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O MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO Conhecimento de si mesmo

AS REGRAS DO CAMINHO

V. O MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO Conhecimento de si mesmo

Desde a mais remota antigüidade, os grande mestres sempre instaram o homem a buscar o

conhecimento de si mesmo. Essa instrução foi tornada particularmente famosa na Grécia antiga com a inscrição no portal de entrada do Templo de Delfos, que dizia: Homem, conhece-te a ti mesmo. Dizem alguns iniciados que entraram no Templo que, do lado interno do portal, a inscrição continuava: E conhecerás o universo.

A tradição cristã, continuadora da eterna tradição de sabedoria, não poderia adotar uma postura

diferente. Na extensa literatura do cristianismo primitivo constatamos a ênfase especial dada aos mitos da peregrinação da alma em que os ensinamentos sobre os princípios do homem figuram como parte central do relato. No Evangelho de Tomé, documento apócrifo de grande importância, redescoberto entre os textos da Biblioteca de Nag Hammadi, encontramos três aforismos que se reportam a essa questão:

(3) Quando conhecerdes a vós mesmos, então sereis conhecidos e sabereis que sois filhos do Pai Vivo. Mas se não conhecerdes a vós mesmos, então estareis na pobreza e sereis essa pobreza. (67) Jesus disse: ‘Quem conhece o Todo com sua mente, mas priva-se (do conhecimento) de seu verdadeiro Eu, está privado do Todo.’

(84) Jesus disse: ‘Nos dias em que vedes vossa semelhança, vós vos rejubilais. Mas, quando virdes vossas imagens, que no princípio estavam convosco, que não morrem nem se manifestam, o quanto

tereis de suportar!’[1]

Esses aforismos têm profundas implicações. No primeiro é dito que o conhecimento de si mesmo implica num reconhecimento da filiação com o Pai Supremo. O reconhecimento de nossa filiação divina deixa implícito que nossa herança é divina e, enquanto não a reivindicarmos, viveremos na pobreza. No segundo, é indicado que, apenas com o conhecimento intelectivo das coisas do Universo, sem um

conhecimento da natureza interior de si mesmo, o indivíduo está se condenando a alienar-se do Todo. É o conhecimento da natureza divina do homem que oferece a chave para o verdadeiro conhecimento do Todo, como nos assegura a Lei Hermética das correspondências (“assim em baixo como em cima”), já que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (o Todo).

No aforismo 84, nossas imagens podem ser de três tipos: a imagem física refletida num espelho ou, nos tempos modernos, nas nossas fotografias; a nossa imagem social através de pessoas muito semelhantes

a nós ou de descrições, orais ou escritas, a nosso respeito; e, finalmente, a imagem psíquica e a aura, que começam a ser vistas quando o indivíduo conquista as primeiras etapas da clarividência. Essas semelhanças geralmente trazem júbilo, principalmente as da última categoria, pois o indivíduo tende a associar essas visões com uma conquista espiritual. Porém, quando virmos nossas imagens primordiais, nossos arquétipos, enfim, Deus em nosso interior, o enorme contraste entre o que deveríamos ser, de acordo com nosso modelo divino, e a maculada realidade de nossa atual realização espiritual, teremos então um imenso pesar pela nossa fraqueza e nosso apego às futilidades e às ilusões da vida do mundo. Nessa ocasião teremos realmente de suportar um imenso peso em nossa consciência.

Diz-se que, ao final de cada vida, o indivíduo passa em revista, de forma extremamente rápida, todos os eventos, palavras e pensamentos de sua presente existência, tendo então noção de seus erros e das oportunidades perdidas. É dito também que grande parte da dor sentida nos estados após a morte referem-se ao pesar e arrependimento pelos erros cometidos. Quanto maior será, então, nosso pesar quando tivermos não só o pleno conhecimento de nossos erros e fraquezas, mas também pelo que deixamos de fazer frente ao modelo de perfeição pelo qual seremos medidos, que reflete a missão que Deus nos outorgou.

Em outro documento apócrifo, Jesus deixa claro que tipo de conhecimento devemos procurar, quando diz: ‘Pois aquele que não conhece a si mesmo não sabe nada, mas aquele que conheceu a si próprio

alcançou simultaneamente o conhecimento sobre a Profundidade do Todo.’[2] Esse ensinamento do

Mestre, que também foi registrado em outros textos não-canônicos,[3] reflete inteiramente a mensagem do Oráculo de Delfos, ligando a natureza do conhecimento interior com o conhecimento do Universo pela extensão das correspondências.

Mas por que o conhecimento de si mesmo é fundamental no caminho espiritual? A resposta pode

parecer desconcertante: o conhecimento de si mesmo é o próprio caminho espiritual. É por essa razão que esse conhecimento é incluído como uma das regras do caminho, senão vejamos: a meta, como foi visto, é a união em consciência com Deus, simbolizada pelo retorno à Casa do Pai. Como Deus é nossa essência última, o conhecimento de nossa natureza divina facilita essa expansão de consciência, que por sua vez possibilita um conhecimento mais profundo de nossa natureza última. O método, por sua vez, é a metanoia, a transformação de nossos conteúdos mentais, das ilusões e negatividades do homem comum para o estado de consciência de nossa natureza superior. Isso só pode ser feito quando conhecemos nossa natureza inferior e os mecanismos que mantêm nossa consciência aprisionada às coisas deste mundo. Os doze mecanismos transformadores que serão examinados na seção AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS visam facilitar o conhecimento de nossa verdadeira natureza.

Quando conhecemos nossos princípios inferiores e superiores podemos mapear uma estratégia para superar ou reorientar os primeiros e ativar os últimos. Assim, o caminho da autotransformação demanda o conhecimento de nosso inconsciente, seja subconsciente ou supraconsciente. Nesse ponto parece

haver um impasse: o pleno conhecimento e contato com o Eu Superior depende de conhecermos o eu inferior e transformá-lo num aliado na busca do seu irmão de Luz. Porém, para conhecermos o eu inferior precisamos da ajuda do Eu Superior. Esse aparente paradoxo pode ser superado, como será visto posteriormente.

No inconsciente encontram-se as raízes de nossas limitações, de cada defeito e de cada falha de caráter. Para trilharmos o Caminho da Perfeição que leva à União com Deus, precisamos superar todas as

fraquezas que nos tolhem os passos. Naturalmente só podemos trabalhar aqueles defeitos que conhecemos, daí a importância do autoconhecimento.

O autoconhecimento é especialmente necessário para que possamos desvelar nosso inconsciente, onde estão armazenadas as informações sobre o passado, tanto da infância como de outras vidas. Essas informações oferecem a chave para o entendimento e, portanto, a superação dos condicionamentos limitadores. A psicologia moderna, principalmente depois das reflexões de Jung sobre a ‘sombra’ e o ‘inconsciente’, permite-nos entender que todos os traumas e frustrações da infância, resultantes de situações não resolvidas ou não compreendidas, são armazenados pelo indivíduo em seu inconsciente sob a forma de mecanismos de defesa, os condicionamentos, que passarão a comandar nossas reações aos estímulos do mundo exterior. Como disse Jung:

“A sombra constitui um problema de ordem moral que desafia a personalidade do eu como um todo, pois ninguém é capaz de tomar consciência desta realidade sem despender energias morais. Mas nesta tomada de consciência da sombra trata-se de reconhecer os aspectos obscuros da

personalidade, tais como existem na realidade. Este ato é a base indispensável para qualquer tipo

de autoconhecimento e, por isso, via de regra, ele se defronta com considerável resistência.”[4]

O trabalho pioneiro de Jung, teve como uma de suas fontes de inspiração os escritos gnósticos e os de seus sucessores, os alquimistas.[5] A partir dessas elucidações, outros autores apresentaram de forma mais acessível ao grande público o conceito da sombra, chamado por alguns de “eu inferior”,

juntamente com os conceitos de imagem e máscara que geram os mecanismos de defesa das pessoas. Imaginemos a verdade como uma luz intensa que brilha no âmago de nosso ser. Antes de ser percebida pela consciência, isto é, antes de deixar uma imagem em nosso cérebro, essa luz deve passar através de todos nossos veículos, do mais sutil ao mais denso. Cada veículo funciona como um conjunto de

filtros que obscurece e distorce progressivamente a luz original, fazendo com que a imagem última a ser refletida no cérebro seja, na maioria das vezes, um mero arremedo quase irreconhecível da imagem inicial projetada pela fonte de luz.

O processo de autoconhecimento implica na identificação de todos os filtros de nossos veículos

(material, astral e mental) para que possam ser trabalhados e purificados, a fim de que possa diminuir e, por fim, terminar o obscurecimento e a distorção da realidade. Para que esse processo de purificação seja efetivo, e seus resultados possam ser sentidos onde são mais necessários, é preciso que, após a etapa inicial de purificação generalizada dos aspectos mais grosseiros e gritantes da personalidade, o esforço seja então especialmente direcionado para os pontos de distorção, que nem sempre são

conhecidos pelo homem.

O processo de identificação e aceitação de nossas fraquezas pode ser entendido como um

desvelar de nossa verdadeira natureza. Essa nudez pode causar uma vergonha inicial, mas será o marco de uma nova era em nossa vida. Temos na história de Adão e Eva um exemplo alegórico desse fato. Quando foram expulsos do paraíso tornaram-se conscientes de que estavam despidos. Ora, se enquanto eles viviam no paraíso não eram conscientes de sua nudez, isso significa que a nudez frente à realidade é o próprio paraíso.

Esse conceito ajuda-nos a entender duas passagens aparentemente paradoxais do Evangelho de Tomé. Na primeira, ao ser perguntado como eram seus discípulos, Jesus disse: “Eles são como crianças que se estabeleceram num campo que não é seu. Quando os donos do campo chegam, dizem: ‘Devolvam-nos nosso campo.’ As crianças se despirão perante os donos para que eles possam receber de volta o

campo, entregando-o a eles.” Na segunda, ao ser perguntado por seus discípulos quando se revelaria a eles para que pudessem vê-lo, Jesus respondeu: “Quando vocês se despirem sem sentir vergonha e tomarem suas vestes, colocando-as sob seus pés, como criancinhas, e pisarem sobre elas, então vocês

verão o filho daquele que vive, e não terão medo.”[6]

O desnudamento é indicado por Jesus, em primeiro lugar, como a característica que define seus

discípulos e, em seguida, como o fato que lhes permitirá ver o Mestre em sua natureza real. As vestes que as criancinhas retiram quando chegam os donos do campo são os envoltórios da natureza inferior, as máscaras e as negatividades que as crianças, como os iniciados, em sua inocência, descartam sem o menor sentimento de vergonha, pois é algo que não lhes pertence. Assim, o requisito indicado por Jesus para que os discípulos possam ter a revelação de sua natureza real é despirem as máscaras e as

negatividades e pisarem sobre elas, simbolizando a renúncia a essas vestes inferiores, para que, sem esses impedimentos, a natureza do Cristo possa ser revelada.

A identificação dessas distorções é difícil e muitas vezes dolorosa. Significa encarar algumas

características pouco lisonjeiras do nosso caráter. Exige um questionamento constante do porquê de nosso comportamento, ou seja, de nossas motivações. Significa buscar a razão pela qual nossas reações são diferentes de nossos atos premeditados. É preciso entender por que algumas de nossas ações não estão respaldadas por nossos verdadeiros sentimentos.[7]

Torna-se necessário, portanto, identificar as distorções provocadas pelos nossos condicionamentos inconscientes. A literatura gnóstica dos primeiros séculos de nossa era, especialmente a obra Pistis Sophia, muito contribuiu para o entendimento dos condicionamentos. No mito de Sophia eles são

apresentados como sendo emanações da personalidade egoísta que se manifestam como nossos desejos e paixões materiais. Cada vez que repetimos um movimento para a gratificação dos sentidos, por

exemplo, estamos reforçando uma tendência que, aos poucos, transforma-se numa virtual segunda natureza, agindo com vontade própria independente de nossa razão.

As piores distorções, no entanto, são aquelas advindas dos mecanismos de defesa. Esses são as

imagens idealizadas e as máscaras que criamos na tentativa de proteger-nos dos embates dolorosos do mundo exterior. Essas idealizações são aqueles aspectos de nosso eu inferior que provocam as reações negativas que procuramos evitar.

Para compreender melhor esse mecanismo, podemos usar um paralelo com o mundo material. Assim como o nosso sistema solar pode ser imaginado como uma imensa esfera com o sol em seu centro e o átomo como uma esfera infinitesimal com o núcleo em seu centro, o ser humano poderia ser concebido como uma esfera, que tem seu Eu Superior, a natureza divina, em seu centro, cercado por uma extensa camada que seria o seu eu inferior e, finalmente, recoberto por uma casca protetora que chamaremos de máscara. Os primeiros sinais de consciência dão-se ao nível daquilo que interpretamos como sendo “eu”, que é a camada externa, as imagens idealizadas, que no seu conjunto compõem a máscara. A “imagem” advém de uma falsa conclusão ou generalização sobre a vida. A somatória das imagens estabelecidas por cada pessoa ao longo da infância e da juventude constitui a “máscara” que o indivíduo constrói. Essa máscara é uma auto-imagem idealizada, com a qual o indivíduo tenta apresentar um quadro ideal ou perfeito do que imagina que ele deveria ser para conseguir a aprovação ou amor dos pais inicialmente e, mais tarde, de todos aqueles com quem interage no mundo. A máscara é, portanto, a defesa que estabelecemos em busca de proteção para assim nos tornarmos invulneráveis aos embates da vida.[8]

Infelizmente, porém, as imagens incorporadas em nossa máscara em vez de servirem de proteção real contra nossas frustrações são, na verdade, mecanismos retro-alimentadores de nosso sofrimento

existencial. A máscara é como um cobertor curto para nos proteger do frio: se cobrimos os pés

deixamos os ombros de fora e vice-versa. Quanto mais estamos na defensiva, procurando escapar de possíveis críticas, mágoas ou sentimentos de rejeição, mais limitamos o alcance de nossos sentimentos e, portanto, de nossa capacidade de dar e receber amor, de nos comunicarmos com os outros, de

darmos expressão à criatividade e de nos aventurarmos na vida. Existem três máscaras básicas, ou três atitudes fundamentais face à vida: a máscara do amor, a do poder e a da serenidade, que refletem de forma distorcida os três temperamentos básicos (amor, vontade e sabedoria) do ser humano.

Algumas pessoas acham que se forem amadas todos os problemas serão resolvidos. A pessoa com essa máscara tenta, por meio de seu comportamento amoroso e subserviente, conquistar a atenção e a

demonstração de amor dos outros. Na tentativa de obter aprovação, simpatia, proteção e segurança, que seriam demonstrações de amor, essas pessoas procuram atender a todas as demandas dos outros, sejam elas razoáveis ou não. Como não podem conviver com nenhuma demonstração de rejeição ou mesmo de insatisfação dos outros, não ousam defender positivamente seus desejos ou necessidades.[9] A fraqueza e o desamparo demonstrados pelas pessoas que vestem a máscara do amor não são

genuínos, daí caracterizarem-se como mecanismos de defesa, ou máscaras.

O indivíduo com uma atitude primordialmente intelectiva frente à vida, geralmente adota a máscara da serenidade, aparentando que tudo vai bem. Nas palavras de uma estudiosa: “A máscara da serenidade é uma tentativa de fugir das dificuldades e vulnerabilidades da vida humana parecendo ser sempre

totalmente sereno e distanciado. De fato, o que a pessoa realmente persegue é a distorção da serenidade, que significa retraimento, indiferença, fuga à vida, não envolvimento, distanciamento

mundano e cético ou falso distanciamento espiritual. A falsa concepção da máscara da serenidade é que

os problemas desaparecem desde que sejam negados.”[10] O resultado dessa máscara, como de todas

no fundo está buscando e aumenta seus problemas de relacionamento, fazendo com que as pessoas se afastem cada vez mais dele.

A máscara do poder é a que se mostra mais agressiva das três. Ainda que todos os mecanismos de defesa busquem exercer o controle e, portanto, o poder sobre o mundo exterior, a máscara do poder é especialmente propícia à criação de rixas e animosidades com as outras pessoas. O indivíduo com essa máscara é excessivamente crítico e “procura exercer controle sobre a vida e sobre os outros, parecendo sempre totalmente independente, agressivo, competente e dominador. Através da falsa redução da vida a uma luta pelo domínio, a máscara do poder é uma tentativa de fugir da vulnerabilidade da impotência

sentida na infância.”[11] A máscara do poder geralmente leva a pessoa a ser voluntariosa e agressiva.

Mas como criamos nossas máscaras? Todo indivíduo traz em sua bagagem cármica uma gama de tendências ou predisposições que geralmente são ativadas na infância. Nos primeiros anos de vida, a criança necessita do aconchego e proteção dos pais e espera uma constante demonstração de afeto e carinho. Todas as frustrações decorrentes de sua busca por amor e afeto paternos são processadas em sua mente de forma emotiva, não racional, e arquivadas inicialmente no consciente, refluindo depois para o inconsciente. Como o bebê e a criança ainda não têm capacidade para interpretar de forma madura esses acontecimentos e colocá-los em sua devida perspectiva, suas reações são

necessariamente imaturas, mas nem por isto deixam de criar imagens e estabelecer mecanismos de defesa.

A criança parece ser insaciável, sempre quer mais, achando que o mundo foi feito para ela, e que a mãe e o pai devem estar sempre a sua disposição para gratificar seus desejos e sua necessidade de

aconchego e amor. Essa é a sôfrega busca da felicidade pelo pequenino ser que está sendo introduzido à realidade da vida. Porém, apesar do seu amor aos filhos, os pais são, como todos os demais seres

humanos, imperfeitos em seu entendimento da natureza humana e, principalmente, em sua capacidade de demonstrar amor e atenção. Dessa forma, a reação dos pais em certas circunstâncias pode fazer com que a criança interprete uma negativa ou uma censura como indicação de que seu pai ou sua mãe não gostam mais dela.

Sendo um escudo protetor fabricado pelo homem para camuflar e proteger seu eu inferior, a máscara geralmente costuma ser negada pelas pessoas que não a conhecem ou não querem reconhecê-la, pois julgam-na cômoda. Como o objetivo da máscara é justamente esconder as negatividades da natureza inferior, sem que haja a identificação e a retirada consciente dessa barreira, o trabalho de

autotransformação não pode atingir a raiz do problema.

Jesus sempre condenou a falsidade e a hipocrisia, exemplificada no comportamento dos fariseus e levitas. Porém, os ensinamentos do Mestre não eram voltados exclusivamente para situações momentâneas de sua época, mas eram dirigidos a seus seguidores de todos os tempos. Por isso,

devemos buscar no âmago de nosso ser toda falsidade que por ventura possamos abrigar. Sabemos, no entanto, que a falsidade da máscara não é uma decisão consciente do indivíduo. A máscara é um

condicionamento arquivado nas profundezas do inconsciente, que vem à tona como uma reação a certas situações do cotidiano. Antes que o indivíduo se dê conta já falou ou agiu de acordo com a sua

programação inconsciente. Essa é uma das principais razões porque o indivíduo precisa de muita coragem, humildade e trabalho ingente para identificar a máscara, compreender que a proteção que oferece é efêmera e implica em altos custos para a saúde emocional, e que deve ser retirada para que o indivíduo possa participar da vida de forma saudável e responsável.

Os mecanismos de defesa não só dificultam o reconhecimento das falhas do eu inferior como, em alguns casos, obstruem a manifestação de certos aspectos do Eu Superior. Isso será mais facilmente

compreendido se examinarmos a concepção que temos de Deus. A imagem do Pai Celestial feita pelo adulto é geralmente uma decorrência da característica mais marcante que guarda de seus genitores. Se essa imagem for de pai e mãe amorosos, compreensivos e protetores, a tendência será estender essa impressão para o Supremo Pai-Mãe da humanidade. Nesse caso, a imagem de Deus será a de uma autoridade condescendente propensa a atender todas as vontades.

No caso de crianças com pais autoritários e severos, essa percepção será transferida para Deus, a autoridade suprema, a quem passarão a temer, procurando ilogicamente se esconder do Pai Celestial, por medo de serem castigadas por suas faltas. Como todos nós estamos cientes de termos cometido muitos pecados, a insegurança sobre o seu perdão leva-nos a temer mais do que amar a Deus. Essa atitude de medo de Deus e de insegurança sobre o outro mundo faz com que o indivíduo erga barreiras