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Em relação às investigações no Brasil, na década de 1980 três estudos referenciam o encaminhamento que as pesquisas sobre o livro didático tinham na época. São eles: o catálogo analítico publicado pela Unicamp (1989, “o que sabemos sobre livro didático”), resultante de pesquisa que mapeia os estudos sobre livros didáticos existentes no Brasil; e de Freitag et al. e de Oliveira et al., obras que abordam a temática do livro didático principalmente nos aspectos da economia política do período (CASSIANO, 2013, p.34).

Os estudos realizados no Brasil sobre o livro didático, a partir do seu surgimento em 1930, foram encomendados e realizados por pessoas ligadas diretamente aos governos vigentes. Até a década de 1980, pouco se sabia sobre o tema, uma vez que se tratava de um importante divulgador das ideologias políticas que vigoravam na época e, consequentemente, a censura impedia julgamentos críticos a seu respeito. Somente a partir da década de 80 é que passamos a conhecer uma bibliografia crítica sobre essa questão. Por isso, selecionamos as referências que julgamos relevantes para auxiliarem em nossa investigação.

O livro A política do livro didático (1984), de João Batista Araújo e Oliveira, Sonia Dantas Pinto Guimarães e Helena Maria Bousquet Bomény, é um dos pioneiros nessa área. É citado em pesquisas como dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre a temática “livro didático” a partir daquele momento, o que, de certo modo, legitima a metodologia utilizada naquele trabalho e os resultados obtidos pelos pesquisadores.

A pesquisa, segundo os autores, nasceu a partir da necessidade de enriquecer os debates sobre tecnologias educacionais junto ao Programa de Estudos e Pesquisas da Associação Brasileira de Tecnologia Educacional – ABT, uma vez que não se dispunha de estudos críticos sobre o livro didático, considerado pelos pesquisadores a tecnologia mais utilizada e mais importante na prática escolar:

A inexistência de uma bibliografia sistematizada foi providencial: obrigou- nos a procurar, nos vários lugares possíveis, uma série de informações e trabalhos que permitiram uma visão bastante ampla – embora não igualmente profunda – dos contornos dentro dos quais se torna interessante

fazer indagações sobre o tema. Sem preconceitos acadêmicos, foram pesquisadas origens e abordagens técnicas, filosóficas, literárias, políticas e econômicas a respeito do problema [...] (OLIVEIRA et. al., 1984, p. 7).

Vale mencionar que os dados obtidos pelos pesquisadores foram coletados, em princípio, em acervos bibliográficos da biblioteca da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro; na biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro; na biblioteca do Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro; na Biblioteca Nacional; na biblioteca da Câmara dos Deputados e na biblioteca do Senado Federal, em Brasília. Também foram pesquisados os arquivos Capanema da Fundação Getúlio Vargas. Além disso, foram entrevistados secretários de estado, técnicos de ministérios, secretarias e programas de livro didático, professores, editores, livreiros, autores, economistas, dentre outros ligados à área de investigação.

Com a intenção de enriquecer os estudos, os autores foram às salas de aulas de cidades do interior (não mencionam quais) ouvir o que professores, alunos e autoridades educacionais tinham a dizer sobre o livro didático. Formularam um questionário sobre o tema e o aplicaram em várias escolas.

Feito isso, os autores revelam que enquanto realizavam a coleta dos dados, faziam sucessivas reuniões para discutir o material que haviam encontrado. Isso fez com que a metodologia do trabalho fosse modificada ou ampliada, de acordo às necessidades impostas pela dinâmica da pesquisa que se realizava. Concluíram que, por ser um tema complexo, havia muitas incorreções e deformações sobre o tratamento do livro didático, e o trabalho por eles realizado faz uma reflexão sobre isso.

Após a análise e discussão dos dados, finalmente o livro é confeccionado, dividido em seis capítulos que versam sobre o conceito de “livro didático”, destacando a sua importância pedagógica, econômica e política; relacionam o contexto cultural, pedagógico, político e social e a literatura existente sobre o tema; discutem as políticas públicas voltadas ao LD desde 1930, bem como os programas de incentivo à produção e distribuição de livros às escolas pelo Ministério da Educação (MEC); discorrem sobre a produção dos livros didáticos, os conteúdos selecionados, os programas de ensino e as estratégias editoriais; analisam a intervenção e os efeitos dos programas dos governos sobre o LD; além disso, discutem a natureza e a produtividade do livro didático, abrindo um debate sobre a sua vida útil; apresentam propostas para futuros estudos e discussões sobre o tema estudado.

A obra Quem engana quem? Professor X Livro Didático (1988), de Olga Molina, é disposta em quatro capítulos assim intitulados: 1 – O livro didático – Considerações sobre sua Escolha; 2 – A aprendizagem a partir de Textos Escritos; 3 – O Texto Didático; 4 – As atividades do aluno com o Texto Didático. O prefácio é assinado por Ezequiel Theodoro da Silva, que destaca a importância desse livro para os professores que lidam diretamente com os manuais didáticos. Ele aponta questões que vão desde a entrada do LD nas escolas até os conteúdos apresentados em seu interior; para ele, se os professores tivessem acesso à informação, teriam mais condições para julgar os manuais que não estivessem de acordo às reais necessidades do ensino.

Por sua vez, a autora Olga Molina, na apresentação do livro, justifica a produção da sua obra a partir de uma “preocupação pessoal” com as aulas ministradas nas escolas públicas brasileiras, dependentes de livros didáticos. Afirma que a sua pesquisa foca os professores, pois eles é que são consultados pelos órgãos do governo para que as compras de materiais didáticos sejam legitimadas. Isso, segundo a autora, constitui um problema, pois os professores, em muitos casos, não sabem o que é e nem como funciona aquele suporte por ele legitimado. Portanto, apresenta algumas provocações: 1 – O que é o livro didático? 2 – Por que usar o livro didático? 3 – Quem conduz o curso – o professor ou o livro? 4 – A programação, o planejamento, devem ser frutos da reflexão do professor ou do autor, no momento em que este elabora seu livro? 5 – Como usar o livro didático em aula, de forma a tirar dele o máximo proveito, tanto em benefício do aluno como do próprio professor que pode, através de um bom livro, racionalizar o seu trabalho? A autora finaliza afirmando que não oferece respostas, mas que se o professor decidir buscá-las, seu livro já terá atingido o objetivo (MOLINA, 1988).

O livro didático em questão (1989), de Bárbara Freitag, Wanderley Ferreira Costa e

Valéria Rodrigues Mota nasceu de um projeto coordenado pelo INEP, intitulado O estado da

arte do livro didático no Brasil (1987), capitaneado pelos mesmos autores acima citados.

Assim como o projeto, o livro é composto por seis capítulos assim intitulados: O histórico do livro didático no Brasil; A política do livro didático; A economia do livro didático; O conteúdo do livro didático; O uso do livro didático; O livro didático no contexto. Trata-se de um estudo que busca situar o livro didático brasileiro em um contexto local e também mundial. Os autores destacam a importância da produção cultural, da literatura e da literatura infanto-juvenil para a construção de um estudo analítico mais reflexivo sobre o tema. Fica claro nessa obra que somente um estudo comparativo poderá auxiliar os pesquisadores a

enriquecerem seus debates frente aos problemas formulados a partir do trabalho com o LD. Os dados foram coletados a partir de cartilhas, textos de leitura e dos livros didáticos do primeiro grau (o atual ensino fundamental). O estudo também delimita as produções dos últimos quinze a vinte anos, a contar da data de publicação da obra mencionada acima.

Como metodologia, os pesquisadores assim procederam: 1 – Examinaram as publicações sobre o livro didático na Revista Brasileira de estudos pedagógicos (MEC/INEP) e nos Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas); 2 – Realizaram levantamento de dados junto ao INEP e à Fundação Carlos Chagas; 3 – Pesquisaram nos acervos da Universidade de Brasília (UNB), do Congresso e do Instituto Nacional do Livro, em Brasília, nas produções da equipe coordenada pelo professor Hilário Fracalanza da UNICAMP, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), na Fundação do Livro Escolar de São Paulo, na Biblioteca Central da Universidade de Berlim e no Instituto de Pesquisas Educacionais Max Planck, em Berlim. Também foram analisados os catálogos e resumos de dissertações e teses disponíveis. Avaliaram as bibliografias presentes nos livros, textos e teses encontradas sobre o assunto. Ao final, os autores indicam, na publicação, as referências mais importantes para a realização do trabalho por eles desenvolvido (FREITAG et. al, 1987).

A obra de Freitag (1989) apresenta e discute a trajetória do livro didático até as escolas brasileiras: desde o surgimento em 1930, mais especificamente durante o regime político centralizado e autoritário do Estado Novo, até o fim da ditadura militar no período da Nova República, por volta de 1985. Segundo os autores, alguns críticos julgam que o livro didático surgiu como resultado natural do movimento armado de 1930 – Revolução de 1930. Portanto, cabe ao Estado Novo, por volta de 1937 e 1938, divulgar e difundir livros de interesse educacional e cultural, além de controlar o uso do livro didático, uma vez que “somente podiam entrar nas escolas públicas e privadas que quisessem o reconhecimento oficial, livros aprovados e recomendados pela CNLD1 [...]” (FREITAG et al., 1989, p. 28).

Com o aumento significativo do número dos materiais impressos e, em concomitância, o aumento de leitores, o Estado acreditava que, não podendo contê-los, a alternativa estaria no controle da entrada dos livros nas escolas. Daí surgiram as comissões responsáveis pelas revisões dos livros. Vale aqui ressaltar que são considerados livros didáticos os livros de leitura de classe e os compêndios. Este último, de acordo com o Art. 2º do Decreto-Lei nº

1Na gestão de Gustavo Capanema enquanto Ministro da Educação, durante o governo Vargas, é instituída a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD) através da qual seus membros, escolhidos pelo próprio Capanema para atuarem no processo de produção, importação e utilização do livro didático, desenvolviam antes questões político-ideológicas e não necessariamente didáticas, competindo ao próprio Ministro a decisão final.

1.0062 de 30 de dezembro de 1938, é entendido como livro que apresenta os conteúdos das

disciplinas inscritas nos programas escolares. Em meados desta mesma década, propagou-se no Brasil uma “política educacional consciente, progressista, com pretensões democráticas e aspirando a um embasamento científico” (FREITAG et al., 1989, p. 12).

Com o acordo firmado entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência Norte- Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), instituiu-se o Decreto n° 59.355, de 4 de outubro de 1966, no qual se criava a Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático (COLTED). A fim de tornar acessível aos estudantes de todo o território nacional mais de 50 milhões de livros gratuitos, consolida-se um convênio entre o MEC, a USAID e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Os acordos firmados atingiram todo o sistema educacional brasileiro e, ao contrário do regime de ditadura das décadas de 1930 e 1940, a COLTED, na tentativa de aprimorar o sistema educacional brasileiro, ofereceu, em quantidade significativa, livros para os distintos níveis de ensino, possibilitando expressivo desenvolvimento do mercado editorial brasileiro.

O catálogo Analítico O que sabemos sobre o livro didático (1989), elaborado pelo Projeto Material Didático, Biblioteca Central, Faculdade de Educação e Instituto de Estudos da Linguagem, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), coordenado por Hilário Fracalanza e Maria Isabel Santoro, contou com vinte e dois pesquisadores e mais vinte auxiliares de pesquisa. O catálogo nasceu a partir dos resultados obtidos através de um estudo chamado “Projeto Livro Didático”, realizado entre 1987 e 1988, financiado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e tendo como responsáveis os órgãos mencionados acima. O projeto tinha como objetivo básico catalogar o máximo possível de estudos realizados no Brasil que tivessem como tema o livro didático, o que, sob o ponto de vista dos pesquisadores, contribuiria na construção de sólidas e eficientes políticas públicas voltadas aos estudos desse instrumento.

Para atingir os objetivos acima mencionados, os pesquisadores da UNICAMP utilizaram os seguintes métodos de pesquisa: 1 – levantamento bibliográfico sobre os trabalhos realizados sobre o tema “livro didático”; 2 – confecção de acervo bibliográfico dos trabalhos realizados sobre o livro didático no Brasil; 3 – cadastramento das referências bibliográficas dos trabalhos encontrados (teses, livros, pesquisas, artigos de periódicos e jornais, trabalhos apresentados em eventos, textos avulsos, folhetos e legislação); 4 –

2 Este Decreto-Lei estabelecia que os livros adotados por todas as escolas, públicas e particulares, deviam ser previamente autorizados pela CNLD.

Fichamento das referências; 5 – Seleção, por título, dos documentos; 6 – obtenção dos documentos; 7 – Análise descritiva e resumos dos documentos do acervo (UNICAMP, 1989).

Para a elaboração do Catálogo Analítico, os pesquisadores do Projeto Material Didático, de posse dos dados obtidos com o Projeto Livro Didático, realizaram um estudo que visava controlar e recuperar os documentos utilizados na primeira pesquisa. Para tanto, criaram um “sistema classificatório de caráter técnico com a finalidade de organizar o material coletado de modo a não falsear as características da pesquisa proposta” (UNICAMP, 1989). As categorias foram as seguintes: a) Tipo de documento; b) Área de conhecimento; c) Nível de escolaridade; d) Foco. Em seguida, elaboraram os resumos descritivos, tendo como objetivo ampliar o conhecimento sobre o tema pesquisado.

A obra O livro didático: uma proposta de análise crítica (1989), organizada pelo Núcleo de Apoio à Utilização do Recurso Didático (PRORED), é resultante de um grupo de estudos ligado à Universidade da Região de Campanha (URCAMP). O que norteou as pesquisas que geraram a produção acima mencionada foram as inquietações frente aos questionamentos a respeito do processo educativo veiculado pelo livro didático, destacando o que consideravam aspectos negativos como estereótipos que reforçavam, como verdades absolutas, a condição inferior da mulher, do índio e do negro, por exemplo, dos professores participantes do grupo; estes atuavam no ensino básico e no ensino superior das cidades componentes da Região da Campanha, no Rio Grande do Sul. Os pesquisadores utilizaram como metodologia observação, análises, troca de informações, seminários, reuniões. Acreditavam ser a obra um estudo brilhante e repleto de qualidades por constatarem um excesso de preconceitos existentes nos manuais didáticos. Também esperavam contribuir com o que chamam de “um lúcido roteiro teórico e crítico para que o professor consiga desbravar a verdadeira ‘selva’ que é a edição do livro didático no Brasil, a fim de selecionar conscientemente os mais sérios e eficientes e, não apenas, os mais bonitos, atraentes e bem editados livros [...]” (PRORED, 1989, p. 14).

O livro não possui Sumário, mas é dividido em duas partes: A primeira apresenta os seguintes capítulos: 1 – Livro didático (Conceito, Importância da escolha, Avaliação, Critérios de análise); 2 – Análise Crítica do Livro Didático – pressupostos teóricos. A segunda parte apresenta os capítulos: 1 – Análise Crítica aplicada (aqui, os autores analisam os livros mais utilizados na primeira e na segunda série do primeiro grau de escolas urbanas e rurais dos municípios de Bagé, Pinheiro Machado, D. Pedrito, São Gabriel, Lavras do Sul e Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul, com base nos critérios de análise externa e análise interna).

O livro Ideologia no livro didático (2008), de Ana Lúcia G. de Faria, tendo sua primeira edição publicada em 1994, contou com dados extraídos de trinta e cinco manuais, optando pelos títulos mais vendidos, da segunda à quarta série das matérias “Comunicação e Expressão”, “Estudos Sociais” e “Educação Moral e Cívica”, do antigo primeiro grau no ano de 1977. O objetivo básico da pesquisa empreendida pela autora parte do conceito de “trabalho” concebido por crianças oriundas de famílias operárias, estudantes de escolas públicas e também de crianças pertencentes às famílias de classes média e/ou alta, estudantes de escolas particulares.

Para a autora, as crianças das escolas públicas atribuem ao “trabalho” um sentido relacionado a um “instrumento de sobrevivência” e também acham que há profissões, como a do médico (que ganha mais por ser mais inteligente), superiores aos trabalhadores comuns. Para as crianças de escolas particulares, o “trabalho” é definido como “esporte”, sendo que uns trabalham por dinheiro, outros por vontade e também associam a riqueza à inteligência, assim como as crianças das escolas públicas (FARIA, 2008).

A discussão proposta pela pesquisadora a faz concluir que o livro didático é “difusor de preconceitos”, pois “concebe o ‘trabalho’ de forma extra-histórica; não diferencia o trabalho como valor de uso (nas comunidades primitivas) do trabalho como valor de troca (na sociedade atual); supervaloriza o trabalho intelectual desvalorizando o manual” (FARIA, 2008, p. 10). Para solucionar o problema, a autora sugere que o professor, valendo-se de sua competência, assuma a responsabilidade de propor uma reflexão crítica ao aluno ao invés de repetir os preconceitos dos manuais didáticos, como a associação do índio ao pitoresco, ao selvagem; a mulher representada somente nos papéis relacionados aos afazeres domésticos, dentre outros (FARIA, 2008).

O livro As belas mentiras: a ideologia subjacente aos textos didáticos (2005), de Maria de Lourdes Chagas Deiró, foi apresentado originalmente como dissertação de mestrado em Filosofia da Educação, na PUC de São Paulo, em 1978. A pesquisa nasceu de observações de textos de leitura de livros didáticos selecionados pela autora e indicados pelo MEC às quatro primeiras séries do antigo primeiro grau. O livro apresenta dez capítulos assim nomeados: 1 - A família; 2 – A escola; 3 – A pátria; 4 – O ambiente; 5 – O trabalho; 6 – Os pobres e os ricos; 7 – As virtudes; 8 – As “explicações Científicas”; 9 – O índio; 10 – Capas e Ilustrações. Como problema inicial, apresentou-se uma tentativa de demonstrar que a sociedade se divide em duas classes sociais: a dominada e a dominante e, ainda, que não há preocupação com a grande maioria da população. Segundo a autora, isso se reflete na

estrutura educacional, que deveria tomar o homem como sujeito, no intuito de auxiliá-lo frente às complexidades da formação social. Ao invés disso, tudo converge para que o lucro seja tratado como objetivo central (DEIRÓ, 2005).

O segundo problema levantado aponta a educação como um instrumento transmissor da ideologia da classe dominante, a qual é assimilada inconscientemente pela classe dominada. O livro didático é então entendido como um desses transmissores, por veicular valores que diferem dos interesses da classe trabalhadora. Durante a realização da pesquisa, a autora afirma que possuía uma pequena percepção da ideologia da classe dominante nos textos componentes dos livros didáticos analisados. No desenvolvimento, essa percepção aumentou de modo que já era possível, para ela, identificar certa riqueza de detalhes no modo como são transmitidas as ideologias dominantes. A pesquisadora conclui, chamando atenção para a gravidade da situação enfrentada pelos professores das séries iniciais diante da problemática que apresenta, pois considera serem as crianças (da faixa etária 7-10 anos) sujeitos acríticos, portanto, suscetíveis à incorporação ou assimilação das ideias veiculadas pelos manuais didáticos.

A obra Interpretação, autoria e legitimação do livro didático (1999), organizada por Maria José Coracini, é produto do Projeto Integrado CNPq Da torre de Marfim à torre de

Babel: uma análise discursiva do ensino-aprendizagem da linguagem escrita. A equipe

envolvida na publicação contou com pesquisadores da área de Letras da UNICAMP e da USP, além de auxiliares como bolsistas, mestrandos e doutorandos. A pesquisa tem como objeto os materiais didáticos, e mais especificamente, o livro didático e seus objetivos em relação às representações de aluno, professor, linguagem, texto e produção de sentido. O empenho que os autores dispensam ao estudo do LD se baseia na importância que este possui junto aos seus principais receptores: alunos e professores que, em muitos casos, possuem apenas o citado suporte para auxiliá-los no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, segundo os pesquisadores, os livros didáticos carecem de estudos reflexivos a respeito do seu funcionamento. Por isso, os autores envolvidos nessa pesquisa se propõem a perceber a sala de aula através do livro didático de modo a discutir uma tendência à “homogeneização de tudo e de todos” imposta pelo referido LD (CORACINI, 1999).

A obra é dividida em três partes: 1 – Processos de legitimação do livro didático; 2 – Interpretação do Livro didático; 3 – Produção escrita e livro didático. A primeira parte é