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O Grande Julgamento

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 131-140)

Mateus 25.31-46 “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna”.

Estritamente falando, a passagem a respeito do juízo final é muito mais uma profecia que uma parábola. Apenas a parte que fala das ovelhas e dos cabritos pode ser considerada uma parábola. E essa breve comparação serve perfeitamente ao propósito de Jesus, quando ensina a seus discípulos a doutrina do último julgamento271.

Rapidamente, Jesus se refere a uma cena bucólica comum em seus dias, O pastor reúne ovelhas e cabritos em um rebanho. Em áreas onde a grama é escassa por causa da seca, os cabritos preferem comer as folhas e os rebentos mais do que pastar272. Eles ficam no 271 Examinando a teologia de Mateus, 6. Gray, cm “The Judgment of the Gentiles in

Matthes’s Theology”, Scripture, Tradition and Interpretation, Festschrift honoring E. F. Harrison (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), 199-215, conclui que o julgamento dos gentios não pode decididamente ser o julgamento final de todos os homens”, p. 213. J. R. Michels, “Apostolic Hardships and Righteous Gentiles: A study of Matthew 25.31-46w, JBL 84 (1965); 27-38; R. C. Oudersluys, ‘The Parable of lhe Sheep and Goats (Matthew 25.3146): Eschatology and Mission, Then and Now”,

RefR 26 (1973): 151-61. Permanece o fato, no entanto, que a parábola como um

todo diz respeito ao último julgamento, e o último julgamento inclui todos os homens e é final.

mesmo rebanho com as ovelhas, mas nem os cabritos nem as ovelhas se misturam. Ao entardecer, as ovelhas atendem ao chamado do pastor, mas os cabritos, muitas vezes, o ignoram. Quando cai à noite, as ovelhas preferem ficar ao ar livre, ao contrário dos cabritos, que não suportam o frio e precisam se abrigar273.

O pastor põe as ovelhas à direita e os cabritos à esquerda. Ele não separa os machos das fêmeas, e, sim, as ovelhas dos cabritos. Simbolicamente, coloca as ovelhas à sua direita e os cabritos de seu lado esquerdo. As ovelhas valem mais que os cabritos274, e sua lã

branca, que não se confunde com a pele malhada dos cabritos, se destaca como símbolo de justiça275. O bode, há muito tempo, vem

sendo associado com o mal. O Velho Testamento retrata o bode como o portador do pecado, que é enviado para o deserto (Lv 16.20-22). Mesmo nós, em nossa própria linguagem, usamos a passagem registrada em Levítico. Além disso, o lado direito significa sempre o que é bom, porém o esquerdo pode se referir a algo sinistro, sombrio, mau e vil.

Todas as nações do mundo são comparadas a ovelhas e cabritos que são separados pelo pastor, no fim do dia. As nações serão reunidas diante do Filho do Homem sentado em seu trono na glória celestial. Ao comando divino, os anjos se adiantarão e reunirão os eleitos dos quatro ventos e os apresentarão diante do trono do juízo (Mt 13.41,42; 24.31; 2 Ts 1.7,8; Ap 14.17-20). Todos os povos estarão diante do Juiz. Tanto os bons, quanto os maus, os ímpios como os justos. Ninguém será excluído. O Juiz separará uns dos outros, como o pastor divide seu rebanho de ovelhas e cabritos depois de tê-los apascentado durante o dia.

O Lado Direito

O tema da separação e do juízo se desenvolve através de todo o Evangelho de Mateus. O trigo é ajuntado no celeiro, mas a palha é queimada em fogo que não se extingue (Mt 3.12); o joio é separado do trigo e atado em feixes para ser queimado, enquanto o trigo é recolhido no celeiro (Mt 13.30). No final dos tempos, os anjos separarão os justos dos maus, e os ímpios serão lançados na fornalha acesa (Mt 13.49,50). As cinco virgens néscias encontram a porta fechada e ouvem a voz do noivo dizer: “Não vos conheço” (Mt 25.12). O servo negligente, que enterrou seu único talento, é lançado fora, na escuridão (Mt 25.30). Na parábola das ovelhas e dos cabritos, o princípio da separação e do julgamento é claramente aplicado.

O Filho do homem, como Jesus se refere a si mesmo, vem em sua glória e se assenta em seu trono celestial, cercado por seus anjos.

273 Armstrong, Parables, p. 191; Jeremias, Parables, p. 206. 274 Dalman, Arbeit und Sïtte, VI: 217.

Passagens das Escrituras, no Velho Testamento, reiteram esta verdade que, sem dúvida, aponta para o último julgamento, como um julgamento universal276.Na parábola das ovelhas e dos cabritos, Jesus

aceita todos aqueles trazidos diante dele, que foram eleitos desde a eternidade. São aqueles que ouvem o Rei dizer: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Eles são salvos, portanto, porque Deus, o Pai, os tinha abençoado e lhes diz que tomem posse do reino que já antes lhes havia sido preparado277.A salvação dos justos não tem raízes em

suas boas obras, senão na vontade de Deus, o Pai. As boas obras, que os justos praticam, não são a raiz, mas, sim, o fruto da graça278. As

boas obras não são anuladas pela graça eletiva de Deus; são esperadas de seus filhos benditos como uma efusão natural de obediência e amor.

De modo interessante, sem explicação, o evangelista muda da imagem do Filho do homem para a do Rei. Por que Mateus usa estes dois títulos? Certamente, a identificação de Jesus, como o Filho do homem, com a raça humana, é evidente por si mesma. Mas, a transição do Filho do homem para o Rei se torna significativa à luz da profecia de Daniel, onde a pessoa do Filho do homem vem com as nuvens do céu. “Foi-lhe dado o domínio, a glória e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído” (Dn 7.13,14). O Filho do homem, incontestavelmente, é Rei, e no dia do juízo fala como juiz soberano279.

As obras dos justos são atos de amor e misericórdia não intencionais realizados para o próprio Cristo. Por seis vezes Jesus, ao falar com os justos, usa o pronome da primeira pessoa singular — eu —, contrapondo-a a vós que se refere a outros.

(Eu) tive fome e me destes de comer; (Eu) tive sede e me destes de beber; (Eu) era forasteiro e me hospedastes;

(Eu) estava nu e me vestistes;

(Eu estava) enfermo e me visitastes;

(Eu estava) preso e fostes ver-me280.

276 Zc 14.5; Mt 16.27; 19.28; 2 Ts 1.7; Jd 14,15; Ap 3.21; 20.11,12. No trecho

chamado “Parábolas”, no Livro de Enoque 62.5, o Ímpio “vê o Filho do homem sentado no trono de sua glória”. Ele, que é o Messias, executa todos os pecadores pela palavra de sua boca. Charles, Apocrypha and Pseudepigrapha, 2:228.

277 O tempo do verbo em “benditos” (=eulogemenoi) e em “preparados”

(=hetoimasmenen) indica ação que, praticada no passado, tem significado permanente para o presente e o futuro.

278 Hendriksen, Matthew, p. 888.

279 Plummer, Si. Matthew, p. 350; Mánek, Frucht, p. 75; Manson, Sayings, p. 249. 280 No Testaments of the Twelve Patriarchs, Joseph 1.5,6, encontramos tênue eco

dessa passagem, embora reconhecidamente o pensamento divirja em muito do de Mateus.

Em todos os seus atos, os justos têm demonstrado responsabilidade humana e genuíno interesse. Provaram ser cidadãos dignos do reino dos céus. No dia do juízo, receberão o privilégio de tomar posse do reino. Em suas atividades diárias mostraram fidelidade e diligência. No dia do julgamento, receberão sua recompensa. Nas pequenas coisas da vida, os justos demonstraram seu amor e lealdade. No último dia, serão honrados pelo próprio Deus.

As pessoas que permanecem à direita de Jesus, o Rei, ouvem-no dizer que o alimentaram quando estava faminto, e lhe deram de beber quando tinha sede; e foram os únicos que o convidaram a entrar, o vestiram, cuidaram dele, e o visitaram. Eles se preocuparam com as pessoas com as quais Cristo se identificou. Mas, quem são estas pessoas que se tornaram recipientes do amor e da bondade dos justos? Esta é a questão que, surpreendidos, propõem a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome?” E a resposta do Rei é: “Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Mas, quem são esses irmãos de Cristo281?

No Novo Testamento, o próprio Cristo se identifica e é identificado com seus seguidores282. A mais marcante ilustração do

laço que há entre Cristo e seus seguidores é o encontro de Paulo com Jesus, na estrada de Damasco. “Por que me persegues?” — perguntou Jesus. Paulo, de fato, estava perseguindo seus seguidores283. Jesus é

um com os seus seguidores, pois cada cristão que crê é irmão ou irmã de Cristo. Por isso, perseguindo os crentes, Paulo perseguia a Jesus284.

No Evangelho de Mateus, a expressão “meus pequeninos” se refere aos discípulos de Jesus. Quando os doze discípulos são enviados dois a dois, Jesus diz: “E quem der a beber ainda que seja ‘Eu fui vendido como escravo, e o Senhor me livrou; Fui levado cativo, e sua forte mão me socorreu.

Fui cercado pela fome, e o Senhor mesmo me alimentou. Estava só, e Deus me confortou;

Estava enfermo, e o Senhor me visitou;

Estava na prisão, e meu Deus foi benigno para comigo.” Charles, Apocrypha, 2:346.

281 Para um exame amplo, veja-se G. E. Ladd, “The Parable of lhe Sheep and the

Goats in Recent Interpretation”, New Dimensions in New Testament Study, ed. R. N. Longenecker e M. C. Tenney (Grand Rapids: Zondervan, 1974), pp. 19 1-99.

282 Mt 10.40,42; Mc 13.13; Jo 15.5,18,20; 17.10,23,26; At 9.4; 22.7; 26.14; 1 Co

12.27; Gl 2.20; 6.17; Hb 2.17.

283 J. C. Ingelaire, “La ‘parabole’ du jugement dernier (Matthieu 25/31-46), “Revue d’Histoire et de Philosophie Religieuses 50 (1970): 52.

284 H. E. W. Turner, “The Parable of the Sheep and the Goats (Matthew 25.3146)”,

ExpT (1966); 245, interpreta At 9.4, dizendo: “Com certeza, é um misticismo, mas um misticismo de auto-identificação mais que de unificação’. Veja-se, também, C. L. Mitton, “Present Justification and Final Judgment — A Discussion of the Parable of the Sheep and the Goats.” ExpT 68 (1956): 46- 50.

um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.42)285. Quando ele chama uma criança e a coloca no

círculo dos discípulos, exorta os doze a também se tornarem crianças. Os pequeninos que acreditam em Jesus pertencem a ele (Mt 18.5,6,10). Do mesmo modo, em Mateus 25.40, Jesus diz: “Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Qualquer auxilio prestado a algum dos seguidores de Cristo é, portanto, prestado ao próprio Cristo. Os cristãos são altamente exaltados, pois servirão de referência aos atos de bondade que forem praticados ou omitidos. Eles e Cristo são um!

O seguidor de Jesus é comissionado a ser uma testemunha viva dele. É um representante do Rei, e a ele é dada autoridade para testificar do Senhor. Um mensageiro pertence sempre àquele que o enviou. O que é enviado deve representar sempre aquele que o enviou.

Os que recebem os mensageiros do Rei e os tratam bem, providenciando alimento quando têm fome, bebida quando têm sede, roupas que os agasalhem quando têm frio, e que os confortem quando estão doentes ou na prisão, estão fazendo isso, de fato, ao próprio Rei. Negar a esses mensageiros, amor e misericórdia é o mesmo que fechar as portas àquele a quem representam (Mt 10.40).

O Lado Esquerdo

Dois textos são básicos na passagem sobre o último julgamento: Mt 25.40,45. “Em verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”; e, “Em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer.” São versículos paralelos com praticamente as mesmas palavras. A omissão de “meus... irmãos” no v.45 pode ser devida ao estilo. O primeiro dos textos é afirmativo e endereçado aos judeus; o segundo é dirigido aos ímpios, em termos negativos.

Os ímpios não cometeram nenhum crime. Não mataram ninguém; não cometeram adultério; não roubaram. Seus pecados não são de comissão, e, sim, de omissão. O que deixaram de fazer é enumerado no dia do juízo. A lista completa das necessidades atendidas pelos justos é repetida, mas, agora, as flagrantes omissões são destacadas.

285 J. A. T. Robinson, “The ‘Parable’ of the Sheep and the Goats”, NTS 2 (1956): 225-

37, também publicado em Twelve New Testament Studies (Naperville: A. R. Allenson, 1962), pp. 76-93, chama a atenção para esta passagem, mas por razões lingüísticas.

(Eu) tive fome, e não me destes de comer; (Eu) tive sede, e não me destes de beber;

Sendo forasteiro, não me hospedastes;

Estando nu, não me vestistes;

Achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me.

No julgamento, como descrito na passagem, nenhuma pergunta será feita a respeito da fé ou do arrependimento em Cristo. Apenas perguntas sobre conduta serão propostas286. A lista de feitos pode ser

cumprida por qualquer um; não há necessidade de treino na fé cristã para se estar qualificado.

Quando os seguidores de Cristo, em necessidade, procuraram aqueles que permanecerão à esquerda do Rei, foram rejeitados. Aqui se coloca, realmente, a questão do ser a favor ou contra Cristo. Não há posição neutra em relação a Jesus: o homem precisa escolher. Como Jesus, sucintamente, colocou: “Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” (Mt 12.30). Se um homem recusa os apelos do evangelho e rejeita o seguidor de Jesus, ele rejeita o Cristo e escolhe ficar do lado do inimigo287.

Estão incluídas aí as pessoas que nunca conheceram a Jesus? Eles serão julgados como todos os outros que no dia do juízo permanecerão diante do Filho do homem. O apóstolo Paulo referiu-se a esta questão, quando escreveu sobre o julgamento justo de Deus: “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei, também sem lei perecerão” (Rm 2.12). Apenas aqueles que obedecem à lei de Deus são declarados justos288.

Por se recusarem a socorrer os seguidores de Cristo, os ímpios se colocam fora da esfera das bênçãos de Deus. Estão sob maldição. Ouvem as terríveis palavras: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. São condenados e enviados para junto de Satanás e de seu séqüito289. Os ímpios são

separados de Cristo para sempre; e são enviados para um lugar onde passarão a eternidade com Satanás e os seus. E o lugar que as Escrituras descrevem como o inferno290.

No tribunal, aqueles que estiverem à esquerda do juiz se surpreenderão e questionarão o veredicto: “Senhor, quando foi que te

286 Plummer, St. Matthew, p. 350.

287 Manson, Sayins, p. 251

288 “Há, portanto, uma correspondência exala entre o caráter de seus pecados como

‘sem lei’ e a destruição final vinda sobre eles, também, sem lei”’, J. Murray, The

Epistle to the Romans (Grand Rapids: Eerdmans, 1959), 1:70.

289 O tempo verbal nos particípios ‘malditos” (= kateramenoi) e “preparados” (=

hetoimasmenon) como os de Mt 25.34, indica que, praticada no passado, tem validade no presente e no futuro.

290 Por exemplo: Is 33.14; 66.24; Mt 5.22; 13.42,50; 18.8,9; Lc 16.19-31; Jd 7; Ap

vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não te assistimos?” A resposta a esta pergunta é que se recusaram a ver o Cristo quando seus seguidores chegaram até eles. Fecharam seus olhos e endureceram seus corações, quando os seguidores de Jesus estavam precisando de ajuda para suas necessidades mais básicas. “Sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer”. Jesus aponta para seus seguidores, seus irmãos. São aqueles que crêem nele e constituem a igreja. Quando são rejeitados, Cristo é rejeitado. Eles representam Jesus.

Diante do trono do julgamento, todas as nações estão reunidas: as nações do mundo estão diante de Jesus. Embora cada pessoa seja julgada individualmente, as nações também estarão diante do juiz, coletivamente. O homem é considerado responsável por sua atitude e resposta para com Jesus, sua Palavra e seu Reino, e recebe seu veredicto como indivíduo. Mas ele faz parte de sua comunidade e é um cidadão de sua nação. Juntamente com seus compatriotas carrega a responsabilidade coletiva pelas ações postas em prática e realizadas “contra o SENHOR e contra o seu Ungido...” (Sl 2.2). Durante o seu ministério terreno, Jesus denunciou as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, porque não se arrependeram apesar dos milagres que ele ali realizara (Mt 11.20-24). No dia do juízo, haverá menos rigor para Tiro, Sidom e Sodoma, que para as cidades do norte da Galiléia que não responderam à mensagem de Jesus. Elas receberão julgamento coletivo.

Implicações

A parábola das ovelhas e dos cabritos é uma introdução à descrição do último juízo. Como o pastor separa suas ovelhas dos cabritos, assim também Jesus separa os justos dos ímpios no dia do juízo. Naquele dia, todas as nações do mundo permanecem diante do Filho do homem e são julgadas com base na aceitação ou rejeição mostradas a ele, quando seus mensageiros proclamaram o seu chamado291.O que se deduz deste quadro é que o julgamento só pode

acontecer quando a ordem da Grande Comissão tiver sido plenamente cumprida. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28.19). Quando este comando tiver sido cumprido, o fim está próximo. Os seguidores de Jesus devem proclamar fielmente a mensagem do reino a todas as nações, pois quando esta tarefa estiver cumprida, o fim virá (Mt 24.14).

Os mensageiros do evangelho de Jesus experimentam fadiga e sofrem fome, sede, frio, doença, solidão e prisão. Paulo relata suas experiências e fala das vezes em que passou fome e sede; esteve nu e com frio; nas vezes em que esteve em perigo entre patrícios e entre gentios; e como esteve, muitas vezes, nas prisões; como foi açoitado

291 L. Cope, “Matthew XXV.31-46. ‘The Sheep and the Goats’ reinterpreted”, NovT

e enfrentou o perigo de morte (2 Co 11.23-27)292. As pessoas que o

ouviam e que cuidaram dele por ocasião de seus julgamentos e de suas tribulações, demonstraram genuíno amor. Esses atos, como Paulo diz aos Filipenses que lhe haviam ofertado dádivas, eram “aroma suave, como um sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fp 4.18). Mas, quando Paulo foi abandonado por todos, enquanto estava sendo julgado, o Senhor estava ao seu lado, dando-lhe força. Aqueles que o haviam desamparado, Paulo escreveu: “Que isto não lhes seja posto em conta” (2 Tm4.16). Ele deixou o julgamento para o Senhor. Embora representante de Jesus, não usou da autoridade daquele que o enviara. Jesus é o juiz, e ele dará o veredicto no dia do juízo. Paulo pode apenas orar para que o ato de deserção não fosse imputado àqueles que deveriam tê-lo apoiado.

A auto-identificação de Jesus com seus irmãos não inclui todos os pobres e necessitados do mundo. Ver na passagem sobre o juízo final uma base para o amor cristão pelos pobres, considerados indiscriminadamente, porque o pobre representa Cristo, é acrescentar algo ao texto. Ver o Cristo na figura rejeitada do homem na estrada de Jericó, ou de Lázaro à soleira da casa do rico, é aceitar uma exegese falha293. A parábola das ovelhas e dos cabritos e seu

subseqüente quadro do dia do juízo final acentua a palavra irmão (Mt 25.40). Para Mateus o termo irmão não se aplica a todos, mas apenas àqueles que aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador294. Em seu

Evangelho, Mateus fornece um significado para a palavra irmão295.

Para ele a palavra significa um discípulo, um seguidor de Jesus.

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 131-140)