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2. O FENÔMENO DOS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

2.4. Os impactos da realização de megaeventos esportivos nas suas localidades-sede

Sediar um megaevento tem se tornado um objetivo a ser alcançado pelos mais diversos países, o que se refletiu no aspecto competitivo que tomou a escolha de uma cidade-sede de Jogos Olímpicos de Verão ou de um país-sede de Copa do Mundo de Futebol FIFA.

Ter a sua cidade escolhida entre outros importantes centros mundiais, pelos diversos fatores que apresentamos, se converteu numa meta a ser atingida pelas candidaturas que tem sido realizadas para sediar os referidos eventos, num contexto em que inúmeras garantias são realizadas não só pelas entidades esportivas nacionais como pelos próprios governos nacionais anfitriões.

No entanto, nas mais diversas localidades onde ocorrem, o almejado “legado” com tais eventos compreende não somente as modernas e atraentes melhorias urbanas que são mostradas nas imagens das candidaturas, como também profundos impactos nas mais diversas áreas dessas

Comunidade Britânica das Nações (Commonwealth Games Federation - CGF) e do Conselho Olímpico Asiático (Olympic Council of Asia).

sociedades acolhedoras de megaeventos esportivos. Em nossa análise, dividimos os principais impactos que tem se evidenciado nas ordens político-jurídica, econômica e social.

Preuss, (apud Tavares, 2007), abordando os impactos da realização dos megaeventos esportivos em suas localidades-sede, os dividiu em determinadas categorias, estabelecendo sua ocorrência nas áreas física/ambiental, social/cultural, psicológica e política/administrativa das localidades sede. Neste ponto, destacamos a tabela sistematizada pelo autor:

TABELA 02

Os impactos da realização de megaeventos esportivos

Fonte: Preuss, apud Tavares, 2007, Megaeventos Esportivos p. 24

Dessa forma, Holger Preuss vai ao encontro da abordagem feita por Kunsch (2008) realizada no início do presente Capítulo, destacando os autores o aspecto da excepcionalidade que esses eventos possuem, como fenômenos sociais que refletem em diversos impactos que

quebram a normalidade dos grupos sociais que os recebem. Em nossa análise já abordamos alguns dos aspectos considerados positivos pelo autor, como o aumento do nacionalismo e o maior reconhecimento internacional.

No presente tópico pretendemos analisar os principais impactos causados por tais eventos nas localidades que se propõem a realiza-los, considerando inicialmente que se muitos dos aspectos considerados positivos na classificação de Holger Preuss ocorrem em benefício de uma seleta minoria35, grande parte dos aspectos tidos pelo autor como negativos tem que ser suportada

de forma geral por toda a coletividade desses locais anfitriões.

No âmbito psicológico, destacamos o que foi apresentado pelo autor no tocante à manipulação comercial das populações residentes nesses locais, reflexo da atuação da parceria mídia/empresariado, resultando no analisado processo de alienação social na moderna sociedade de espetáculo.

Entre os aspectos negativos envolvidos no âmbito político, destacamos os nefastos elementos relacionados à corrupção e ao superfaturamento que muitas vezes se verificam nas obras de infraestrutura urbana, com elevados desperdícios de verbas públicas que são intensamente prejudiciais à economia dessas localidades-sede.

No entanto, em que pese a relevância dos dois impactos políticos apresentados, a corrupção e o superfaturamento de obras, destacamos como principal impacto político, a mitigação da soberania nacional decorrente dos compromissos e garantias firmadas pelos países sedes com as organizações internacionais esportivas para que possam receber tais eventos. Tais mudanças envolvem até mesmo a adaptação da legislação local desses países soberanos, de modo que suas leis internas, nos pontos em que podem conflitar com os interesses das aludidas entidades esportivas, não se tornem “entraves jurídicos” para sua ocorrência.

Para dar viabilidade legal e jurídica à Copa do Mundo FIFA 2010, sediada pela África do Sul, o parlamento daquele país soberano aprovou os Atos 1136 e 1237, contendo diversas

35 De acordo com a abordagem feita no presente trabalho, essa minoria seria composta pelas organizações

internacionais esportivas, pelos grandes conglomerados da mídia nacional e internacional, pelas grandes empresas que patrocinam os eventos e que anunciam seus produtos nos espaços de cobertura feita pela mídia, além de representantes políticos que se beneficiam da atração de megaeventos a suas regiões de origem, além de demais sujeitos nas localidades-sede que vislumbram na complexa cadeia econômica de produção de megaeventos oportunidades de obtenção de lucros, como o setor da construção civil, que obtém altos lucros com a transformação das cidades-sede de megaeventos esportivos em verdadeiros “canteiros de obra”.

36 2010 FIFA World Cup South Africa Special Measures, Act 11/2006. (Ato de Medidas Especiais para a Copa do

Mundo FIFA 2010 África do Sul, tradução livre). Disponível em: <http://www.gov.za/documents/download.php ?f=67837>. Acesso em: 15 de novembro de 2013.

mudanças na legislação nacional, muitas delas conferindo benefícios comerciais às empresas patrocinadoras do evento e à FIFA, o que refletiu na prática em diversas restrições de oportunidades de trabalho de milhares de cidadãos sul-africanos que foram impedidos de desenvolver livremente suas atividades no trabalho informal nas cidades-sede sul-africanas.

No entanto, entre as principais mudanças implementadas na legislação da África do Sul sediar a Copa do Mundo FIFA 2010, o impacto jurídico mais marcante foi a implantação, exclusivamente para aquele torneio de futebol, de um novo Poder Judiciário, que contou com 56 (cinquenta e seis) Tribunais da Copa do Mundo, nos quais atuaram mais de 1.500 (mil e quinhentos) profissionais, incluindo magistrados, promotores, defensores públicos e intérpretes. Deve ser destacado que nesses tribunais de exceção a tramitação dos processos ocorreu de forma bem mais rápida do que a justiça ordinária africana, que sofre diversas limitações que também se repercutem na lentidão da tramitação dos processos naquele país38.

Outro exemplo que pode ser citado para exemplificar as mudanças implementadas que tais eventos realizam no direito interno de suas localidades-sede é o caso do Brasil, que, como sede da Copa do Mundo FIFA 2014, também objetivando sua confirmação como sede do megaevento, teve que prestar à FIFA diversas de garantias, que incluíram diversas modificações no direito interno brasileiro. O exemplo mais marcante dessa mitigação da soberania brasileira foi a edição da Lei nº 12.663, de 05 de junho de 2012, conhecida popularmente por Lei Geral da Copa, que será devidamente analisada no Capítulo 04 do presente trabalho.

Além dos aspectos psicológicos, políticos e jurídicos, diversos aspectos econômicos podem ser apresentados como reflexo da opção de uma localidade por sediar um megaevento esportivo. Conforme o analisamos no Gráfico 02, os elevados gastos realizados pelos governos das sedes desses eventos pode resultar em elevados índices de endividamento público e no consequente comprometimento da prestação adequada de serviços igualmente públicos à população local, como saúde ou educação.

Já tratamos dos paradigmáticos casos de Montreal (1976) e de Atenas (2004), através dos quais podemos perceber que o prometido “legado” desses eventos pode se transformar num

37Second 2010 FIFA World Cup South Africa Special Measures, Act 12/2006. (Segundo Ato de Medidas Especiais

para a Copa do Mundo FIFA 2010 África do Sul, tradução livre). Disponível em: <http://www.info.gov.za/view/ DownloadFileAction?id=67838>. Acesso em: 15 de novembro de 2013.

38 WORLD Cup 2010: Fans, robbers and a marketing stunt face justice, FIFA style. (COPA do Mundo 2010: Fãs,

Ladrões e uma estratégia de marketing encaram a justiça, ao estilo FIFA, tradução livre). The Guardian, Londres, 20 de junho de 2010. Disponível em: <http://www.theguardian.com/football/2010/jun/20/world-cup-2010-fans- marketing-justice-fifa>. Acesso em: 15 de novembro de 2013.

pesado ônus a ser suportado por toda a coletividade, não somente no tocante aos elevados gastos públicos com a construção dos estádios e demais palcos das competições esportivas, como também em relação às verbas exigidas para sua manutenção.

Essa reformulação de prioridades de destino de verbas públicas que a promoção de megaeventos esportivos imprime em suas localidades-sede, no tocante ao direcionamento de recursos financeiros de origem pública às obras de infraestrutura necessárias à sua ocorrência, se torna ainda mais contraditória no caso de países-sede em desenvolvimento, como o estudado grupos de países BRICS, que, apesar de elevados índices de crescimento econômico, ainda apresentam diversas insuficiências no fornecimento adequado de serviços essenciais à população mais pobre. No caso desses países, utilizar elevados montantes de recursos públicos em um único evento esportivo, de curta duração, em detrimento de investimentos em educação ou em saúde se revela algo bastante antidemocrático, inclusive no sentido de que as despesas decorrentes de um megaevento são custeadas por todos os cidadãos desses países, através do pagamento de tributos, ao passo que os maiores beneficiados economicamente com um evento de grande porte seriam uns poucos agentes que se beneficiariam econômica ou politicamente com sua ocorrência.

O outros impactos que poderíamos considerar da realização de megaeventos esportivos seria sua influência nas tradições culturais de suas localidades-sede. Com a devida vênia, discordamos da classificação de Holger Preuss a respeito de um suposto fortalecimento dos valores e das tradições regionais provocados por megaeventos esportivos em suas localidades- sede, que, segundo o autor, seria um aspecto positivo no âmbito social/cultural. Ocorre que, muitas vezes os interesses comerciais envolvidos nesses espetáculos mundiais colidem com as tradições locais de sias sedes, em detrimento dessas últimas.

Ao analisarmos o caso do Brasil como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 e seus impactos no âmbito cultural, podemos tomar o exemplo do caso do acarajé baiano, que sofreu inicialmente inúmeras restrições no tocante a sua comercialização, notadamente devido à parceria firmada entre a organização do evento e o McDonald’s, rede internacional de fast food que é o restaurante oficial da Copa do Mundo de 2014.

Assim, os formatos de tais eventos, ao serem padronizados pelas instituições internacionais esportivas, tendem a mitigar ou suprimir elementos da cultura local que vão de encontro a seus interesses econômicos. Poderíamos também ilustrar tais impactos culturais com o caso do Catar, confirmado como sede da Copa do Mundo FIFA de 2022, que é um país cuja

maioria da população adota a religião islâmica, que imprime restrições ao consumo de bebidas alcoólicas. No entanto, o país terá que adaptar seus costumes e tradições locais e aceitar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, uma vez que a maior cervejaria do mundo39, a Anheuser-

Busch InBev, dona da marca Budweiser, é patrocinadora oficial do evento.

Apesar de considerarmos que todos os outros tipos de impactos repercutiriam em maior ou menor intensidade na sociedade-sede de um megaevento esportivo, analisando a classificação elaborada por Holger Preuss, verificamos que aqueles impactos que teriam o caráter mais opressor seria a categoria “impactos sociais”, que revelariam aquilo que haveria de mais antidemocrático na realização desses espetáculos.

Na escolha do local das cidades-sede onde ocorrem as competições esportivas, tomando o exemplo das edições dos Jogos Olímpicos, percebemos que os agentes encarregados de sua realização procuram utilizar áreas urbanas abandonadas pelos governos locais, locais decadentes, com populações vivendo à margem da sociedade local, com famílias carentes dos mais diversos serviços públicos.

Através de projetos de intervenções urbanas que buscam “requalificar” essas áreas, a organização realiza inúmeras adaptações com o objetivo de adequar essas regiões esquecidas dos centros urbanos aos já aludidos “padrões internacionais de qualidade” que são estabelecidos pelas organizações internacionais esportivas. Essas intervenções se refletem na expulsão dessa população excluída socialmente para outros locais dos centros urbanos, num conhecido processo de higienização social.

Tal processo repercute no embelezamento de tais áreas, com um processo de modernização que inclui a construção de estádios, centros olímpicos, zonas de mídia, entre diversas outras estruturas. Os agentes promotores dessas ações, os governos estaduais, as prefeituras municipais ou o governo federal, geralmente procuram utilizar a mídia para divulgar essas impactantes iniciativas e assim legitimar socialmente esses projetos, que passam a ter o apoio da grande população dessas localidades-sede, mascarando os impactos diretos na vida de milhares ou milhões de pessoas que são removidas com esses impactantes projetos de

39 Conforme informação veiculada na imprensa nacional, em 2008 a cervejaria belgo-brasileira InBev comprou a

rival americana Anheuser-Busch, dona da marca Budweiser, por US$ 52 bilhões. Com a aquisição, a empresa se torna líder mundial na indústria cervejeira e uma das cinco maiores empresas de produtos de consumo do mundo. Em: INBEV compra dona da Budweiser por US$ 52 bilhões. G1, São Paulo, em 14 de julho de 2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL645479-9356,00INBEV+COMPRA+DONA+DA+ BUDWEISER+POR+US+BILHOES.html>. Acesso em: 11 de novembro de 2013.

“requalificação” ou “revitalização”.

Esse fenômeno de higienização social, ligado às intervenções urbanas em sedes de megaeventos esportivos, ocorre não somente na construção de estádios e demais locais de competições esportivas, como também na implementação de projetos de mobilidade urbana e em outras ações tendentes a adequar a infraestrutura local das grandes cidades-sede à ocorrência dos espetáculos.

Com tais políticas higienistas, são efetuadas diversas violações aos direitos humanos da população residente nessas regiões, em especial o direito à moradia adequada, prejudicando as famílias afetadas de múltiplas formas, uma vez que alteram o acesso dos moradores a seus locais de trabalho, modificam as relações interpessoais entre os moradores com a ruptura de laços de uma vida toda, além de alterar a própria relação afetiva desenvolvida por essas pessoas para com o ambiente onde vivem, e de criar situações de inquietação que muitas vezes não podem ser suportadas por moradores de idade mais avançada.

Henri Lefebvre (2001), dispondo sobre as diversas tensões sociais existentes nos grandes centros urbanos, destaca a ideia de que o ser humano possuiria diversas necessidades que deveriam ser satisfeitas nos locais onde vivem, mas que encontrariam inúmeras dificuldades no sentido de serem realizadas devido à existência de uma excludente e segregadora lógica capitalista nesses espaços urbanos.

Segundo Lefebvre, essas dificuldades corresponderiam a diversas restrições que seriam impostas aos indivíduos no tocante a seu acesso a determinados espaços da cidade, sobretudo àqueles excluídos por esse sistema. O resultado disso seria um processo de privatização de espaços inicialmente públicos, em detrimento de uma gestão democrática e participativa desses centros urbanos. Nesse ponto relacionamos as concepções do autor sobre essa privatização da cidade com o fenômeno de higienização social que por vezes está ligado à implementação de obras ligadas a megaeventos esportivos. Essa população pobre, excluída socialmente, além de não ter acesso a esses exclusivos estádios e demais locais de competição, é encarada como um empecilho para esses espetáculos e, em processos de remoção intensamente traumáticos e opressores, passa a ser excluída novamente pelo Poder Público com esses processos higienistas.

COHRE40intitulado “Diretrices para las partes Implicadas em Megaeventos sobre la Protección

y la Promoción del Derecho a la Vivienda”41. Nele, são trazidos inúmeros casos concretos de

violações dos direitos humanos de populações de cidades-sede de megaeventos esportivos, nas mais diversas localidades do globo terrestre.

Entre alguns dados mais impactantes dados contidos no aludido relatório, podemos destacar que na edição dos Jogos Olímpicos de Seul (1988), cerca de 720.000 (setecentas e vinte mil) pessoas foram removidas de suas moradias devido a obras relacionadas ao evento. No caso de Atlanta (2004), mais de 30.000 (trinta mil) pessoas foram desalojadas, e em Pequim (2008), foram removidas de suas casas mais de 1.250.000 (um milhão e duzentos e cinquenta mil) pessoas em intervenções urbanas ligadas ao megaevento esportivo na cidade.

A Relatora Especial da Organização das Nações Unidas para o Direito à Moradia Adequada, Raquel Rolnik, se dirigindo ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, ao tratar do fenômeno internacional das violações ao direito à moradia que internacionalmente se relaciona às intervenções feitas nas localidades-sede de megaeventos esportivos, assim afirmou:

Podem citar-se os seguintes exemplos de despejos devidos à construção de áreas esportivas e de alojamento para os visitantes e às melhoras na infraestrutura:

a) em Seul, 15% da população sofreram despejos forçados, e se demoliram 48 mil edifícios antes dos Jogos Olímpicos de 1988;

b) em Barcelona, desalojaram-se 200 famílias com a finalidade de dar lugar à construção de novos anéis viários antes dos Jogos Olímpicos de 1992;

c) em Beijing, nove projetos relativos à construção do local, de superfície de mais de 1 milhão de metros quadrados, exigiram o reassentamento dos moradores; houve denúncias de despejos massivos, realizados às vezes por homens não identificados no meio da noite e sem aviso prévio, e durante os quais se submeteu os moradores e ativistas por moradia a repressão, ameaças e detenções arbitrárias;

d) em Nova Delhi, 35 mil famílias foram desalojadas de terras públicas para preparar os Jogos da Commonwealth de 2010;

e) na África do Sul, o projeto de moradias N2 Gateway, que compreendia a construção de moradias de aluguel para a Copa do Mundo de 2010, teve como consequência a remoção de mais de 20 mil moradores do assentamento informal de Joe Slovo, e se realocou os moradores em áreas pobres nos limites da cidade;

f) em Londres, a ordem de expropriação emitida para a organização dos Jogos Olímpicos

40 Centre on Housing Rights and Evictions (Centro de Direito à Moradia e Remoções, tradução livre) é uma ONG

que trabalha internacionalmente a temática dos direitos humanos com enfoque ao direito à moradia adequada. Fundada em 1994, procura resguardar esse importante direito, bem como evitar remoções forçadas em todo o mundo.

COHRE. About Us (Quem somos, tradução livre). Disponível em: <http://www.cohre.org/about-us>. Acesso em: 15

de novembro de 2013.

41 O relatório “Diretrices para Todas las Partes Implicadas em Megaeventos sobre la Protección y la Promoción del

Derecho a la Vivienda” é resultado de trabalhos realizados pela COHRE com a colaboração da Rede Universitária Internacional de Genebra (RUIG). COHRE. Files (Arquivos, em tradução livre). Disponível em: <http://www.cohre.org/sites/default/files/multi_stakeholder_guidelines_2007_esp.pdf>. Acesso em: 15 de novembro de 2013.

de 2012, que outorga atribuições às autoridades locais para reunir a terra necessária para importantes projetos de regeneração, obriga os residentes a abandonar os distritos olímpicos (ROLNIK, 2009) 42.

Nesse sentido, entendemos que esse excludente processo de aburguesamento implementado nas localidades sede de megaeventos esportivos, se revela algo extremamente antidemocrático e socialmente desagregador, na medida em que impactando na vida de milhares ou milhões de indivíduos que não se incluem nessa seleta classe burguesa, destinatária principal desses grandes espetáculos, passam a ser tidos como pessoas indesejáveis a serem removidas desses espaços urbanos que são remodelados e prontos para serem consumidos, em processos de remoção que se mostram higienistas, seletivos, excludentes e opressores.

Dessa forma, percebemos que nas localidades-sede de megaeventos esportivos ocorrem impactos nas mais variadas áreas, envolvendo aspectos psicológicos, políticos, jurídicos, sociais e culturais. Necessário se torna que os governantes dessas regiões procurem evitar ao máximo a ocorrência desses impactos e a preservação dos interesses dessa população local, protegendo seus cidadãos dos nefastos efeitos que esses espetáculos, que endividam países, suprimem a aplicação de leis, alienam a sociedade, devoram casas, rompem laços de amizade, destroem famílias e acabam com vidas.

Evitando ou eliminando os impactos negativos causados por megaeventos esportivos, os países que os recebem podem assegurar diversos direitos de milhões ou bilhões de pessoas, e não somente os lucros de um punhado de empresas ou de instituições internacionais sedentas por dinheiro, o que significa que, servindo àqueles para quem realmente devem existir, os Estados podem dar um importante passo na garantia da efetivação dos direitos humanos e, assim, contribuir para um mundo mais justo e menos desigual.

42 Informe da Relatora Especial sobre moradia adequada como elemento integrante do direito a um nível de

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