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A Constituição Federal de 1988 considera a educação serviço público essencial, como direito de todos e dever do Estado e da família, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa no preparo para o exercício da cidadania e de qualificação para o trabalho (art. 205). O ensino se baseia nos princípios da igualdade de condições para acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e concepções pedagógicas e coexistência de instituições públicas e privadas; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização dos profissionais da educação121; gestão democrática do ensino público; garantia de

padrão de qualidade; e piso salarial profissional nacional, para os profissionais da educação escolar pública (art. 206, I a VIII). Ainda, a Constituição fixa percentual mínimo de gasto com a educação para a União, Estados, Distrito Federal e municípios.

121 Este princípio constitucional de que o ensino será ministrado com base na valorização dos profissionais da

educação escolar (art. 206, V), na prática tem sido mal interpretado e mesmo desvirtuado. Observamos um fenômeno interessante e contraditório, nas últimas quatro eleições municipais (1996, 2000, 2004 e 2008). Atestamos que os prefeitos que investiram em educação, com a construção de prédios escolares, aquisição de mobiliário, melhorando a estrutura física e material de ensino de uma maneira geral não tiveram apoio dos professores em eleições – mesmo em casos de criação de planos de carreira do magistério, ou, ainda, com aumento de remuneração dos profissionais do magistério. A estes investimentos somou-se a cobrança aos professores de frequência em cursos de aperfeiçoamento, custeados pelo poder público, mais empenho, dedicação, aprofundamento e melhora na qualidade das aulas ministradas, exigindo, enfim, desse quadro de servidores mais trabalho. Cerca de 80% desses professores votaram contra os respectivos prefeitos, em campanhas de reeleição ou de candidatos apoiados por estes.

Valorização dos profissionais da educação escolar significa que: professor não deve “ter preço”; precisa ter “valor”, que é coisa bem diversa. Tem aqui inteira aplicação o magistério de Miguel Reale, ao afirmar que: “Os valores, enquanto tais, possuem realidade que é também a-espacial e atemporal – ou seja, apresentam um modo de ‘ser’ que não se subordina ao espaço e ao tempo. Mas, já aqui começa uma diferença muito grande. Enquanto os objetos ideais valem, independentemente do que ocorre no espaço e no tempo, os valores só se concebem em função de algo existente, ou seja, das coisas valiosas. Além disso, os objetos ideais são quantificáveis; os valores não admitem qualquer possibilidade de quantificação. Não podemos dizer que o Davi de Miguel Ângelo valha cinco ou dez vezes mais que o Davi de Bernini. A idéia de numeração ou quantificação é completamente estranha ao elemento valorativo ou axiológico. Não se trata, pois, de mera falta de temporalidade e de espacialidade, mas, ao contrário, de uma impossibilidade absoluta de mensuração. Não se numera, não se quantifica o valioso. Às vezes nós o medimos, por processos indiretos, empíricos e pragmáticos, como acontece, por exemplo, quando exprimimos em termos de preço a “utilidade” dos bens econômicos, mas são meras referências para a vida prática, pois os valores como tais são imensuráveis, insuscetíveis de serem comparados segundo uma unidade ou denominador comum.” (REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 187).

A União tem competência para legislar privativamente sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, CF/88), o que fez por meio da Lei n. 9.394/1996. É de competência comum de todos os entes da Federação proporcionar os meios de acesso à educação e à ciência (art. 23, V, CF/88). União, Estados e Distrito Federal têm competência concorrente para legislar sobre educação e ensino (art. 24, IX, CF/88). Aos municípios compete manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental (art. 30, VI, CF/88).

Determina a Constituição Federal a instituição do plano nacional de educação – PNE – por meio de lei, com duração plurianual, com o fim de articular e desenvolver o ensino em seus diversos níveis e integrar as ações do Poder Público que conduzam aos fins da erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação do trabalho e promoção humanística, científica e tecnológica do País (art. 214, I a V, CF/88).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE) – Lei n. 9.394/1996 –, como lei nacional, impõe o planejamento da educação em diversos dispositivos, que vão desde o plano nacional de educação até o plano de aula a ser ministrada em sala. Determina aos Estados que elaborem e executem políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus municípios (art. 10, III); que os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, têm a incumbência de velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente (art. 12, IV); que os docentes estão incumbidos de elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (art. 13, II); e a instituição de plano de carreira e regime de pessoal (arts. 54, II, e 67).

A LDBE impõe às universidades, sem prejuízo da autonomia assegurada, as atribuições de estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão, e de aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme dispositivos institucionais (art. 53, III e VIII); às universidades mantidas pelo Poder Público, autonomia para aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras,

serviços e aquisições em geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo Poder mantenedor (art. 54, III); a formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- graduação, garantida, nesta formação, a base comum nacional (art. 64); garantia aos profissionais da educação de período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho (art. 67, V).

A União, segundo imposição da LDBE, deverá planejar programas no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas, mantendo pessoal, currículos e programas específicos para as respectivas comunidades, que devem, inclusive, ser ouvidas em audiência (art. 79, §§ 1º e 2º, II, III). Por fim, a LDBE elegeu a década da educação e fixou prazo para encaminhamento ao Congresso Nacional do projeto de Plano Nacional da Educação – PNE (art. 87, § 1º).

O PNE em vigor foi instituído pela Lei n. 10.172, de 09/01/2001, com duração de dez anos, impondo aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios que elaborem seus planos decenais correspondentes com base no PNE. Determina que a União, em articulação com os demais entes da Federação e da sociedade civil, proceda a avaliações periódicas da implementação do PNE, inclusive com o acompanhamento da sua execução, por comissões permanentes do Congresso, com a primeira avaliação prevista para o quarto ano de vigência do PNE, cabendo, ao Congresso Nacional, aprovar as medidas legais decorrentes, com vistas à correção de deficiências e distorções.

O PNE prevê a instituição do Sistema Nacional de Avaliação e estabelece os mecanismos necessários ao acompanhamento das suas metas. Impõe, ainda, que os PPAs dos entes da Federação sejam elaborados de modo a dar suporte às metas constantes do PNE e dos respectivos planos decenais. Determina que os poderes das pessoas políticas da Federação divulguem o PNE e a progressiva realização de seus objetivos e metas, para que a sociedade o conheça amplamente e acompanhe sua implementação.

A Lei n. 10.172/2001 é integrada por Anexo que faz uma introdução e um histórico da educação no Brasil, após o que apresenta diagnóstico, diretrizes,

objetivos e metas do PNE: em todos os níveis, da educação básica – que compreende a educação infantil, ensino fundamental e médio – até a educação superior; em todas as modalidades de ensino – educação de jovens e adultos, educação a distância e tecnologias educacionais, educação tecnológica e formação profissional, educação especial e indígena; em relação ao magistério, com a formação dos professores e valorização do magistério; quanto ao financiamento e gestão do plano; e quanto ao seu acompanhamento e avaliação.