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III- Enquadramento da Prática Profissional

4.2. O processo de planeamento enquanto ato de antecipação do ensino

4.2.3. Planeamento Meso: Unidades Didáticas

Após estruturar todo o planeamento anual procedi à realização das unidades didáticas aplicadas às várias matérias que lecionei durante este ano letivo a saber: Futebol, Andebol, Voleibol, Basquetebol, Atletismo, Ginástica (aparelhos, solo e acrobática), Natação, Judo e Badmínton.

O planeamento das unidades didáticas são etapas claras do ensino e da aprendizagem que devem garantir uma sequência metodológica coerente e lógica da matéria de ensino remetendo às aulas um contributo significativo para o desenvolvimento dos alunos (Bento, 2003).

Tendo em conta a rotatividade indicada nos mapas de instalações e as estratégias que utilizei para organizar as matérias a lecionar, a produção destas unidades teve de ser feita num espaço de tempo relativamente curto. Foi uma tarefa trabalhosa e intensa, mas que norteou a minha prática pedagógica e aumentou o meu conhecimento acerca das matérias em foco.

Para construir as unidades didáticas baseei-me no modelo de estrutura do conhecimento proposto por Vickers (1990), o qual foi desenvolvido especialmente para professores de EF e treinadores. Este reflete um pensamento transdisciplinar, identifica e estrutura uma matéria de ensino numa hierarquia de conhecimento, em estreita articulação com as estratégias utilizadas para o ensino. A autora dividiu o modelo em oito módulos que, por sua vez, estão divididos em três fases. A fase de Análise é constituída pelos módulos um (Análise da modalidade desportiva em estruturas de conhecimento), dois (Análise do envolvimento) e três (Análise dos alunos). A fase de Decisão é constituída pelos módulos quatro (Determinação da extensão e sequência dos conteúdos), cinco (Definição dos objetivos), seis (Configuração da avaliação) e sete (Criação de progressões de ensino). A fase de Aplicação materializa o módulo oito que incorpora os diferentes níveis de planeamento em que pode ser aplicada: planos de aula, unidades didáticas, planos anuais e programas individuais, bem como currículos escolares e programas de desenvolvimento do desporto.

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Na construção do módulo um, a opção foi pela abrangência, pois reconheci a utilidade que um documento destes podia ter no meu futuro enquanto professor de EF. Embora este deva ser adaptado à turma para a qual se destina, existem informações que são transversais e que, portanto, podem ser extravasadas para qualquer contexto. Assim, elaborando uma estrutura de conhecimentos bastante completa, considerei que poderia adaptá-la, no futuro, a qualquer turma. Embora o meu PC tenha vincado bem a sua opinião de ser mais pragmático na construção deste módulo, o facto é que não o fui porque pensei, e continuo a pensar, que este poderá ser útil no futuro independentemente do ano de escolaridade que venha a lecionar. O facto de me ter sido dada liberdade para construir os modelos de estrutura de conhecimento, permitiu-me tomar esta decisão de estender um pouco mais este módulo. A sua construção baseou-se na análise minuciosa das categorias transdisciplinares (cultura desportiva, habilidades motoras, conceitos fisiológicos e conceitos psicossociais).

Relativamente ao segundo módulo analisei e descrevi o contexto e o envolvimento onde se iria ocorrer a prática. A compreensão e o conhecimento de todos os recursos espaciais, temporais, materiais e humanos foi fundamental para perceber como poderia adaptar e planear a minha prática pedagógica.

No módulo três realizei a caracterização dos alunos da turma em relação ao seu desempenho e conhecimentos relativos a cada matéria de ensino. Esta tarefa revelou-se importante para perceber qual o ponto de partida da minha abordagem à matéria de ensino.

Numa das reuniões com a PO, esta desafiou-nos a construir um módulo (o 8 da UD) tendo por base o módulo quarto. Até ao momento o módulo destinado à determinação da extensão e sequência de conteúdos foi realizado a partir da produção de uma tabela que continha os dias das aulas, os conteúdos e a letra inicial da função didática destinada a cada aula. Desta forma, a consulta do documento não permitia observar a forma como se iriam exercitar os conteúdos e quais os objetivos das diferentes aulas. Assim, foi-nos proposto que realizássemos uma tabela que fosse além, isto é, que não indicasse apenas a

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função didática, mas sim a tipologia das tarefas e seu nível de complexidade, bem como a sequência de objetivos. De facto, após a realização de inúmeras unidades didáticas e com o espaçamento temporal existente entre parte das aulas das diferentes matérias, tornava-se difícil, até para mim, o produtor do documento, interpretar rapidamente o que se pretendia apenas com recurso ao módulo 4 no seu formato inicial. De facto, nela apenas podia observar a(s) função(ões) didática(s) correspondentes às aulas. Após a realização da tabela sugerida pela professora orientadora foi muito mais fácil interpretar o que se pretendia para cada aula, bem como projetá-las e prepará-las. A elaboração deste módulo foi o que suscitou mais debates, trocas de argumentos e apoio à bibliografia. Foram momentos de reflexão e ponderação sobre o quê e o porquê de ensinar. Foi na elaboração deste módulo, que as conceções, metodologias e pensamentos começaram a emergir, originando muitos debates. O facto de os elementos do núcleo terem formas bastantes distintas de olhar para o ensino não gerou, por vezes, consensos no entanto, gerou conclusões válidas e lógicas. Destes debates retiro sobretudo a noção de que existem vários “caminhos” para se chegar ao mesmo fim e que o facto de um “caminho” estar correto não significa que o seu oposto esteja errado.

Depois de determinar o que ensinar e porque ensinar foram determinados os objetivos de aprendizagem, módulo cinco. O grande desafio foi o de garantir que os objetivos fossem claros, realistas (atingíveis), balizados no tempo e mensuráveis. Esta era a forma que me permitiria verificar se o processo-ensino aprendizagem estava a produzir efeitos positivos, bem como o garante que o processo fosse portador de intencionalidade educativa.

Com os objetivos traçados, dei início à configuração da avaliação produzindo o módulo seis. Neste módulo construí grelhas de avaliação (formativa e sumativa) que me permitiram verificar se os objetivos estavam a ser atingidos, caso não estivessem deveria, logo após a avaliação formativa, mudar/adaptar o planeamento ou redefinir objetivos, e atribuir um nível de desempenho aos alunos.

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No módulo 7, criei, adaptei e selecionei algumas progressões pedagógicas que considerei que me ajudariam a atingir os objetivos que estabeleci. O processo de criação, adaptação e seleção das progressões dependeu das respostas que os alunos iam dando aos exercícios que eram propostos. Caso o aluno tivesse dificuldades no nível mais simples da progressão, esta era mais simplificada. Caso o aluno não estivesse a compreender o que se pretendia com determinada progressão, por vezes, eram criadas alterações para facilitar essa compreensão. A manipulação da complexidade e dificuldade das progressões, para as modalidades individuais teve como base a tipologia de tarefas que caracteriza o Modelo Desenvolvimental de Rink (1996), descrito no ponto 4.3.4.2. deste relatório. Para as modalidades coletivas, exceto para o voleibol, foi utilizada a tipologia de tarefas que caracteriza o modelo de competências para os jogos de invasão descrito no ponto 4.3.4.4. deste relatório. Para o voleibol, foi utilizada a tipologia de tarefas que caracteriza o modelo de abordagem progressiva ao jogo descrito no ponto 4.3.4.5. deste relatório.

Em síntese, após algumas reuniões com a PO e o PC fui entendendo que deveria ser mais pragmático na construção dos modelos de estrutura do conhecimento. Embora pense que fui sendo cada vez mais direto na construção dos documentos, na definição de objetivos e na forma como iria pretender alcançá-los, penso que existiu muita informação igual, em matérias distintas, que poderia ser dispensada. Essa quantidade de informação transversal a todas as matérias tornou os documentos extensos e com informação “desnecessária”. Tal como no planeamento anual, apesar de trabalhoso foi uma tarefa que me enriqueceu bastante e tornou-me um profissional mais competente, na medida em que adquiri e consolidei o conhecimento relativo às matérias de ensino e do tratamento dos conteúdos a ensinar nas diferentes matérias.

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