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2. O FENÔMENO DOS MEGAEVENTOS ESPORTIVOS

2.3. Os objetivos pretendidos com a realização de megaeventos esportivos por seus países-

2.3.3. Os megaeventos esportivos e seu significado para os países BRICS

O termo BRICS é um acrônimo que reúne as iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China, que compunham um original grupo de países BRIC, que teve a posterior inclusão da África do Sul, passando a formar o termo mundialmente conhecido BRICS.

Esse grupo de países, que inicialmente foram agrupados por um grupo de economistas que os classificaram segundo critérios essencialmente econômicos, passou a ser encarado sob o enfoque de sua importância para a geopolítica mundial. Nesse sentido, Reis (2011, p. 34), destacando a sua importância para o cenário internacional, destaca que:

Atualmente, os países dos BRICS representam 43,03% da população mundial, 18% do Produto Interno Bruto (PIB) nominal mundial (25% do PIB per capita), 25,91% da área terrestre do planeta e 46,3% do crescimento econômico global de 2000 a 2008. Ademais, de acordo com a previsão divulgada pelo FMI em 24 de janeiro de 2012, os países do grupo deverão contribuir com 56% do crescimento do PIB mundial em 2012. (REIS, 2011, p. 34)

Ocorre que, de mero agrupamento informal de países por motivos econômicos, o grupo passou por um processo de institucionalização, com a realização da Primeira Reunião de Cúpula do BRIC, em junho de 2009, na cidade russa de Ecaterimburgo, que reuniu os líderes dos quatro países com o objetivo de reforçar a sua posição como emergentes no cenário mundial, sobretudo

nas reuniões internacionais de temática econômica, como as reuniões do G-831 e do G-2032. Com

a admissão formal da África do Sul como membro integral em 2011, o grupo oficialmente passou a se chamar BRICS.

O aumento da importância econômica desse grupo de países no cenário mundial logo pôde ser utilizado por seus governos de forma que essa importância também pudesse repercutir nos âmbitos político, diplomático, militar e cultural. Assim, tais países buscaram que o seu sucesso na economia fosse transplantado para outras áreas com o objetivo de fortalecer a sua imagem internacionalmente.

Nesse contexto, tais países desenvolveram estratégias de atração e de realização de megaeventos esportivos, que, diante do aumento do caráter de mobilização internacional por eles adquirido, passaram a ser vistos como fundamentais no sentido de mostrar ao mundo que as melhorias vivenciadas por eles não teriam ficado restritas ao âmbito econômico, pois teriam repercutido no ganho de sua importância como atores na geopolítica mundial.

Como exemplos desse fenômeno já destacamos os esforços realizados pelo governo chinês para levar os Jogos Olímpicos de 2008 para a cidade de Pequim, objetivando não somente mostrar ao mundo os excelentes resultados do modelo econômico chinês que havia garantido ao país sucessivos anos de elevado crescimento econômico, como também a emergência de uma nova potência mundial.

Outros países asiáticos já tinham experiência na realização de eventos de tal porte, pois o Japão já havia sediado os Jogos Olímpicos de Verão de 1964 e a Coréia do Sul tinha sido sede dos Jogos do Verão de 1988. Além desses megaeventos, os Jogos Olímpicos de Inverno de 1972,

31 O termo G-8 se refere ao grupo formado pelos sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente

do mundo, somados à Rússia. Dessa forma, o grupo é formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá e Rússia. Tal grupo de países se reúne anualmente para tratar de assuntos da agenda política e econômica global e, tendo em vista a concentração de poder econômico e político que ocorre em tais encontros, podemos afirmar que dos acordos firmados nessas mesas de negociações por esses 08 (oito) representantes depende a vida de bilhões de pessoas por todo o mundo, de modo que as medidas por eles tomadas, ao repercutir no comércio internacional, nas relações de trabalho, no meio ambiente, ou em diversas outras temáticas, impacta das mais variadas formas na vida cotidiana da população mundial. EMPTY promises each year. (PROMESSAS vazias a cada ano, tradução livre). Global Issues. 25 de agosto de 2008. Disponível em: <http://www.globalissues.org/ article/720/g8-summits-empty-promises-each-year>. Acesso em: 15 de novembro de 2013.

32 O G-20 é um grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias

do mundo mais a União Europeia. Foi criado em 1999, após a diversas crises econômicas que abalaram o mundo durante a década de 1990. O grupo é composto por países economicamente avançados, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Itália, e Reino Unido, além da própria União Europeia, além de países emergentes considerados de grande relevância para o cenário econômico mundial, como Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Coreia do Sul, Indonésia, México e Turquia.

G20. What is the G20? (O que é o G20? tradução livre). De acordo com <http://www.g20.org/docs/about/ about_G20.html>. Acesso em: 15 de novembro de 2013.

haviam ocorrido em Sapporo, e os de 1998, em Nagano, ambas no Japão. Além das olimpíadas, Japão e Coreia do Sul haviam sediado conjuntamente na Copa do Mundo FIFA 2002. Nesse contexto, ser sede dos Jogos Olímpicos de 2008 significou um enorme prestígio para a China, representando a emergência de uma nova força política, econômica, tecnológica e militar, não só para o continente asiático, como para todo o mundo.

A África do Sul, ao ser sede da Copa do Mundo FIFA 2010, a primeira edição do evento no continente africano, pretendeu se projetar internacionalmente através da imagem de uma potência econômica continental, o país mais poderoso do continente africano, mostrando ao mundo um país moderno e com avanços não somente econômicos, como também sociais, especialmente com a superação do regime de segregação do apartheid, que, além de seu caráter racista e excludente, havia sido responsável pela exclusão do país de competições internacionais de futebol durante 31 (trinta e um) anos, compreendidos entre 1961 e 199233. Com a abolição do

referido regime, e com o progresso econômico ocorrido na década de 2000, a exposição mundial de um megaevento como a Copa do Mundo FIFA representaria uma importante oportunidade para mostrar ao mundo um novo país.

Por sua vez, o Brasil se candidatou e foi escolhido para sediar a edição da Copa do Mundo FIFA de 2014, tendo a opção política do governo brasileiro sido justificada no sentido de, além de o país atrair investimentos estrangeiros e implementar melhorias na infraestrutura interna, mostrar para o mundo o sucesso do modelo de desenvolvimento econômico nacional, no qual a melhoria dos indicadores econômicos havia sido seguida por sucessos na área social, mostrando a todos a superação dos antigos tempos de crise, de recessão econômica, de dívida externa e da consequente dependência internacional.

Além disso, ao mostrar ao mundo o modelo de desenvolvimento brasileiro através dos megaeventos esportivos, dado seu amplo âmbito de alcance, o país poderia reforçar a imagem como potência mundial e, assim, auxiliar na concretização das históricas pretensões da diplomacia brasileira em ocupar a posição de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU. Um evento do porte da Copa do Mundo de Futebol FIFA ou dos Jogos Olímpicos de Verão seria a oportunidade ideal para vender ao mundo essa imagem de Brasil-potência.

33 APARTHEID deixou África do Sul fora de competições internacionais por mais de 30 anos. Empresa Brasil de

Comunicação. EBC, África, 15 de junho de 2010. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2010-06- 15/apartheid-deixou-africa-do-sul-fora-de-competicoes-internacio nais-por-mais-de-30-anos>. Acesso em: 07 de novembro de 2013.

A apresentação da candidatura da cidade do Rio de Janeiro, a sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016 foi vista com grande simbolismo, uma vez que na história do megaevento, nenhuma edição havia acontecido ainda na América do Sul, e o Brasil era o único país do subcontinente com capacidade econômica e com vontade política para executar esse ambicioso (e oneroso) projeto olímpico.

Concretizando ambos os objetivos do governo e de diversos setores da sociedade brasileira, o país foi confirmado como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 e de seu evento-teste, a Copa das Confederações FIFA 2013, além dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, que foram confirmados na cidade do Rio de Janeiro. Sobre o megaevento Copa do Mundo FIFA 2014, um dos objetivos centrais do presente trabalho, trataremos em Capítulo posterior, ocasião em que analisaremos o processo de candidatura, os preparativos e os impactos relacionados à sua realização no Brasil.

Em dezembro de 2011, a Rússia foi oficialmente confirmada como país-sede da Copa do Mundo FIFA de 2018, o que significou a primeira edição do evento num país do Leste Europeu. Durante a fase de candidatura, o governo russo afirmou que estaria disposto em realizar os elevados investimentos em infraestrutura necessários à realização do evento, objetivando com isso, vender ao mundo a imagem de uma Rússia-potência pós-URSS, moderna, dinâmica e reconstruída economicamente.

Além dos citados megaeventos, diversos outros eventos esportivos de grande porte ocorreram nos últimos anos ou estão confirmados para ser realizados nos países que compõem o BRICS, como os Jogos Pan-americanos e Parapan-americanos de 2007, ocorridos no Rio de Janeiro (Brasil), os Jogos da Commonwealth de 2010, em Nova Delhi (Índia), a Copa das Confederações FIFA de 2009, na África do Sul, os Jogos Asiáticos de 2010, em Guangzhou (China), os Jogos Mundiais Militares de 2011, no Rio de Janeiro (Brasil), o Campeonato Africano das Nações de 2013, na África do Sul, a Copa das Confederações FIFA de 2013, no Brasil, os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sóchi (Rússia), os Jogos Olímpicos da Juventude de 2014, em Nanquim (China) e a Copa das Confederações FIFA de 2017 que ocorrerá na Rússia.34

34 Conforme informações obtidas nos sítios virtuais da Federação Internacional de Futebol Associado (Fédération

Internationale de Football Association - FIFA), do Comitê Olímpico Internacional (International Olympic Commitee - IOC), do Conselho Internacional de Esportes Militares (Conseil International du Sport Militaire - CISM), da Confederação Africana de Futebol (Confederation of African Football - CAF), da Federação dos Jogos da

Os países BRICS, ao realizar esses inúmeros eventos, justificam os elevados gastos públicos a eles ligados com a possibilidade de obter as melhorias econômicas advindas da intensa exposição internacional deles decorrentes e na possibilidade de atração de investimentos econômicos com a sua ocorrência. Além disso, uma diversidade de interesses particulares envolve cada opção política de promover eventos de tamanha magnitude. No entanto, verifica-se que há um certo consenso no papel simbólico envolvido nesses processos, pois, com tais eventos surge a oportunidade desses países mostrarem a imagem de economias consolidadas, dinâmicas, abertas a novos negócios e prontas para atrair os mais variados investimentos estrangeiros.

Realizando os megaeventos, os BRICS, potências emergentes que são, buscam reforçar internacionalmente a projeção de seu poder econômico em outras áreas de suas sociedades, com a associação de sua imagem como centros políticos, econômicos e culturais, países cosmopolitas e plenamente integrados ao fluxo mundial de pessoas, serviços e mercadorias. Assim, realizando elevados gastos públicos que muitas vezes se reflete num endividamento, tais países seguem os padrões a eles impostos pelas entidades internacionais esportivas, como a FIFA e o COI, chegam a consentir em adaptações de suas instituições para a ocorrência, permitindo que, tamanhas as alterações nos âmbitos político-normativo, sejam instalados verdadeiros estados de exceção.

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