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4.2.9 – O aprendizado adquirido e melhoria na qualidade de vida do aluno de EJA

Nesta secção tentará, de forma simples, apontar a variação entre o processo de aprendizagem, adquirido pelo adulto, com a perspectiva de melhoria de sua qualidade de vida, mas para isso será necessário, além desse aporte pretendido, elencar, de forma discursiva, como estão organizados os elementos que comportam os componentes curriculares nos projetos de ensino adotados pelos professores que atuam e turmas de EJA, na Escola Agrícola Maurício Machado.

Com base, na análise estabelecida até aqui, percebe-se que todo o processo de aprendizagem, determinado ao educando, inserido em cursos de EJA, toma como orientação pedagógica à melhoria da qualidade de vida desse sujeito, com vista ao seu desenvolvimento socioeconômico, ampliação do senso crítico diante dos problemas comunitários e, além, de tudo o seu desenvolvimento pessoal.

Para isso, o universo de informantes, quando indagados sobre o aprendizado que obtiveram, até então na escola, por meio de conteúdos provenientes dos componentes curriculares ou dos projetos de ensino, contribui para melhoria da sua qualidade de vida em termos condição socioeconômica, senso crítico sobre os problemas de sua comunidade e ao seu desenvolvimento pessoal? Com isso, obteve-se o seguinte resultado:

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Gráfico 25 – Resposta dos alunos matriculados na modalidade EJA na Escola Agrícola Maurício Machado, sobre a questão: O aprendizado adquirido, por meio das atividades educativas, possibilita melhoria na sua qualidade de vida?

Fonte – Questionário Aplicado aos alunos matriculados na Modalidade de Educação de Jovens na Escola Agrícola Maurício Machado.

Diante do resultado, expresso no gráfico acima, 93% dos alunos de EJA disseram que toda carga epistemológica que aprenderam e, ainda, aprendem em sala de aula, por meio dos conteúdos curriculares, assim como também pelos projetos de ensino, possibilitam sim melhorias na qualidade de vida, apresentando configuração positivas no aspecto socioeconômico, no próprio senso crítico em na relação diante dos problemas comunitários, além do seu desenvolvimento pessoal.

Esses dados, mostram os motivos pelo quais os alunos afirmam positivamente, que tais procedimentos ocorrem a partir do modelo educacional adotado na escola, quando indicam que as circunstâncias pedagógicas são altamente positivas, pois no aspecto socioeconômico, em específico, a determinação de instâncias educacionais expressam na capacidade humana habilidades para produção de insumos de subsistências no meio comunitário.

Outro ponto a ser observando, mostra que o município de Santa Izabel do Pará não é uma cidade industrializada, sendo assim, a movimentação econômica local, dá-se, em geral, pela contração de pessoal para prestação de serviço público. Por outro lado, as principais atividades econômicas desenvolvidas no município, as quais absorvem mão de obra em grande escala, são o comércio e agricultura família em expansão, além evidentemente, das atividades de pecuária, sendo esta última com certo destaque de produção, levando à localidade ao status de maior produtor avícola do Estado.

Neste aspecto, a maioria dos alunos, os quais são egressos dos cursos de EJA, da Escola Agrícola Maurício Machado, sejam eles quilombolas ou não, são absorvidos profissionalmente, na sua maioria, para exercer atividades no comércio

159 local, mas as ocupações que esses egressos assumem não são vantajosas para

eles, tendo em vista que são consideradas atividades que absorvem mão de obra “desqualificada”.

Na verdade, esta área econômica, não exige tanto para contração de pessoal, o quesito principal para formalizar o contrato é que o candidato à vaga de emprego tenha concluído o ensino fundamental, pois para os comerciantes locais basta que o funcionário tenha, por meio de sua formação, noções de escrita e de cálculo, facilitando, portanto, a contratação egressos da Escola Agrícola Maurício Machado.

Outra área que envolve a prestação de serviço é o setor público local, pois desde a última gestão municipal, ainda no ano de 2006, houve a publicação de edital para realização de concurso público para provimento de vagas nas diversas áreas e serviços, muitos dos egressos, da Escola Agrícola Maurício Machado, perpassaram pela seleção e conseguiram aprovação, em que foram nomeados aos respectivos cargos, permanecendo até hoje na efetividade do serviço público municipal.

No caso dos cargos em que os egressos dos cursos de EJA, foram empossados, estão de acordo com nível de escolaridade a qual foi exigido no edital, com isso, esses cargos apresenta como código vaga a função de vigilantes de patrimônio público, merendeiras23 nas escolas da rede municipal, garí24, em que fazem a manutenção das áreas públicas de jurisprudência administrativa do município.

Há, também, outra área na cadeia de produtiva e econômica do município, a qual tem relação direta com a formação dos egressos da Escola Maurício Machado, esta área envolve a prática agrícola, especificamente, no desenvolvimento de agricultura familiar.

Neste aspecto, constata-se que 90% da população quilombola, das comunidades de Macapazinho e Boa Vista do Itá, desenvolvem o planejamento e o cultivo de várias culturas. Essas culturas não se caracterizam apenas para subsistência, mas faz parte da cadeia produtiva dos insumos agrícolas. Em que há o desenvolvimento produtivo de hortaliças, em geral, e de frutíferos, como destaque

23. A Merendeira tem a função de preparar e servir a merenda para as crianças, além de manter a organização da cozinha.

24. Profissional que não exige nível elevado de escolarização, mas habilita a pessoa executar atividades de limpeza de lixo das vias públicas seja através de varrição, seja pelo recolhimento de do conteúdo das lixeiras.

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ao cultivo de banana, acerola, manga, mamão e o açaí25. Não podendo esquecer,

também, da cadeia produtiva a partir da criação de animais de corte para consumo humano, em destaque a criação de frango e porco, como etapa da formação do egresso por meio de conteúdos na área de zootecnia.

A partir do ano de 2010, a Prefeitura Municipal de Santa Izabel do Pará, por iniciativa própria e respaldada pela Lei nº 11.947, de 16 de Junho de 2009, que dispõe, entre outras, sobre o atendimento da alimentação escolar e que garante a oferta da merenda nas instituições oficiais públicas de ensino do município, passou a comprar insumos agrícolas fornecidos pelos produtores rurais das comunidades quilombolas, sendo eles, na sua maioria, egressos de turmas de EJA, os quais estudaram na Escola Agrícola Maurício Machado.

Portanto, dentre as atividades produtivas que movimentam a economia local, as quais os egressos estão inseridos, apresenta-se com maior evidência a prática da agricultura, conforme argumenta Marin (2004), deve-se em função da natureza social das comunidades, como realidade, verdadeiramente, concreta e palpável diante da própria condição socioeconômica. Portanto, o desenvolvimento da agricultura apresenta como ponto de partida a dimensão prática dos saberes culturais, quando constituem estruturas necessárias ao processo de desenvolvimento pessoal, relacionada ao desejo por uma melhor qualidade de vida.

Contrariando tudo isso, 7% dos alunos negam, contundentemente, que tudo que aprendeu ou aprende na escola contribui para melhoria de sua qualidade de vida e, muito menos, proporciona mudanças diante da sua situação socioeconômica, apesar de, toda bagagem intelectual, permitir a ampliação de seu senso crítico em relação aos problemas comunitários e o seu desenvolvimento enquanto pessoa humana.

Entretanto, de forma irônica, a partir dos postulados de Barcelos (2012), a melhoria da qualidade de vida desses alunos não são simplesmente uma condição universal ou retrato fiel de uma realidade que seja desejável a qualquer custo. Cada situação, latente à realidade do educando, está representada por suas referências

25. Palmeira cespitosa de até 25 metros de altura (Euterpe olerac ), nativa da Venezuela, Colômbia, Equador, Guianas e Brasil (AM, PA, AP, MA), de estipe anelado e frutos roxo-escuros de cuja polpa se extrai sumo espesso muito apreciado, assim como o palmito; açaí-branco, açaí-do-pará, açaizeiro, coqueiro-açaí, guaçaí, iuçara, juçara, palmeira-açaí, palmeira-jiçara, palmiteiro, palmito, piná, piriá, tucaniei, uaçaí.

161 ao mundo em que vive. Neste caso, eles mencionam, detalhadamente, sobre sua

própria realidade comunitária.

Para Barcelos (2012), ainda que de forma convencional, cada sujeito, seja ele negro quilombola ou apenas adulto ingresso ao contexto escolar, consegue perceber que as coisas e seres não são si objetos representados na sua corporeidade e conceituados sob uma determinada perspectiva, que envolve diretamente o desejo intrínseco, por uma melhor condição de vida no aspecto socioeconômico.

Todavia, o ápice da discussão, em função do desejo pela melhoria da qualidade de vida dos egressos, deveria tomar como base determinante o uso da dialética no tempo e no espaço escolar ou até mesmo no contexto comunitário, para estabelecer, a partir da educação formal, o verdadeiro sentido do ensino em função do processo de aprendizagem para toda vida do educando.

Esses discentes acreditam, que nem todo aprendizado, mesmo adotando de um modelo teórico e metodológico específico ou até mesmo “revolucionário”, pelos professores, como já foi mencionado neste estudo, nem mesmo a educação escolar em si, pode melhorar a situação socioeconômica que, eles se encontram.

Admitem que as dificuldades encontradas, no cotidiano deles, como parte do objeto desse estudo, transforma-se pela ação positiva do trabalho coletivo em função do bem comum comunitário, os quais alegam, contundentemente, que a melhoria da qualidade de vida das pessoas da comunidade depende exclusivamente da força de vontade de cada.

Afirmam ainda, que o senso crítico que cada um, dos alunos, expõe sobre a relação existente entre as convicções pessoais e os problemas da sua comunidade, constituem-se sob dimensões múltiplas ao fato contido. Contudo, alguns desses problemas chamam a atenção por serem bastante específicos, e para erradicá-lo ou amenizá-lo, acaba sendo necessário constituir o conselho comunitário que definem a pauta a ser debatidas nas reuniões, que podem ocorrer na sede do centro

comunitário26, onde poderão ser atendidas, especificamente, as necessidades

contidas no fato, sem que haja, portanto, senso crítico dos alunos de EJA, os quais são, também, membros da comunidade.

26. Espaço físico coberto, como uma espécie de pequeno galpão, em local específico na comunidade que serve para reuniões de interesse coletivo.

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4.3 – Participação do Profissional Docente nas Atividades

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