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O MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO Natureza cíclica da manifestação

AS REGRAS DO CAMINHO

V. O MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO Natureza cíclica da manifestação

Outra grande lei universal é a natureza cíclica da manifestação. Em nossa vida quotidiana estamos

acostumados com certos aspectos dessa natureza cíclica, como a alternância de dia e noite, maré alta e baixa, nascimento e morte, inverno e verão, sístole e diástole, inspiração e exalação. Essa alternância cíclica é observável no macro e no microcosmo.

Os universos surgem e desaparecem. O Inefável permanece por inumeráveis eras recolhido em Silêncio e imobilidade, no que é conhecido no oriente como Pralaya, ou seja, um período extremamente longo de recolhimento. Finalmente, quando Ele assim decide, surge o movimento e a manifestação, chamado Manvantara em sânscrito, por período igualmente interminável pelos padrões humanos. Num sentido mais limitado, os astrônomos observam o aparecimento e o desaparecimento de estrelas e até mesmo de galáxias. Essa é conhecida como a segunda proposição fundamental da Doutrina Secreta: “A

Eternidade do Universo in toto, como plano sem limites; periodicamente ‘cenário de Universos inumeráveis, manifestando-se e desaparecendo constantemente’, chamados ‘as Estrelas que se

manifestam’ e ‘as Centelhas da Eternidade’.”[1]

A natureza cíclica da manifestação deixa implícito que tudo que existe é impermanente, seja o seu ciclo de vida de vários bilhões de anos, como os corpos siderais, ou de frações de segundo como as partículas subatômicas. Esse conceito sempre foi conhecido dos sábios de todas as tradições desde a mais remota antigüidade, e também está expresso numa maravilhosa passagem bíblica:

“Uma geração vai, uma geração vem, e a terra sempre permanece. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é lá que ele se levanta. O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando e girando vai o vento em suas voltas. Todos os rios correm para o mar e, contudo, o mar nunca se enche; embora chegando ao fim do seu percurso, os rios continuam a correr. O que foi será, o que se fez, se tornará a fazer; nada há de novo debaixo do sol!” (Ecl 1:5- 9)

Na vida do homem os aspectos mais externos da natureza cíclica são o nascimento e a morte. Esse processo, quando visto no seu sentido esotérico, representa, na verdade, a passagem do homem do plano visível (encarnação) para o invisível (a alma desencarnada vivendo em seus corpos sutis). Essas alternâncias entre vida e morte, materialização e sutilização, integram-se no grande ciclo da vida

humana, que é a descida da alma da fonte Una em sua longa peregrinação até seu retorno à origem. Como vimos, esse grande ciclo está retratado na Bíblia especialmente na Parábola do Filho Pródigo. O anel concedido pelo Pai ao Filho, naquela parábola (Lc 15:22), é o símbolo clássico da natureza cíclica. O

círculo, sem começo nem fim, simboliza a eterna alternância entre repouso e atividade da vida una em sua progressão cíclica infindável, sem começo concebível nem fim imaginável.

Um aspecto maravilhoso, mas nem sempre bem compreendido, da natureza cíclica é que cada nova etapa da manifestação humana, ou seja, cada nova encarnação, parece repetir ou recapitular as etapas do grande processo em seu último estágio. Assim, a vida humana começa como um virtual protozoário nas células zigóticas; após a fertilização no útero, as células começam a se multiplicar e assumem sucessivamente formas animais cada vez mais avançadas até adquirir a forma de um mamífero e, finalmente, de um ser humano quando a alma individual começa a dirigir seu processo de vida. Isso é expresso de forma clara na seguinte passagem:

“O corpo é um museu vivo de história natural, no qual todo o drama da evolução é recapitulado. Estudos sobre o desenvolvimento do feto mostram que, da concepção ao nascimento, uma criança passa por todos os estágios da evolução. A caminho de nossa forma humana, atravessamos a

hierarquia evolucionária.”[2]

Uma vez transposto o limite da vida uterina, inicia-se uma nova etapa cíclica, o reaprendizado humano propriamente dito. Mesmo as almas avançadas, até mesmo os grandes Mestres, precisam aprender a engatinhar, a caminhar, a pronunciar os sons, a falar, a perceber e distinguir os objetos exteriores com seus nomes e formas. O processo continua com o reaprendizado de conceitos e idéias em diferentes níveis, tanto das coisas materiais como das espirituais. Dois fatos, no entanto, distinguem esse processo de reaprendizado das almas avançadas: primeiro, sua aparentemente incrível facilidade para o

aprendizado e uma memória prodigiosa; segundo, as circunstâncias favoráveis relacionadas a sua

família e ao ambiente exterior, possibilitando um progresso acelerado para que a alma possa atingir seu patamar de realização anterior em tempo hábil, para então começar a trabalhar no que poderíamos chamar de sua missão para a atual encarnação.

Vemos claramente esse processo de aprendizado na história conhecida de grande Mestres como Sidarta Gautama, Pitágoras, Jesus e Apolônio de Tiana. A tradição budista tibetana conhece profundamente esse processo dada sua experiência com a identificação da reencarnação de seus mestres, que são treinados desde cedo para reassumir suas funções com a maior brevidade possível. Isso não significa, porém, que os pequenos lamas não tenham que fazer um grande esforço, dedicando-se longas horas, por muitos anos, para retomar mais uma vez o domínio das matérias que já haviam desenvolvido e ensinado em suas encarnações anteriores. E ocorrem casos, verdade seja dita, em que as realizações espirituais numa nova encarnação parecem ficar aquém das realizações alcançadas na encarnação ou encarnações anteriores. Esse fato explica-se pela operação de outra lei, a do livre arbítrio, que será examinada mais adiante.

Nesse sentido, poderíamos dizer que o propósito de cada encarnação é o nosso retorno à Escola da Vida, para reiniciarmos o processo de aprendizado rumo a meta suprema, a Perfeição. No entanto, o ser

humano imaturo, que é a grande maioria da humanidade, freqüenta essa Escola com a mesma atitude da maior parte das crianças que vai à escola. Seu principal interesse é o recreio e a merenda, divertir-se e encher a barriga. Acham muitas matérias chatas e em vez de prestar atenção à aula deixam a mente

divagar por seu mundo de fantasia interior. Não é de estranhar que o rendimento escolar seja tão deficiente, necessitando, às vezes, a repetência de certas matérias.

Cada ser humano vem ao mundo com um determinado currículo para sua aprendizagem. Seu ambiente familiar, social, profissional, enfim, as circunstâncias de sua vida e, principalmente, de seus

relacionamentos são seus instrutores. Todas as lições sobre negatividades e fraquezas que não foram resolvidas em vidas anteriores terão que ser reestudadas, ou seja, vivenciadas outra vez, só que de uma forma mais contundente para que tenha mais chance de aprender a lição desta vez.

Esse é um dos aspectos mais negligenciados do saber humano, o autoconhecimento. A personalidade tem medo de voltar a atenção para si mesma, pois isso, inevitavelmente, vai desvelar suas falhas, seus podres, se assim podemos chamá-los, que ela procura por todos os meios encobrir e racionalizar como se fossem o resultado de circunstâncias desfavoráveis ou da falta de compreensão dos outros. Esses mecanismos de autodefesa do eu inferior[3] dificultam, quando não impedem, que as devidas lições da vida sejam aprendidas.

A natureza cíclica, dentro do processo evolutivo, também pode ser observada no que poderíamos chamar de períodos de grandes realizações e de retraimento, de entusiasmo e de melancolia. Todo aspirante percebe que durante alguns meses ou anos a aspiração espiritual e o idealismo estão em ponto máximo, facilitando e estimulando o trabalho de autotransformação. Esses períodos favoráveis parecem ser seguidos de fases difíceis em que até a meditação parece árida e estéril, em que o

entusiasmo e a dedicação parecem abandoná-lo. Essa alternância ocorre até mesmo na vida dos grandes seres. Na história da vida de Cristo, como retratada na Bíblia, observam-se momentos de

grande atividade e sucesso do seu ministério terreno,[4] sintetizados pela passagem em Mateus: “Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas e pregando o evangelho do reino,

enquanto curava toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9:35), vindo logo após seu martírio e morte violenta nas mãos daqueles que procurava ajudar.

O processo de transformação, com uso das forças criativas à disposição do homem, deve levar em conta essas alternâncias entre atividade e descanso típicas da vida comum. O aspirante deve fazer todo o possível para redirecionar sua vida, identificando prioridades e estabelecendo metas. Porém, devemos ter sempre em mente que não conhecemos todas as limitações que restringem nossa vida na Terra, como por exemplo certos débitos cármicos que podem exigir mais tempo em algumas das situações negativas em que nos encontramos. Sabendo, no entanto, que a Lei é inexorável e que conseqüências positivas seguem-se a atos positivos, devemos confiar nossa vida a Deus que, com sua Misericórdia infinita, procura todas as oportunidades para facilitar o nosso progresso, pois esse é, em última instância o objetivo final do Plano Divino. Portanto, devemos desenvolver também a paciência e a confiança em Deus como parte do processo criativo, assim como o agricultor tem confiança que, uma vez plantada a semente em solo fértil, sendo ela regada e protegida das ervas daninhas, a Divina Providência, cuidará do resto, em seu devido tempo.

[1] A Doutrina Secreta, op.cit., vol. I, pg. 84. [2] O Paradigma Holográfico, op.cit., pg. 115. [3] Vide Glossário.

[4] The Christ Life from Nativity to Ascension, op.cit., pg. 218. Voltar

OS ENSINAMENTOS DE JESUS E A TRADIÇÃO ESOTÉRICA CRISTÃ AS CHAVES QUE ABREM O REINO DOS CÉUS NA TERRA

V. O MÉTODO DE TRANSFORMAÇÃO