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A Semente Germinando Secretamente

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 38-42)

Marcos 4.26-29: “Disse ainda: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como. A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa”.

O Evangelho de Marcos não é conhecido por suas dissertações; ao contrário, em sua narrativa o autor retrata Jesus como um homem de ação. Mesmo assim, o evangelista apresenta material didático, como a preleção sobre os sinais do final dos tempos (capítulo 4). Marcos não está interessado em aumentar o número de parábolas. Ele parece ter feito uma seleção do material que tinha à disposição55.

Escolheu as parábolas do semeador, da semente germinando secretamente e do grão de mostarda. Essas parábolas obviamente detalham o plantio da semente, a germinação e o amadurecimento, a ceifa e a colheita56. Marcos usa as parábolas para ilustrar a natureza 54 20. Kingsbury, Parables of Jesus, p. 62.

55 Veja-se, por exemplo, Marcos 4.2, 10, 13 e 33, onde o plural ‘parábolas’ é usado

consistentemente.

56 Lane, Mark, p. 149.Ridderbos, em Coming of lhe Kingdom, p. 142, é de opinião que

do reino de Deus como foi ensinada por Jesus.

Composição

Por falta de alguns pormenores, a história da semente germinando secretamente é, em si mesma, de algum modo, simplista. Nada é dito a respeito da preparação do solo, da chuva caindo, da extração da erva daninha, ou da fertilização. A vida do lavrador parece semelhante à da semente plantada: dormir à noite e despertar pela manhã. Ao chegar o tempo da colheita, o fruto maduro é ceifado.

A parábola deixa de lado os detalhes por mais significativos que possam ser e coloca ênfase na semeadura, na germinação e na ceifa. Não devemos pensar que o fazendeiro passe seu dia ociosamente. Naturalmente que não; ele tem trabalho pesado para ser feito. Lavrar a terra, fertilizá-la e limpá-la das ervas daninhas toma muito de seu tempo. Além das tarefas diárias, ele tem que cuidar das compras e das vendas, planejar e preparar a colheita. Tudo isso está subentendido e dado como certo na parábola. Observamos, também, que Deus providenciará a chuva necessária57. Ele controla os

elementos da natureza.

Este é exatamente o ponto. Desde o momento em que lança a semente, o lavrador deve confiar a Deus a germinação, o crescimento, a polinização e a maturação. Ele pode descrever o processo da germinação do trigo, mas não pode explicá-lo. Depois que a semente foi semeada, ela absorve a umidade do solo, incha e brota. Após uma semana ou duas, as primeiras hastes aparecem na superfície; gradualmente as plantas começam a lançar rebentos, ganham altura e desenvolvem as espigas. Então, quando a planta morre, sua cor muda do verde para o dourado; o grão amadurece e é chegada a hora da ceifa. O fazendeiro não pode explicar esse crescimento e desenvolvimento58. Ele é apenas um trabalhador que no tempo certo

semeia e colhe. Deus guarda o segredo da vida. Deus mantém o controla.

Interpretação

A parábola da semente germinando secretamente só é do julgamento”.

57 Quando Marcos escreve que a terra “por si mesma” produz o grão ele não quer

dizer que o solo produz a colheita sem a provisão de Deus, mas que a ajuda do fazendeiro não é necessária no processo de germinação do grão. W. Michaelis, Die Gleichnjsse Jesu (Hamburg: FurcheVerlag, 1956), p. 38. Além disso, a ênfase na produção do grão não deve ser colocada sobre o solo, nem na própria semente. R. Stuhlmann “Bcobachtungen zu Markus IV. 26- 29”, NTS 19 (1972-73): 156.

encontrada no Evangelho de Marcos. Mateus e Lucas não se referem a ela, e não temos maiores informações do que as encontradas nesses versículos de Marcos 4.26-2959. A parábola é introduzida pela

sentença: “O reino de Deus é assim”.

Há várias interpretações dessa parábola. Alguns comentaristas explicam o relato alegoricamente: Cristo semeou e na ocasião certa virá para a ceifa; o resto da parábola se refere ao trabalho invisível do Espírito Santo na igreja e na alma60. Outros têm destacado um dos

seguintes fatores: a semente o período de amadurecimento, a ceifa; ou o contraste entre semear e ceifar61. Certamente, todas essas

interpretações — mesmo as alegóricas (quando qualificadas) — apresentam pontos positivos.

João Calvino olhou além do Originador dessa parábola e viu os ministros da Palavra semeando a semente. Eles não devem desanimar, diz Calvino, quando não vêem resultados imediatos. Jesus ensina que devem ser pacientes e os faz recordar o processo de germinação, como acontece na natureza. Não devem se agastar ou se inquietar, mas depois de terem proclamado a Palavra, devem se ocupar das tarefas do dia — dormir à noite, levantar pela manhã e fazer tudo o que há para ser feito. Como a semente chega à maturação no tempo próprio, assim o fruto do trabalho do pregador, eventualmente, aparecerá. Os ministros do evangelho devem ter coragem e continuar sua obra decidida e confiantemente62.

Deus está atuando no processo da germinação da semente, em seu crescimento, desenvolvimento e maturação. “O fruto é o resultado da semente; o fim está implícito no começo. O infinitamente grande já está ativo no infinitamente pequeno63”.E bom relembrar a afirmativa

jubilosa de Paulo “de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

Na parábola, o lavrador é apenas um auxiliar da obra divina. Ele lança a semente, e dia após dia faz o trabalho necessário — dá

59 Há paralelos na literatura apostólica, inclusive 1 Clemente 23.4: “Ó insensatos:

Comparai-vos a uma árvore. Tomai uma videira, por exemplo: ela primeiro espalha suas folhas, então o botão e a flor, e Somente após, primeiro a uva verde e então a madura.” Apostolic Fathers, vol.2 ed. R. M. Grant e H. H. Graham (Camden. N. J.: Thomas Nelson & Sons, 1965), p. 48. Ver também, II Clemente 11.3, e o Evangelho de Tomé, Citação 21.

60 H. B. Swete, The Gospel According lo St. Mark (L.ondon: Macmillan & Co., 1909), p.

85.

61 Para uma classificação abrangente dessas interpretações, veja C. E. B. Cranfield:

“Message of Hope, Mark 4.21-32”, Interp 9(1955): 158-162.

62 J.Calvin, Harmonyof lhe Evangelists (Grand Rapids: W. B. Eerdmans, 1949), 2:128.

Embora Calvino dê atenção ao período de crescimento, dá ênfase igual àquele que semeia o grão. O criticismo de Cranfield tem algum valor: Calvino considerou a parábola endereçada aos discípulos de Jesus. No entanto, a aplicação, no comentário de Calvino, parece muito mais abrangente do que o mero círculo dos doze discípulos. Ver Cranfield: “Message of Hope”, p. 159.

andamentos à sua tarefa. Tem confiança que a época da colheita chegará. Sabe, pela experiência, quantos dias se passarão desde a semeadura até à ceifa64. E quando a colheita está madura ele não

espera mais. O dia da ceifa chegou. Do mesmo modo, os ministros da Palavra têm a tarefa divina de proclamar as boas-novas de salvação em Cristo Jesus. Eles, também, devem permanecer de lado, enquanto Deus efetua a obra secreta de crescimento e desenvolvimento. No tempo de Deus, o ministro verá os resultados quando chegar a hora de ceifar.

A parábola da semente germinando secretamente é, realmente, uma parábola de seqüência: a colheita segue a semeadura, no tempo devido. A manifestação do reino de Deus sucede o ministério fiel da Palavra de Deus. Um leva ao outro, e nada acontece sem o secreto poder operante de Deus. “A lição é: a vitória está assegurada; a colheita se aproxima e chegará, com certeza, no momento apropriado decidido no plano eterno de Deus. O reino de Deus será revelado em todo o seu resplendor65”.

As últimas palavras da parábola são, de certo modo, reminiscência de Joel 3.13: “Lançai a foice, porque está madura a seara”. Sem dúvida, a passagem se refere definitivamente ao dia do julgamento quando o Senhor, de acordo com Apocalipse 14.12-16, envia o seu anjo para ceifar a terra. Nesse ínterim, aqueles que foram enviados para proclamar a Palavra têm que aprender a ter a paciência do lavrador. “Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra...” (Tg 5.7). Falta de paciência é uma característica humana. Ela aparece até mesmo na descrição de João, das almas daqueles que foram mortos por causa da Palavra de Deus. Eles clamam em alta voz: “Até quando, Ó Soberano Senhor...?” e a resposta que recebem é que devem esperar ainda por algum tempo (Ap 6.9-11). Deus está no comando e determina quando é chegado o tempo da colheita. Ninguém, nem mesmo Jesus, sabe o dia e a hora (Mt 24.36).

64 Os fazendeiros do centro-oeste americano têm um ditado que diz que o milho

“deve estar à altura dos joelhos pelo quatro de julho.”

No documento Parabolas de Jesus Completo Kistemaker (páginas 38-42)