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Os institutos da conexão e da continência e a relevância para a definição

3. O CASO DA OPERAÇÃO LAVA JATO E A CONSISTÊNCIA DA APLICAÇÃO DO

3.2 Análise da competência na Operação Lava Jato

3.2.1 Os institutos da conexão e da continência e a relevância para a definição

O Código de Processo Penal em seus artigos 76 e 77 estabelece,

respectivamente, as hipóteses de conexão e continência, institutos que determinam

que os processos sejam reunidos perante um único juízo.

Tais institutos possuem grande importância no ordenamento, pois trazem

efetividade e coordenação para o julgamento de casos em que há vários crimes

praticados por diversas pessoas em um mesmo contexto, possibilitando que o

magistrado tenha adequado conhecimento da dimensão dos fatos e provas, bem

como evitando que sejam proferidas decisões contraditórias.

Nessa linha, como bem ressalta a doutrina e a jurisprudência, nas palavras

de José Frederico Marques e do Desembargador Federal José Marcos Lunardelli:

É que a conexão, além de contribuir para a economia processual, evita

decisões divergentes ou contraditórias, e, por possibilitar uma visão

mais completa dos fatos e da causa, constitui fator de melhor aplicação

jurisdicional do direito.172

PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.

COMPETÊNCIA. PLEITO DE REUNIÃO DOS PROCESSOS.

INVIABILIDADE DE REUNIÃO DOS PROCESSOS. SUMULA 235 DO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. A reunião de processos que

tenham por objeto crimes conexos tem por finalidade precípua evitar

decisões conflituosas [...]. Recurso em Sentido Estrito a que se nega

provimento.173

Nesse sentido, no que tange à conexão, o legislador firmou três hipóteses

para sua configuração, a conexão intersubjetiva, a conexão objetiva ou teleológica e

a conexão instrumental.

A conexão intersubjetiva ocorre nos casos que em ocorrendo duas ou mais

infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas,

ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias

pessoas, umas contra as outras.

Já a conexão objetiva ou teleológica, ocorre se, no mesmo caso, houverem

sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade

ou vantagem em relação a qualquer delas.

Finalmente, a conexão será instrumental quando a prova de uma infração ou

de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.

Essa última hipótese é evidentemente a mais ampla estabelecida pelo

legislador e possui importância fundamental para a Operação Lava Jato, ao se

considerar a possibilidade de reunião de processos que possuam provas que se

relacionem, de modo a possibilitar o esclarecimento de crimes diversos.

172 MARQUES, José Frederico. Da competência em matéria penal. Campinas: Millennium, 2000, p.

363.

173 TRF-3, Décima Primeira Turma, RESE nº 0002466-81.2014.4.03.6005, Relator Desembargador

Federal José Lunardelli, julgado em 09.06.2015.

Se por um lado, o inciso III do artigo 76 do Código de Processo Penal,

possibilita investigações mais efetivas e coesas, facilitando a colheita de provas e a

instrução por parte do juízo, por outro lado, deve-se frisar a elevada dose de

discricionariedade que o termo escolhido pelo legislador – influir – gera no processo

de concretização da competência, possibilitando eventuais excessos na aplicação do

dispositivo.

Com efeito, a jurisprudência tanto do Superior Tribunal de Justiça, quanto do

Supremo Tribunal Federal aplicam o dispositivo de maneira bastante ampliativa, sem

demonstrar grande preocupação em fixar critérios para restringir o alcance da

conexão instrumental, conforme se extrai dos seguintes julgados, com destaque para

os casos que versam sobre lavagem de dinheiro e crimes financeiros – objeto central

dos processos referentes ao núcleo dos doleiros da Operação Lava Jato:

PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES

CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO. LEI Nº 7.492/86, ARTS. 4º, 16

E 22, PARÁGRAFO ÚNICO. CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO.

LEI Nº 9.613/98, ART. 1º, VI E VII C/C ARTIGO 1º, § 1º, II C/C ARTIGO

1º, § 2º, II C/C ARTIGO 1º, § 4º. CONEXÃO HÁBIL A FIXAR A

COMPETÊNCIA DO JUÍZO PREVENTO. [...] 1. A conexão probatória

impõe a reunião das ações penais para julgamento simultâneo,

máxime quando se trata de delitos financeiros apurados em

determinado juízo de onde emanam informações de negócios

cruzados entre as empresas envolvidas. [...].174

HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSUAL PENAL. [...] CONEXÃO

INSTRUMENTAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. [...]

Reunião dos processos, em virtude da existência de vínculo objetivo

entre os diversos fatos delituosos e de estarem imbricadas as provas

coligidas para os autos, nos quais foram apuradas as práticas das

condutas incriminadas. II – Há conexidade instrumental: a prova

relacionada à apuração de um crime influirá na do outro, razão pela

qual é competente para conhecer da controvérsia a Justiça Federal. III

– Ordem de habeas corpus indeferida, ficando mantida, em

consequência, a decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça

no Conflito de Competência 111.309/SP.175

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS – CRIMES CONTRA

O SISTEMA FINANCEIRO E DE LAVAGEM DE DINHEIRO –

COMPETÊNCIA POR CONEXÃO – TRANCAMENTO – AUSÊNCIA

DE JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA – INÉPCIA DA DENÚNCIA –

INOCORRÊNCIA – POSSIBILIDADE DE COEXISTÊNCIA ENTRE OS

CRIMES DO ARTIGO 4º E 16 DA LEI 7.492/86 – NEGADO

174 STF, Primeira Turma, HC 93.368/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09.11.2011.

PROVIMENTO AO RECURSO. Havendo ligação entre as provas do

presente processo e aquelas de vários outros que correm perante a

Vara Federal de Curitiba, impõe-se o reconhecimento da competência

em razão da conexão, conforme artigo 76, III, do Código de Processo

Penal. [...] Negado provimento ao recurso.176

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CORRUPÇÃO

PASSIVA, FORMAÇÃO DE QUADRILHA, LAVAGEM DE CAPITAIS E

OUTROS CRIMES. PRETENSÃO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO

PENAL POR INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO PROCESSANTE.

IMPOSSIBILIDADE. CONEXÃO PROBATÓRIA. COMPETÊNCIA DO

JUÍZO EM QUE PRATICADO O CRIME MAIS GRAVE. 1. No presente

recurso, busca-se o reconhecimento da incompetência do Juízo da 3ª

Vara Criminal da comarca de São Bento do Sul/SC para processar e

julgar a ação penal movida contra o ora recorrente e outros, ao

argumento de que os fatos imputados ao primeiro teriam ocorrido em

Rio Negro/PR. 2. A competência para processar e julgar a ação penal

é fixada, em regra, pelo critério do local em que o delito se consumou,

podendo, contudo, a conexão determinar a sua modificação. 3. No

caso, as instâncias ordinárias, de maneira fundamentada, entenderam

pela competência do Juízo de São Bento do Sul/SC, em razão da

existência da conexão instrumental, nos termos do art. 76, III, do

Código de Processo Penal, entre os crimes atribuídos aos corréus e

os delitos de corrupção passiva e formação de quadrilha imputados ao

recorrente. 4. Verificado que as infrações tiveram o mesmo nexo fático

e que as provas dos delitos narrados na inicial estão intimamente

ligadas, não há como negar a ocorrência da chamada conexão

probatória ou instrumental nem, por conseguinte, a necessidade de

julgamento de todos os crimes em um mesmo processo, sob o

comando de um único magistrado, a fim de preservar a segurança e a

estabilidade jurídica dos pronunciamentos jurisdicionais. [...] 5.

Recurso em habeas corpus improvido.177

176 STJ, Quinta Turma, RHC 19.909/PR, Rel. Min. Jane Silva, julgado em 13.11.2007.

177 STJ, Sexta Turma, RHC 42.139/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20.05.2014. Ainda,

pode-se citar os seguintes julgados: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE

RECURSO PRÓPRIO INTERPOSTO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ALEGADA INCOMPETÊNCIA

DO JUÍZO PROCESSANTE. [...] 3. Situação em que a mesma investigação deu origem a duas ações

criminais cuja conexão probatória é incontroversa, tramitando em conjunto, e nas quais se investigam

supostos delitos de concussão, corrupção ativa e passiva, crimes contra a Lei de Licitações e lavagem

de dinheiro praticados por associação criminosa composta por servidores do Departamento Nacional

de Infraestrutura e Transporte do Ceará (DNIT/CE), assim como por prepostos/responsáveis por

empreiteiras e supervisores contratadas pela Autarquia Federal para a realização de serviços. [...]. 7.

Habeas corpus não conhecido. (STJ, Quinta Turma, HC 317.704/CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da

Fonseca, julgado em 12.09.2017) e RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PECULATO,

CORRUPÇÃO, FRAUDE EM LICITAÇÕES, FALSIDADE IDEOLÓGICA E FORMAÇÃO DE

QUADRILHA. INCOMPETÊNCIA DA 2ª VARA FEDERAL CRIMINAL DE CURITIBA/PR. CONEXÃO

DOS FATOS APURADOS NA PRESENTE AÇÃO PENAL COM OS INVESTIGADOS EM INQUÉRITO

EM TRÂMITE PERANTE O MENCIONADO JUÍZO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. 1.

Não havendo dúvidas de a ação penal em tela e o Inquérito Policial n. 2004.7000037969-0 versam

sobre crimes envolvendo as mesmas pessoas, e que teriam sido praticados em lapso temporal

semelhante, sendo certo que as provas de algumas infrações influencia na das demais, tanto que o

Ministério Público requereu a desconsideração do pedido de arquivamento formulado no referido

procedimento investigatório em razão das evidências reunidas nos autos de interceptação telefônica

realizada no processo criminal em apreço, mister o reconhecimento da competência da 2ª Vara Federal

Criminal de Curitiba para processar e julgar os acusados. [...] 4. Recurso desprovido. (STJ, Quinta

Turma, RHC 42.582/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 02.12.2014).

Como se percebe, os julgados se utilizam de expressões bastante amplas,

tais como “a prova relacionada à apuração de um crime influirá na do outro”; “Havendo

ligação entre as provas do presente processo”; “Verificado que as infrações tiveram o

mesmo nexo fático e que as provas dos delitos narrados na inicial estão intimamente

ligadas” e “sendo certo que as provas de algumas infrações influencia na das demais”.

Aqui, há uma ressalva feita pela jurisprudência para os casos de encontro

fortuitos de provas. Nessa esteira, o entendimento do Supremo Tribunal Federal é que

o mero encontro fortuito de provas que não tem qualquer relação com a investigação

originária, não possui, por si só, o condão de gerar a conexão em sua modalidade

instrumental, veja-se:

PENAL E PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA. CONEXÃO.

INEXISTÊNCIA. ADITAMENTO DA DENÚNCIA. SISTEMA

ACUSATÓRIO. [...] 5. A conexão no processo dá-se em favor da

jurisdição de modo a facilitar a colheita da prova, evitar decisões

contraditórias e permitir cognição mais profunda e exauriente da

matéria posta a julgamento. O simples encontro fortuito de prova de

infração que não possui relação com o objeto da investigação em

andamento não enseja o simultaneus processus. [...] 7. Recurso

parcialmente provido para remeter o aditamento da denúncia, apenas

em relação ao recorrente, à Justiça Federal no Distrito Federal, com

traslado integral dos autos.178

Não obstante tal ressalva, a interpretação dada ordinariamente pela

jurisprudência, como visto, permite uma considerável dose de subjetividade para a

reunião dos processos, conferindo ao magistrado amplo campo para interpretações

diversas no que se refere ao reconhecimento da conexão instrumental.

Essa demasiada subjetividade coloca em risco o estrito cumprimento do

princípio do juiz natural dando azo para possíveis manipulações da competência no

caso concreto, situação que não deve ter lugar em um Estado Democrático de Direito.

Diga-se, mais uma vez, que não se nega a absoluta importância do instituto

da conexão instrumental para a efetividade e a razoável duração do processo,

princípios postos na Constituição Federal, ao possibilitar que o juiz da causa tenha

amplo conhecimento do contexto fático e probatório, todavia, se faz importante

destacar que a interpretação pouco restritiva dada pela jurisprudência e,

principalmente, a escolha do termo “influir” pelo legislador, podem criar situações de

insegurança quando da fixação do juiz natural do processo.

Por fim, quanto a continência, tem-se que, como nos casos de configurada a

conexão, os processos também deverão ser reunidos perante um único juiz nas

hipóteses fixadas pelo artigo 77 do Código de Processo Penal.

Nessa esteira, ocorrerá a continência quando duas ou mais pessoas forem

acusadas pela mesma infração, bem como nos casos em que ocorrer concurso formal

de delitos, erro de execução ou aberratio criminis.

Nota-se que tais institutos – a conexão e a continência – são muito

semelhantes, sendo pouco relevante a tentativa de diferenciá-los, Vicente Grecco

Filho, no entanto, aduz que é possível dizer que conexão resulta de vínculos objetivos

ou subjetivos entre infrações e que a continência resulta da unidade da ação

delituosa.179

Esclarecida a dinâmica da conexão e da continência no âmbito do direito

processual penal, cumpre verificar como as decisões proferidas nas exceções de

incompetência opostas pelos réus no âmbito da primeira fase da Operação Lava Jato

(núcleo dos doleiros) fundamentaram a existência de conexão e de continência nos

processos envolvidos.

Com efeito, os objetos das dez ações penais envolvidas são majoritariamente

a apuração de crimes financeiros tais como evasão de divisas, operação de

instituições financeiras irregulares, lavagem de dinheiro além de constituição de

organizações criminosas, entre outros.

Conforme já salientado, referidas infrações penais eram orquestradas,

segundo as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal, por quatro

organizações criminosas diferentes chefiadas doleiros, essas organizações, apesar

de autônomas, realizavam negócios em conjunto, como por exemplo, a realização de

transações financeiras ilegais entre as organizações, geralmente por meio de

empresas de fachada.

Nesse sentido, nas decisões proferidas nas exceções de incompetência

opostas pelas partes, o juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba, inicialmente, traz um

panorama das dez ações propostas na Operação Lava Jato e seus respectivos

objetos.

Para demonstrar a conexão entre as ações, sustenta-se que a partir de uma

interceptação telefônica, passou-se a investigar o primeiro grupo de doleiros,

comandado por Carlos Habib Chater. Dessa interceptação, descobriu-se que o

referido grupo transacionava com os outros grupos de doleiros já mencionados, razão

pela qual seria de rigor que todas as ações tramitassem no mesmo juízo, para

possibilitar o adequado manejo do conteúdo probatório encontrado.

Afirma-se, ainda, que o reconhecimento da conexão das ações seria

fundamental para evitar a dispersão de provas e eventuais decisões contraditórias por

parte do Poder Judiciário.

Desse modo, vale trazer, aqui, trechos dos fundamentos utilizados pelo juízo

para o reconhecimento da conexão entre todas as ações, extraídos da decisão

proferida na exceção de incompetência nº 5044009-71.2014.404.7000, referente à

ação penal nº 5025687-03.2014.404.7000. Referida argumentação foi reiteradamente

utilizada em diversas das decisões proferidas nas exceções de incompetência

opostas, veja-se:

Ademais disso, forçoso reconhecer conexão entre as diversas ações

penais e inquéritos da assim denominada Operação Lavajato, dez

delas acima relacionadas. [...] A partir de interceptação telefônica

autorizada em 11/07/2013 no processo 5026387-13.2013.404.7000,

passou-se a investigar o grupo criminoso dirigido por Carlos Habib

Chater. No decorrer da interceptação, foram identificadas supostas

transações criminosas do grupo criminoso dirigido por Carlos Habib

Chater com o grupo criminoso dirigido por Alberto Youssef e com o

grupo criminoso dirigido por Nelma Kodama. Também identificadas

supostas transações criminosas entre o grupo criminoso dirigido por

Alberto Youssef e o grupo criminoso dirigido por Nelma Kodama.

Foram ainda identificadas supostas transações criminosas entre o

grupo dirigido por Nelma Kodama com o grupo criminoso dirigido por

Raul Henrique Srour. [...] Não obstante, evidente a conexão entre os

crimes praticados pelos quatro grupos criminosos, inclusive alguns em

conjunto. Se operadores do mercado de câmbio negro realizam

operações entre si, caracterizando crimes financeiros ou de lavagem

de dinheiro, é evidente a conexão entre os crimes, aplicando as regras

dos arts. 76, I, II e III, do CPP. A prova em relação à natureza e origem

dos recursos movimentados por um grupo é relevante para determinar

da natureza e origem dos recursos movimentadas pelo outro grupo.

[...] Não se trata apenas de aplicação de normas abstratas. A

manutenção dos vários processos perante um único Juízo é

necessária para evitar não só decisões contraditórias, mas dispersão

de provas, já que os diversos acusados respondem inclusive por

transações conjuntas. A ilustrar a conexão probatória, de se

mencionar que inclusive a Defesa de Alberto Youssef chegou a arrolar

como testemunhas de defesa Carlos Chater e Nelma Kodama, em

ações penais nas quais estes não figuravam como acusados.180

Como se percebe do contexto trazido pelo decisum, nota-se que diversos dos

crimes objetos das ações penais foram praticados em coautoria, bem como praticados

para ocultar crimes anteriores (lavagem de dinheiro), situação que configura, como

visto, a conexão e a continência dos delitos.

Ademais, do esquema perpetrado pelas organizações e principalmente pelo

fato de elas agirem conjuntamente, tem-se que o arcabouço probatório de uma influi

diretamente nas provas relativas à outra, tais como as ligações telefônicas, e-mails e

mensagens transmitidas por celular, situação que também exige a conexão em sua

modalidade instrumental, como destacou adequadamente o juízo.

Nota-se também, pela enorme extensão dos fatos, provas e crimes

investigados, que o juízo optou por não apontar individualmente a conexão e a

continência de cada crime, dando mais importância para a conexão instrumental entre

as provas colhidas.

180 Disponível em https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico

&doc=701406819901771060030000000005&evento=692&key=b3bc68b14f8282b60c8fec71c3e17196

36fecc961f3d0a2da2b20fb6bea3181f&hash=6f9df58a4e50abf49bad27b0a83e6846. Acesso em

19.06.2018.

Dos fundamentos acima expostos, notadamente no que tange a conexão

instrumental, tem-se que a interpretação dada pelo juízo não destoa das

interpretações usualmente dadas pelos tribunais superiores – de conferir bastante

amplitude ao dispositivo, estando, portanto em consonância com a jurisprudência.

A complexidade da investigação e o grande número de réus envolvidos

também justifica a cisão dos fatos entre as dez ações penais feita pelo Ministério

Público Federal. De igual modo, justamente por essa complexidade dos fatos, a

dispersão das provas entre diversas comarcas iria certamente dificultar o andamento

da investigação, impossibilitando a busca da verdade real.

Do quadro acima exposto, tem-se que dada a complexidade dos fatos e

provas envolvidos, é possível afirmar, considerando a amplitude conferida pelo

legislador e o entendimento jurisprudencial sobre o tema, que ao menos no que se

refere a conexão instrumental dos crimes, esta foi adequadamente reconhecida, de

modo a ensejar a reunião das ações perante o mesmo juízo.

3.2.2 Critérios de definição do foro prevalecente na Operação Lava Jato e sua