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Mateus 13.24-30 “Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro”.

A parábola sobre o trigo e o joio é peculiar ao Evangelho de

Mateus, assim como a parábola da semente germinando secretamente é encontrada apenas em Marcos. A palavra joio não é uma tradução adequada da palavra original grega zizania, que significa “uma erva

daninha que nasce nas plantações de grãos, parecida com o trigo66”.

Não podemos determinar se a palavra se refere, ou não, a uma variedade venenosa dessa erva. De qualquer modo, a planta se parece com o trigo e cresce exclusivamente em campos cultivados67. Na

verdade, a planta é uma degeneração do trigo. A cizânia pode ser comparada à aveia silvestre, que cresce livremente nos trigais da América do Norte, e que são difíceis de se erradicar.

O Campo do Fazendeiro

Depois da parábola do semeador e de sua interpretação, Mateus relata que Jesus contou à multidão uma outra parábola, a história de um fazendeiro abastado. Ele tinha servos e também ajudantes, no tempo da colheita.

Como fazendeiro eficiente, esse dono de terras tinha usado boa semente em seu campo. É óbvio que ele não tinha interesse nenhum em semear erva daninha, que iria lhe causar grande problema. A boa semente não está misturada ao joio. O fazendeiro tinha semeado boa semente em seu campo (quando e como isso foi feito não é importante para a história).

Assim que ele acabou de semear o trigo do inverno, veio seu inimigo. Ele chegou escondido pelas trevas, enquanto todos dormiam, e semeou joio por sobre o trigo. Com certeza não fez isso pelo campo todo. Aqui e ali, ele espalhou a semente. Ninguém poderia saber, até à chegada da primavera, que o joio estava crescendo entre o trigo68. O

joio tem a aparência exata do trigo. Mas, quando as plantas começam a espigar, qualquer um pode distinguir o trigo do joio — “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20).

Nessa hora, no entanto, é impossível tentar resolver o problema. Qualquer um andando pelo trigal para remover o joio vai pisar o trigo. Além disso, as raízes do trigo e do joio estão tão emaranhadas que quem puxar o joio vai arrancar também o trigo.

Os empregados do fazendeiro o alertaram sobre o problema e até mesmo mostraram vontade de fazer algo a respeito. Queriam saber de onde tinha vindo o joio. O fazendeiro apenas lhes explicou que um inimigo tinha feito aquilo e deveriam deixar tudo como estava até à chegada da ceifa. Então, os ceifeiros receberiam instruções para colher o joio e atá-lo em feixes, e para recolher o trigo no celeiro. O fazendeiro usará os feixes de joio — semente e palha — como

66 W. Bauer et al. Lexicon, p. 339.

67 L. löw, Die Flora der Juden (Hildersheim: 1967), 1:725. SB, 1:667.

68 Meu sogro comprou uma fazenda no Canadá, no final de 1930. Logo viu que os

campos estavam cobertos com um tipo de erva chamada “margarida”. Do proprietário anterior, ele ficou sabendo a causa: alguns anos antes, um vizinho rancoroso havia montado a cavalo, um dia, e espalhado pelo campo sementes de “margarida”. O resultado é visto até hoje.

combustível. Assim transformará em lucro uma desvantagem: terá aquecimento para o inverno.

Embora, no final, o fazendeiro consiga resolver de algum modo aquela situação, ele sabe que o joio absorveu umidade e nutrientes que se destinavam ao trigo. Sua produção de grão será substancialmente menor que a esperada. Apesar de toda a sua experiência de cultivo, ele foi incapaz de ver a diferença entre o trigo e o joio antes que as plantas começassem a espigar e o tempo da colheita estivesse próximo69. Só meses após o mal ter sido feito, o

fazendeiro se deu conta de que seu inimigo o atacara insidiosamente. Ele tem, então, que enfrentar as conseqüências da trama perpetrada por seu inimigo.

Interpretação

Mateus 13.36-43 “Então, despedindo as multidões, foi Jesus para casa. E, chegando-se a ele os seus discípulos, disseram: Explica-nos a parábola do joio do campo. E ele respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos. Pois, assim como o joio é colhido e lançado ao fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

De acordo com Mateus, os discípulos de Jesus lhe pediram uma explicação sobre a parábola do joio70. A explicação é dada em poucas

palavras. Pode ser lida assim:

1. “O que semeia a boa semente é o Filho do homem;

2. o campo é o mundo;

3. a boa semente são os filhos do reino;

4. o joio são os filhos do maligno;

5. o inimigo que o semeou é o diabo;

6. a ceifa é a consumação do século, e

7. os ceifeiros são anjos”.

Embora a interpretação da parábola seja dada por Jesus, a composição da explicação parte de Mateus. Mateus toma o ensino de Jesus e ordena suas palavras numa lista de sete conceitos71.(O arranjo 69 Jülicher, em Gleichnisreden, 2: 548, afirma que o joio amadurece antes do trigo. 70 Compare-se Mateus 15.15, onde a mesma questão da explicação da parábola é

levantada. Consulte-se M. de Goedt, “L’Eplication dela Parable de L’Ivraie (Mt XIII, 36-43)’, RB 66 (1959): 35. Veja-se J. Jeremias, “Das Gleichnis vom Unkraut Unter dem Wiezen, “em Neotesstamentica et Patristica (Leiden: Brill, 1962), p. 59.

de nomes e dados é uma característica de Mateus, como fica evidente desde o primeiro capítulo de seu Evangelho).

Na interpretação, nenhuma menção é feita ao fato de que o inimigo veio quando todos dormiam. Também é omitida a referência ao crescimento e à maturação do trigo e do joio, e nada é dito sobre o ajuntamento do trigo no celeiro e dos feixes de joio lançados ao fogo. Em sua interpretação, Jesus omite a referência aos servos. Ele talvez tenha feito isso para focalizar a atenção no ponto mais significativo da parábola: o conflito entre o bem e o mal, entre Deus e Satanás. E, nesse conflito, Satanás perde a batalha. Do mesmo modo, a conversa dos servos com o fazendeiro parece não ter importância para a interpretação da parábola. É deixada de lado; apenas uma referência a ela é feita no resumo onde o fato do joio ser arrancado e lançado ao fogo se torna importante (Mt 13.40). Na verdade, a conclusão da interpretação é uma visão das coisas que acontecerão no final dos tempos, Jesus, realmente, está dizendo: “com as Escrituras do Velho Testamento, vou lhes dizer o que vai acontecer”.

“Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.

Da maneira usual, o ensinamento de Jesus reflete direta e indiretamente as Escrituras do Velho Testamento72. Jesus parece se

referir à profecia de Sofonias: “De fato consumirei todas as coisas sobre a face da terra, ... os homens e os animais (1.2,3), quando fala de extirpar de seu reino tudo aquilo que traga escândalo e todo aquele que pratique a iniqüidade. A frase “os lançarão na fornalha acesa” lembra Daniel 3.6: “... lançado na fornalha de fogo ardente.” O próprio conceito se assemelha a Malaquias 4.1: “Pois eis que vem o dia, e arde como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem perversidade, serão como o restolho...” A passagem: “Então os justos resplandecerão como o sol”, lembra Daniel 12.3: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão, como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas sempre e eternamente.” E para completar, devemos ler, também, Malaquias 4.2: “Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça...”

72 Jeremias, em Parables, pp. 8485, afirma que “é impossível deixar de concluir que

a interpretação sobre o joio vem do próprio Mateus.” De acordo com Kingsbury, em Parables of Jesus, p. 109, Jesus é o Senhor exaltado, que exorta os cristãos na igreja de Mateus a serem obedientes à vontade de Deus. No entanto, como observa R. H. Gundry “A resposta à questão de origem é o ensino de Jesus.” The use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel (Leiden: Brill, 1967), p. 213. Resumindo, não temos que chegar à mente imaginativa de Mateus. Antes, a origem desse ensinamento está em Jesus mesmo.

Sem dúvida, na interpretação de Jesus, ressoa o eco das palavras e sentimentos dos profetas. A parábola do joio é, realmente, aquela na qual Jesus ensina o julgamento que está para vir; pode ser chamada de a parábola da ceifa.

Os servos estavam dispostos a arrancar o joio, embora pudessem, no processo, arrancar também o trigo — o sistema de raízes do joio é bem mais desenvolvido que o do trigo. Mas o fazendeiro diz: vamos esperar até à ceifa, quando, então, os ceifeiros separarão o trigo do joio.

O fazendeiro conhece o seu negócio. Se permitir que os empregados arranquem o joio, perderá sua safra de trigo, pois o trigo não pode ser separado do joio. Se perder sua colheita, dará ao seu inimigo a satisfação que ele pretendia.

Em vez disso, o dono de terras decide esperar que toda a plantação amadureça. Fará a separação na ocasião da ceifa. Tanto o joio quanto o trigo estarão maduros para a colheita.

O joio são os filhos do maligno, e a boa semente são os filhos do remo. Como os dois — o mal e o bem — amadurecem não é explicado, e será sensato não tentarmos ir além da parábola, em busca de explicação73.

Enquanto os dois crescem e amadurecem, o fazendeiro não pode fazer nada para remediar a situação. Essa incapacidade não provém da ignorância. Pelo contrário, o lavrador, plenamente ciente do problema, espera o tempo certo. Ele sabe o que deve ser feito. Ele sabe de onde veio o joio e como foi semeado em seu campo — à noite, enquanto todos dormiam.

Jesus, ao interpretar a parábola, disse que o fazendeiro que semeia boa semente é o Filho do homem. O Filho do homem é o próprio Jesus, que tomando a forma humana, se fez semelhante ao homem (Fp 2.7,8). Ele veio semear a boa semente, os filhos do reino, a nova humanidade em Cristo. O campo onde a semente é lançada é o mundo. É onde tem lugar o drama entre o bem e o mal. O inimigo que semeia o joio é o diabo, e o joio são os filhos do maligno.

É interessante notar que o campo, o mundo, pertence ao fazendeiro —a Jesus. Nesse campo cresce o trigo e o joio. Não importa onde o homem viva na terra. Onde quer que viva estará em propriedade que pertence a Jesus74. Ele é o trigo ou o joio, um OU

outro. Ele é filho do reino ou filho do maligno. Tanto o trigo quanto o joio estarão maduros quando o dono das terras enviar os ceifeiros para o campo.

73 Ridderbos, coming of the Kingdom, p. 139. 74 Schippers, Gelijkenissen p. 71.

Quando chegar o final dos tempos, os ceifeiros, que são anjos de Deus, separarão o bom do mau, o trigo do joio, os filhos do reino dos filhos do maligno. No conflito entre Deus e Satanás — tudo que causa escândalo e todo aquele que pratica a iniqüidade — é arrancado e lançado ao fogo ardente. Os filhos do reino, por outro lado, resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Eles são os justos. São abençoados. Permanecerão para sempre.

Aplicação

Esta parábola de Jesus põe em confronto o bem e o mal, e ensina que o bem prevalecerá. Na parábola, os servos perguntam ao fazendeiro de onde veio o joio: “Donde vem, pois, o joio?” A resposta concisa do fazendeiro foi: Um inimigo fez isso”. Os servos, naturalmente, podiam ter desabafado sua contra o inimigo75, mas

voltaram sua atenção para o joio e manifestaram a vontade de arrancá-lo. O fazendeiro disse: “Não!”.

Os servos refletem a impaciência de muitos cristãos no reino de Deus. Com o pretexto de manter a pureza da igreja, crentes zelosos têm causado dano incalculável, julgando e afastando outros cristãos da igreja.

Qualquer jardineiro sabe que, às vezes, é impossível ver a diferença entre uma planta que produzirá belas flores e outra que se transformará apenas em erva daninha. Nos antigos versos:

Há tanto bem no pior de nós, E tanto mal no melhor de nós,

Que dificilmente qualquer um de nós poderá falar dos demais de nós76.

Ninguém deve deduzir que a parábola ensina a eliminação da disciplina ou desaprova o cumprimento e a aplicação da lei. Ao contrário, as Escrituras ensinam muito claramente que a disciplina deve ser mantida e que a lei deve ser preservada. Jesus ensina, explicitamente, a doutrina da disciplina em Mateus 18.15-17. Ao esboçar o procedimento, no entanto, ele indica que a disciplina deve ser conduzida com espírito de amor e delicadeza. O processo deve se desenvolver cautelosa e pacientemente. O objetivo da disciplina deve ser, sempre, a salvação e recuperação da pessoa envolvida.

Em Romanos 13, Paulo ensina que: “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade, resiste à

75 W. G. Doty, “An Interpretation of the Weeds and Wheat”, Interp 25 (1971): 189. 76 Com agradecimentos a Hunter, Parables, p. 48, que parece ter um estoque

ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor quando se faz o bem, e, sim, quando se faz o mal” (13.1-3). Deus investiu de autoridade os magistrados para preservar a lei, punir o que pratica o mal e impedir o crime.

A parábola, entretanto, nos instrui a ter paciência e a não nos autonomearmos juízes. “Sede vós também pacientes, e fortalecei os vossos corações, pois a vinda do Senhor está próxima. Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas”. (Tg 5.8,9).

À primeira vista, a parábola pode dar a impressão de que há dois tipos de indivíduos neste mundo, o bom e o mau, e que os bons serão sempre bons e os maus permanecerão maus para sempre. Mas isso não é totalmente correto. As Escrituras não ensinam que Deus tenha criado os homens bons e que Satanás criou os maus. Deus criou gente — artesanato divino —, e ele regenera aqueles que escolheu por obra da graça de seu Espírito. Os maus, embora criados por Deus, foram corrompidos por Satanás e são usados por ele para influenciar o povo regenerado de Deus77. São o joio entre o trigo. O trigo e o joio

amadurecem lado a lado até à ceifa. Então, serão separados.

A parábola do joio contém uma lista compacta de termos similares, em forma de glossário. A aparente simplicidade na explicação dos termos é quase um desafio a que se faça o mesmo em relação a outras parábolas ensinadas por Jesus. Muitos comentaristas têm visto isso como um convite explícito para explicar as parábolas à maneira de Jesus. Por exemplo, ao explicar a parábola das cinco virgens prudentes e as cinco virgens néscias (Mt 25.1-13), alguns comentaristas da igreja primitiva davam explicações variadas para a palavra óleo. Para Hilário, o óleo era o fruto das boas obras; para Agostinho, o óleo significava alegria; Crisóstomo dizia que o óleo significava a ajuda dada aos necessitados; e Orígenes considerava o óleo como sendo a palavra de ensinamento78.

Obviamente, os comentaristas não têm a sabedoria demonstrada por Jesus para interpretar parábolas. Devem ser cautelosos, para não verem nas parábolas pensamentos e conceitos que elas não pretendem ensinar. Na verdade, serão sensatos se buscarem o ensinamento básico da parábola, na própria parábola, ou em seu contexto, e limitarem sua interpretação ao ensino transmitido pela parábola.

77 Calvin, Harmony of the Evangelists, 2:120.

78 Numerosos exemplos são encontrados nas séries, Works of lhe Father, coletados

por Tomás de Aquino. Veja Coomentary on the Four Gospels, 1, Si. Matthew (Oxford: n. p. 1842).

7. O Grão de Mostarda

Mateus 13.31,32 “Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos”.

Marcos 4.30-32 “Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos? É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra; mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem aninhar-se à sua sombra”.

Lucas 13.18,19 “E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? É semelhante a um grão de mostarda que um homem plantou na sua horta; e cresceu e fez-se árvore; e as aves do céu aninharam-se nos seus ramos”.

Jesus contou duas parábolas para falar a respeito do fenomenal crescimento do reino dos céus: a parábola do grão de mostarda e a parábola do fermento. As duas formam um par, e são, na verdade, duas faces de uma mesma moeda. A parábola do grão de mostarda retrata o crescimento do reino em extensão e a do fermento descreve a intensidade desse crescimento79.

Mateus colocou as duas em seu capítulo de parábolas (Mt 13); provavelmente por causa do assunto. Lucas, por outro lado, incorporando as parábolas no decorrer da chamada narrativa da viagem (Lc 9.51 — 19.27), talvez reflita uma seqüência mais histórica, embora não possamos afirmar isso, com certeza. Podemos, apenas, presumir que Jesus tenha ensinado essas duas parábolas, juntas, na mesma ocasião80.

A Semeadura e o Crescimento

Vinte e cinco alunos acompanham seu professor a Washington D.C., para ver a Casa Branca. Quando voltam à sala de aula, o professor pede que cada um deles faça uma descrição da visita. Vinte e cinco redações refletem vinte e cinco aspectos da residência presidencial. Uma criança, talvez, escreva: “A Casa Branca parece...”, seguindo-se uma descrição daquilo que lhe pareceu mais interessante. Outra criança, todavia, pode usar a mesma introdução, mas na redação retratar uma perspectiva da Casa Branca, inteiramente diferente.

Jesus tornou familiar a seus seguidores várias das características do reino de Deus. Por meio de parábolas, ele procurou descrever as facetas do poder soberano de Deus. Assim, ele introduz suas parábolas com a frase: “O remo dos céus é semelhante...”

A parábola do grão de mostarda, em contraste com a do trigo e do joio, é muito curta. Em poucas palavras, Jesus descreve o surpreendente tamanho da mostardeira (“árvore”, em Mateus e Lucas; “hortaliça”, em Marcos) que se desenvolve da menor das sementes. Obviamente, Jesus realça a diferença entre o pequenino grão e a grande árvore. Ele não diz nada sobre a qualidade da mostarda. Ele poderia ter mencionado seu uso na comida e nos remédios, sua cor e seu gosto, mas esse não era o propósito da parábola.

79 A. B. Bruce. The Parabolic Teaching of Christ (New York: A. C. Armstrong, 1908), p.

91.

80 Michaelis, Gleichnisse, p. 55. No Evangelho de Tome, as parábolas do grão de

mostarda e do fermento estão separadas. Elas têm o mesmo estilo (com ligeiras variações) dos relates canônicos. Vejam-se Citações 20 e 96.

Jesus usa um exemplo da vida diária. Na nossa sociedade moderna de comida enlatada, engarrafada e empacotada, muitos não conhecem uma horta. Mas nos dias de Jesus quase todo mundo tinha sua própria plantação. Mesmo os religiosos pagavam o dízimo das especiarias colhidas — hortelã, endro e cominho (Mt 23.23). Em cada quintal havia uma mostardeira. A planta podia, muitas vezes, ter crescido no campo ao lado do canteiro de hortaliças, porque exige muito espaço. Em Mateus, o jardineiro plantou a semente em um campo; em Lucas, numa horta; e em Marcos, na terra.

O horticultor tomou apenas uma das sementes de mostarda. Seus dedos pareciam grandes demais para segurar uma semente tão

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 42-56)