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Novos rumos na articulação institucional da Municipalidade

A década de 1930, no Brasil, instaurou um novo momento político e a necessidade de novos rumos para a sociedade. Assim, de 1930 a 1935, o contexto sóciopolítico brasileiro foi marcado por instabilidades e descontentamento de setores operários e também empresariais com as reformulações em curso, implantadas pelo presidente Vargas. Na economia, a

política do Estado Novo previa a modernização do país, de modo a consolidar o capitalismo industrial em todo o país, rompendo com o improviso de investimentos financeiros e pautando as relações sociais com um novo pacto federativo. Na política, o Estado Novo acabava com a eleição direta para os cargos de prefeito e governador de Estado.

Com o fim das eleições diretas para a chefia do Executivo Municipal, vários prefeitos passaram pela prefeitura de São Paulo, sendo que no período entre 1930 e 1934, todos por um curto período de administração. A nomeação dos prefeitos pautava-se por critérios técnicos, de forma que o cargo foi exercido ao longo deste período, na maioria das vezes por engenheiros, alinhados as diretrizes políticas de Vargas e do interventor estadual. Assim, a partir da promulgação do Estado Novo, passaram pela prefeitura paulistana, os engenheiros: Fábio da Silva Prado (1934-1937), Francisco Prestes Maia (1937- 1947), o arquiteto Christiano das Neves (1947) e os deputados estaduais Paulo Lauro (1947-1948) e Milton Improta (1948). O último prefeito nomeado foi Asdúbral da Cunha, substituído por Lineu Prestes, eleito para o cargo em 1950, reabrindo o período de eleições diretas, que perdurou até 1964.

O Estado Novo tinha como um de seus objetivos a modernização das estruturas institucionais do Brasil e preparar as leis para a população que vivia nas cidades. Assim, os trabalhadores ganharam novo estatuto, além de abrir campo para o discurso nacional desenvolvimentista.

Em 1934, o engenheiro Fábio da Silva Prado assumiu o cargo onde ficou por quatro anos, rompendo com as curtas temporadas dos primeiros anos da década. Sua administração foi caracterizada pelas obras de caráter social e cultural31 e deu início à construção de importantes obras e equipamentos

urbanos, como o Estádio do Pacaembu, a Avenida 9 de julho, a implantação de uma rede de bibliotecas públicas municipais e os parques infantis. Para alcançar esses objetivos, foi necessário uma modernização na estrutura administrativa da prefeitura e a contratação de novos funcionários.

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Fábio da Silva Prado teve Mário de Andrade como responsável pela direção do Departamento Municipal de Cultura.

A respeito das administrações nomeadas pelo interventor estadual para a capital paulista, não se verifica grande diferença nas linhas de atuação e nem dos discursos feitos pelos urbanistas nas tentativas de planejar o crescimento da cidade. De modo que podemos afirmar que, até os anos 1950, não houve ruptura nas linhas diretivas do urbanismo paulistano, mantendo-se a liderança de Luiz Anhaia Mello e Francisco Prestes Maia frente ao debate acerca da urbanística municipal32.

É fato que nos anos 1930 a passagem dos renomados urbanistas paulistanos Anhaia Mello e Prestes Maia pela prefeitura de São Paulo (respectivamente em 1931 e 1938-1945) proporcionou a ambos imporem sua maneira de administrar os problemas da cidade. Enquanto Anhaia mostrou-se simpático aos ideais urbanísticos norte-americanos de elaboração do plano para a cidade, Prestes Maia mostrou-se mais simpático ao ideário das grandes obras de ordenamento viário para São Paulo, fazendo oposição ao metrô proposto pela Light, apresentando uma revisão do estudo para um “Plano de Avenidas” em 1938, sugerindo obras de melhoramento que compreendiam o perímetro central e seus arredores, mas excluíam os bairros periféricos.

Ao longo da administração de Prestes Maia, a estrutura administrativa da Prefeitura passou por uma ampla reforma, a fim de dinamizar o setor de obras e de planejamento da cidade, ainda que tivesse diminuído o número de cargos e funções da estrutura municipal que recebera de Fabio Prado. Assim, o departamento de urbanismo ficou responsável pelo planejamento urbano, ainda que Anhaia Mello pregasse a importância do planejamento enquanto quarto poder. É importante mencionar que, neste momento da história das administrações municipais paulistanas, não havia espaço para contribuições externas à Prefeitura; o poder municipal era super dimensionado por Maia e as iniciativas de obras partiam de seu próprio Gabinete, cabendo aos técnicos detalhar seus estudos e propostas 33.

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É importante dissociar a prática e as idéias vigentes nos discursos de Anhaia Mello e Prestes Maia, tendo os dois engenheiros e professores protagonizados acalourados debates e alimentado divergências pessoais, embora a nosso ver, isto não tenha alterado a finalidade do projeto de imposição da cidade burguesa.

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Segundo Osello (1983), Prestes Maia foi o primeiro urbanista a conceber um plano de conjunto para a ordenação da cidade, mas só conseguiu implantar parcialmente esse plano

Entre 1947 e 1961, um grupo de engenheiros municipais assume os cargos de direção do Departamento de Urbanismo: Henrique Neves Lefèvre que, como Anhaia Mello, é ligado ao Partido Democrático, é nomeado Diretor. Carlos Brasil Lodi assume a Divisão de Planejamento Geral, e Carlos Alberto Gomes Cardim Filho, Rogério César de Andrade Filho e Heitor Eiras Garcia alternam-se na direção do departamento, da Divisão de Pesquisas, Regulamentação e Divulgação e da Divisão de Desenvolvimento do Plano. Todos já faziam parte do quadro de funcionários do Setor de Obras e, com exceção de Henrique Neves Lefèvre que se aposenta em 1952, os demais permanecem como membros estáveis na direção do departamento até 1961, quando Prestes Maia retorna ao posto de prefeito. (Feldman: 2005, p. 77-78).

O que de certo modo, revelava os motivos pelos quais a urbanística paulistana do período, seguiu sem grandes alterações ideológicas. De forma que, os interesses das elites urbanas permaneceram sendo respeitados e legitimados também nos anos da administração de Prestes Maia, tendo o seu Plano de Avenidas servido para valorizar ainda mais algumas das áreas destinadas a moradia dos setores de rendas médias e altas. Legitimando assim, a expulsão da população de baixa renda da área próxima a região central da cidade.

Embora Prestes Maia denominou ‘descentralização’ à expansão geográfica da área central, o resultado concreto do seu modelo de anel e radiais acentuou o processo de centralização e especialização do centro, com a conseqüente segregação e expulsão de tipos de uso do solo que não podiam pagar a valorização decorrente dos melhoramentos (habitação e comércio de baixa renda). (idem, p. 118).

graças aos sete anos que permaneceu no cargo de prefeito (1938-1945) e à estrutura administrativa autoritária da ditadura de Getúlio Vargas, de quem tinha total apoio.

Figura 12

Aquarela de Prestes Maia, detalhando a estética desejável para a cidade a partir do seu Plano de Avenidas.

Fonte: Toledo, 1998

Segundo alguns autores, o plano de Prestes Maia foi o responsável pela atual estrutura espacial da cidade de São Paulo, através de suas ações de valorização da área central, e contribuiu para a criação de bairros periféricos destinados a trabalhadores de baixa renda. O traçado proposto também consolidou as direções de crescimento da cidade, sempre coincidindo com os interesses dos loteadores privados, que desejavam obter valorização fundiária e maior retorno financeiro, comprovando a hipótese de que as ações tomadas pela prefeitura, na gestão territorial, foram planejadas desde seu início. O que não quer dizer que os problemas foram enfrentados e sequer solucionados.

O Plano de Avenidas de Maia teve forte viés rodoviarista, vindo ao encontro do que se via nas ruas enquanto paisagem urbana – a presença do automóvel, que no final dos anos 1930 passou a fazer parte da paisagem da cidade, sobretudo nos elegantes bairros exclusivos, alinhando-se à imagem de cidade americana. Com a introdução do automóvel à paisagem paulistana, legitimou-se a possibilidade de crescimento territorial sem limite, pois o discurso adotado era pelo transporte de porta a porta, e não em defesa dos meios coletivos de locomoção. Desse modo, o trabalho de Prestes Maia buscou dar maior viabilidade a este projeto da elite burguesa.

2.4. São Paulo Metrópole: