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O julgamento da PIDE/DGS na Assembleia Constituinte

As primeiras eleições depois do derrube do Estado Novo tiveram lugar em abril de 1975. O Decreto-Lei n.º 621-B/74, de novembro de 1974, impediu todos aqueles que exerceram cargos de chefia ou foram funcio- nários do quadro ou ainda prestadores de serviços da extinta PIDE/DGS de eleger ou serem eleitos para a Assembleia Constituinte. Aquele de- creto-lei, juntamente com a dissolução do partido único e das instituições políticas do regime, contribuíram para que, dos indivíduos com atividade política nas instituições do anterior regime, apenas pudessem estar repre- sentados na Assembleia Constituinte os ex-membros da chamada Ala Li- beral, a semioposição ao regime, que integraram as listas do CDS/PP ou do PPD/PSD (Fernandes 2007).

A primeira sessão, dedicada à composição e às funções da Comissão de Verificação de Poderes, ficou marcada por acusações sobre a ligação de alguns deputados à PIDE/DGS, o que constitui um indicador da sen- sibilidade do tema. No entanto, apenas dois deputados foram acusados de possuírem uma reduzida legitimidade democrática: Mota Amaral (de- putado pelo PPD, ex-deputado à Assembleia Nacional pela União Na- cional) e de Galvão de Melo (deputado pelo CDS, militar conservador sem funções políticas). Uma proposta apresentada pela UDP sugerindo o recurso aos arquivos da PIDE/DGS para averiguar da legitimidade de- mocrática dos deputados foi inclusivamente recusada. Ao longo das vá-

rias sessões, foram feitas referências pontuais à morosidade dos julgamen- tos, ao processo de saneamento da classe política, à questão dos direitos políticos dos antigos membros da elite e dos colaboradores da PIDE/DGS, bem como ao uso dos arquivos da polícia política como fonte para o saneamento. A questão da justiça transicional esteve sempre presente, mas não se pode dizer que tenha marcado a agenda.

Quando a Assembleia Constituinte iniciou os trabalhos, ainda não existia uma lei de criminalização da polícia política, pelo que os únicos atos que até à data podiam ser julgados eram os que diziam respeito a crimes previstos no código penal em vigor. Nesse sentido, o PS manifes- tou interesse apenas pela situação do processo relativo ao assassinato do candidato às eleições presidenciais de 1958, general Humberto Delgado.11

É dos partidos à esquerda do PS que se ouvem as únicas vozes a favor de medidas urgentes e retroativas de ajuste de contas com o passado. A UDP foi o partido mais ativo no Parlamento no que toca à criminalização e julgamento da PIDE/DGS e o seu deputado foi o único a insistir na ne- cessidade de acelerar o processo de dissolução da polícia política e de jul- gar os responsáveis pelos crimes do regime fascista. Em junho de 1975, na sequência da fuga de 89 elementos da ex-polícia política de cadeia de Alcoentre, onde se encontravam em prisão preventiva, a UDP apresentou uma moção através da qual exigiu «o julgamento imediato, em tribunal revolucionário e popular, dos pides» assim como a «divulgação dos arqui- vos da PIDE/DGS e a destruição dos arquivos dos antifascistas». A moção foi votada meramente como uma «manifestação de opinião» (uma vez que a Constituinte estava submetida a um regimento provisório e tinha como único objetivo a redação da nova Constituição), mas a primeira parte foi chumbada pela maioria com cinco votos a favor e 33 abstenções, enquanto a segunda foi aprovada com 30 abstenções e nenhum voto contra.

11Humberto Delgado foi candidato às eleições presidenciais de 1958. Como era es-

perado, a vitória foi dada ao candidato do regime e Delgado passou a ser perseguido pela polícia política, tendo pedido asilo político no Brasil. Uns anos mais tarde regressou a Portugal, e na sequência de um golpe fracassado passou a ser novamente perseguido, tendo sido morto pela polícia política em território espanhol já em 1965. Este é um dos poucos episódios de assassinato político pelas mãos do regime de Salazar. No dia 30 de abril de 1974, a família do general e o seu advogado Pires de Lima requereram formal- mente junto da Polícia Judiciária a abertura de um inquérito sobre a sua morte. O regime nunca havia admitido o seu assassinato, mas o sistema judicial acabou por dar como pro- vada a culpa de seis agentes da PIDE/DGS, na maioria condenados in absentia. Em seu nome foi constituído em 1977 o Tribunal Cívico Humberto Delgado, inspirado no fa- moso Tribunal Russell, que tinha como principal objetivo mobilizar a opinião pública para a causa da criminalização e julgamento não só da polícia como dos responsáveis políticos do regime.

O quadro 4.3 apresenta as propostas de medidas de punição relativas à PIDE/DGS contidas (ou não) nas propostas de Constituição de cada grupo parlamentar. Os resultados são consistentes com a análise dos ma- nifestos e da imprensa partidária, ou seja, as propostas surgiram apenas do PS, do PCP e da UDP, enquanto os partidos mais à direita optaram por não fazer qualquer referência ao tema. Se considerarmos a divisão

Quadro 4.3 – Elementos de justiça transicional relativamente à polícia política incluídos nas propostas de Constituição

Fonte: Diário da Assembleia Constituinte, N. s. 13S, 14S, 7-9 de julho de 1975, 1-30.

GP CDS PPD PS PCP MDP UDP Artigo – – Artigo 129.º Disposições transitórias Artigo 32.º Liberdade pessoal – Artigo 23.º Perda dos direitos políticos

Artigo 25.º

Julgamento dos fascistas

Conteúdo – –

«1. Os arquivos das extintas organizações fascistas ficarão sob a fis- calização de uma comissão mista composta por elementos do MFA designados pelo Conselho da Revolução e por uma comis- são parlamentar composta por representantes dos partidos políti- cos com assento na Assembleia Legislativa Popular.

2. Essa comissão providenciará no sentido de serem destruídos esses arquivos, salvo na medida em que os documentos em causa tiverem interesse histórico ou forem necessários para o desmante- lamento da organização fascista e só enquanto o forem. 3. É proibida a utilização ou divulgação de quaisquer informações constantes desses arquivos fora dos limites apontados, sob pena de prisão de um a dois anos, a aplicar pelos tribunais imediatamente.» «A lei penal incriminatória não é retroativa, salvo a lei incrimina- tória dos dirigentes fascistas e dos agentes e dirigentes da extinta PIDE/DGS e outras organizações repressivas do fascismo, bem como dos agentes de ações contrarrevolucionárias.»

«Serão privados dos direitos políticos, nomeadamente dos previs- tos neste capítulo, todos os responsáveis do Estado fascista, os membros de organizações terroristas fascistas (PIDE/DGS, Legião Portuguesa e outras), os implicados em golpes e ações fascistas, os implicados em ações imperialistas, bem como todos os inimigos irredutíveis da povo.»

«O Governo procederá rapidamente ao julgamento revolucioná- rio, com participação popular, de todos os implicados na ditadura fascista, promulgando para isso leis especiais, com efeito retroa - tivo, que os incriminem enquanto membros de organizações fas- cistas.»

«A República Portuguesa reprimirá severamente todas as atividades fascistas e reacionárias, assim como todos os que se oponham à ampla democracia das massas. Os fascistas, reacionários e todos os inimigos do povo serão julgados em tribunais revolucionários po- pulares, de acordo com legislação revolucionária apropriada a fixar.»

entre radicais, moderados e reacionários, é importante salientar que a As- sembleia Constituinte em Portugal não incluiu o sector reacionário, ou seja, aqueles que poderiam ter lutado pelo regresso ao statu quo ante.

Tal como foi atrás sugerido, os deputados do PPD tiveram a perceção de que não seria prudente manifestarem-se contra a punição dos pides, sob pena de serem estigmatizados e perderem o eleitorado de centro que tentavam conquistar. Só assim se compreendem as declarações do depu- tado e fundador Marcelo Rebelo de Sousa: «a previsão de medidas revo- lucionárias para o julgamento dos agentes da ex-PIDE/DGS consta do Programa do MFA, portanto, naturalmente que o PPD/PSD logo que se constituiu considerou como indispensável essa, entre outras medidas constantes no Programa do MFA [...] agora naturalmente que pode haver discrepâncias quanto ao modo de julgamento». Dada a radicalização do debate político, o PPD optou por não se assumir contra o julgamento. A justificação para a não inclusão de qualquer artigo na Constituição que previsse a punição dos ex-membros da PIDE/DGS é feita pelo mesmo deputado aludindo ao direito internacional comum.

O tema foi novamente debatido no final do mandato da Consti- tuinte. A 30 de março de 1976 (uma das últimas sessões da Assembleia Constituinte), a Comissão das Disposições Finais e Transitórias, com- posta por 12 deputados, apresentou o artigo que previa as medidas de justiça política face aos ex-elementos da PIDE/DGS. Entre os 12 depu- tados que compunham esta comissão, 10 eram licenciados em Direito (as exceções eram a deputada do PCP e o deputado da UDP). Mais sig- nificativo, tendo em conta o tema em causa, é o facto de todos os repre- sentantes de partidos de esquerda terem um passado de oposição ao re- gime, em particular nos Movimentos Estudantis de Coimbra e no MUD Juvenil.12Como tem sido frequentemente enfatizado na literatura sobre

a justiça transicional, direito e justiça poderão ser difíceis de conciliar quando o que está em causa é acertar contas com o passado autoritário. O artigo em discussão estava dividido em três pontos. O ponto 1 mantinha em vigor a Lei n.º 8/75, de 25 de julho, com as alterações in- troduzidas pela Lei n.º 16/75, de 23 de dezembro (que colocou os julga- mentos no domínio dos tribunais militares), e pela Lei n.º 18/75, de 16 de dezembro (que permitiu o recurso e a liberdade provisória). Assim,

12Entre eles encontravam-se um ex-presidente deste movimento, um vice-presidente

daquelas comissões distritais e alguns deputados que estiveram envolvidos nas candida- turas do general Norton de Matos, do general Humberto Delgado e do almirante Quintão Meireles. Por fim, alguns destes deputados estiveram também ligados à CDE.

atendendo às pressões dos partidos da extrema-esquerda, assim como às pressões da sociedade civil, aceitava-se a lei de criminalização tal como havia sido redigida em julho de 1975, mantendo de igual forma as leis adicionais atenuantes. No ponto 2 afirmava-se que «a lei poderá precisar as tipificações criminais constantes do n.º 2, do artigo 3.º, da alínea b) do artigo 4.º e do artigo 5.º do diploma referido no número anterior». Finalmente, no ponto 3 afirmava-se que «a lei poderá regular especial- mente a atenuação extraordinária prevista no artigo 7.º» do mesmo di- ploma. Na realidade, era atribuída aos juízes que julgassem os crimes contemplados nestas leis a liberdade de fazerem uso das atenuações pre- vistas nas leis já produzidas, da forma que entendessem mais adequada a cada um dos processos individuais.

Com a finalidade de compreender o posicionamento dos partidos na Assembleia Constituinte, foram analisados dois aspetos da intervenção dos deputados de cada bancada parlamentar no debate decorrido no ple- nário. Primeiro, o tipo de argumentação que os partidos apresentaram. Segundo, que posição tomaram. O quadro 4.4 apresenta a análise de conteúdo do debate ocorrido no Parlamento no dia 30 de março de 1976, em que a «Comissão das Disposições Finais e Transitórias» apresentou o seu relatório de proposta de artigo.

Esta análise de conteúdo teve por base a proposta de Huntington (1991). Huntington sistematizou em dois grandes tipos a argumentação habitualmente usada por defensores de «punir e julgar» e pelos defensores de «perdoar e esquecer». Segundo o autor, os argumentos a favor do per- dão centram-se habitualmente em torno da necessidade de instituciona- lizar a democracia e respeitar os seus princípios, fundamentalmente atra- vés do conceito de Estado de Direito. Neste sentido, para esta análise, mediu-se o uso de expressões como «democracia», «democratização», «Estado democrático», «Direito» e «direitos». Estas expressões foram clas- sificadas como argumentos favoráveis a «perdoar e esquecer» sempre que foram proferidas no contexto de um discurso favorável à limitação da le- galidade revolucionária e à moderação por oposição ao radicalismo. Os argumentos favoráveis à punição são apresentados, ainda segundo Hun- tington, em torno da ideia de responsabilização. Assim, foi medido o uso de expressões como: «julgamento», «incriminação», «condenação», «perseguir», «combater», «punir» e «castigar», assim como expressões tí- picas do contexto português (habitualmente mobilizadas pelos maiores defensores da punição), como «carrascos», «torcionários», «facínoras» – muito específicas de certos grupos, mas muito presentes no contexto da época – juntamente com a expressão «responsáveis» e «responsabilidade»,

seguindo a lógica da ideia de responsabilização. Os valores apresentados correspondem à percentagem de palavras usadas no conjunto das inter- venções dos deputados de cada grupo parlamentar.

Da análise de conteúdo do debate parlamentar de dia 30 de março de 1976 podem extrair-se três conclusões. Primeiro, os partidos à direita do PS optaram por uma posição de neutralidade, não se mostrando nem contra, nem a favor das medidas propostas. Segundo, os partidos à es- querda do PS optaram por um discurso fortemente punitivo, inclusiva- mente rejeitando as propostas moderadas que não recusavam por abso- luto a ideia da punição. Por último, o PS defendeu simultaneamente uma legalidade revolucionária transitória e limitada, e apresentou um tipo de discurso mais próximo de uma solução não punitiva, tentando gerir a sua condição de partido mais votado, partido de centro, com raízes na luta antifascista, mas acima de tudo empenhado na consolidação das es- truturas democráticas. O gráfico 4.1 apresenta uma representação gráfica dos argumentos a favor de cada uma das vias atrás mencionadas, através do qual é possível ter uma noção mais clara do posicionamento dos par- tidos.

As propostas apresentadas pelos grupos parlamentares durante o de- bate foram individualmente votadas em plenário, tendo o artigo final sido aprovado de acordo com a sua redação inicial, isto é, tendo sido re- jeitadas todas as propostas de alteração apresentadas pelos partidos à es- querda do PS (ver o quadro 4.5). Apesar da radicalização do discurso dos

Quadro 4.4 – Análise de conteúdo do debate do artigo 16.º no plenário (agentes e responsáveis da PIDE-DGS) (%)

Argumentos a favor e contra UDP PCP MDP/CDE PS PPD* CDS

Democracia/democratização/Estado democrático –0,07 0,15 0,07 0,52 – – Direitos fundamentais/«princípios humanistas» – –0,37 0,15 0,22 – – Leis/legalidade/normas (revolucionárias porque

transitórias, mas limitadas) –0,22 –0,07 –0,07 0,37 – –

Direito/justiça/campo jurídico/juristas –0,22 0,22 0,60 0,60 0,30 –

Julgamento/incriminação/condenação 0,07 1,20 0,97 0,15 0,07 –

Leis/legalidade/normas (revolucionárias

e retroativas, severamente punitivas) – 0,37 0,22 –0,07 – –

Torcionários/facínoras/carrascos 0,67 0,15 – – – –

Criminosos/assassinos/vítimas 0,15 1,20 – – – –

Crime/tortura/repressão/assassínio 0,52 1,80 0,75 0,07 – –

Responsáveis/responsabilidade 0,15 0,60 0,30 – 0,07 –

Fonte: Diário da Assembleia Constituinte n.º 129, 31-3-1976, 4267-4322.

Nota: Percentagens negativas indicam que a expressão foi usada com sentido crítico, depreciativo ou

tendencialmente negativo.

* O PPD manifesta-se apenas no final das votações, explicando a abstenção perante a proposta de um aditamento apresentada pela UDP.

partidos de extrema-esquerda e das pressões da sociedade civil, a dispo- sição transitória introduzida na Constituição de 1976 só foi até onde o PS esteve disposto a ir. Para além da lei 8/75, de 25 de julho, foram tam- bém reconhecidas as alterações introduzidas pelas leis 16/75, de 23 de dezembro e 18/75, de 25 de dezembro.

Analisemos a forma como se manifestaram os partidos políticos pe- rante as propostas apresentadas pelos seus pares e que implicações é que a inclusão da lei 8/75 na Constituição da República Portuguesa teve para a continuação do debate. O quadro 4.5 apresenta a forma como cada partido votou as propostas da UDP e do PCP, assim como as propostas da Comissão das Disposições Finais e Transitórias. A UDP pretendia re- vogar a lei 18/75, ou seja, impedir que os ex-elementos da PIDE/DGS pudessem aguardar em liberdade provisória ou recorrer da sentença e for- çar os militares a efetuarem os julgamentos dentro de um prazo máximo de três meses; e o PCP pretendia negar ao legislador a possibilidade de vir a alterar as penas previstas na lei 8/75.

Gráfico 4.1 – Representação gráfica dos argumentos a favor do

perdão/Estado de Direito e a favor da punição/responsabilização, com base no quadro 4.4 (%)

Nota: O gráfico não inclui os argumentos «contra» apresentados no quadro 4.4. As percentagens

referem-se à percentagem de palavras (atrás mencionadas) usadas ao longo dos discursos dos depu- tados de cada bancada.

6

3

0

Perdão/Estado de Direito Punição/responsabilização

Como se pode observar no quadro 4.5, o PS teve efetivamente o apoio dos partidos à sua direita, podendo assim falar-se da formação de uma coligação centrista/moderada que, numa altura em que o processo de punição se encontrava numa fase descendente, se uniu para impedir a adoção de medidas mais radicais de ajuste de contas com o passado. Este comportamento verificou-se, aliás, noutras áreas de decisão em que os mesmos «partidos se aliaram para conseguir a transição (e posterior- mente consolidação) de um regime democrático liberal, em oposição ao PCP e aos seus aliados militares no MFA» (Jalali 2007, 24).

No momento em que a Constituinte decidiu pela inclusão da lei 8/75 na Constituição da República Portuguesa, em março de 1976, a Comissão de Extinção da PIDE/DGS havia já enviado ao Conselho da Revolução um pedido de apreciação de uma proposta de revogação daquela mesma lei. Estava em marcha uma mudança política, iniciada em dezembro de 1975, cujo objetivo era o da clara substituição da legalidade revolucioná- ria pela legalidade democrática e que se materializou numa primeira ins- tância (em fevereiro de 1976) na concessão de liberdade provisória aos elementos da ex-PIDE/DGS detidos, na sua maioria, desde abril de 1974. Neste sentido, a atuação da aliança centrista na Assembleia Constituinte não terá agradado nem às forças à esquerda do PS – que consideravam aquela lei insuficiente – nem às forças moderadas no seio das instituições militares – que pretendiam colocar um termo no processo de punição

Quadro 4.5 – Resultado das votações em plenário do artigo 16.º, após o debate

Partido Proposta da UDP: Proposta Proposta do PCP: Proposta Proposta da UDP:

alteração ao n.º 1 da Comissão: eliminação dos da Comissão: aditamento de um

(revogação da lei n.º 1 n.os2 e 3 n.os2 e 3 n.º 4 (julgamento

n.º 18/75) no máx. em 3 meses)

PS Contra A favor Contra A favor Abstenção

(1 a favor)

PPD Contra A favor Contra A favor Abstenção

(1 abstenção) (1 abstenção ao n.º 3)

PCP

(MDP/CDE) A favor (30) A favor* A favor (30) Contra (30) A favor (30)

CDS Contra A favor Contra A favor Abstenção

UDP A favor Contra A favor Contra A favor

Resultado Rejeitada Aprovada Rejeitada Aprovada Rejeitada

Fonte: Diário da Assembleia da República n.º 129, 31-3-1976, 4267-4322

Nota: * O PCP (MDP/DCE) vota a favor por considerar que «apesar de tudo, o povo português

saberá guardar ainda a lembrança necessária do que foram os tempos do fascismo para manter a vi- gilância suficiente».

dos agentes da PIDE/DGS, algo que o artigo 309.º da Constituição não permitia.

Os julgamentos

Foi no final de 1976 que os antigos membros da PIDE/DGS começa- ram a ser julgados nos Tribunais Militares Territoriais (TMT) de Lisboa – cerca de 400 no 1.º TMT; 422 no 2.º TMT; 365 no 3.º TMT; 478 no 4.º TMT; e 454 no 5.º TMT – mas também no Porto, em Coimbra e em Tomar. Segundo dados elaborados pela Comissão de Extinção da PIDE/DGS, foram enviados para julgamento 2667 processos, relativos a pessoal dirigente, pessoal técnico e colaboradores (quadro 4.6). De acordo com as estatísticas elaboradas pela comissão, cerca de 68% dos indivíduos foram condenados a penas entre um e seis meses de prisão maior. Contudo, a consulta dos processos, assim como dos recursos in- terpostos junto do Supremo Tribunal Militar, revela dois aspetos que al- teram substancialmente estas conclusões: em primeiro lugar, a todas estas sentenças foi descontado o período de prisão preventiva sofrida – que de acordo com uma amostra de processos consultados foi, em média, cerca de 20 meses (entre abril de 1974 e fevereiro de 1976); em segundo lugar, os tribunais fizeram frequentemente uso de dois perdões de 90 dias, previstos pelos Decretos-Leis n.º 729/75, de 22 de dezembro e n.º 825/76, de 16 de novembro. Para além disso, o 1.º TMT de Lisboa decidiu com frequência que (para além daqueles dois perdões) iria per- doar metade da pena que deveria ser aplicada, segundo a lei 8/75, recor- rendo ao Decreto-Lei n.º 271/74, de 21 de junho.

Em consequência do acima descrito, apesar das penas referidas no quadro 4.6, a maior parte dos ex-elementos da PIDE/DGS saiu em li-