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3. O ATUAL ESTÁGIO DO DIREITO À SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL

3.2 A REFORMA SANITÁRIA E A POSITIVAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL: DO

3.2.2 O direito à saúde na legislação infraconstitucional

Seguindo tal ordem de ideias, uma vez constatada a amplitude da proteção jurídica conferida ao direito à saúde, mormente no período que se iniciou com o movimento de reforma sanitária, extrai-se, como uma própria decorrãncia da importância dada ao tema pela Constituição Federal de 1988, a necessidade de o próprio legislador pátrio editar e promulgar diplomas legais específicos atinentes à plena concretização da saúde, assim como ao estabelecimento das diretrizes de atuação estatal rumo à implementação e ao efetivo cumprimento das políticas públicas e, igualmente, ao controle e regulamentação da atividade privada na seara da saúde, considerando-se, pois, a dupla atuação do Estado neste ponto.

Justamente em tal viés, procedendo-se ao patamar infraconstitucional, depreende-se, fácil e claramente, que os esforços do legislador pátrio seguem as mesmas linhas ditadas pelo Constituinte e preconizadas no Texto Constitucional, de forma que extrai-se uma preocupação maior dos diplomas legais com a concreção do direito sanitário no prisma nacional. Nessas linhas, inúmeros passam a ser os dispositivos legais que versam a respeito da saúde e de sua promoção, os quais variam bastante e se voltam tanto a aspectos concretos da realização da saúde, como também ao estabelecimento das diretrizes genéricas ao cumprimento das políticas públicas e ao controle da iniciativa privada na prestação de serviços de saúde.

delimitar a análise infraconstitucional ora em destaque apenas a uma breve capitulação de algumas leis relacionadas à proteção constitucional do direito social à saúde e intrinsecamente voltadas ao empreendimento e regulação das políticas públicas de saúde e, igualmente, ao lançamento das bases e à regulação do setor privado na prestação dos serviços de saúde.

Tal tratamento superficial se afigura salutar, notadamente porque o que se pretende neste momento é apenas fornecer uma ideia geral acerca da complexidade do tema no ordenamento infraconstitucional pátrio, nos termos do enfoque esposado no tópico em comento. Até mesmo porque os corpos legais abaixo que se mostram mais relevantes ao presente estudo serão melhor aprofundados e tratados em capítulos seguintes, em momentos mais oportunos. Sob tal prisma, uma série de leis se destaca na seara da efetivação do acesso à saúde, tanto no setor público como no privado, entre as quais os seguintes diplomas legais, segundo natureza jurídica do diploma e por ordem decrescente de antiguidade:

Lei Complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012: regulamenta o parágrafo 3º do

artigo 198 da Constituição Federal, dispondo tanto acerca dos valores mínimos a serem aplicados anualmente pelos entes federativos em ações e serviços públicos de saúde, como também sobre os critérios de rateio dos recursos de transferãncias para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde;

Lei n. 11.445, de 05 de janeiro de 2007: estabelece diretrizes nacionais para o

saneamento básico e para a política federal de saneamento básico.

Lei n. 10.708, de 31 de julho de 2003: institui o auxílio-reabilitação psicossocial para

pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações;

Lei n. 10.216, de 06 de abril de 2001: trata acerca da proteção e dos direitos inerentes

às pessoas portadoras de transtornos mentais, assim como redireciona o modelo assistencial em saúde mental;

Lei n. 9.961, de 28 de janeiro de 2000: cria a Agãncia Nacional de Saúde

Suplementar - ANS, autarquia especial vinculada ao Ministério da Saúde, sendo, pois, um marco importantíssimo na consagração de uma regulação eficiente no campo dos

serviços de saúde prestados pelo setor privado, na forma da dinâmica do Estado Regulador preconizada na Constituição Federal de 1988, bem como na previsão constitucional acerca da possibilidade de assistãncia à saúde pela iniciativa privada;

Lei n. 9.656, de 03 de junho de 1998: denominada Lei dos Planos de Saúde, referida

legislação se volta, conforme previsão do artigo 199, da Lex Fundamentalis, à regulamentação da dinâmica da assistãncia à saúde explorada pelos particulares por meio dos planos privados de assistãncia à saúde, consoante será aprofundado adiante.

Lei n. 9.434, de 04 de fevereiro de 1997: dispõe sobre a remoção e a disposição

gratuita de órgãos, tecidos e partes do corpo humano vivo e pós-morto, para fins de transplante e tratamento;

Lei n. 9.313, de 13 de novembro de 1996: determina a distribuição gratuita, por parte

do Sistema Único de Saúde – SUS, de medicamentos aos portadores do HIV e doentes de AIDS, mediante financiamento da Seguridade Social;

Lei n. 9.263, de 12 de janeiro de 1996: regula o parágrafo 7º do artigo 226 da

Constituição Federal, dispondo a respeito do planejamento familiar integrante de uma visão de atendimento global e integral à saúde;

Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990: também chamada de Lei Orgânica da

Saúde – LOS, tal diploma passa a dispor sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes à prestação da saúde. Para tanto, aborda, entre outros assuntos, o dever do Estado de garantir a saúde a partir de políticas públicas eficientes e do estabelecimento de condições que assegurem o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde;

Lei n. 6.259, de 30 de outubro de 1975: dispõe sobre a organização das ações de

Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações e estabelece normas acerca das políticas públicas de imunização;

Com base em tal elenco, percebe-se, de modo inegável, o comprometimento maior do legislador pátrio com a efetivação do direito à saúde, encargo este que o levara a elaborar uma gama de diplomas reguladores dos mais diversos aspectos sanitários, os quais, como visto, variam desde o estabelecimento de políticas e programas de atuação concreta até mesmo à disposição acerca das pautas e diretrizes gerais a serem observadas no momento da prestação do direito à saúde tanto pelo Poder Público como, igualmente, pelo setor privado. Nessa senda, apreciáveis se mostram os esforços dos parlamentares, os quais, impulsionados pelo movimento de reforma sanitária, voltaram-se à conferãncia de substrato e condições legais favoráveis à plena realização da saúde e, consequentemente, à universalização do acesso à saúde, à maximização das liberdades instrumentais e ao alcance do desenvolvimento.

Nesses termos, atendo-se, ainda, à atuação do Estado na prestação da saúde, emerge desse fenômeno de positivação do direito à saúde uma preocupação maior do Constituinte e do legislador pátrios no sentido de dirigir cautelosamente a conduta estatal atinente à prestação dos serviços de saúde e ao cumprimento das políticas públicas. Tal é o que se justifica, mormente, tendo em vista o caráter prestacional deste direito, o qual implica o já discutido debate entre o seu elevado custo (reserva do possível) e a sua essencialidade à natureza humana (mínimo existencial), discussão esta que conduz à seguinte conclusão: é necessária a adoção de um critério que associe a qualidade e a quantidade da conduta positiva do Estado rumo à efetivação da saúde, sob pena de se fechar os olhos aos gastos públicos ou, pior ainda, ao desrespeito inescusável de um direito fundamental dos indivíduo.

Justamente nesse prisma, partindo de uma interpretação sistemática do texto constitucional, torna-se imperiosa a associação entre o direito social à saúde, especificamente em seu cunho prestacional, e o princípio da eficiãncia administrativa, o qual se aplica perfeita e inequivocamente na saúde pública, dada, principalmente, a sua natureza de serviço público.