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OS PRIMEIROS PASSOS A busca do caminho

O despertar para a realidade da vida é o primeiro passo na longa jornada da alma. Esse passo é muitas vezes desencontrado e sem direção certa, marcado somente pela determinação de sair do marasmo aprisionador em que a pessoa se encontrava anteriormente. Quando isso ocorre, o homem passa a ser um buscador da verdade.

A busca só começa quando estamos em condições de perceber o ‘chamado’. Uma vez ouvido em nossos corações, jamais conseguiremos esquecê-lo. Podemos negligenciá-lo por uns anos ou até mesmo por algumas vidas, mas, quando a alma desperta para a realidade espiritual, só descansará ao voltar à sua origem, ainda que isso possa levar muitas vidas de luta ingente com as paixões mundanas. O Pai,

através de seus auxiliares nos mundos espirituais e materiais, coloca em nosso caminho oportunidades para a busca. São amizades apropriadas, palestras reveladoras, livros estimulantes, enfim, toda uma série de circunstâncias favoráveis para a reorientação de nossa vida, da materialidade para a

espiritualidade.[1] Vale lembrar que as circunstâncias favoráveis incluem desapontamentos, crises e ajustes cármicos, pois o sofrimento é, geralmente, um instrutor mais eficaz do que a felicidade para o aprendizado da realidade última.

No início o aspirante busca, como as crianças brincando de ‘cabra cega’, tateando no escuro, procurando a verdade em grupos de apoio nem sempre idôneos, mudando de filiação sectária ou religiosa diversas vezes, demonstrando uma grande inconstância. Isso é natural e reflete a insatisfação que motiva a busca. A determinação do buscador e o uso do discernimento são suas garantias de que, no seu devido tempo, encontrará o Caminho, pois ele começa e termina no coração.

A necessidade da busca é mencionada explicitamente na Bíblia. Somos constantemente instados a buscar sem cessar e a bater à porta, porque ela se abrirá.[2] Em Atos é dito que “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, ... fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, ... para que procurassem a divindade e, mesmo se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora não esteja longe de cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17:24-28). Em meio a tantas demandas da vida familiar, social e profissional, o buscador sincero deve estabelecer suas reais prioridades. Por isso Jesus dizia: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça,

e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33). Essa busca é uma regra fundamental da vida espiritual. A busca persistente é indispensável para o sucesso, porque o próprio esforço da busca já predispõe o coração a mudar. É essencial, também, porque o Caminho só pode ser trilhado quando descobrirmos onde ele começa.[3] O esforço da busca não deve cessar nem mesmo na última etapa do caminho ocultista, a mais crítica, em que o candidato deve descobrir uma escola do verdadeiro

ocultismo, pedir admissão, ser aceito e receber instruções ou, como é dito em Pistis Sophia, descobrir e receber os mistérios. Os gnósticos eram particularmente insistentes na necessidade da busca. No

Ensinamento Autorizado encontramos: “Busque e investigue a respeito dos caminhos que deves trilhar,

pois não há nada que seja tão bom como isso.”[4] O místico, por sua vez, deve buscar o silêncio e a paz

que envolve a essência de nosso ser, ainda que viva na agitação e bulício do mundo, pois só em profunda quietude será capaz de encontrar Deus.

Essa busca envolve todos os aspectos do ser, para que haja um desenvolvimento harmonioso e

integrado do homem, como é sugerido e exemplificado no livro Luz no Caminho, numa passagem que parece sintetizar todo o caminho espiritual:

“Busca o caminho, retirando-te para o interior. Busca o caminho, avançando resolutamente para o exterior. Busca-o, mas não em uma direção única. Para cada temperamento existe uma via que parece ser a mais desejável. Porém, só pela devoção não se encontra o caminho, nem pela mera contemplação religiosa, nem pelo ardor de progresso, nem pelo laborioso sacrifício de si mesmo, nem pela estudiosa observação da vida. Nenhuma dessas coisas, por si só, faz adiantar o discípulo mais que um passo. Todos os degraus são necessários para subir a escada. Os vícios dos homens se convertem em degraus da escada, um a um, à proporção que vão sendo dominados. As virtudes do homem são, em verdade, degraus necessários, dos quais não se pode prescindir de modo algum. Entretanto, ainda que criem uma bela atmosfera e futuro feliz, são inúteis se estão isoladas. A natureza toda do homem deve ser

sabiamente empregada por aquele que deseja entrar no caminho. Cada homem é absolutamente para si mesmo o caminho, a verdade e a vida. Só o é, porém, quando domina firmemente toda a sua

individualidade e, quando pela energia de sua acordada espiritualidade, reconhece que esta

individualidade não é ele mesmo, mas uma coisa que ele criou trabalhosamente para seu uso e por cujo meio se propõe, à proporção que o seu crescimento desenvolve lentamente a sua inteligência, alcançar a vida além da individualidade. Quando sabe que para isso existe a sua assombrosa vida complexa e separada, então, em verdade, e só então, se acha no caminho. Busca-o submergindo-te nas misteriosas e esplêndidas profundidades do teu ser. Busca-o provando toda a experiência, utilizando os sentidos a fim de compreender o desenvolvimento e a significação da individualidade, a formosura e a obscuridade desses outros fragmentos divinos que contigo e a teu lado combatem e que formam a raça à qual

pertences. Busca-o estudando as leis do ser, as leis da natureza, as leis do sobrenatural: e busca-o prosternando a tua alma ante a pequena estrela que arde no interior. Enquanto vigias e adoras com perseverança, a sua luz irá sendo cada vez mais brilhante. Então poderás reconhecer que encontraste o começo do caminho. E quando chegares ao fim, a sua luz se converterá subitamente em luz infinita”.[5] Se por um lado Deus nos incita a buscá-lo, por outro, Ele nos aguarda pacientemente por toda a eternidade. O Senhor Supremo mostra Sua disposição de estar conosco, esperando somente que

é dito na Bíblia: “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3:20)

[1] A transição da materialidade para a espiritualidade não é tão simples. Numa primeira etapa, o ego orgulhoso tentará perseguir objetivos espirituais para obter reconhecimento e consideração, ou seja, poder e status. Só mais tarde é que o buscador se dará conta de que não basta fazer a coisa certa, mas é preciso, também, ter a motivação certa que, no caso da busca, deve ser alcançar a Verdade e superar todo egoísmo, orgulho e sentimento de separatividade. Essa etapa de transição foi chamada de

materialismo espiritual pelo monge tibetano Chögyam Trungpa, no livro Além do Materialismo Espiritual (S.P.: Cultrix).

[2] Mt 7:7 e Lc 11:9-10.

[3] Vide, nesse particular, o interessante livro de Rohrit Metha, Seek Out the Way, (Adyar, India: The Theosophical Publishing House, 1990).

[4] Authoritative Teaching, em The Nag Hammadi Library, op.cit., pg. 310. [5] Mabel Collins, Luz no Caminho (S.P.: Pensamento), pg. 21-22.

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V. O MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO Capítulo 11

OS PRIMEIROS PASSOS