitos autores escreviam no Anuário em favor de um aspecto mais natural para o rosto das mulheres. Seja no intento de disfarçar as cores vibrantes que atraiam adjetivos pejorativos, ou na perspectiva de manter a fisionomia maquiada o mais próximo possível do natural, como que se não estivesse pintada, as modas descritas no Anuário buscaram o lado oposto a uma artificialização. Um exemplo disso pode ser visto na poesia intitulada “Não Gostei”, de Telles de Meirelles252, publicada no Anuário de 1940:

250 PERROT, Michelle. Os silêncios do corpo da mulher. In: MATOS, Maria Izilda Santos de; SOIHET, Rachel (orgs.). Corpo feminino em debate. São Paulo: Editora Unesp, 2003, p. 16.

251 SCHPUN, Mônica Raisa. Beleza em jogo: cultura física e comportamento em São Paulo nos anos 20. São Paulo: Senac/Boitempo, 1999, p. 92.

252 Telles de Meirelles, segundo os jornais Beira-Mar e Jornal do Brasil, foi um pseudônimo do poeta e escritor humorista Perez Junior. Ver: UM SONETO... Beira-Mar: Copacabana, Ipanema e Leme. Rio de Janeiro, 22 de fev. de 1931, ano IX, nº 256, p.2; DATAS intimas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 de jul. 1930, ano XL, nº 180, p. 12. Disponível em: Hemeroteca Digital Brasileira.

Não gostei de vêr pintados mulher bela nos versos retratada como aquela que não precisaria usar desses artifícios diante sua beleza natural. Revela-se então uma feiura ao uso da maquiagem. Ainda assim, o lado implícito da mensagem destacada pelo autor imprime uma expressão de que o uso da maquiagem seria feio àquelas de aparência por ele consideradas belas. Ou seja, definia-se um certo grupo, seja estético ou moralmente concebido, para qual o recurso da pintura tornara-se algo feio, algo que elas não necessitavam, enquanto outras poderiam fazê-lo.

Seja por uma questão de estratégia linguística para efeito de semelhança, ou não, o fato foi que tais direcionamentos poéticos puderam incitar a noção de feiura no uso da maquiagem.

253 MEIRELLES, Telles de. Não gostei. In: Anuário das Senhoras, Rio de Janeiro: Sociedade anônima “O Malho”, ano VII, 1940, p. 51.

Cinco anos depois da publicação da poesia no Anuário, outro artigo reforçava a ideia de “beleza natural”, mas dessa vez pautada nas crenças higienistas:

Já vão longe os dias em que uma mulher tornava-se imediatamente suspeita aos olhos da sociedade, ao fazer uso de um “baton” para carminar os lábios ou de um lápis preto ou azul marinho para fazer ressaltar a cor das sobrancelhas e pestanas. [...] hoje em dia tudo mudou. O elegante gesto de acariciar, furtivamente seu próprio rosto com um delicado pompom ou de avivar discretamente o contorno dos lábios, não mais desclassifica uma criatura elegante, que é sempre uma mulher de bom gosto, de bom tom. Nos salões mais honoráveis e respeitáveis, os cremes, os batons, os rouges e toda companhia do maquilage, não escandalizam mais ninguém. Entretanto, após os higienistas terem se submetido o ukase feminino, e como tal deixarem de prescrever sistematicamente [...] formulam uma observação inesperada. O reboque no rosto das mulheres, tal qual ele é feito, com discrição e virtuosidade, dizem eles, não merecem mais os anatemas com que lhe batizamos outrora. [...] As mulheres no afan de corrigir os erros da natureza habituaram-se, e isso sem a menor cerimônia, a não nos mostrar as suas verdadeiras fisionomias. Elas escondem assim de seus próprios círculos toda sorte de advertências de real utilidade no interesse de sua saúde. [...] Não seria difícil um arguto observador surpreender no semblante duma jovem mulher tais e tais indícios, uma pigmentação singular, uma coloração significativa ou uma secura da pele, denunciando um mal interno. Ainda bem que todos esses fenômenos desagradáveis, para gaudio do sexo frágil, são manhosamente dissimulados pelo maquilage. [...] Com ou sem maquilage, a máscara feminina é sempre um ponto de interrogação. 254

Abordando de maneira cautelosa e comparativa os “antigos” tabus da maquiagem, o autor tenta passar às leitoras um certo avanço na interpretação na pintura do rosto sem traçar um perfil desclassificatório, significando a beleza daquelas que as usavam. Porém, o texto parece voltar atrás quando revela as recomendações higiênicas para tal produção, já que estes a contraindicavam em benefício da saúde feminina. É nessa pauta que o autor se fundamentava para mencionar que as mulheres da época utilizavam a maquiagem sem se importar com seus efeitos, revelando assim uma verdadeira postura de irresponsabilidade com a saúde do rosto e equivoca ao tentar ocultar tais riscos.

À vista disso, é possível observar tanto uma forma de feiura relacionada a moral feminina quando o autor menciona na passagem final do texto que “com ou sem maquilage, a máscara feminina é sempre um ponto de interrogação”,255 colocando a postura da mulher como duvidosa pelo uso da maquiagem, bem como uma noção de feiura ligada ao tipo de coloração do rosto e da secura da pele.

É seguindo essa linha de raciocínio que outros artigos no Anuário também expunham uma espécie de trajetória do se maquiar que levava a uma pintura mais naturalizada no rosto.

254 SÁ, Victor de. A máscara feminina. In: Anuário das Senhoras, Rio de Janeiro: Sociedade anônima “O Malho”, ano XI, 1945, p. 260, 242.

255 Ibidem, p. 260, 242.

Na revista de 1942, um texto assinalado por Max Factor Jr. discutia como a maquiagem pesada no cinema passou a adquirir leves toques.

Lembrem-se que a escola da maquilagem progrediu, mudou, teve suas regras alteradas. Ninguém esqueceu, por exemplo, a maquilagem de dez ou quase vinte anos passados. O rosto parecia uma máscara, pois era difícil distinguir-se “as verdadeiras feições!” Por essa época as estrelas do cinema surgiam na tela com maquilagem pesada, espessa, completamente o oposto do que hoje suas colegas adotam. Naquela éra do cinema, a maquilagem se fazia necessária. [...] Agora, a maquilagem que as estrelas usam em frente das máquinas não tem nada de espéssa, e, para falar a verdade, pouco difere da que usam cá fóra. A MODA DE HOJE... A moda deste ano é a da simplicidade. A mulher elegante de agora quasi não parece estar maquilada, pois o faz com a mais perfeita aproximação da naturalidade, as feições levemente acentuadas, tornando-se mais encantadoras que ao "natural'. A razão está em que novos preparados de beleza surgiram no mercado, novas regras foram adotadas, e as mulheres já as seguem com a máxima facilidade. PRODIGALIDADE... Antigamente as mulheres usavam preparados da beleza com extrema prodigalidade. Usavam e abusavam...

Hoje, porém, sabendo-se que "naturalidade é a nota predominante, elas se abstêm de abusar da pintura. A aplicação da maquilagem reduziu-se ao mínimo, sendo que qualquer excesso deve ser removido imediatamente. Depois de algumas vezes, a mulher saberá exatamente quanto deve usar de baton de rouge e de sombra de olhos etc. [...] O pó de arroz é o único preparado que deve ser usado em abundância. 256

Sem mais ocultar os traços faciais, o texto aponta que a maquiagem se tornara mais leve, prática e fácil de acertar a combinação correta da moda no tom natural do rosto.

Consequentemente, nota-se uma certa restrição baseada na moda naturalizada, em que, cada vez mais próxima do aspecto natural, poderia gerar uma rejeição das maquiagens “pesadas”.

Além disso, é possível perceber um certo momento de “transição” da moda das pinturas da década de 1930 para as de 1940, bem como uma característica conjuntural ditada pelo contexto das evoluções tecnológicas da Segunda Guerra Mundial. Não longe disso, outro artigo da mesma coluna “Segredos de Beleza” do Anuário publicava, três anos mais tarde, mais alguns traços de mudanças na maquiagem feminina.

Beleza e moda em 1944 tomaram aspecto sutil. [...] Ao contrário e contrariando a maioria das opiniões, “glamour” e sutileza são cousa perfeitamente compatíveis e eu acho mesmo que uma é sinônimo da outra. [...] Que esperar? De acordo com as presentes indicações um dos pontos mais “smart” da aparência feminina do ano, diz respeito aos cabelos que parecem longos, e, no entanto, são curtos. Os outros concernem, respectivamente, ao “rouge” suavíssimo posto nas faces, a algum cosmético apenas para realce das pálpebras, dos lábios, tudo racionado, excelente e ainda diverso e mais diversos do “lipstick effects” do passado. [...] O cabelo que parece longo e é curto o é em virtude dos penteados de tranças e cachos que se faz com ajuda de enchimentos e até postiços leves, fornecendo a graça natural. [...]

Cabelos tinturados de maneira forte, ou tinturados ora de um tom ora de outro, a mudar de aspecto o elemento feminino a cada passo, estão passando de moda agora tanto como “rouge” que, ou apenas é sombra leve, ou não se usa durante as horas todas de

256 JR, Max Factor. Segredos de Beleza de Hollywood. In: Anuário das Senhoras, Rio de Janeiro: Sociedade anônima “O Malho”, ano VIII, 1942, p. 24.

dia. Numerosas, felizmente, são as mulheres que compreendem tais ditames, em sendo numerosas, por conseguinte, as que fazem uso dos “make-ups” de maneira sutil, coisa de eficiência marcante á valorização do ‘glamour’. Cabelos grisalhos não se tinturam, pois há fisionomias que nada perdem com eles, e há cabeleira grisalhas quando retocadas com um leve colorido azul ou lilás, principalmente sob as luzes artificiais.

Em resumo: retocar-se é uma necessidade. Mas é necessário retocar-se tão sutilmente, como se faz a profissão de fé a respeito da simplicidade do vestuário. Eis o que forma o verdadeiro ‘glamour’ nos tempos que correm”.257

O texto de 1944 falava da pintura que combinava elegância e sutileza. No panorama dado para o ano de 1945 é interessante perceber que, ainda sob o contexto de guerra, a moda continuava numa transição para a praticidade, ao ponto que a sutileza deveria combinar também com a simplicidade do vestir. Focando nessas características é possível analisar no texto certas passagens que remetem a certas reprovações: a primeira se localiza evidentemente num

“pecado” pelo excesso de maquiagem, de sombras, blush e batons muito marcados; a segunda, no aspecto da cor dos cabelos rejeitando a frivolidade das tinturações, especialmente para as mulheres mais velhas, além de denotar um certo desuso dos cabelos em detrimento dos novos penteados extensivos.

Em busca de uma concordância do maquiar e do vestir, outro artigo da mesma coluna assinado por Max Factor, só que dessa vez do ano de 1941, buscava combinar a naturalidade do vestir-se à de maquiar:

Em recente entrevista um dos mais destacados costureiros de Hollywood ofereceu um conjunto de máximas para qualquer pessoa ficar encantadoramente trajada dentro de limitado orçamento. É evidente que o bom gosto tem um significado todo especial na efficiencia da aplicação individual das dez regras adiante. Maquilage faz parte

Em recente entrevista um dos mais destacados costureiros de Hollywood ofereceu um conjunto de máximas para qualquer pessoa ficar encantadoramente trajada dentro de limitado orçamento. É evidente que o bom gosto tem um significado todo especial na efficiencia da aplicação individual das dez regras adiante. Maquilage faz parte