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A Constituição de 1988 trata da política agrícola e da reforma agrária com algumas diferenças, embora a primeira seja mais ampla e abrace o universo da segunda. O Estatuto da Terra – Lei n. 4.504/64 –, no art. 1º, § 1º, considera reforma agrária: “o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição de terra”, modificando “regime de posse e uso” com a finalidade de “atender aos princípios da justiça social e ao aumento de produtividade”.118

O texto do Documento Maior, em face do crônico, desigual e histórico problema de distribuição de terras no Brasil,119 dedica cinco dos oito artigos do Capítulo III, do Título VII, à reforma agrária: os arts. 184, 185, 186, 188 e 189. Os dois primeiros cuidam da desapropriação por interesse social; o terceiro, da função social da propriedade rural e, os dois últimos, da destinação de terras, do plano

118 Sulaiman Miguel Neto apresenta a distinção: “A REFORMA AGRÁRIA: estabelece novo regramento das

normas para disciplinar a estrutura agrária do país, isto é, para uma melhor distribuição das terras improdutivas. Impulsiona a justiça social e o aumento da produtividade, mediante o uso racional da propriedade agrícola, observando-se a boa técnica para combater formas menos adequadas de produção. A POLÍTICA AGRÍCOLA: estabelece o pleno emprego das atividades agropecuárias, harmonizando-as com o processo de desenvolvimento da área industrial. Procura encaminhar o rurícola ao associativismo e ao cooperativismo, buscando harmonia social.” (MIGUEL NETO, Sulaiman. Questão agrária, doutrina, legislação e jurisprudência. Campinas: Bookseller, 1997. p. 47).

119 O II PNRA relata que: “O índice de Gini mede o grau de concentração, sendo que, zero indica igualdade

absoluta e 1, a concentração absoluta. Para o Brasil, o índice de distribuição de renda é 0,6, e para a concentração fundiária está acima de 0,8. A elevada concentração da estrutura fundiária brasileira dá origem a relações econômicas, sociais, políticas e culturais cristalizadas em um modelo agrícola inibidor de um desenvolvimento que combine a geração de riquezas e o crescimento econômico, com justiça social e cidadania para a população rural. Segundo o Cadastro do Incra, no estrato de área até 10 ha encontram-se 31,6% do total de imóveis que correspondem a apenas 1,8% da área total. Os imóveis com área superior a 2.000 ha correspondem a apenas 0,8% do número total de imóveis, mas ocupam 31,6% da área total.”

nacional de reforma agrária e da forma de recebimento dos imóveis. A Lei n. 8.629/93 dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária. A Lei Complementar n. 76/93, do procedimento judicial de desapropriação, de competência da União, por interesse social, de imóvel rural, para fins de reforma agrária.

Com esteio no art. 188, da Carta Magna, o Ministério do Desenvolvimento Agrário editou o II Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), para o período de 2004-2007,120 com onze metas: Meta 1: 400.000 novas famílias assentadas; Meta 2:

500.000 famílias com posses regularizadas; Meta 3: 150.000 famílias beneficiadas pelo Crédito Fundiário; Meta 4: Recuperar a capacidade produtiva e a viabilidade econômica dos atuais assentamentos; Meta 5: Criar 2.075.000 novos postos permanentes de trabalho no setor reformado; Meta 6: Implementar cadastramento georreferenciado do território nacional e regularização de 2,2 milhões de imóveis rurais; Meta 7: Reconhecer, demarcar e titular áreas de comunidades quilombolas; Meta 8: Garantir o reassentamento dos ocupantes não índios de áreas indígenas; Meta 9: Promover a igualdade de gênero na Reforma Agrária; Meta 10: Garantir assistência técnica e extensão rural, capacitação, crédito e políticas de comercialização a todas as famílias das áreas reformadas; e Meta 11: Universalizar o direito à educação, à cultura e à seguridade social nas áreas reformadas.

O II PNRA, além da garantia do acesso à terra, prevê ações para que estes homens e mulheres possam produzir, gerar renda e ter acesso aos demais direitos fundamentais, como saúde e educação, energia e saneamento. Reconhece a reforma agrária como condição para a retomada do crescimento econômico com distribuição de renda e para a construção de uma nação moderna e soberana, promovendo geração de empregos e renda, a ocupação soberana e equilibrada do território e a garantia de segurança alimentar, além de promover e preservar tradições culturais e o meio ambiente e impulsionar a economia local e o desenvolvimento regional.

120 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. República Federativa do Brasil. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Brasília. II Plano Nacional de Reforma Agrária. Paz, Produção e Qualidade de Vida no Meio Rural. Disponível em: <www.mda.gov.br/arquivos/PNRA_2004.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2009.

Assume a reforma agrária, de acordo com o II PNRA, status de Programa de Governo, exigindo para a consecução de seus objetivos intensa cooperação do Ministério do Desenvolvimento Agrário com diferentes órgãos e instituições: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Ministério do Meio Ambiente; Saúde; Educação; Cultura; Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – Consea; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES; Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia – BASA, Banco de Brasília – BRB; Banco do Nordeste – BNB; Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – APEX; fundos constitucionais de desenvolvimento; Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – e diversos centros autônomos de tecnologias apropriadas; conselhos de desenvolvimento rural sustentável; universidades entre outras entidades da sociedade civil. Este esforço coletivo tem por finalidade possibilitar o apoio e a promoção de iniciativas e soluções de diversificação produtiva, o estímulo à organização de associações e cooperativas, o desenvolvimento de novos produtos, processos produtivos e estratégias de acesso a mercado visando fortalecer a agricultura familiar e os beneficiários da reforma agrária, uma forte integração interinstitucional dos diversos ministérios e órgãos federais, a garantia dos recursos orçamentários e financeiros, a combinação das políticas de segurança alimentar e nutricional às políticas de combate à pobreza rural e de consolidação da agricultura familiar, acrescidas daquelas voltadas para compor uma rede de proteção social e de acesso a direitos, entre as quais as políticas de habitação, educação, saúde, cultura, infraestrutura (estradas, energia, pontes, água, saneamento, comunicação) e segurança pública.

No II PNRA, o Plano Safra da Agricultura Familiar e da Reforma Agrária disponibilizará recursos para o custeio, seguro e a comercialização da produção. Serão assegurados, ainda, recursos para que as famílias assentadas iniciem as atividades que garantirão o autoconsumo, a geração de renda e excedente e que organizem o assentamento com uma perspectiva de integração produtiva e de sua vinculação com uma estratégia territorial de desenvolvimento. Os recursos previstos para tais investimentos deverão ser modulares no seu limite superior de disponibilidade conforme a coerência do projeto com a estratégia mais global.