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8. Concelho de Elvas

08.52. S Rafael CMP 428 / CNS

O templo existente parece ser muito antigo, pois nas Memórias Paroquiais do local afirma-se que “Tem hua Ermida chamada São Raphael, esta destilhada e sem portas e as paredes com raxas.” Numerosos imbrices estão reaproveitados na alvenaria de construção, e tijoleiras estão embutidas nas jambas da porta de entrada.

Em topo de outeiro, em torno da antiga igreja, “reconhecemos vestígios de edificações com abundância de fragmentos de tégula”, local onde foi recolhida uma “ara anepígrafa, ornada com uma rosácea circundada por duas palmas” 508. Próximo foi

identificado um cemitério de inumação, com mais de vinte sepulturas, presumivelmente tardo-romano ou alto-medieval, com invólucro sepulcral formado por lajes de xisto e que era reconhecível à superfície. No decurso dos estudos relacionados com a albufeira de Alqueva aqui foi reconhecido um “habitat romano”, que por ficar fora da área de influência mínima do regolfo não foi intervencionado.

Outras referências: RP 6/ 250; Viana & Deus 1957: 96-97; Almeida, 2000: nº 71.

Vargem das Barrancas * CNS 29626

Sítio cortado por uma estrada, onde no talude da mesma se observavam três sepulturas. Em torno, existia muito material romano à superfície, como tegulas, cerâmica comum, opus signinum, pregos e uma moeda. O sítio foi intervencionado de emergência, e a “escavação permitiu reconhecer a existência de cinco sepulturas, sendo que uma delas estava vazia, duas estavam muito danificadas, e duas apresentavam esqueleto preservados.

507 Coluna em mármore com altura de 89cm e diâmetro de 26.

Capitel em granito com altura de 48cm, diâmetro de 30, na base quadrangular de 43, altura do plinto da base de 15cms, com canelura no centro

Quatro das sepulturas estavam escavadas em solo geológico, enquanto apenas uma apresentava uma construção cuidada, com argamassa e tijoleiras a servir de pavimento.”509

Referência: Processo IGESPAR S - 29626 e 2001/1(011).

Comentários gerais

“É um território rural profundamente romanizado nos modos de vida e ideais culturais do império, durante o longo período que vai do séc. I à época tardo-romana”. Desta forma sintetizava Maria José Almeida510 a impressão geral sobre o perfil de

povoamento do território elvense, deitando o olhar sobre o facies cultural deste território. Efectivamente, é esta a leitura mais forte que os dados nos transmitem: um espaço profunda e intimamente relacionado com a capital provincial, Augusta Emerita, da qual recebeu influências muito fortes e estruturantes. E, de facto, sentimos uma presença de marcada componente itálica (ou clássica, para utilizar um termo culturalmente mais neutro). Mas antes de avançar para os conteúdos, centremos a análise nos sítios e no terreno.

É certo que a impressão tida dos sítios rurais elvenses é ainda muito difusa, apesar dos denodados esforços de Abel Viana e António Dias de Deus ou de, mais tarde, Maria José de Almeida. Para os primeiros, o seu investimento recaiu mais nas necrópoles, por contingências várias e específicas do momento temporal em que a sua acção decorreu. A impressão deixada nos sítios de habitação foi escassa, sendo que apenas em Carrão – com um mosaico figurativo representando Epona e uma cabeça de estátua não atribuída – se encontraram indicadores culturais mais relevantes. Temos depois o moderno caso de Quinta das Longas, particularmente revelador por se tratar de um sítio com uma cultura material de superfície relativamente discreta, mas onde o programa de investigação plurianual permitiu identificar um magnífico conjunto escultórico e um arrojado plano arquitectónico de múltiplos significados. E torna-se emblemático para a investigação que tenha sido de um sítio tão restrito e discreto (e aqui centro-me nos dados prévios à intervenção511) que estes conteúdos tenham provindo, e não de uma das “grandes villae”

monumentais que ainda estão por escavar, como Correio-Mor, Carrão ou Ovelheira. Cartograficamente, a primeira impressão do território elvense reside na densa concentração de pontos de povoamento. No terreno, a impressão reforça-se, mas muda ligeiramente: torna-se impressionante a massa edificada, a profusão de estruturas e de materiais, por vezes em espantoso grau de conservação. Portanto, se do ponto de vista quantitativo estamos em território densamente ocupado, na perspectiva qualitativa estamos em pleno foco de uma presença humana com elevados índices de indicadores materiais e culturais.

Vários aspectos propiciam esta situação. A amenidade do relevo, a fertilidade dos solos, em especial dos terraços do Caia e Guadiana (onde, não por acaso, se encontram as maiores villae), uma densa rede hidrográfica (onde por vezes encontramos alinhamentos de sítios, como sucede ao longo do curso da ribeira do Ceto, com Correio-Mor, Paço e Botafogo), reforçada por abundantes mananciais… Em resumo, condições paisagísticas privilegiadas para as exigências do espírito latino.

Outro factor central na impressão cartográfica reside na proximidade da capital provincial, na qual o aro elvense poderia estar administrativamente integrado. Um território onde o eixo da via XII funciona como espinha dorsal, ao longo do qual encontramos numerosos sítios. Um espaço comercialmente muito activo, onde os abastecimentos funcionavam na perfeição, como ficou evidente na cultura material já dada a conhecer na

509 Base de dados Endovelico. 510 2000: 167.

511 Apresentados em Carvalho, 1994, com discussão sobre as problemáticas específicas e a acção dos factores

Quinta das Longas512. Mas sobretudo um lugar de fixação, ou de circulação, de pessoas

fortemente vinculadas à mundividência latina, como a marca epigráfica deixa perceber, com uma vincada percentagem de indivíduos com tria nomina.

E por aqui se percebe que os ocupantes deste território eram efectivamente uma elite social, um conjunto de pessoas com uma forte capacidade aquisitiva e que transpuseram para as suas residências de campo (mesmo que algumas fossem permanentes, como a hipótese mantida para Correio-Mor) os urbana ornamenta que caracterizam essa mundividência. Na realidade, os sítios de Elvas deixam duas fortes impressões: monumentalidade e abundância. Sítios patrimonialmente muito relevantes, e em alguns casos resistindo às fortes pressões de uma moderna agricultura de regadio intensivo; e com uma exuberante cultura material visível nas evidências de superfície, nos materiais exumados em escavações, e ainda na solidez das estruturas.

Quero com isto significar que o território elvense é claramente o universo das grandes villae fortemente ancoradas nos domínios de uma cultura clássica. Dos 53 sítios, 17 podem garantidamente ser considerados como villae, o que constitui uma percentagem elevadíssima nos índices de ocupação do solo. É certo que este foi um dos concelhos mais densamente investigados; mas é de longe o que engloba mais sítios enquadráveis nesta categoria. E se olharmos para a distribuição espacial, vemos que a concentração ocorre sobretudo nos já referidos terraços fluviais dos dois grandes cursos de água, havendo ainda um lote significativo ao longo da via XII. Tal indica-nos que os fundi destes lugares deveriam ser relativamente restritos; e então, ou teríamos sítios trabalhando solos de muito elevado rendimento, ou teríamos villae que não seriam exactamente de vocação agro- pecuária, mas que incorporariam significativas vertentes de otium e contemplatio. Como a Quinta das Longas parece ser. E desta forma teríamos um conjunto de latifundiários (embora aqui o conceito de latifúndio possa ser revisto, pois alguns dos fundi seriam afinal restritos) que teriam um conjunto de residências que eram sobretudo espaços de fruição, onde a componente agro-pecuária seria menos relevante. E de facto, apenas em Correio- Mor encontramos significativos elementos relacionados com essa vertente, sejam nas estruturas de captação e condução de água, seja nos desmesurados pesos de lagar que sinalizam a entrada do monte. Nos restantes locais, as evidências são mais discretas ou reduzidas do ponto de vista numérico. Neste aspecto, é muito evidente o contraste com outros concelhos, como o eixo Castelo de Vide/Marvão ou a zona de Monforte/Arronches, onde pesos de lagar e mós são frequentes em cada sítio, e ocorrem em expressões numéricas muito elevadas.

Um dos aliciantes maiores para o futuro da investigação arqueológica neste concelho reside na detecção de outras categorias de sítios. Na realidade, a tipologia “casal” encontra- se quase ausente, bem como a de “pequeno sítio”. E esse é outro dos elementos relevantes: a pirâmide de povoamento surge-nos invertida, com um predomínio da classe que genericamente seria a menos numerosa, e um quase desaparecimento de sítios mais pequenos e modestos. Duas chaves explicativas: consideremos a ausência de uma investigação sistemática, pois os trabalhos de Viana e Deus foram feitos ao sabor das descobertas mais significativas que iam aparecendo, enquanto as prospecções de Maria José Almeida foram orientadas para sítios específicos513; e eu próprio não tive oportunidade de o

fazer, embora nas escassas ocasiões em que esses trabalhos foram feitos, tivessem originado resultados (o caso de Cachim e de Botafogo 2). Os sítios identificados no regolfo

512 Refiro-me aos bens alimentares, às produções cerâmicas do eixo emeritense – Tejo/Sado, mas também

aos conteúdos culturais e civilizacionais que a cultura material deixa antever (em especial, Almeida & Carvalho, 2004).

513 “No entanto, esse carácter sistemático [dos trabalhos de campo] foi assumido no plano das intenções do

projecto de investigação, não tendo sido possível reunir as indispensáveis condições para o levar à prática. […] Na impossibilidade de realizar prospecções sistemáticas na área definida para o presente estudo, ou mesmo optar por um critério de amostragem que exigiria mais tempo e meios do que aqueles que dispunha, optei por orientar o trabalho no sentido de confirmar a existência e localização dos sítios identificados a partir da bibliografia e outras fontes disponíveis.” (Almeida, 2000: 8-9).

do Alqueva514 merecem-me reservas pela não especificação dos elementos cerâmicos de

construção, podendo tratar-se de reutilizações em épocas posteriores. Portanto, futuros trabalhos certamente ditarão o crescimento exponencial do valor numérico dos pontos de povoamento em época romana.

Quanto à segunda chave de explicações, centra-se na pura e simples ausência, ou rarefacção, dessas tipologias de sítios, porque os domínios fundiários estariam tão repartidos entre as grandes villae que remetiam os sítios secundários para outros espaços mais marginais. Como hipótese, é aliciante, mas deve ser encarada meramente como tal. E talvez se prenda com a riqueza dos territórios agrícolas, que poderiam potenciar o aparecimento de um conjunto de villae que repartiam entre si alguns territórios sem deixarem espaço ao aparecimento de casais, que ficariam remetidos para zonas menos férteis e interessantes do ponto de vista da rentabilidade da exploração. Esses espaços de aparecimento de casais poderão estar situados nas freguesias menos estudadas: em Santa Eulália ou Barbacena, ou nos territórios interiores de Vila Boim e de Terrugem, a investigação tem estado menos atenta do que junto ao Guadiana e Caia. Enquanto as grandes villae repartiam entre si os melhores solos, não deixando espaço entre os seus fundi para a eclosão de estruturas menores, estas estariam em territórios marginais, precisamente onde a investigação não ocorreu com tanta intensidade.

Seja como for, o concelho de Elvas apresenta-nos um caso singular, aqui ocorrendo o único exemplar arqueologicamente comprovado de um povoado aberto, um eventual

vicus: Monte da Nora. Local que evolui em continuidade desde a Idade do Ferro até

momentos muito avançados, é um sítio que elimina os seus dispositivos de defensabilidade para os condenar com estruturas produtivas, possivelmente ligadas a algo mais do que a mera auto-subsistência. Fornos de produção cerâmica e um pequeno lagar testemunham a laboração, inserida em contextos sociais que seria de todo o interesse conhecer melhor. Neste aspecto, lastima-se o silêncio epigráfico do sítio ,ou o facto de não haver uma necrópole inequivocamente relacionada com o local, pois seria do maior interesse entender o facies identitário deste sítio. Teríamos uma comunidade que aplicava a sua força laboral em proveito próprio, como um campesinato livre, ou que prestava serviço nas propriedades de grandes domini nas villae das imediações, como em Farisoa ou Terrugem, situadas a curta distância?

Outro feixe de leituras. O conjunto de pontos de povoamento alinhado em curta distância da ribeira de Chaves (sítios 33. a 38.) levanta questões muito relevantes para a compreensão das dinâmicas de povoamento. É certo que se trata de uma zona agricolamente muito rica, repleta de recursos hídricos abundantes. Mas causa surpresa o facto de tantos e tão relevantes pontos estarem tão próximos. Todavia, a sua análise deve ser encontrada em dois níveis de percepção. Antes de mais, o simples facto de terem sido detectados. Tal deve-se à existência de um plano programado de intervenção em um sítio, que foi olhando para o território em volta, e nele procurando detectar outras evidências. Portanto, temos um território densamente povoado também porque foi intensivamente investigado. Depois, o simples facto de estes sítios existirem também deve ser analisado, ou seja, a sua presença no terreno significa algo. Porque alguns são pontos de povoamento com relevante extensão e diversidade de materiais, indicando, ou villae, ou villae com casais. O que leva a pensar que neste micro-território os fundi seriam relativamente restritos, coexistindo unidades de povoamento muito relevantes em curto espaço. Eventualmente, a vocação agro-pecuária não seria o perfil prioritário de exploração, e alguns destes sítios seriam de recreio e lazer, dispondo de fundi mais limitando, cumprindo uma função mais aproximada dos horti. Todavia, não é de excluir a hipótese de alguns destes locais poderem ter cumprido outra função que não a residencial, ou serem pólos de uma única entidade maior, como parece acontecer com Quinta das Longas e o sítio fronteiro de Torre de Sequeira 1.

Finalmente, a questão com a qual esta análise se iniciou. A este respeito, Elvas apresenta um valioso núcleo epigráfico que nos fala um pouco da sua população. E o retrato parece ser de uma comunidade fortemente romanizada e muito vinculada aos valores clássicos. Vários cidadãos com tria nomina e um substrato populacional que maneja perfeitamente os códigos gramaticais das mensagens. E nos suportes pétreos encontramos também a utilização intensiva do mármore, por vezes com um apuro formal que denuncia os gostos e exigências do encomendante. Note-se, contudo, que surgem pessoas de outras paragens: se considerarmos como de proveniência uniforme o núcleo de Proserpina, putativamente de Fonte Branca, lemos nele uma grande diversidade onomástica, que englobaria libertos, cidadãos com tria nomina e eventualmente de origem oriental. Também nas influências culturais vemos uma ara a Belona, a Dea Sancta Burrolobrigensis515, um

mosaico com possível figuração de Epona, e ainda o já referido conjunto de dedicatórias a Proserpina. Ao contrário de outros espaços, aqui não temos divindades indígenas ou um

fundo anterior que por reformulação evolui para o quadro clássico. Por este território, na vida

como na morte, o quadro parece ser plenamente adequado ao poder instalado.

Mas é precisamente no mundo funerário que o concelho de Elvas apresentou um significativo contributo para a investigação arqueológica do mundo rural alentejano.

Graças aos trabalhos de António Dias de Deus e de Abel Viana, temos hoje um panorama impressivo desta realidade concreta. Dez necrópoles foram intensivamente escavadas e, de forma mais ou menos exaustiva, publicadas e dadas a conhecer. No total, várias centenas de sepulturas foram descritas, permitindo-nos conhecer de modo profundo os ritos e práticas de tumulação. Este facto apresenta um inegável valor, mas mais ainda se pensarmos que em vários locais existe uma relação directa entre o espaço de vida e o de morte, ambos identificados e em alguns casos escavados e dados a conhecer. É certo que urge fazer uma profunda revisão dos trabalhos, das evidências estruturais e dos materiais arqueológicos. Muitas necrópoles foram dadas a conhecer de modo demasiado sintético, apressado, ou com as lacónicas descrições que Viana por vezes apresentava; em alguns casos, os materiais foram dados a conhecer de forma separada, em colecções e não em estudos de contextualização e de relação cruzada, como seria desejável. Mas o que é certo é que, sobre Elvas, temos um conhecimento do mundo funerário como não sucede para nenhum outro território do Alto Alentejo, ou mesmo para o sudoeste peninsular em geral. E a imagem que temos é a de uma sociedade complexa, heterogénea e em rápida mudança, incorporando novos ritos e crenças com assinalável velocidade. A impressão geral que fica, contudo, é a de que os sepulcros das elites da sociedade ainda não foram identificados e escavados, pois de um modo geral a densidade de sepulturas por necrópole é muito numerosa (o que também concede uma noção da dimensão demográfica deste espaço, que seria densamente povoado), e com um espólio que genericamente não integra elementos de excepção, pelo menos ao nível dos reconhecidos na materialidade dos pontos de povoamento. Note-se a relativamente baixa ocorrência de espólio metálico nas diversas necrópoles, com ainda mais escassa frequência de materiais em prata e ferro e a ausência de objectos em ouro. Note-se ainda a tímida presença de moedas: uma em Serrones e duas em Torre das Arcas516.

E finalmente faltam ainda numerosas correlações entre os espaços funerários e de habitação. A título de exemplo, seria do máximo interesse proceder-se à identificação da necrópole correspondente à Quinta das Longas, não só porque aqui temos um sítio intensamente escavado, mas também pelos conteúdos que o local apresenta (nomeadamente, um ambiente de representação clássico e conservador – o ninfeu – e um indicador de presença cristã, o chrismon inscrito em mosaico).

515 IRCP 566. Neste caso mais um dedicante com tria nomina, Q[uintus] I[ulius] E[meritus].

516 Viana, 1953. Neste artigo consulte-se outro vector de análise: nas 380 sepulturas do universo em estudo,

englobando a necrópole de Padrãozinho (Vila Viçosa) foram exumados apenas 147 vasos de terra sigillata e 68 “do tipo de Aco”, ou seja, cerâmica de paredes finas.

A necessidade de se proceder a uma reavaliação da informação legada, sobretudo, por Deus e Viana é portanto urgente. Reler os dados à luz da investigação actual, sistematizá-los e ordená-los, alocando-os aos diversos pontos de proveniência. Da mesma forma, muito trabalho de campo ainda resta para definir melhor a arquitectura do povoamento, e esclarecer várias questões ainda em aberto.

Por exemplo, a sincronia.

Plasmando todos os pontos na cartografia, a primeira impressão que fica reside na possibilidade de todos terem sido ocupados em simultâneo, e nesse caso teríamos um território quase fervilhando de gentes e de lugares. Mas pode não ter sido bem assim. Os poucos dados existentes apontam para fenómenos dúplices, de continuidade e ruptura.

No primeiro caso, temos a existência de espaços funerários e/ou habitacionais perdurando por longo tempo. Em Chaminé temos o melhor exemplo, com uma área sepulcral do Ferro que detém tumulações em momento tardio, com um momento intermédio que pode ser relacionado com o momento de ocupação da estrutura fundiária próxima (Carrão). Portanto, temos um espaço funerário com grande diacronia de ocupação, próximo de uma villa. Em alguns casos, temos reconfigurações: em Camugem, epígrafes funerárias reaproveitadas em contextos posteriores; ou em Terrugem, onde parece existir uma necropolização da estrutura de habitação (mas em que núcleo?, termal?).Todavia, em impressão genérica, o território parece deter uma relativa estabilidade e homogeneidade substantiva, embora com as evoluções naturais.

No entanto, existiriam certamente rupturas e abandonos. Um caso arqueologicamente comprovado será Quinta das Longas, com um término de presença relativamente precoce, algures no século V. Aparentemente existe um encerramento pacífico do local, embora pareçam existir fenómenos de ocupação posterior, ainda não devidamente inseridos na cronologia. Mas o sítio, em rigor, é abandonado e, como indica o contexto secundário de deposição das estátuas, é deixado com o seu recheio intacto (ou, pelo menos, parte dele). Por que motivo? A concentração fundiária, que pode ter conduzido a que Longas fosse inserida em um fundus mais vasto e, dado o facto de o sítio poder apresentar um perfil vivencial muito específico (ligado ao otium e à fruição), tornou-o