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Os Lavradores Maus

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 83-103)

Mateus 21.33-46 “Atentai noutra parábola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha. Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a uns lavradores. Depois, se ausentou do país. Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. E os lavradores, agarrando os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos da mesma sorte. E, por último, enviou-lhes o seu próprio filho, dizendo: A meu filho respeitarão. Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos? Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas parábolas, entenderam que era a respeito deles que Jesus falava; e, conquanto buscassem prendê-lo, temeram as multidões, porque estas o consideravam como profeta”.

Marcos 12.1-12 “Depois, entrou Jesus a falar-lhes por parábola: Um homem plantou uma vinha, cercou-a de uma sebe, construiu um lagar, edificou uma torre, arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país. No tempo da colheita, enviou um servo aos lavradores para que recebesse deles dos frutos da vinha; eles, porém, o agarraram, espancaram e o despacharam vazio. De novo, lhes enviou outro servo, e eles o esbordoaram na cabeça e o insultaram. Ainda outro lhes mandou, e a este mataram. Muitos outros lhes enviou, dos quais espancaram uns e mataram outros. Restava-lhe ainda um, seu filho amado; a este lhes enviou, por fim, dizendo: Respeitarão a meu filho. Mas os tais lavradores disseram entre si: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo, e a herança será nossa. E, agarrando-o, mataram- no e o atiraram para fora da vinha. Que fará, pois, o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros. Ainda não lestes esta Escritura: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos? E procuravam prendê-lo, mas temiam o povo; porque compreenderam que contra eles proferira esta parábola. Então, desistindo, retiraram-se”.

Lucas 20.9-19 “A seguir, passou Jesus a proferir ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavradores e

ausentou-se do país por prazo considerável. No devido tempo, mandou um servo aos lavradores para que lhe dessem do fruto da vinha; os lavradores, porém, depois de o espancarem, o despacharam vazio. Em vista disso, enviou-lhes outro servo; mas eles também a este espancaram e, depois de o ultrajarem, o despacharam vazio. Mandou ainda um terceiro; também a este, depois de o ferirem, expulsaram. Então, disse o dono da vinha: Que farei? Enviarei o meu filho amado; talvez o respeitem. Vendo-o, porém, os lavradores, arrazoavam entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a herança venha a ser nossa. E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o dono da vinha? Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros. Ao ouvirem isto, disseram: Tal não aconteça! Mas Jesus, fitando-os, disse: Que quer dizer, pois, o que está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular? Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó. Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o povo”.

De acordo com Mateus, marcos e Lucas, Jesus contou a parábola dos lavradores maus, durante a última semana de sua vida na terra. Entre um evangelista e outro pode haver variações em pequenos detalhes, mas todos transmitem, com fidelidade, o ensino de Jesus. O Evangelho de Tomé, apócrifo, também apresenta a parábola150. A história deve ser fiel ao fato e reproduz a história

eclesiástica de Israel. As pessoas que cercavam Jesus entenderam a história, porque responderam à parábola, dizendo: “Tal não aconteça!” (Lc 20.16). Além disso, os fariseus, os principais sacerdotes e os mestres da lei sabiam que essa parábola era endereçada a eles.

A História

Um dono de terras tinha um terreno e decidiu transforma-lo num vinhedo. Depois de ter plantado os tenros brotos da uva, ele os protegeu dos animais selvagens, tais como as raposas e os javalis (Ct 2.15; Sl 8.13) plantando uma sebe ao redor da vinha. Também equipou a vinha com um lagar e uma torre. A torre era usada durante a colheita na vigilância contra os ladrões, e podia, também, servir de morada ao lavrador.

150 Evangelho de Tomé, Citação 65: “Ele disse: ‘Um homem bom tinha uma vinha.

Entregou-a a arrendatários para que a cultivassem e ele pudesse receber deles os seus frutos. Ele enviou seu servo para que os arrendatários lhe entregassem o fruto da vinha. Eles o agarraram (e) espancaram; um pouco mais e o teriam matado. O servo foi (e) contou tudo a seu senhor. Seu senhor disse: Talvez ele não os conhecesse. Enviou outro servo; os lavradores maus, também, o espancaram. Então, o dono da vinha, agarraram-no (e) o mataram. Quem tem ouvido, ouça’. De modo interessante, o Evangelho de Tomé. Citação 66, continua. “Jesus disse: Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram. Ela é a pedra angular”.

O projeto todo era uma aventura financeira para o fazendeiro. Ele plantou novas videiras num solo ainda não testado. Arrendou a vinha a lavradores, mas teria que esperar durante quatro anos até que as videiras começassem a produzir. Durante esse período, ele teria que sustentar os lavradores, comprar adubo e suprimentos para a vinha, e esperar que o quinto ano lhe trouxesse algum lucro151. Um

novo vinhedo não era, portanto, um empreendimento que trouxesse retorno financeiro imediato; era, antes, uma promessa de resultados permanentes que beneficiariam sucessivas gerações.

O fazendeiro saiu para viajar durante um longo período. Na sua ausência, os lavradores cultivariam a vinha, podariam os galhos e cuidariam de plantações de vegetais entre as videiras durante os primeiros anos. Os arrendatários trabalhavam como meeiros e tinham direito a uma parte do que fosse produzido. O lucro restante pertencia ao proprietário. Os lavradores tinham feito um contrato com o dono da terra para cultivar a vinha. Durante os quatro primeiros anos seriam sustentados pelo proprietário. Passados esses anos de trabalho árduo, a vinha poderia se tornar uma fonte de lucro para o dono.

Quando se aproximou a época da colheita, no quinto ano, o fazendeiro enviou seu servo152 para receber o lucro da vindima153. Os

contatos entre o proprietário e os arrendatários devem ter sido mínimos, durante os primeiros quatro anos. Essa falta de aproximação pode ter resultado em alienação e mesmo em atitudes hostis da parte dos lavradores, como descreve a parábola. A razão exata da amarga animosidade não é exposta, mas fica evidente no relato154. O servo foi agarrado, espancado e mandado de volta a seu

senhor. Voltou com as marcas físicas de um corpo ferido. O fato serviu ao proprietário como mensagem de que os arrendatários não

151 Derrett, Law in the New Testament, p. 290.

152 Onde Marcos e Lucas, vem como o Evangelho de Tomé falam de um servo,

Mateus usa o plural. De acordo com Mateus, numerosos servos são enviados, e são espancados, apedrejados e mortos. Essa pode ser uma tentativa deliberada de Mateus de ligar a parábola ensinada por Jesus à história eclesiástica de Israel. Um toque de alegria está presente, embora não em relação à pessoa do filho: J. A. T. Robinson. “The Parable of the Wicked Husbandman: A Test of Synoptic Relationships”, NTS 21 (1975); 451. 1 Rs 18.13; 2 Cr 24.21; Mt 23.37; Lc 13.34; At 7:52; 1 Ts 2.15; e Hb 11.37, tornam evidente que alguns profetas foram mortos e apedrejados até a morte.

153 Porque o texto afirma explicitamente que o servo foi receber “dos frutos da

vinha” (Mc 12.2; Lc 20.10), presumindo que o proprietário enviou o servo quando as uvas estavam prontas para serem colhidas.

154 Alguns estudiosos vêem um paralelo entre a dominação estrangeira de vastos

territórios da Galiléia, antes e durante o tempo do ministério de Jesus e o proprietário retratado na parábola. Dodd, Parables p. 125; Jeremias, Parable, p. 74; M. Hengel, “Das Gleichnis von den Weingartner Mc 12.1-12 ins Lichte der Zenonpapyri und der rabbinische Gleichnisse”, ZNM 59(1968); 11-25; J. E. e R. R. Newell, “The Parable of the Wicked Tenantes”, NovT 14 (1972): 226-37. No entanto, a parábola não indica de modo algum que os arrendatários fossem oprimidos por um dono de terras estrangeiro. Ao contrário, os lavradores e não o proprietário são chamados de malvados (kakous), Mt 21.41. Consulte-se SB, 1:871.

tinham a intenção de pagar o lucro exigido, proveniente da colheita das uvas eles queriam guardar, para si mesmos, o lucro total, talvez como recompensa pelos anos de labuta e cuidado dispensados à vinha, antes que viesse a colheita. Ao mandarem o servo de volta, espancado, e de mãos vazias, os arrendatários não deixaram dúvidas quanto à sua intenção de reter o total do lucro da safra.

Porque o fruto da vinha tinha que ser vendido, o lucro exigido pelo fazendeiro poderia ser pago em épocas variadas, durante o ano. O proprietário, portanto, mandou um outro servo aos seus arrendatários, com o mesmo pedido. Ele, sem dúvida, se referiu ao contrato assinado entre os arrendatários e o proprietário, que expunha claramente os termos. Mas eles o receberam do mesmo modo como tinham recebido seu predecessor. Bateram-lhe na cabeça, trataram-no insultuosamente e, também, o enviaram de volta com as mãos vazias (Lc 20.11). Uma vez mais se mostraram abertamente desafiadores: não queriam partilhar com ninguém o lucro obtido na colheita. O proprietário mostrou elogiável tolerância. Ele não opôs força à força, nem declarou nulo ou cancelado o contrato, como tinham feito os arrendatários. Depois de algum tempo, talvez na safra seguinte, o proprietário enviou um terceiro servo155. Outra vez, os lavradores se recusaram a ceder o pedido do

proprietário; foram violentos, ferindo (Lc 20.12 ou matando o servo(Mc 12.5)). Mas, enquanto o dono continuava enviando os servos156, os arrendatários, ferindo-os e matando-os, tornavam

conhecido o fato de que a vinha permanecia em suas mãos. Eles a tinham feito produtiva; portanto, argumentavam, tinham direito ao que fosse produzido pela vinha e, mesmo, à própria vinha.

O proprietário entendeu que os arrendatários estavam agindo como donos legítimos da propriedade que era sua. Como último recurso ele enviou seu filho, dizendo a si mesmo que os lavradores reconheceriam sua autoridade, quando se confrontasse com seu filho. “A meu filho respeitarão”, disse. Os simples servos não impunham o mesmo respeito que seria devido a um filho que fosse enviado157.

Enviaria seu único filho, o herdeiro da vinha.

Os arrendatários, no entanto, não estavam dispostos a abrir mão da vinha. Quando viram o filho se aproximando, devem ter pensado que o dono tinha morrido e que seu filho tinha tomado seu lugar. Se esse fosse o caso, pouco restaria no caminho da posse total da vinha, se o filho fosse afastado. Os arrendatários, então, poderiam

155 Derrett, em Law in the New Testament, pp. 289-99, entende que o segundo servo

procurou os arrendatários no final da segunda ceifa, e o terceiro, na safra seguinte. Assim, por três anos consecutivos os lavradores guardaram para si o lucro da vinha.

156 Apenas Marcos relata que após ter enviado sucessivamente três servos, o

proprietário ainda enviou outros. Mateus diz que dois grupos de servos, em duas diferentes ocasiões, foram enviados. Lucas fala de três servos que sucessiva e individualmente procuravam os lavradores.

proclamar que tinham cuidado da vinha fielmente, que não haviam pago aluguel algum durante vários anos, e que o legítimo proprietário das terras tinha morrido158. No tempo legal, os lavradores estariam

habilitados à posse exclusiva da propriedade. Os juízes locais mui provavelmente favoreciam os lavradores e dariam como legal a operação.

Os arrendatários decidiram matar o herdeiro e tomar para si a herança. Eles o receberam na vinha, mas, depois, para não macular a vinha com sangue, eles o mataram fora159. Eles o abandonaram ali,

presumindo que os servos que o acompanhavam cuidaram do funeral.

A paciência do dono das terras se esgotou. Os arrendatários tinham cometido erro desastroso ao matar seu filho. Medidas foram tomadas para arranca-los da terra e leva-los à justiça, e o proprietário, reclamando plena posse da propriedade, escolheu outros lavradores para tomar conta da vinha. Esses eram servos que lhe dariam a parte estipulada da colheita, no tempo devido.

O significado

A história contada por Jesus foi prontamente aceita pelos que o ouviam. Ela retratava a situação real de um fazendeiro que, ausente de tempos em tempos, enviava um servo para recolher a parte justa do lucro anual da vinha. Os que o ouviam conheciam as circunstâncias descritas por Jesus na parábola. Podiam imaginar o final da história e dar sugestões de como se executaria a justiça.

Jesus se dirigia aos principais sacerdotes, fariseus e mestres da lei. Eles devem ter reconhecido, rapidamente, a citação da profecia de Isaías.

Agora, cantarei ao meu amado

o cântico do meu amado a respeito da sua vinha. O meu amado teve uma vinha

num outeiro fertilíssimo. Sachou-a, limpou-a das pedras e a plantou de vides escolhidas; edificou no meio dela uma torre

e também abriu um lagar. Ele esperava que desse uvas boas,

mas deu uvas bravas. (Is 5.1-2)

158 Derrett, Law in the New Testament, pp. 300-4. Os arrendatários podiam mesmo

citar Dt 20.6, para a própria justificação: “Qual o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, torne-se para sua casa, para que não morra na peleja e outrem a desfrute...”.

159 Ambos Mateus e Lucas afirmam que os lavradores atiraram o filho para fora da

vinha e, então, o mataram. Marcos inverte a ordem, dizendo que primeiro o mataram e, então, o lançaram fora da vinha.

O povo judeu sabia esse cântico de cor; eles o haviam aprendido no culto da sinagoga onde era cantado de tempos em tempos160. Sabiam, também, o seu final:

Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel,

e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo,

e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor. (Is 5.7).

Os líderes religiosos, especialmente, sabiam que a parábola se aplicava a eles. Sabiam que Jesus estava se referindo aos profetas que Deus enviara a Israel. Alguns desses profetas foram mortos por causa da mensagem que traziam. Um deles, Zacarias, foi assassinado no pátio do templo, entre o santuário e o altar (2 Cr 24.20,21; Mt 23.25). Com habilidade, Jesus ensinou a seus ouvintes o significado dessas passagens tão conhecidas do Velho Testamento. Quando Jesus falou a respeito do filho do dono da vinha que, tendo sido enviado à vinha, foi assassinado pelos arrendatários, falou, profeticamente, de sua própria morte iminente161.

Jesus perguntou aos que o ouviam: “Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?” Ele usou palavras que trazem à memória aquelas do Cântico da Vinha (Is 5.4-5). Suas palavras eram dirigidas contra os líderes do povo. Eles tinham rejeitado a mensagem de João Batista, e tinham questionado a autoridade de Jesus, a ponto de o desafiarem abertamente. Na verdade, rejeitaram o último mensageiro de Deus162.

A resposta à pergunta de Jesus foi que um castigo imediato deveria ser aplicado aos lavradores assassinados. Deveriam ser mortos e a vinha arrendada a outros163.

Falando diretamente à multidão, Jesus fez referência ao Salmo 118, uma passagem das Escrituras bastante conhecida por todos aqueles fiéis que tinham vindo à Jerusalém, na época da Páscoa. Esse salmo seria entoado num dia determinado, durante a festa.

160 E. Werner, The Secret Bridge (New York: Columbia University Press, 1959), p.

140.

161 Dodd, Parables, p. 131: Hengel, “Gleichnis”, p. 37. Jeremias, em Parables, pp. 72-

73, observa que, embora Jesus falasse profeticamente de si mesmo, “o significado messiânico do filho podia não ser admitido pela maior parte dos seus ouvintes”.

162 Lane, Mark, p. 419.

163 Não fica claro, no texto, que seriam os outros arrendatário. Jeremias, Parables, p.

76, com base em uma das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”. (Mt 5.5), afirma que os “outros” são os pobres. A lógica dessa afirmativa não é muito convincente. Um argumento a ser usado talvez seja o uso da palavra “povo” (=ethnos), em Mt 21.43, com referência aos gentios.

Participavam do coral dos cânticos, os sacerdotes, os peregrinos e os prosélitos que cantavam as palavras do salmo diante dos portões do templo. Um coro dos peregrinos cantava a parte do salmo que fala da pedra, a pedra angular (Sl 118.22-25)164. Referindo-se a esse salmo

familiar, e especialmente aos versículos a respeito da pedra rejeitada, Jesus perguntou aos ouvintes se nunca tinham lido nas Escrituras:

A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos.

(Sl 118.22-23)165.

Esta questão de retórica proposta por Jesus tinha que ser respondida afirmativamente. Jesus transferiu a figura dos arrendatários que rejeitaram os servos para a dos construtores que rejeitaram a pedra. Os lavradores maus, matando o filho, destruíram a si mesmos; e os construtores, deixando de lado a pedra que se tornou a pedra angular, fizeram-se de tolos. A pedra, pela vontade do Senhor, veio a ser a pedra principal, a pedra angular do portal do edifício. Originariamente, a pedra pode ter sido referência a um dos blocos da construção do templo de Salomão, que veio a ser a principal pedra, pedra de esquina do edifício166.

Jesus deixou implícito que ele era a personificação do filho do proprietário da vinha, bem como a pedra rejeitada pelos construtores. Mais que isso, os doutores da lei e os outros líderes religiosos eram os arrendatários da vinha e os construtores que haviam posto de lado a pedra principal. Assim, Jesus falou de sua morte e exaltação iminentes.

Teologia

A parábola, como registrada pelos evangelistas, tem um foco cristológico definido. O assassinato do filho traz a inevitável transferência do arrendamento para outros lavradores, e a rejeição da pedra resulta em sua maravilhosa exaltação. A parábola ensina, portanto, as imagens paralelas da rejeição do filho e da rejeição da pedra167. Ambas representam o Filho de Deus.

164 A. Weiser, The Psalms (Philadelphia: Westminster Press, 1962), p. 724.

165 Embora a citação (118.22) seja repetida em At 4.11 e 1 Pe 2.7, não há razão para

se aceitar que a igreja tenha acrescentado estas palavras à parábola dos lavradores maus.

166 Jeremias, TDNT, 1:792. A pedra rejeitada se referia a Abraão, Davi ou ao Messias,

de acordo com os rabinos. Os construtores eram descritos como os mestres da Lei. SBI: 875-76.

167 M. Black, em “The Christological Use of the Old Testament in the New Testament”

NTS 18 (1971-72): 13, chama a atenção para a interpretação messiânica da pedra e, conseqüentemente, fala da pedra e do filho rejeitados.

Ao mencionar dois grupos separados de servos enviados pelo dono de terras para receber sua parte no produto da vinha, Mateus, aparentemente, faz alusão às duas divisões de profetas – os antigos e os últimos profetas. Ele não adianta qualquer pormenor a respeito do filho do dono da vinha. Marcos e Lucas, no entanto, o chamam de “filho amado”, que traz a conotação de único filho168. A expressão

“filho amado” foi usada, também, por ocasião do batismo de Jesus e em sua transfiguração. Marcos escreve que o dono de terras enviou seu filho por último. A palavra último ressoa claramente nos primeiros versículos da Epístola aos Hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo”. (Hb 1.1,2).

Além disso, enquanto Marcos diz que o filho foi morto dentro da vinha, Mateus e Lucas escrevem que os lavradores maus apanharam o filho, atiraram-no fora da vinha e, então, o mataram. Fica implícito

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 83-103)