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Nominalidade e verbalidade no discurso especializado

Capítulo 4 – Nominalidade e sintagma nominal

4.6 Nominalidade e verbalidade no discurso especializado

Por último, deve ser examinado o papel da nominalidade no discurso especializado, tendo em vista que o significado especializado (conteúdo comunicativo C – em combinação com fatores interpessoais, como referência R e a função pragmática Foco – se concentra nas formas nominais. É o papel dos fatores interpessoais nas expressões lingüísticas que retifica a idéia tradicional da ‘nominalidade’ das LEsps, como sendo depositada apenas nos conceitos especializados em N. Além da tradição nominalista, também a metodologia predominantemente onomasiológica, refletida nas nomenclaturas, enfatizou o N como veículo perfeito dos conceitos. E há a já discutida receptividade da categoria lexical N para entidades que contêm informação, têm mais traços de contorno (profile), de espacialidade e são referenciais.

Tudo isso subestimou o fato de que os conceitos da área se localizam nos nominais por causa da alta informatividade e da referenciação que se estabelece na sua atualização e que se manifesta lingüisticamente, de acordo com o sistema da língua. Lembramos que os ‘conceitos’ só existem como expressões lingüísticas e que, confirmando Hengeveld (2004), é a operação da formulação que ‘converte’ os elementos extralingüísticos, conceituais ou contextuais, por meio da codificação morfossintática, em um produto lingüístico, por

exemplo, um termo ou uma UT complexa. Por isso, é mais adequado falar em UT para as unidades nominais com conteúdo especializado, ou mesmo em ‘sintagma terminológico’, como Boulanger (1989), no lugar de N. Essa última expressão representa bem o estatuto intermediário entre ‘palavra’ e ‘sintagma’, uma vez que as UTs são instanciações dos conceitos, por meio de referenciação e modificação. Formam-se produtivamente no nível sintagmático, constituem formas deverbais (NAct, NActi) ou deadjetivais, completam-se como eventos, seja por modificadores, seja por V-sup ou V-lig. De acordo com essa proposta, podem ser explicadas as características de apresentar valores escalares e variação.

Confirmando o papel primordial dos nominais, é fato que estes precisam ser relacionados e integrados ao discurso, além de serem especificados. Em outras palavras, variabilidade, possibilidades combinatórias e produtividade apóiam-se em todas as categorias lexicais. Se, por um lado, há predomínio do N e das nominalizações, com o objetivo de aproximar formas não-nominais das exigências da ‘referenciabilidade’, não há de se negar, por outro lado, que o V desempenha um papel igualmente importante nas LEsp. São unidades lexicais relacionais e altamente dependentes dos argumentos envolvidos na predicação e adscrevem propriedades por meio de SRef; estes, sim, com conteúdo especializado (Lorente Casafont, 2002). Por essa razão, há lexemas verbais trazidos da língua comum para integrar os conceitos nos textos e no discurso da área, tais como V-lig e V-sup, assim como há outros que os ‘incorporam’ na forma verbal.

Lorente Casafont (2002) lista quatro tipos de unidades lexicais verbais nos textos especializados:

i) Vs discursivos ii) Vs conectores iii) Vs fraseológicos iv) Vs terminológicos

Para a autora, os Vs discursivos são aqueles que estão relacionados à função textual, à função de apresentação (atos de fala) e a Vs psicológicos e de opinião. Este tipo é geral para apresentação de fatos e opiniões em textos jornalísticos e de divulgação científica de diversas áreas, mas não é tema deste trabalho. Já o grupo em ii), os Vs conectores, são de maior interesse, pois incluem os V-lig e V-sup e são parte de PVN e de construções de diversos

tipos. O grupo iii), os Vs fraseológicos, ou melhor, ‘V genéricos’, são Vs do léxico geral, não da área especializada, e ligam-se aos conceitos de uma área em expressões colocacionais.36 O quarto tipo, os Vs terminológicos, são aqueles que contêm o conteúdo especializado no lexema. Veja exemplos com os tipos relevantes para a verbalidade da área: os Vs conectores em (110), os Vs colocacionais em (111) e os Vs terminológicos em (112).

(110) ser de (aumento), ter (aumento), haver (aumento), levar a (um aumento), e outros.

(111) conceder (aumento), apresentar (aumento); fechar (um aumento), registrar (aumentos), gerar (aumentos), provocar (aumento), resultar em (aumento), prever (aumento), sofrer aumento, e outros.

(112) tributar, comercializar, ofertar, orçar, e outros.

Com exceção de (112), os V-sup de (110) e (111) estão subordinados aos conceitos referenciais aos quais estão vinculados, já que, em primeiro lugar, relacionam os conteúdos semânticos entre SRefs. Vs conectores e Vs fraseológicos/colocacionais têm função de verbalizadores e são os Vs de maior freqüência e produtividade. Cumprem diversas funções: configuram a mudança categorial necessária no discurso, equilibram os valores verbais e nominais para expressão do conteúdo e integram a informação no texto e no discurso, mas também entram na criação de unidades lexicais. Os Vs mais genéricos, em (111), igualmente ligados a determinados conceitos, acrescentam conteúdo semântico maior. No entanto, como, nas expressões colocacionais, têm significado global, e, além disso, não são necessariamente específicos a uma determinada área, os Vs genéricos ocupam uma posição intermediária entre operadores e predicados. Devido à heterogeneidade de muitas áreas, os Vs genéricos fazem parte do chamado ‘vocabulário geral de orientação científica’ ou ‘linguagem científica geral’ (Phal, apud Morgenroth, 1994). Nesse tipo de vocabulário, também podem ser incluídos os Vs discursivos, assim como muitos conceitos mais gerais.

Assim, somente os Vs terminológicos, exemplificados em (112), podem ser considerados Vs específicos de uma área de especialidade, mas somente quando integram conceitos nominais da área em questão. Quanto à freqüência, são relativamente mais raros do que Vs dos outros três tipos, porque o português prefere unidades lexicais analíticas. Na

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Para Lorente Casafont, mas também para outros autores (Bevilacqua, 2004, Cabré, 1999 etc.), ‘fraseologia’ refere-se à especificidade de uma área de especialidade e equivale a ‘colocação’. Alves (2002) distingue esses dois conceitos e reserva fraseologia para a língua comum e colocação para AEs.

atualização desses Vs, observam-se as restrições mencionadas para Vs denominais, sobretudo quando há conceitos mais específicos. Um dos exemplos é que a marcação da categoria gramatical Pessoa evita expressar os locutores (1ª e 2ª Pessoa), já que a informação está em primeiro lugar. Com isso, prevalecem as formas nominais, como infinitivo, particípio, gerúndio, e até mesmo NAct.

Dependendo do papel funcional – de núcleo ou de modificador – a marcação tende a uma forma mais substantiva (infinitivo, Ns deverbais), a uma forma adjetiva (particípio como atributo), ou adverbial (gerúndio, ADV), no predicado verbal. Como essa função está vinculada à base semântica (IndObj e EstC para núcleos e propriedades para modificadores), as palavras-ocorrências (CL-ocorr) são mais flexíveis ou mais específicas. Além de ‘acordar’ (101) e ‘orçar’, que ocorrem preferencialmente em forma participial (como modificador), confiram-se, em (113) a (115), algumas ocorrências marcantes preferidas com Vs em ‘-izar’:

(113) Em todas as formas (nominais, adjetivas, adverbiais): capitalizar, dolarizar, terceirizar, valorizar, economizar:

A possibilidade de a fábrica da Siemens ficar em outro Estado representará um duro golpe nos planos do governo local, que tem capitalizado com o empreendimento. (VE-04-10)

(114) Em formas nominais substantivas (infinitivo, NAct e NActi): fidelizar, canibalizar, setorizar, equalizar:

No rigoroso processo de seleção natural dos bens de consumo, o menor sinal de fraqueza pode significar para uma marca tradicional o fim por canibalização ou, menos mal, um longo período de exílio involuntário. (GM- 11-10)

(115) Em formas nominais adjetivas (ADJ deverbal): anualizado, burocratizado: A produção do terceiro trimestre teve uma alta anualizada de 2,8%. (VE-18-10).

Uma das conclusões possíveis é que os lexemas listados em (113) são mais flexíveis e, em conseqüência disso, observa-se que podem ocorrer em diversas funções e formas nos dados. Em oposição a isso, as ocorrências em (114) indicam que, para esses lexemas, prevalece a expressão de EstC (ações em progresso ou seus resultados), enquanto os lexemas em (115) se ajustam melhor à expressão de propriedades que representam eventos concluídos. Para resumir todos esses fatores, pode-se afirmar que, mesmo com certas restrições de origem funcional, os predicados verbais – e, com isso, a categoria lexical V – são parte de uma LEsp tanto quanto os conceitos nominais.

Ainda de acordo com essa proposta, também a estrutura argumental exigida por um conceito nominal permanece parte da expressão verbalizada. Isso confirma que os conceitos

nominais não representam ‘entidades’ desconectadas da sua ocorrência no mundo e na expressão lingüística. Nos exemplos com ‘foco’ (116) a (122), ficou evidente que esse item contém os parâmetros semânticos [direcionalidade] e [local a ser afetado], embora o lexema não seja propriamente relacional ou não exista como entidade individuada. Isso significa que ‘foco’ se instancia na predicação, com um V de direção e um local para onde é dirigido, expresso por um sintagma adposicional. Esse marco, acoplado ao lexema em N, determina a sintaxe interna, mesmo quando ocorre mudança categorial para V.

(116) concentrar seu foco em (algo): Há apenas três anos na América do Sul, a Combibloc concentrou seu foco em produtos de maior valor agregado como chás, sucos, vinhos, atomatados e tem enfrentado dificuldades em lácteos.

(VE-27-10)

(117) foco para (algo): “Nós desenvolvemos um grande conhecimento em produtos de segurança, especialmente em talões de cheques, e estamos direcionando nosso foco de negócios para essa nova tecnologia”, explica o Ombudsman da Burti, Flavio Botana. (VE-08-11)

(118) focar (algo) em (algo): “O cenário para a Vale é positivo, pois é uma empresa exportadora, vai vender suas participações em papel e celulose e focar sua atividade em minério e logística, comprar mais ativos de mineração e construir mais pelotizadoras.” (VE-26-10)

(119) A estratégia de atuação da empresa foi montada sob o modelo focado em marketing, produtos e vendas. (GM-06-11)

(120) enfocar (): Pode-se enfocar o problema de dois ângulos diferentes: a nível "macro" observando-se as informações agregadas por setores da indústria, ou a nível "micro", analisando-se o processo produtivo empresa por empresa. (VE-Col-02)

(121) focalizar (): Em diversos países houve tentativas pontuais de focalizar as ações públicas através do direcionamento de políticas compensatórias. (VE- Col-02)

(122) ter foco estreito: Criador, há 20 anos, do conceito de posicionamento, no qual 'ter foco estreito é essencial para as empresas sobreviverem', Ries acredita na chegada, em breve, a um patamar mais amplo e equilibrado de competição em todo mundo graças ao comércio eletrônico. (GM-29-10)

A estrutura argumental de ‘foco’, expressa nos primeiros dois exemplos, inclui um V de direção agentivo e o ponto de chegada: quando há mais precisão, há seleção de um V adequado e a adposição ‘em’; quando direção e local são mais vagos, predomina a direcionalidade com ‘para’ (117). Essas características são incorporadas na perífrase em (118) e no particípio em (119) e se completam com maior agentividade e integração do constituinte com função semântica Paciente. O dado em (120) expressa a mesma estrutura por prefixação em um único item lexical. Contudo, é lexicalizado e liga-se a entidades mais ‘abstratas’ (‘problema’, ‘questão’, ‘assunto’ etc.). Integração e lexicalização acentuam-se em (121) a

(122). ‘Focalizar’ corresponde a ‘tornar focal’ e dispensa a estrutura argumental, embora possa acrescentar os detalhes de forma atributiva. ‘Ter foco estreito’ é uma expressão fraseológica. Verifica-se que, embora o marco de ‘foco’ se concentre em uma única unidade lexical predicativa, a sintaxe interna se impõe. Isso será exemplificado pela análise de alguns conceitos considerados nominais na área ‘economia/finanças: ‘aplicações’, ‘papel’, ‘títulos’ e ‘fundo’. Serão comprovados os seguintes postulados para a mudança categorial:

i) que a mudança categorial considera a sintaxe interna e externa; ii) que a categoria não prevalece sobre o conceito expresso;

iii) que também uma Ent-1 tem predicabilidade de maior ou menor grau que permite a distribuição da nominalidade entre construções e predicações.

Entre os conceitos da LEsp examinados, ‘aplicações’ é o que tem espectro mais amplo de tipos de entidades. Tem verbalidade em algumas atualizações, principalmente como NAct e NActi. Temporalidade e objetivos visados ditam as bases semânticas da complementação do NAct, e mesmo a especificação do NActi. A manutenção do Arg-3 na estrutura argumental aplica-se para NAct (123) e NActi (124), com a finalidade de especificar a ambos. Como Ent- 1, a forma preferida é em pluralia tantum.

(123) No rating elaborado pelo Ibmec, os fundos DI de aplicação em cotas administrados pelo Banco Alfa estão entre os vinte fundos que mereceram nota máxima. (VE-27-10)

(124) A desvantagem é que nas aplicações em fundos, ao contrário das em CDB- DI, as instituições não informam qual o percentual do CDI que o investidor terá como rentabilidade. (VE-27-10)

Para confirmar a eventividade de ‘aplicação/aplicações’, coocorrem ADJs que indicam fases do evento (‘aplicação inicial’) e o objetivo deste (‘aplicação especulativa’), assim como relações semânticas para especificar o evento (‘cronograma/andamento das aplicações’). A atribuição de qualidades hipostasiadas37, como ‘alta’, ‘liquidez’, ‘volatilidade’, e a presença de agentes em NAg, como ‘gestor’, ‘administrador’, ‘investidor’, ‘analista’, ‘detentor’, em Arg-1, reforçam eventividade e agentividade. A posição hierárquica mais alta de ‘aplicação/aplicações’, em relação aos outros mencionados, mostra-se também nos conceitos

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Inspirado em Halliday, o termo ‘hipóstase’ é usado em relação à metáfora gramatical, em que um termo não- nominal é ‘reificado’ (vergegenständlicht) quando em forma de N. Mackenzie (2004) aplica esse conceito a expressões de qualidades que são tratadas como se fossem entidades (de primeira ordem).

em Arg-3: ‘aplicações em fundos/ações/títulos etc.’, nos quais ‘aplicação’ é hiperônimo e, mesmo como NActi, ainda aparece como mais verbal que outros, por exemplo, ‘fundos’ em (124).

Com exceção de ‘aplicação’, nenhum dos outros conceitos contém traços de EstC (Ent- 2) na expressão sintagmática. Entre esses conceitos, ‘papel’ é o conceito mais geral (N genérico) e pode ser encontrado, como hiperônimo, tanto em substituição a ‘títulos’ quanto a ‘fundos’. No caso de uso genérico, mas também em função de resumir o texto, ‘papel’ não ocorre com modificadores. Quando é intercambiável com ‘títulos’ ou ‘fundos’, assume os modificadores destes. No entanto, as ocorrências ‘papéis/títulos/fundos cambiais’ e ‘papéis/títulos/fundos de renda fixa’, ou seus subtipos ‘papéis/títulos/fundos prefixados’, não dizem necessariamente respeito à equivalência dos conceitos nucleares, mas, antes, ao valor especializado dos termos modificadores ‘cambiais’, ‘renda fixa’ e ‘prefixado’. São atributos básicos da AE que perpassam a área de finanças e investimento em diversas formas e funções e, portanto, devem ser considerados como propriedades especializadas da área.

A princípio, a especificação ‘de renda fixa’ acrescenta a noção de temporalidade (prazo, vencimento, duração), o que aponta para a eventividade dos conceitos quando especificados em SRef. ‘Títulos de renda fixa’ são mais do que Ent-1, sobretudo quando subespecificados (‘títulos de renda fixa prefixadas’, próximo do exemplo em (128) mais adiante). Veja especificações eventivas com ‘título’ (125) a (127):

(125) Nas carteiras dos fundos da Investidor Profissional os títulos de renda fixa são todos do governo federal. (VE-EI-02)

(126) Segundo o gestor Ricardo Campos, da Hedging Griffo, a questão eleitoral já está se refletindo nos prêmios pagos por swaps (troca) de títulos cambiais com vencimento depois de 2003. (VE-EI-02)

(127) Os títulos atrelados a índices de preço costumam ter um componente prefixado e um pós-fixado (a correção de acordo com o indicador). (VE-EI-02)

Além do modificador ‘de renda fixa’ (125), ocorre um circunstancial mais extenso (126) ou um atributo participial com núcleo que está sujeito à variabilidade e flutuações, ou seja, a atividades e processos, ‘índice’ (127). Nos exemplos, há uma NLZ subentendida, como ‘aplicação’, ‘operação’ ou ‘valorização’, todos EstC.

‘Papéis’, ‘títulos’ e fundos’ são conceitos que entram nas atividades de investimento, fato que pode ser percebido também quando são argumentos de NAct: ‘rolagem dos títulos’,

‘emissão de títulos’, ‘compra e venda dos títulos’. Nota-se, portanto, que é possível expressar EstC também no nível ‘sintagma’, já que a especialização aparece, neste caso, em forma de ADJs ou adjuntos adjetivos. De fato, a noção modificadora ‘de renda fixa’ é importante para denominar um tipo de papel, um hiperônimo. Já que este diz respeito à finalidade do papel, a de dar rendimentos (‘fixos’, em oposição a ‘variáveis’) – o que é uma realidade importante da área de ‘economia/finanças’ –, pode haver especificação mais precisa sobre o momento de fixar a renda (‘pré’ ou ‘pós’). Chega-se, então, ao subtipo em (128), o qual é também encontrado na variante ‘papéis de renda fixa pré’, assim como com a base ‘fundos’ (129):

(128) A alta nos juros fez com que os papéis de renda fixa prefixados perdessem valor, porque embutiam ainda as taxas passadas. Resultado: os fundos que tinham esses papéis em carteira perderam dinheiro. (VE-EI-02)

(129) Boa parte das NBC-E e NTN-D que o governo despejou no mercado para segurar a alta do dólar no ano passado está na carteira dos fundos de renda fixa DI, aqueles que têm papéis de renda fixa pós fixada. (VE-EI-02)

O conceito ‘fundo’ está entre as UTs superordenadas e ocorre com diversas especificações. A eventividade está mais no nível da predicação do que no do sintagma, já que os tipos privilegiam uma tipologia mais descritiva (‘fundos multimercados’, ‘fundos de pensão’, ‘fundo imobiliário’, ‘fundos de investimento’ etc.). Para a expressão da eventividade, entra o deverbal agentivo, até mesmo com denominação de ocupação habitual ou profissão (‘gestor/administrador de fundos’) ou como NAct (‘gestação/administração de fundos’), no exemplo (130). No entanto, prevalece a interpretação de UT com ‘fundo’ como Ent-1. Nos textos, observa-se que este termo é parte de um conjunto maior de tipos de ‘papéis’, do N coletivo ‘carteira’, como em ‘carteira dos fundos’ (131)). Há formas que correspondem às classes de individuação conceitual de N, por exemplo, como Tipo 1 (nomes) e Tipo 5 (formas pejorativas e apelidos), em (131) e (132).

(130) Isso porque os gestores de fundos preferem os títulos de prazos mais curtos, que pagam menos. (VE-EI-02)

(131) O diretor de normas do Banco Central, Sergio Darcy, supreendeu os administradores de fundos com a circular que determina os critérios para a contabilização dos ativos nas carteiras dos fundos de investimento financeiro (FIF). (VE-EI-02)

(132) Por isso, esses fundos estão sendo chamados no mercado de 'fundos cowboy', porque ganha quem saca primeiro. (VE-EI-02)

Alguns dos conceitos em torno de ‘fundos’ expressam relações conceituais hierárquicas, mormente superordenação e subordinação. Com isso, integram um dos poucos exemplos de

redes conceituais da LEsp da economia/finanças. ‘Fundos de investimento’, por exemplo, é um tipo de fundo e abrange um certo número de outros subtipos, que freqüentemente incluem a sigla FI (Figura VI).

FIGURA VI:RELAÇÕES HIERÁRQUICAS COM ‘FUNDOS DE INVESTIMENTO (FI)’

FUNDOS

Fundos de investimento (FI)

FI de risco FI financeiro FIF Fundos financeiros FI imobiliário FI de renda fixa ...

No léxico especializado, ‘fundos de investimento’ adquiriu individuação conceitual como ‘nome’, embora ainda preserve algo de verbal no NAct ‘investimento’. Quando o termo é marcado como FI, este é apagado e apenas as especificações, feitas com ADJs ou com adjuntos, vêm por extenso. No caso de ‘FI financeiros’, observa-se a tendência para usar a sigla FIF, geralmente quando é parte de expressões maiores (‘carteiras do fundos de investimentos financeiros (FIFs)’, ‘ativos dos fundos de investimento financeiro (FIFs)’). Coocorre com a forma extensa, assim como com ‘fundos financeiros’ (133). Em todos esses casos, prevalece a nominalidade da expressão, enquanto a predicação é estabelecida no nível oracional.

(133) Em termos mais concretos: quando um dólar vale digamos R$ 2,45, isso significa que os detentores de fundos financeiros acreditam que seus capitais aplicados em reais a esta taxa vão render tanto em dólares quanto outros capitais aplicados em outras moedas, convertidas pelas taxas cambiais respectivas. (VE-EI-02)

A forma curta ‘FI financeiros’ para ‘fundos financeiros’ comporta-se como o tipo ‘nome’ de (132), comprovando que o conteúdo semântico desse tipo não se restringe aos

componentes formais da UT, mas que está no todo. Por conseguinte, permanece o valor informativo, apesar de não ter todos os elementos lingüísticos expressos, ou de haver siglas.