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8. Concelho de Elvas

08.50. Ovelheira CMP

Mais um relevante valor patrimonial do concelho de Elvas, com estruturas apresentando ainda uma elevada monumentalidade e um magnífico enquadramento paisagístico.

O local foi dado a conhecer por Abel Viana e António Dias de Deus, que aqui terão feito escavações, sendo que ainda hoje se reconhecem alguns pontos em que algumas estruturas foram postas a descoberto. No essencial, porém, o sítio apresenta-se praticamente inédito.

A área de edificação romana ultrapassa largamente a área do monte, embora não atinja o “mais de um quilómetro de comprido” referido pelos autores503. O sítio está em

esplanada virada a este, sobre curso de água, com excelentes solos agrícolas na envolvente. Dispõe de um óptimo alcance visual, em especial para sul. Vêem-se escassos materiais, mas a quantidade de estruturas não é contabilizável. De norte para sul, surgem bem evidentes no início da elevação, onde se encontra o que parece ser uma entrada para o edificado, que se apresenta em esquina, e depois ladeada por silhares, dando entrada para um acesso em rampa. Esta dá passagem para um núcleo estrutural, que parece estar vinculado a um edifício termal504, com um tanque com degraus e vários outros compartimentos forrados a

501 IRCP nº 585 e 597. Uma terceira está atribuída ao local: Encarnação, 1988c.

502 Deus, Louro & Viana 1955: 569-570; Viana & Deus 1950; Viana 1953; Viana & Deus 1953; Viana 1955;

Viana & Deus 1956.

503 Deus, Louro & Viana 1955: 572-573.

opus signinum. As estruturas prolongam-se sob o monte, reconhecendo-se alinhamentos

rectangulares à frente da fachada das casas. A oeste, um extenso tanque, conservado, com a sua alvenaria de opus mixtum, em mais de três metros de altura, que ainda funciona como contraforte artificial de toda a elevação. Talvez por aqui se situassem os “restos de um lagar” referido pelos autores. Junto, no seu alinhamento, mais núcleos estruturais, onde certamente decorreram as escavações já mencionadas, em pano de fachada que se prolonga por várias dezenas de metros. Poderia ser aqui que foi encontrado um compartimento de planta absidal contendo uma sepultura coberta com lajes de mármore. O casão agrícola, a sul, cavalga uma estrutura anterior, muito poderosa dados os enormes silhares de granito que são perfeitamente visíveis aflorando sob a cal. Este núcleo, recuado face ao anterior, prolonga-se por mais algumas dezenas de metros.

Os materiais visíveis à superfície são escassos, o que constitui sempre um bom indicador da preservação de níveis arqueológicos. Alguma cerâmica e um fragmento de coluna em granito foram encontrados, juntando-se a uma coluna em mármore que foi encontrada nas escavações.

Estamos perante uma provável villa, em significativo bom estado de preservação, que constitui um sítio arqueológico de elevada monumentalidade e qualidade construtiva.

Na herdade situada imediatamente a sul, o Monte da Calada, estão dois moventes de mó mecânica, um sarcófago em granito, e o que parece ser uma cupa em granito cinza de grão grosso, tendo no topo um orifício rectangular e nos dois lados duas “pegas”. Apresenta três sulcos em cada face. Não foi possível determinar a proveniência, mas dada a proximidade da Ovelheira é de considerar esta hipótese. Um azulejo de 1836, na parede da casa, apresenta o sítio como “Monte da Capela”.

Outras referências: RP 6/233; Pires 1931: 78; Gorges 1979: 465; Almeida, 2000: nº 62.

08.51. Chões

CMP 428 / CNS 4477

Sítio referenciado já em aparente contexto de perda: “Numa pequena elevação, com uma cota aproximada de 256m, entre a ribeira de Varche, Monte de Santo António, estrada Elvas/Quinta do General e o caminho que dá acesso ao Monte Chões, são visíveis numerosos materiais de construção (tegulae, laterae, blocos de pedra) bem como vestígios de construções. Estes vestígios foram recentemente muito afectados pelos trabalhos de “ripagem” que “limparam” o terreno de grandes quantidades de blocos de pedra que foi depositada junto à berma da estrada (blocos aparelhados, bases de coluna em mármore).”505

Por este motivo foi dado como “destruído” por Maria José de Almeida506.

Todavia, o local apresenta-se como um dos sítios arqueológicos mais interessantes do concelho de Elvas.

Com implantação um pouco atípica, porque encaixado no vale da ribeira, o que o coloca em cota baixa, sem visibilidade a não ser aquela que permite dominar o vale encaixado, orientado a sudeste, mas mesmo assim com pouca amplitude de panorama. É possível que uma das fachadas estivesse para aqui voltada, dado o alinhamento estrutural com a panorâmica possível. Dispõe de abundantes recursos hídricos e solos de excelente qualidade, escuros e soltos.

Era necessário realizar um levantamento micro-topográfico urgente, mas a leitura de terreno é tão nítida que, mesmo à vista desarmada, claramente se definem núcleos construtivos. Deve tratar-se de uma villa em dois patamares, pois é visível a existência de dois grandes socalcos orientados para a ribeira, funcionando como “varandas”. O maior terá um perímetro de 5000m2 em planta rectangular orientada a sudeste, e o de cota mais

alta terá 500m2 de área,com o pano mais largo correndo na mesma direcção, sendo neste

que os muros afloram. O sítio terá sido cortado em parte incerta pela estrada, mas o núcleo

505 Procº. IPPAR nº 4.07.104, Informação SRAS de 30. Nov. 1990 de Ana Carvalho Dias. Foi também

consultado o Processo IGESPAR S-4477, com o mesmo conteúdo.

central, mais alto, estará preservado, se exceptuarmos os impactos provocados pela lavra agrícola que aqui ocorre, e pela construção da estrada, que todavia só o terá danificado muito parcialmente.

A densidade de materiais é enorme, em especial à medida que nos aproximamos do ponto mais elevado. Nota-se uma grande diversidade na cerâmica comum. Mas, mesmo com a abundância de materiais, são raros os elementos de cerâmica de importação. Cerâmica de construção de excelente qualidade (de diversas morfologias), de armazenamento e comum, além de materiais pétreos de vários tipos (em especial blocos de calcário cristalino semelhantes a mármore). Encontraram-se blocos de opus signinum e um fragmento de mó. Tegulas (algumas de tonalidade laranja-claro, com uma cor muito fora do comum), tijolos de vários tipos, ladrilhos, imbrices. Terra sigillata galo-romana e clara D, embora em pouca proporção. Bordos de dolium. Em vidro negro opaco foi encontrado um bordo de taça pequena, de parede troncocónica (aberto para o exterior). Uma lasca de sílex retocada.

No topo de alguns furos de captação de água na propriedade foram colocados silhares (pelo menos três), em granito de grão fino e de boa qualidade. Junto a uma separação de propriedades encontram-se os elementos arquitectónicos mencionados no ofício507.

É possível que o sítio tenha uma barragem, ou até que o vizinho topónimo de “Ponte Velha” fosse o paredão de uma estrutura de contenção de água.

Embora em cota muito baixa, o sítio de Chões é claramente uma villa, possivelmente com uma planta organizada em patamares para aproveitar o desnível topográfico. Um local com grande diversidade e qualidade de materiais, quer de construção, quer no campo artefactual. Um valor que necessitaria de protecção e salvaguarda, para evitar uma ainda maior delapidação.

08.52. S. Rafael