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CAPÍTULO II QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

2.2 Métodos de investigação

2.2.3 Perspectivas etnográficas em educação

Outra perspectiva teórico-metodológica que contribuiu para a construção desta pesquisa foi a Etnografia em Educação. Esta tem sido uma dentre várias outras

61“[...]must decide in advance in what point to enter the ongoing flow of events and at what point to withdraw from it. For the purposes of exposition, a set of events must be lifted from the ongoing stream and presentd, as it were, isolated from antecedent and subsequent events. (ELLEN, 1984, p. 237)

abordagens teórico-metodológicas adotadas para analisar as interações entre os participantes e artefatos em salas de aula62. Dentro desses estudos, há certa variedade no modo como a etnografia em educação tem orientado as pesquisas nesse campo. Observa-se nessas investigações acadêmicas o uso de expressões que vão desde assumirem como fazer etnografia; passando por pesquisas que se dizem com

perspectivas etnográficas a até aquelas que afirmam apenas adotar ferramentas etnográficas (GREEN, BLOOME, 1997). De acordo com Green e Bloome (1997), o

primeiro tipo de pesquisa, das Etnografias propriamente ditas, compreende um estudo amplo, profundo e de longo prazo de um determinado grupo social ou cultural. Nesse processo, as atividades do pesquisador envolvem determinados enquadramentos conceituais; modos de conduzir a pesquisa e interpretar os fenômenos; modos específicos de escrever e de relatar a pesquisa. Tais ações estariam respondendo aos critérios necessários para se fazer etnografia como concebido em determinada disciplina ou campo (GREEN, BLOOME,1997).

Já os estudos que envolvem uma perspectiva etnográfica, destacam os autores, adotam uma abordagem mais direcionada para o estudo de aspectos particulares da vida ordinária de um determinado grupo social. Nesse sentido, completam Green, Bloome (1997, p.6), “central nessa perspectiva etnográfica é o uso de teorias de cultura e práticas de investigação derivadas da antropologia ou sociologia, para guiar a pesquisa.”63 Por fim, pesquisas que afirmam adotar ferramentas etnográficas referem- se àquelas investigações que apenas utilizam de métodos e técnicas geralmente associadas com o trabalho de campo. Segundo Green e Bloome (1997, p.6), “estes métodos podem ou não ser guiados por teorias culturais ou questões sobre a vida social dos membros do grupo.”64

Nesta pesquisa nós buscamos uma aproximação com perspectivas etnográficas (GREEN, BLOOME, 1997). Com isso queremos dizer que estivemos atentos para nos afastarmos de uma abordagem que apenas utiliza métodos e técnicas derivados da etnografia em educação. Mais do que isso, empreendemos esforços para nos

62Green, Dixon e Zarhalic (2005) afirmam que pesquisas com abordagem antropológicas tem sido dominantes no cenário educacional norte-americano.

63“Central to an ethnographic perspective is the use of theories of culture and inquiry practices derived from anthropology or sociology to guide the research.” (GREEN, BLOOME, 1997, p. 6)

64

“These methods may or may not be guided by cultural theories or questions about social life of group members.”(GREEN, BLOOME, 1997, p. 6)

aproximarmos também dos princípios teóricos, explanatórios e conceituais, procurando, assim, interpretá-la como uma lógica de investigação. Todavia, é importante esclarecer que não consideramos que tivemos um significativo sucesso nessa empreitada. Consideramos que ainda é necessário um maior aprofundamento nas produções da área, assim como desenvolvimento de outros estudos em pareceria com pesquisadores mais experientes com os usos de perspectivas etnográficas em educação.

Em nosso grupo de pesquisa temos desenvolvido trabalhos que tentam se aproximar de perspectivas etnográficas em educação, que assumem a etnografia como uma lógica de investigação. Temos buscado essa aproximação ao investigarmos vários fenômenos educacionais, em níveis de ensino Fundamental, Médio e Superior, como os seguintes: sobre processos de inclusão/exclusão de alunos na disciplina de Ciências (FRANÇA e MUNFORD, 2012); nas construções de situações argumentativas no ensino de Ciências (SILVAet al, 2012) e Biologia (SILVA, SILVA e MUNFORD, 2011; 2012), assim como nas construções de relações teoria-prática nos cursos de formação de professores de Ciências e Biologia (VIANA, MUNFORD, MORO, 2011; VIANA et al, 2012a, 2012b e 2013). Entretanto, é também consenso entre os participantes do grupo que ainda há um bom caminho a ser percorrido, uma vez que ainda não conseguimos nos apropriar satisfatoriamente dessas perspectivas em nossas investigações.

Nesta pesquisa, nossa aproximação com os estudos da etnografia em educação justifica-se por considerarmos que traz alguns princípios que contribuem significativamente para nossa análise do fenômeno, a construção de relações teoria- prática (RTP). Nessa direção, passa-se a olhar a sala de aula como uma cultura, ou seja, o pesquisador tenta compreender o que os membros de um grupo precisam saber, compreender, produzir e prever para participar em sua comunidade. (GREEN, DIXON e ZAHARLIC, 2005, p. 28). Entre outras coisas, esse olhar envolve deslocar o foco das análises dos indivíduos e das intenções de suas ações particulares, para consequências dessas ações, ou seja, para as reações que elas geram no grupo. Cultura, nesse sentido, é entendida como apresenta Spradley (1980, p. 9) “um sistema compartilhado de significados, que é aprendido, revisado, mantido, no contexto no

qual as pessoas estão interagindo”65. Assim, tal perspectiva também se alinha com a perspectiva social de aprendizagem, uma vez que, como colocado por Castanheira (2001)

Ao adotar a noção de cultura como maneiras ordinárias, compartilhadas e padronizadas desenvolvidas por membros de um grupo social para perceber, agir, crer e avaliar e aplicá-la nas escolas e salas de aula, esses pesquisadores propõem que o que se considera aprendizagem é definido por membros de um grupo ao longo do tempo. (p.26)

Portanto, ao se investigar esse processo, é fundamental que as análises contemplem essa perspectiva de olhar o grupo em uma sala de aula. Além disso, tal perspectiva carrega também uma atenção para o distanciamento de abordagens que adotam categorias pré-definidas para analisar as interações em sala de aula. Entre outros apontamentos, tais críticas trazem o argumento de que esse tipo de análise dificulta conhecer as construções dos contextos locais. Nesse sentido, também torna-se importante a adoção da perspectiva êmica, na qual objetivamos “localizar e identificar o conhecimento êmico ou do insider [membro da comunidade] necessário para se engajar nos eventos da vida cotidiana dentro do grupo”. Procurando, assim, identificar como os participantes de um grupo social atribuem significado às ações e eventos cotidianos. (GREEN, DIXON, ZAHARLIC, 2005)

Segundo essas autoras, a etnografia em educação, como lógica de pesquisa, fundamentar-se-ia, então, nos seguintes princípios-chave: (i) “etnografia como estudo

de práticas culturais”; (ii) “etnografia como início de uma perspectiva contrastiva” e

(iii) “etnografia como início de uma perspectiva holística”. Embora reconheçamos que não conseguimos nos apropriar satisfatoriamente desses princípios em nossa pesquisa, os adotamos como um horizonte durante o desenvolvimento dessa investigação. Uma discussão mais aprofundada de como tais princípios foram interpretados na condução desta pesquisa será apresentada ao longo do texto, buscando articular nossa compreensão sobre os mesmos.

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