• Nenhum resultado encontrado

A nível paradigmático, de acordo com Cohen, Manion e Morrison (2000), existem três tradições, que constituem três conjuntos distintos de pressupostos e valores que orientam uma pesquisa: positivista; interpretativa e crítica.

A tradição positivista concebe um procedimento “científico exato,” livre de valores, em que o investigador assume uma posição neutra, e visa, partindo de uma amostra e do estabelecimento de relações causa-efeito, a generalização dos resultados.

O paradigma interpretativo “pretende substituir as noções científicas da explicação, previsão e controlo do paradigma positivista pela compreensão, significado e ação” (Coutinho, 2011, p.16), num processo em que produção de conhecimento é um “processo iterativo e em espiral”, com interação entre o investigador e o investigado.

No paradigma crítico o conhecimento científico surge associado a agentes culturais e sociais e visa uma intervenção, isto é, procura contribuir através de um processo de construção e reconstrução da teoria e da prática, para alteração da realidade.

O objeto desta pesquisa alvitra para um estudo que abrange preferencialmente uma natureza interpretativa, que visa conhecer e dar a conhecer a grandeza da diversidade individual, partindo do ponto de vista de quem o vive.

Uma vez identificado o “referencial filosófico”, é altura para transpormos ao nível metodológico. As metodologias de investigação, de acordo com Creswell (2003), abarcam três tipos de abordagem ou perspetivas: quantitativa (observação e medição empírica para verificação de teoria ou de explicações - pós-positivistas); qualitativa (estudo empírico numa perspetiva construtivista que visa o entendimento dos significados múltiplos, ou, orientado para a mudança, isto é de carácter emancipatório) ou mista (prática direcionada para o mundo real, focalizada no problema e nas consequências das ações).

A abordagem qualitativa - frequentemente utilizada para estudos direcionados para a compreensão das ações humanas nos diversos campos das ciências sociais – foi a acolhida para o estudo deste fenómeno no seu contexto natural, para a interpretação e para a leitura do enquadramento global, tendo-se executado um percurso muito semelhante ao entendimento de abordagem qualitativa de Denzin & Lincoln (1994): do terreno ao texto e do texto ao leitor. Através deste processo interativo ambiciona-se alcançar um conhecimento rico, profundo e holístico do objeto de estudo.

Na investigação qualitativa parte-se dos dados recolhidos e procura-se analisar a realidade de forma global e contextualizada (Almeida e Freire, 2000), com o intuito de descrever e compreender o fenómeno em causa. O investigador à medida que vai recolhendo dados vai edificando os preceitos teóricos, selecionando os procedimentos e (re)desenhando a investigação. Assim, “a investigação qualitativa é uma perspetiva multimetódica que envolve uma abordagem interpretativa e naturalista do sujeito de análise ” (Denzin & Lincoln, 1994, p.2).

A uma pesquisa inserida num paradigma interpretativo, com uma abordagem metodológica qualitativa, podem associar-se vários métodos de investigação.

Em educação, embora não constitua uma premissa, o estudo de caso é um dos métodos mais comuns na investigação qualitativa, Coutinho e Chaves (2002), referem essa evidência e referem, de igual modo, a existência de estudos de caso, igualmente relevantes e lícitos, em que se combinam métodos quantitativos e qualitativos.

O método escolhido para este estudo em pequena escala - estudo de caso - é uma das estratégias de inquérito proposta para a abordagem qualitativa de Creswell (2003) e está em concordância com o entendimento de Yin (2009), que concebe a utilização do método, de forma abrangente, para, entre outros, narrar intervenções no

METODOLOGIA

contexto em que ocorrem, visando conhecer os “como” e os “porquê”, podendo incluir estudos de caso único ou de múltiplos casos, assim como abordagens quantitativas e qualitativas de pesquisa.

Outra visão ampla chega-nos através de Coutinho (2011) que considera que um “caso” pode ser: um sujeito; um grupo; uma organização; uma comunidade ou mesmo um país. Segundo Stake (1998), um “caso” é um sistema confinado, em que as partes estão incorporadas, e, cujo interesse potencializa um estudo. Este autor concebe o estudo de caso pela relevância dos casos individuais e não pelos métodos de investigação que pode compreender.

Neste estudo indagamos, através da descrição e da análise, apreender a dinâmica do objeto de estudo – o projeto interdisciplinar-, numa perspetiva semelhante à de Ponte quando se refere ao estudo de caso:

“É uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspetos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse.” (Ponte, 2006, p.2)

Isto é, partimos do pressuposto de que se pode obter conhecimento do fenómeno investigado a partir da perscrutação intensa de um caso singular e de que este procedimento, singular, que procura expor o fundamental e o particular – identidade própria - é um método indicado para investigadores isolados, (Bell, 2004), podendo contribuir de forma positiva, através da profundidade da interpretação, para a compreensão da complexidade dos fenómenos humanos e sociais nas comunidades escolares.

Não obstante, a utilização, cada vez mais frequente deste método, em pesquisas científicas orientadas, persistem-lhe, ainda, preconceitos associados, tais como a manipulação de dados, a parcialidade, ou impossibilidade de generalizações científicas. Mas, por vezes, as críticas são justificadas, pois também têm aparecido, os “falsos estudos de caso”, baseados em simples relatos históricos ou em análises intuitivas. Em 1994, Yin refere também a falta de rigor, deste método enquanto plano de investigação, porém, em 2002, refere que as limitações supracitadas, não são intrínsecas à prática do estudo de caso e podem surgir com a utilização de outros métodos se o pesquisador for inexperiente, e propõe quatro testes para aferir a qualidade da pesquisa de um estudo de caso: validade do constructo; validade interna; validade externa e confiabilidade.

A literatura aponta alguns problemas e fontes de erros que podem limitar e comprometer a validade de estudos com abordagens metodológicas qualitativas suportadas em estudos de casos únicos.

Um investigador participante inexperiente, como é o da circunstância deste estudo, terá mais dificuldade em lidar com dilemas como: definição do grau “adequado” de participação; flutuações individuais ocasionais, como a fadiga, a disposição, e a (des)motivação; efeito de Hawthorne – alteração do comportamento do sujeito pela participação no estudo -; e efeito de Halo – contaminação de dados pela imagem positiva que o investigador tem do sujeito. Também, a produção de dados, a análise e a interpretação dos mesmos, são da autoria do investigador, daí que enfrente o paradoxo objetivismo versus subjetivismo.

Neste estudo, com o intuito de não enviesar o conhecimento e a interpretação da realidade, procurou-se a articulação na prática dos dois conceitos, procurando a “dose ideal” de subjetividade, tarefa de exigência árdua para um investigador inexperiente. Procedeu-se, de igual modo, a uma rigorosa e pormenorizada recolha e análise dos dados, conjugando fontes diversificadas de informação e distintos instrumentos de recolha de dados. A informação recolhida foi sujeita a uma triangulação interna, através da análise sistemática das recolhas, e alvo de uma leitura articulada com a contextualização teórica.

O quadro 2 apresenta, esquematicamente, o paradigma e a metodologia e inerentes a esta pesquisa.

Quadro 2 - Paradigma e metodologia da pesquisa

PARADIGMA