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III- Enquadramento da Prática Profissional

4.2. O processo de planeamento enquanto ato de antecipação do ensino

4.2.4. Planeamento Micro: Planos e estrutura das aulas

Para Bento (2003), as aulas exigem uma boa preparação e planeamento pois é um ponto de convergência entre o pensamento e a ação do professor. Estas devem ter como fim último a estimulação do desenvolvimento dos alunos. Os planos de aula assumem, assim, um papel crucial de orientação da prática pedagógica do professor. Segundo o mesmo autor, o plano de aula deve englobar a matéria de ensino, as condições existentes e as características dos alunos, sendo que a ligação entre estes três aspetos é fundamental para um planeamento de qualidade.

No início do ano letivo, o PC pediu-nos para produzir ou escolher uma estrutura de plano de aula, que fosse utilizado por todos ao longo do estágio. Assim sendo, e após algumas pesquisas, reflexões e trocas de ideias, o núcleo chegou a um entendimento e criou uma estrutura de plano de aula com as características que serão mencionadas a seguir.

A primeira tarefa foi construir um cabeçalho onde constasse a informação geral sobre a aula. A figura seguinte representa um exemplar do cabeçalho.

Tabela 6 - Exemplar do cabeçalho do plano de aula PLANO DE AULA Professor Cooperante: Professor Estagiário: Ano: Turma: N.º de Alunos: Aula nº: Sessão nº Data: Hora: Tempo total: Tempo útil: Unidade Temática:

Função Didática: Local: Espaço:

Material: Objetivos da Aula

Habilidades Motoras Cultura Desportiva Fisiologia do Treino e Condição

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As informações patentes no cabeçalho do plano de aula (Tabela 6) são relevantes na medida em que ajudam o professor a situar o plano de aula no tempo e no próprio processo ensino-aprendizagem. A consulta destes dados permite ao professor verificar em que “ponto” da unidade didática se situa podendo tomar decisões mais adequadas a partir daí. O facto de o professor ter muitas turmas, muitas aulas e muitas matérias a ensinar durante o ano letivo torna ainda mais importante estes dados pois o professor pode, em determinada altura do ano, ter dificuldades em situar-se no tempo e no espaço.

Na mesma lógica foram indicados a função didática, que segundo Bento (2003) caracteriza as tarefas essenciais do processo de ensino por partes, etapas ou fases, os conteúdos (organizados por níveis de aprendizagem), o local, o espaço e o material a serem utilizados na aula. Também foram indicados os objetivos da aula relativamente às quatro categorias transdisciplinares: as habilidades motoras, os conceitos psicossociais, a cultura desportiva e os conceitos fisiológicos – que espelhavam as competências que pretendia que os alunos adquirissem e dominassem no final da aula. Para Bento (2003, p. 110), Os objetivos em Educação Física devem orientar a ação do educador para um desenvolvimento sistemático da capacidade de rendimento corporal – entendida esta como um pressuposto complexo do rendimento total da sua personalidade”. Assim, a definição dos objetivos é fulcral pois são estes que orientam o professor na intervenção na aula.

Na estrutura central do plano de aula, comtemplou-se os conteúdos, as condições de exercitação e as componentes críticas.

No que respeita aos conteúdos, Bento (2003) refere que, tal como os objetivos, constituem uma categoria didática determinante no processo pedagógico, porque influenciam decisivamente a estrutura, organização metodológica no momento de preparação e realização do processo de ensino, e porque a sua natureza e diversidade refletem a incumbência e determinação social do processo pedagógico. Os conteúdos definidos nos planos de aula também foram ao encontro das categorias transdisciplinares evidenciadas anteriormente.

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No que respeita às condições de exercitação, Bento (2003) indica que o grau de dificuldade e o volume dos exercícios corporais devem ser calculados corretamente, a fim de garantir a realização dos objetivos e o desenvolvimento dos alunos. A dificuldade e o tempo destinado a cada exercício deve ir ao encontro das necessidades de aprendizagem dos alunos e da sua resposta ao solicitado.

As componentes críticas foram introduzidas com o objetivo de me ajudar a selecionar, observar e controlar os aspetos essenciais a reter em cada exercício para atingir os objetivos. De acordo com Bento (2003, p. 148), “o ensino alcança eficácia apenas quando não se perde em coisas secundárias de pouca monta, quando a sua linha principal orientada para resultados é seguida com sequência quando o interesse e a atividade dos alunos são permanentemente direcionados para ela.”

Tabela 7 - Exemplar de um plano de aula

P A R TE CONTEÚDOS SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM ORGANIZAÇÃO METODOLÓGICA COMPONENTES CRÍTICAS/ OBJETIVOS COMPORTAMENTAIS/

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Segundo Bento (2003), as tarefas da parte inicial da aula são importantes, na medida em que não devem ser entendidas apenas como um “aquecimento” mas sim, como tarefas que incorporam a preocupação de criar uma situação pedagógica, psicológica e fisiológica favorável à realização do objetivo principal da aula. A parte inicial das minhas aulas foi destinada ao tratamento de questões administrativas (faltas de presença e de material, utilização indevida de adereços, etc), à transmissão dos objetivos e tarefas a realizar na parte fundamental da aula, à organização da aula e à preparação do corpo para as atividades a desenvolver, através de exercícios de desenvolvimento geral, pequenos jogos e de elementos para a aprendizagem ou aperfeiçoamento dos exercícios a realizar na parte fundamental. Com efeito, nesta parte da aula foram, por vezes, exercitados e/ou introduzidos alguns conteúdos da própria aula ou da(s) aula(s) transata(s), sendo que, na maioria das vezes, foram conteúdos associados à cultura desportiva e às habilidades motoras.

Relativamente à parte fundamental da aula, Bento (2003, 158) indica que “o professor tem a tarefa de realizar os objetivos e de transmitir os conteúdos propriamente ditos”. Segundo o autor, é nesta parte que predominam a concordância dos objetivos e conteúdos da parte inicial e final da aula. Nesse sentido, a parte fundamental das minhas aulas serviu para introduzir, exercitar, consolidar e/ou avaliar todos os conteúdos da aula, prioritariamente os associados às habilidades motoras, à cultura desportiva e aos conceitos psicossociais. Foi nesta parte que dei ênfase ao propósito central da aula.

Para Bento (2003), a organização da parte final da aula deve ser direcionada para o retorno à calma e para a criação de condições favoráveis às aulas seguintes, se for o caso. De acordo com o autor, esta parte da aula atinge, em regra, cinco minutos podendo ser mais baixo no caso dos últimos anos de escolaridade. A parte final das minhas aulas serviu para exercitar e avaliar os conteúdos associados aos conceitos fisiológicos, realizar o retorno à calma e transmitir informações sobre a aula e sobre a(s) próxima(s) aula(s). Também serviu para realizar reflexões conjuntas com os alunos, sobre os acontecimentos que tinham ocorrido na aula. A realização de uma reflexão geral é fundamental porque ajuda os alunos a perceberem o que, em termos gerais, fizeram correta e incorretamente e, a partir daí, como podem melhorar o seu desempenho motor,

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e socio-afetivo. A reflexão também se revela importante para o professor na medida em que o ajuda a perceber o que os alunos retiveram da aula. No momento imediatamente antes dos alunos abandonarem o espaço da aula, esforcei-me por transmitir a informação associada à aula seguinte de forma motivadora e concisa com o intuito de despoletar a curiosidade dos alunos e anseio de participarem.

A cada uma das partes da aula e a cada situação de aprendizagem foi indicado o tempo, na forma de hora e na forma de minutos. Penso que esta estratégia ajuda o professor não só a situar-se no plano de aula, como também na hora do dia evitando atrasos no horário de saída da aula. O tempo de cada exercício era definido de acordo com a sua relevância para atingir o objetivo geral da aula e de acordo com a resposta dos alunos, isto é, se os alunos tivessem demasiado sucesso ou falta dele, o exercício era alterado/adaptado de forma a promover que os alunos trabalhassem na sua zona de desenvolvimento proximal.

Planear uma aula é fundamental não só para melhorar a eficácia da mesma, como também para ajudar o professor a esquematizar e a agir de forma mais coerente e adequada no processo de ensino-aprendizagem. A construção de um plano de aula obriga a antever acontecimentos e a escolher estratégias para solucioná-los ou evitá-los. Além disso, auxilia o professor no decorrer da própria aula na medida em que é um documento que serve de suporte à sua atuação pedagógica, podendo ser consultado sempre que necessário. Tive uma preocupação constante em conjugar o planeamento das aulas com o que tinha projetado no planeamento anual e nas unidades didáticas. Embora na maior parte das vezes fosse possível conjugar, na verdade existiram aulas em que não foi possível dar seguimento ao planeado, havendo lugar a adaptações do planeamento. As condições meteorológicas e o nível de desempenho dos alunos no decorrer das aulas foram as duas principais causas da adaptação do planeamento. Por exemplo, planeei ensinar o lançamento do dardo na primeira parte da unidade didática de atletismo, contudo face às condições meteorológicas adversas tive que planear uma aula em que o conteúdo principal era a técnica de corrida pois, ao contrário do lançamento do dardo, este conteúdo pode ser exercitado adequadamente no pavilhão. Penso que o facto de ser

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inexperiente não me levou a pensar que as aulas ao ar livre, no inverno, poderiam não se realizar. A produção de um plano de aula alternativo é uma estratégia a utilizar pois auxilia o professor em momentos peculiares do seu trabalho, nomeadamente quando, imediatamente antes da aula, surgem acontecimentos imprevisíveis, como o referido anteriormente.

A planificação e operacionalização dos planos de aula trouxeram-me algumas dificuldades e incertezas que me levaram a refletir e pesquisar. Essas reflexões e pesquisas foram fundamentais para melhorar a minha capacidade de estruturar o pensamento e atribuir mais coerência às minhas aulas. As dificuldades na planificação englobaram: 1) As dúvidas sobre que exercícios selecionar/adaptar/criar; 2) A seleção das componentes críticas para cada situação e nível de aprendizagem; 3) Por vezes, a seleção de progressões pedagógicas coerentes e significativas em termos de aprendizagem; 4) Como planificar um conjunto de aulas, da mesma unidade didática, coerente e progressivo. Já as dificuldades sentidas no decorrer das aulas foram: 1) Motivar os alunos para a prática desportiva em matérias com alguma exigência cardiorrespiratória; 2) Numa fase inicial do ano, promover o espírito cooperativo nas atividades a realizar; 3) Adaptar/alterar exercícios que não estavam a resultar, isto é, que não estavam a ter o efeito que pretendia, quer ao nível da aprendizagem, quer ao nível da motivação.

A elaboração de inúmeros planos de aula e a sua realização ao longo do ano permitiu-me concluir que são raras as vezes que o planeado para uma aula acontece escrupulosamente desse modo. Na verdade, acabam por existir, quase sempre, situações que não eram expectáveis. Mencione-se a título de exemplo, o tempo destinado a cada exercício, que raramente foi exatamente o que foi planeado.

As constantes adaptações aos acontecimentos que se vão sucedendo na aula levaram a que melhorasse a minha capacidade de atuar. O facto de gostar de arriscar e o conhecimento e a boa relação que tive com os meus alunos desde muito cedo, aliada a essa capacidade de improvisação, levou-me a aumentar o desejo de experimentar várias metodologias nas minhas aulas. A lecionação de

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aulas com várias matérias, por exemplo, foi algo que nunca tinha experienciado na minha formação inicial e que arrisquei.