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III- Enquadramento da Prática Profissional

3.1. A (re)construção da identidade profissional do professor

3.1.4. Os primeiros passos no mundo do trabalho docente

Antes de iniciar efetivamente o estágio, e muito devido ao trabalho que realizei no primeiro ano da minha formação inicial de professor, estava ciente de alguns dos desafios que me iriam surgir e de algumas experiências boas e menos boas que provavelmente iria passar ao longo do meu percurso enquanto estagiário.

A fase inicial desta minha “caminhada” caracterizou-se por alguns momentos peculiares. De entre os marcantes destaco os seguintes: o primeiro dia em que entrei na escola para conhecer as suas instalações e o PC; a primeira reunião de departamento; a primeira reunião geral de professores e o primeiro dia de aulas, em que conheci os alunos da minha turma residente.

No primeiro dia de estágio conheci o PC e a escola que me acolheu. Este foi, sem dúvida, um momento importante porque foi o dia em que pude iniciar relações com parte da comunidade onde iria estar inserido ao longo do ano letivo. Fomos apresentados ao nosso PC que, por sua vez, nos apresentou à restante comunidade escolar, presente na escola naquele momento, e nos deu a conhecer as instalações da escola. Fiquei muito satisfeito com as condições

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que pude observar para a lecionação das aulas de EF. Senti que teria condições excelentes para poder aprender e ensinar, não só porque a escola tinha excelentes espaços para a prática desportiva, mas também porque tinha material/equipamento variado e de qualidade.

No dia seguinte, conheci, numa reunião de departamento, os elementos que compunham o departamento de EF e desporto da EC e percebi que já conhecia alguns dos professores tendo, inclusivamente, já trabalhado com alguns deles noutros contextos. Este facto colocou-me mais à-vontade, isto embora pense que mesmo que não os conhecesse seria igualmente bem recebido. O facto de existir uma interação positiva entre professores da área é fundamental para que se possam debater questões associadas à eficácia e diversidade das metodologias utilizados no processo de ensino-aprendizagem. Embora os meus diálogos não tenham sido produtivos com todos os professores, nesta matéria, o facto é que existiram vários professores que demonstraram curiosidade em conhecer as ideias que trouxe da FADEUP e confrontá-las com as suas próprias ideias levando, algumas vezes, à reconfiguração de entendimentos e processos. Penso que essa abertura, por parte dos professores, é fundamental na medida em que ajuda na construção de uma base de trabalho comum e coerente entre todos os elementos do departamento. Hutchings e Huber (citado por Nóvoa 2009, p. 8) referem que o reforço das “comunidades de prática” é importante para a construção de um espaço conceptual que visa elaborar perspetivas comuns sobre os desafios da formação pessoal, profissional e cívica dos alunos. Assim, a interação entre estagiários, professores no início de carreira e professores mais experientes torna-se importante para o enriquecimento e coerência da atuação pedagógica que, na prática, beneficiará os alunos. Através dessas comunidades de prática “reforça- se um sentimento de pertença e de identidade profissional que é essencial para que os professores se apropriem dos processos de mudança e os transformem em práticas concretas de intervenção” (Nóvoa, 2009, p. 210). Ao aperceber-me que já conhecia alguns professores do departamento de EF e desporto da EC senti-me satisfeito porque pensei que iria integrar-me na comunidade de forma relativamente fácil.

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“Sinto-me satisfeito porque reparei que conheço parte dos professores que compõem o Departamento de Desporto e Educação Física tendo, inclusive, já trabalhado com alguns deles noutros contextos. Este facto levará a que, provavelmente, tenha mais facilidade em me integrar no grupo de professores da disciplina.” (Diário de Bordo dia 08/09/2016)

No mesmo dia ainda participei numa reunião geral de professores. Esta reunião serviu, sobretudo, para conhecer professores de outras áreas e alguns elementos ligados ao conselho executivo da escola. Além disso, tive a oportunidade de conhecer alguns projetos e programas desenvolvidos pela escola com a finalidade de aumentar o sucesso dos alunos. Este foi um dia muito importante! Foi nele que comecei a integração na EC e no departamento de EF e desporto. Foi neste momento que senti que iria ser professor desta escola.

No dia 16 de setembro de 2016 teve início o ano letivo. Foi um dia extremamente especial para mim, pois foi o dia em que conheci os alunos da turma que iria ficar sob a minha responsabilidade. Foi um momento caracterizado por muita ansiedade que, por sua vez, foi desaparecendo à medida que a aula foi decorrendo. Penso que essa ansiedade resultou do facto de não saber como os meus alunos iriam reagir ao saber que o seu professor de EF era um estagiário.

“Este foi um dia especial para mim pois foi o primeiro em que exerci as funções de um professor de Educação Física sozinho, dentro de uma sala e com alunos. Desde o primeiro momento em que me reuni com o professor cooperante, no início deste mês, que me senti ansioso por começar as minhas atividades letivas dentro da “sala de aula”. Essa ansiedade acompanhou-me até ao dia de hoje. Mas, por mais estranho que possa parecer, no momento em que esperava pelos alunos na sala de ginástica essa ansiedade desapareceu. Não sei explicar porquê mas senti-me calmo e confiante. Esses sentimentos foram, sem dúvida,

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fulcrais para que a aula tivesse decorrido bem.” (Diário de bordo dia 16/09/2016)

Na passagem para a profissão, os professores, tal como eu enquanto estagiário, têm a tendência em pensar que já conhecem tudo o que há a conhecer no ensino pelo motivo de passarem, anteriormente, demasiados anos na escola. Segundo Flores (1999), este facto não é sinónimo de facilitação, pode ser precisamente o oposto pois é na familiaridade, e não na estranheza, que se originam os problemas. Siedentop e Tannehill (2000) designam este fenómeno de “superfamiliarização” com o ensino. Ao se aperceberem que afinal não estão tão familiarizados como pensam, os estudantes e professores iniciantes entram naquilo que Esteves e Huberman (citados por Queirós, 2014, p. 72) chamam de “choque com a realidade”. Este “choque” existe porque coloca à prova todos os seus conhecimentos, conceções e crenças num confronto, usualmente agitado, com o contexto onde está inserido, resultando no aparecimento de dificuldades, anseios e incertezas que têm de ser geridos adequadamente sob pena de se abandonar a profissão (Queirós, 2014). A gestão dos sentimentos e emoções e as interações com os elementos da comunidade escolar levam a (re)construir a forma de atuar que, por sua vez, leva à (re)construção da identidade do professor.

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IV - Organização e

Gestão do processo

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