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O emprego das novas tecnologias no enfrentamento à criminalidade organizada

GLOBALIZAÇÃO E OS DESAFIOS DA ERA DIGITAL

3.2. Um novo conceito de organização criminosa no ordenamento jurídico brasileiro

3.2.1 O emprego das novas tecnologias no enfrentamento à criminalidade organizada

Na década de 70, Manoel Pedro Pimentel já tratava do avanço da macrocriminalidade. Ao traçar o panorama da época, apontou em seus estudos a respeito do Direito Penal Econômico, diversos fatores que fomentam a nova criminalidade, distintas daqueles aplicados à criminalidade clássica:

A criminalidade refinada, técnica hábil, se desenvolveu paralelamente com o aumento da complexidade da vida moderna, especialmente no campo da economia. Disfarçada aqui, em grupo de homens de negócios, ali em empresas de vulto, acolá em sociedade comercial, a criminalidade prosperou largamente; impunemente, valendo-se das falhas da legislação, das deficiências do sistema, da corrupção, da pressão política, da exploração das mais diversas formas de prestígio social.293

Entretanto, torna-se evidente que, em função do período de sua elaboração, ou seja, na primeira metade do Século passado, o Código Penal e o de Processo Penal Brasileiro, respectivamente, não tipificaram condutas ligadas à criminalidade digital, como também, não poderiam prever mecanismos legais para reprimir as novas modalidades criminosas, além é claro, do aperfeiçoamento da dinâmica de atuação da criminalidade moderna.

Marco Antonio Marques da Silva destaca que os avanços tecnológicos propiciados pela globalização demandam uma nova concepção jurídica em matéria de repressão à criminalidade econômica, conforme trecho a seguir em destaque:

Os impactos destas ideias no mundo globalizado são objeto de estudo para encontrar formulas harmônicas para o combate e prevenção da criminalidade econômica, no âmbito dos Estados, bem como, nas suas relações internacionais, tendo em vista que o fator econômico é a base destas relações, que se utilizam de todo avanço tecnológico, impedindo, com isto que se utilizem dos instrumentos do direito penal clássico, para enfrentar estes problemas294.

Na linha do pensamento do referido autor, o cenário contemporâneo exige uma postura proativa do Estado, não só na capacitação técnica dos profissionais que atuam na

293 Direito Penal Econômico, p. 04-05. 294 Idem, p. 402.

prevenção e repressão a moderna criminalidade, mas principalmente, na instrumentalização jurídica de meios hábeis e compatíveis na busca de uma investigação eficiente.

Assim, a velocidade e a eficiência do fluxo informacional e comunicacional tornam-se fortes aliados das redes criminosas que, inevitavelmente, aproveitam-se das brechas e entraves jurídicos de uma legislação lacônica e ineficiente, devido à própria ausência de aparatos estatais de combate criminalidade moderna.

Desse modo, os órgãos estatais necessitam não só de uma constante evolução nas técnicas de investigação, mas também de uma legislação rígida e segura que permita uma atuação eficiente na função básica e primordial dos órgãos de prevenção e repressão na sua atividade fim, ou seja, a elucidação das práticas criminosas.

E hoje, indubitavelmente, o monitoramento de sinais, torna-se uma das principais ferramentas de investigação e colheita de provas, dentro do aparato estatal de prevenção e repressão à criminalidade, em especial aquelas que se utilizam das redes eletrônicas de comunicação e informação.

Benjamim Rodrigues observa em sua obra a atual ineficácia dos meios de colheita de provas diante das novas tecnologias comunicacionais e informacionais, uma vez que elas não só refletem sobre os crimes praticados pela Internet, como também, recaem sobre a própria atuação daqueles criminosos, que se utilizam das redes de comunicação digitais para a realização do modus operandi, conforme trecho a seguir em destaque:

Tal perspectiva não exclui a reserva à imagem, à honra, à vida privada e à intimidade, uma vez que os referidos princípios e normas fundamentais, muitas vezes, acabam por ceder, diante de outros valores tão ou mais importantes. Em casos excepcionais, desde que amparado pela adequação, necessidade, proibição do excesso e proporcionalidade, justificam- se limitações ou restrições, de modo a garantir a segurança nacional ou pública e bem estar econômico.

Por seu turno, o Estado deve sim, buscar mecanismos constantes que acompanhem a evolução tecnológica, primar pela profissionalização, com a busca pela constante capacitação do investigador, além de fortalecer os setores de inteligência (colheita e análise de informação)295.

295Lei nº. 9.883, de 7 de dezembro de 1999: “Art. 1º [...] § 2º. Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do

Nessa esteira, frente ao crescimento exponencial da cibercriminalidade, Benjamim Silva Rodrigues, aponta a necessidade de investimento nos órgãos de polícia judiciária, devendo-se, assim, investir no policial especializado, sob pena de ineficácia da política de prevenção e repressão à criminalidade informático-digital ser uma miragem, com graves consequências para as sociedades modernas.296

Devem ser concedidos os mais modernos meios tecnológicos informáticos de investigação. E complementa o autor, [...] a precipitação e vertigens inovadoras da tecnologia impõem a necessidade dos investigadores criminais estarem continuamente a munir-se de novas tecnologias e estudar novos métodos de investigação.297

Nesse sentido o Poder Público deve concientizar-se que, enquanto não forem adotadas medidas político institucionais de prevenção e repressão à criminalidade, condizentes com a nova dinâmica tecnológica empregada nas estratégias e ações da criminalidade moderna, o resultado será inócuo.

A criminalidade organizada é a criminalidade da era global, mas, mais do que isso, a criminalidade dos nossos dias, é uma criminalidade informativo-comunicacionalmente globalizada.298

Diante dos novos desafios impostos pelo avançado fluxo tecnológico comunicacional e informacional das redes digitais, rapidamente apropriado e utilizado pelo crime organizado, surgem obstáculos quase que instransponíveis à investigação criminal.

Essa busca pela instrumentalização do Estado com modernas técnicas de investigação não significa a supressão ao texto constitucional, mas sim uma interpretação evolutiva do ordenamento jurídico, diante dos novos desafios impostos pela moderna criminalidade, em busca de um equilíbrio constante não de armas, mas sim de justiça e paz.

O Estado a adotar instrumentos fora do amparo do ordenamento jurídico, sob o subterfúgio de utilizar os mesmos mecanismos utilizados pela criminalidade organizada para

território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado."

296 Benjamim Silva Rodrigues. Direito Penal Parte Especial. Tomo I. Direito Penal Informático – Digital: contributo para a fundamentação da sua autonomia dogmática e científica à luz do novo paradigma de investigação criminal a ciência forense digital e prova digital, p. 161-162.

297 Ibid, Idem, mesma pag.

298 Conforme aponta Benjamim Silva Rodrigues a criminalidade da era digital “é Fruto da criação de grandes espaços econômicos sem fronteiras, com livre circulação de mercadorias e pessoas – máxime, no seio do

seu efetivo combate, acaba por colocar em risco a própria credibilidade e confiança da sociedade nas instituições públicas e na integridade do ordenamento jurídico.299

3.2.2. O emprego das técnicas especiais de investigação na repressão a

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