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Os Trabalhadores da Vinha

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 71-80)

Mateus 20.1-16 “Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha. Saindo pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram. Tendo saído outra vez, perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma forma, e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros. Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um. Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa, dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia. Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.

Conhecida pelo título de “Os Trabalhadores da Vinha”127, esta

história é uma das parábolas encontradas em Mateus, a respeito do reino. Entretanto, esta parábola não termina com a mensagem: “Vai, e procede tu de igual modo”, no reino do céu. Seu enfoque não é a relação de trabalho e economia com o estabelecimento de um pagamento justo. Antes, as palavras e os atos do empregador, teologicamente falando, apontam para Deus, que dá aos homens, livremente, suas dádivas. Na verdade, ecoa na história o verso de um dos Salmos de Davi: “Oh! Provai, e vede que o SENHOR é bom...” (Sl 34.8).

O Trabalho e os Trabalhadores

Embora a parábola não cite a época específica do ano em que os trabalhadores são mais necessários na vinha, podemos presumir que

127 Jeremias, em Parables, p. 136, d~ mais ênfase ao empregador que aos

trabalhadores e, conseqüentemente, fala da parábola do Bom Empregador. Veja-se, também, Hunter, Parables, p. 70. Mánek, Frucht, p. 55, chama a parábola de “Pagamento Igual”.

seja em setembro128,quando se dá a colheita da uva. Durante o mês

de setembro, o período entre o levantar e o pôr-do-sol, em Israel, vai, aproximadamente, das 6 horas da manhã até às 6 horas da tarde. Descontando os períodos de descanso para as refeições e as orações, um trabalhador judeu, nos dias de Jesus, considerava normal uma jornada de dez horas de trabalho129.Em Israel, a temperatura do meio

do dia é ainda mais alta em setembro, de modo que os trabalhadores no campo ou nas vinhas experimentavam literalmente “o calor do dia”.

O proprietário de uma vinha de tamanho regular resolveu colher suas uvas, em um determinado dia. Todos os seus servos, que trabalhavam para ele, regularmente, durante todo o ano, saíram para a vinha às seis horas da manhã, enquanto o dono foi até à praça da cidade próxima, ao romper da aurora. Ele precisava encontrar alguns trabalhadores desempregados que estivessem dispostos a trabalhar por dia, pela soma razoável de um denário130. Bem cedo, entre cinco e

seis horas da manhã, alguns homens dispostos a trabalhar já permaneciam pela praça à espera de algum empregador que viesse oferecer-lhes trabalho. O proprietário da vinha falou com os homens, mencionou o pagamento diário de um denário — com o qual todos concordaram — e levou-os para a jornada de dez horas de trabalho. Os trabalhadores, estando desempregados, dependiam do empregado que, por acaso, precisasse deles por um curto período de tempo. E claro que precisavam muito mais do empregador do que este precisava deles.

Nos dias de Jesus, os trabalhadores se consideravam privilegiados ao conseguir um salário. Providenciando trabalho, o empregador demonstrava sua bondade. Era um ato de graça da parte do empregador131. Passar horas ociosas na praça significava para o

trabalhador que ele e sua família teriam que contar com a caridade dos outros. O trabalhador não tinha recursos próprios, e as dádivas dos ricos nem sempre aconteciam. Conseqüentemente, um dia todo de trabalho era uma bênção para o trabalhador e sua família.

Enquanto os servos e os novos contratados estão ocupados trabalhando na vinha, o proprietário volta à praça para ver se consegue encontrar mais alguns trabalhadores. São entre oito e nove

128 A. C. Schultz, em “Vine, Vineyard”, ZPEB, 5: 882, afirma que, embora as uvas

comecem a amadurecer em Julho, a colheita acontece em setembro. A. C. Schultz, em “Vine, Vineyard”, ZPEB, 5: 882, afirma que, embora as uvas comecem a amadurecer em Julho, a colheita acontece em setembro. Consulte-se Dalman, Arbcit und Sitte, IV:336. DerretI, “Workers in lhe Vineyard: A parablc of Jesus”, Journal of Jewish Studics 25 (1974): 72, publicano, também, em Studies in lhe New Testament (Lciden: Brill, 1977), 1:56.

129 F. Gryglewicz, “lhe Gospel of lhe Overworkcd Workers”, CBQ 19(1957): 192. Veja-

se SB, 1:830.

130 Um denário era um pagamento justo por um dia de trabalho e suficiente para

sustenta, um trabalhador e sua família. Veja-se Mánek, Frucht, p. 56.

131 A diferença de condições de trabalho de antigamente e de hoje é surpreendente.

horas, e muitos estão ainda à toa, na praça. O empregador pergunta- lhes se trabalhariam o resto do dia em sua vinha. Ele lhes promete um salário justo, embora não especifique a quantia. Os trabalhadores, conhecendo a reputação do dono da vinha, confiam nele plenamente. Sabem que não ficarão desapontados ao fim do dia.

À medida que o trabalho progride, o proprietário e seu capataz calculam o número de horas de trabalho necessárias ainda para terminar a tarefa antes que a noite caia. Fica evidente a necessidade de mais trabalhadores extras. O dono da vinha sabe exatamente quando certas uvas devem ser colhidas. Se forem deixadas na videira por mais um ou dois dias acumularão açúcar demais. O valor de mercado das uvas de vindima superior depende da quantidade correta de açúcar. Se o dia da colheita cai numa sexta-feira, o fazendeiro faz tudo o que pode para conseguir trabalhadores adicionais e completar a tarefa antes do sábado132.

Idas à praça próxima se repetem a intervalos regulares, ao meio- dia e às três da tarde, com sucesso variado. Ao entardecer, parece que o projeto não estará completo até ao cair da noite, a menos que mais trabalhadores sejam contratados. O proprietário volta à praça às cinco horas e encontra alguns homens por ali. Pergunta por que estão na praça, àquela hora do dia. Eles respondem que ninguém veio contratá-los. O empregador diz: “Ide também vós para a vinha”. Não faz nenhuma menção ao pagamento.

O dono da vinha sabe que é permitido aos trabalhadores consumir quanta uva desejarem. Ele espera perder, com isso, aproximadamente três por cento da colheita. Contratando trabalhadores ao final da tarde, porém, não corre o risco de perder tanta uva. Ele espera que apliquem sua energia no trabalho da colheita. “Ide também vós para a vinha”.

As Horas e os Pagamentos

Na parábola toda, o empregador é a figura dominante. Ele visita a praça ao romper da aurora, contrata os trabalhadores, observa a necessidade de trabalhadores extras, retorna, ainda, repetidas vezes à praça, para contratar mais homens. É ele que instrui seu capataz para pagar os trabalhadores, e ele mesmo se dirige àqueles que murmuram contra ele. O proprietário mantém o controle da situação do começo ao fim. De fato, ele é aquele a quem se compara o reino dos céus, na frase introdutória133.

132 Os relógios não eram usados; o dia era dividido em horas a partir do nascer do

sol, muito embora o dia judeu comece ao pôr-do-sol. Veja-se Jeremias, Parables, p. 136, nº 21. Derrett, “Workers in lhe Vineyard”, p. 56.

133 A frase introdutória, entretanto, é apenas um ponto de partida. Ridderbos, Coming

of the Kingdom, p. 141. O dono da vinha é a figura central da parábola e sua palavra e seus atos ilustram o significado do reino.

Várias questões surgem a respeito da administração da vinha. Por exemplo: por que o proprietário volta à praça por, pelo menos, quatro vezes a fim de contratar novos trabalhadores? O esperado seria que ele fizesse uma estimativa cuidadosa de quantos trabalhadores seriam necessários para cumprir a tarefa, antes que viesse a noite. Mas, não devemos aplicar a lógica ocidental a uma história que provém da cultura oriental. A lei da procura e da oferta foi, sem dúvida, observada. Além disso, trabalhadores contratados mais tarde, no dia, chegavam à vinha descansados e com energia para gastar. O empregador obtinha um bom retorno dos trabalhadores que trabalhavam energicamente durante meio dia ou menos.

Os trabalhadores podiam ser contratados por hora e esperavam ser pagos imediatamente após o término de sua tarefa134.Aqueles que

permaneceram na praça durante todo o dia podiam ter voltado para casa logo de manhã, quando ninguém os havia contratado. Em vez disso, esperavam que alguém viesse e os contrastasse, mesmo que para apenas uma parte do dia. Esses trabalhadores não eram vadios que passavam o tempo em conversas vazias. Tinham família para sustentar, e por isso esperavam ansiosos que alguém os contratasse. Até às cinco horas da tarde, esperavam ainda, desejando que alguém precisasse de seus serviços por apenas uma hora, ou com a esperança de combinar alguma tarefa para o dia seguinte. A seu modo, mostravam confiança, dedicação e necessidade.

Os trabalhadores recebiam seu pagamento no final do dia. Os empregadores observavam as normas bíblicas de não reter o pagamento do trabalhador diarista durante a noite (Lv 19.13) e não tirar vantagem de um contratado por ser ele pobre e necessitado. “No seu dia lhe darás o seu salário, antes do pôr-do-sol; porquanto é pobre e disso depende a sua vida; para que não clame contra ti ao SENHOR, e haja em ti pecado” (Dt 24.15). O proprietário da vinha ciente, dessas injunções, dá instruções a seu capataz para que pague aos trabalhadores o seu salário. Ele é retratado como um homem justo e de confiança. Apenas aos trabalhadores contratados às seis horas da manhã ele havia prometido um denário pela tarefa do dia. Aos trabalhadores empregados às nove horas ele prometera o que fosse justo. Com os que foram requisitados mais tarde, no dia, nada foi combinado a respeito do pagamento. Eles foram para a vinha confiando plenamente no proprietário, e certos de que ele lhes pagaria ao anoitecer.

O fazendeiro é um homem de palavra. Quando instrui seu

134 A regra dos rabinos era que um homem empregado por hora, para uma tarefa,

devia receber seu salário todos os dias. Veja-se Baba Mezia III a e Nezikin I, em Babylonian Talmud, (Boston: Bennet, n.d.), p. 633. Veja-se, também, SB, 1:832. Pagando antes os trabalhadores contratados por último, e dando a eles um salário igual, o proprietário evitou possíveis pechinchas, que lhe tomariam tempo considerável. Veja-se DerretI, “Workers in the Vineyard’, p. 63.

capataz para pagar aos trabalhadores, recomenda que pague primeiramente os que foram contratados por último, e sucessivamente até chegar aos primeiros. Que surpresa quando os que foram contratados às cinco horas receberam um denário135! Eles estão

contentes, alegres e cheios de gratidão. Sabem que o dono da vinha é não apenas digno de confiança e honesto, mas, também, um homem generoso. Todos os trabalhadores contratados no decorrer do dia recebem o mesmo pagamento e testificam a bondade e a generosidade do empregador.

Aqueles trabalhadores contratados ao amanhecer, entretanto, que haviam suportado o calor do dia, esperam receber mais que um denário cada um. Eles, também, desejam experimentar a generosidade do empregador. Mas seu desejo não se cumpre. Recebem um denário, como haviam combinado antes de começar o trabalho. Acham o acontecido injusto; tornam claro seu descontentamento e seu desapontamento, murmurando contra o fazendeiro. Não se dirigem a ele com bons modos. Zangados, fazem uma série de queixas: Trabalhamos pesado durante todo o dia, suportamos o calor e o suor, e recebemos um denário; outros vieram às cinco da tarde, trabalharam uma hora e receberam, também, um denário.

O empregador não se mostra ofendido. Dirige-se a um dos trabalhadores, evidentemente o que falava pelo grupo, e o chama de “amigo”. A conotação é de reprovação, mas o tom é amigável136. Ao

responder ao queixoso, o fazendeiro se mostra senhor da situação. “Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário?” O trabalhador insatisfeito pode recorrer à justiça, mas não terá êxito, pois as evidências são contra ele. Ele concordou em trabalhar o dia todo por um denário, que lhe foi pago. Sua acusação de injustiça não passa de um disfarce para a inveja e a avareza. O empregador não discute, não se explica e nem se justifica. Simplesmente faz a pergunta que o outro tem que responder afirmativamente: “Não combinaste comigo um denário?” Ao fazer a pergunta, já tem incluído a resposta. “Não me é lícito fazer o que quero do que é meu?”.

O ponto de discussão não é a fraude ou a decepção. Ao

135 Durante o reinado do rei Agripa II, por volta de 60 A.D., os claustros do lado

oriental do templo de Jerusalém foram construídos com a ajuda de cerca de 18.000 trabalhadores. O tesoureiro do templo e seus cooperadores decidiram pagara cada operário o salário de um dia todo, mesmo que trabalhasse apenas durante uma hora. Veja-se Josephus, Antiquities 20:219-20; Derreti, “Workers in the Vineyard’, p. 63.

136 A palavra hetaire aparece três vezes no Novo Testamento: 1) na parábola dos

trabalhadores da vinha (Mt 20.13); 2) na parábola das bodas, quando o rei se dirige ao convidado que não se apresenta vestido para as bodas (Mt 22.12); 3) no relato da prisão de Jesus no Getsêmani, quando Jesus diz: “Amigo, para que vieste?” (Mt 26.50). De acordo com K. H. Rengstorf, TDNT II:701, o termo “sempre denota uma relação de obrigação mútua entre aquele que fala e o que ouve, a qual foi desprezada e escarnecida pelo ouvinte”.

contrário, ninguém é tratado com injustiça. A maior parte dos trabalhadores experimentou a generosidade do fazendeiro. Se há alguém que sacrificou a parte econômica pela benevolência, este é o proprietário da vinha. Teria sido melhor para ele se tivesse pago aos trabalhadores a quantia exata merecida137. Ele é acusado por sua

generosidade. “Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?”, ele pergunta. Com essa última pergunta, o empregador põe à mostra a falsidade dos empregados desapontados. Ele demonstrara bondade e gentileza enquanto eles mostraram inveja a avareza. Eles permanecem cegos à bondade do proprietário até que a máscara que escondia seu descontentamento é removida pela questão: “Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?”.

Assim é o reino dos céus, diz Jesus. Porque Deus é tão bom, triunfa o princípio da graça. No mundo, o conceito é o de que aquele que trabalha mais recebe mais138. Isso é justo. Mas, no reino de Deus,

os princípios do mérito e da capacidade são postos de lado para que a graça prevaleça.

Graça

Não há na parábola a intenção de ensinar economia ou negócios. Ela não existe para ser usada como exemplo de relações humanas, na área do trabalho e da administração. A lição que a parábola transmite é a de que a graça vale mais que a justiça imparcial e as práticas lucrativas de negócio. O empregador da parábola foi à praça, várias vezes, durante o dia, e viu, atrás de cada trabalhador, uma família necessitando de sustento. Ele sabia que uma fração de denário não seria suficiente para as necessidades diárias de uma família. No fim do dia, pagou aos trabalhadores que contratara no decorrer do dia, não em relação às horas trabalhadas, mas de acordo com a necessidade de seus dependentes. Ele era uma pessoa muito generosa.

Quando Jesus ensinou a parábola, estava diante de pessoas treinadas na doutrina judaica do mérito. Seus contemporâneos acreditavam que o homem deve acumular a seu crédito numerosas boas obras, que possam ser convertidas em recompensas, para assim poder reclamá-las diante de Deus. Essa era a doutrina das obras, no tempo de Jesus139. O povo conhecia a graça de Deus exaltada em

salmos e orações. Não obstante, dava ênfase ao meritório valor das obras.

Ao ensinar a parábola, Jesus mostrou que Deus não trata os homens de acordo com o princípio do mérito, da justiça ou da economia. Deus não está interessado em lucros. Deus não trata o

137 C. L. Mitton, Expounding lhe Parables, VII. lhe Workers in lhe Vineyard (Mateus

20.1-6), Expt 77 (1966): 308.

138 Os cidadãos do reino dos céus devem conhecer plenamente os princípios

operantes no reino. Veja-se Wallace, Parables, p. 125.

homem na base do “toma lá dá cá”, ou “uma boa ação merece recompensa”. A graça de Deus não pode, simplesmente, ser dividida em quantidades proporcionais ao mérito acumulado pelo homem. Havia em circulação, na época, uma moeda chamada pondion, que valia a duodécima parte de um denário140. Na graça de Deus, no

entanto, não circulam porcentagens, porque “todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça” (Jo 1.16).

Aplicação

Deus é tão bom; Deus é tão bom; Deus é tão bom;

Tão bom ele é para mim.

Esta simples canção, cantada em muitas línguas, através do mundo, expressa vividamente o sentido básico da parábola. No reino dos céus, a bondade de Deus prevalece e se revela àqueles que, somente pela graça, entraram no reino. O fato do fazendeiro pagar um denário àqueles a quem dissera que receberiam o que fosse justo e também àqueles a quem nada fora prometido, foi um ato de pura bondade. Todos os trabalhadores receberam o mesmo pagamento, que era suficiente para o sustento de suas famílias. Aqueles trabalhadores, que tinham combinado trabalhar pela soma de um denário ao dia, tinham que reconhecer que o fazendeiro era um homem justo, que honrava seus compromissos. Justiça e bondade, exemplificadas na parábola, são características fundamentais no reino de Deus.

O contexto da parábola diz respeito à pergunta de Pedro e à resposta de Jesus. Pedro perguntou o que ele e os discípulos seus companheiros receberiam por seguirem a Jesus: “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos: que será, pois, de nós?” Jesus respondeu que seus seguidores receberiam incontáveis bênçãos espirituais:

“Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas ou irmãs, ou pai, ou mãe (ou mulher), ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herdará a vida eterna. Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros (Mt 19.27-30)141.

140 T. W. Manson, lhe Sayings of Jesus (London: SCM Presa, 1950), p. 220.

141 Os paralelos dos Evangelhos de Mateus e Marcos são idênticos exceto no fato de

que em Mateus a parábola dos trabalhadores na vinha é acrescentada como uma ilustração da expressão: “Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros” (Mt 19.30; 20.16; Mc 10.31). Em Locas 13.30, a expressão também ocorre, embora em contexto inteiramente diferente.

Jesus ilustra o significado da última sentença “muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros” — através da parábola dos trabalhadores na vinha. Ele conclui a parábola com as mesmas palavras, embora cm ordem inversa: “Os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”.

Dizendo isso, Jesus não tem a intenção de mostrar a Pedro e aos outros discípulos que a posição do primeiro e do último no reino será invertida. A parábola usa, antes, a expressão para indicar que, no reino dos céus, a igualdade é a regra. A recompensa, igual para todos, mesmo que o trabalho possa variar, transcende a tarefa realizada pelos discípulos, e conseqüentemente por qualquer um que se disponha a seguir a Jesus. O dom de Deus é a graça plena142. Sua

graça é suficiente para todos143.

Os discípulos eram os ouvintes de Jesus. Não podemos afirmar que havia outras pessoas presentes. Os discípulos, desde crianças,

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