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O Capítulo III, do Título VII, “Da Ordem Econômica e Financeira”, da Constituição Federal de 1988, nos seus artigos 184 a 191, cuida da “Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária”. O art. 187 determina o planejamento, por lei ordinária de competência da União, da política agrícola, que deve incluir as atividades agroindustriais, agropecuárias, pesqueiras e florestais, envolvendo a participação do setor de produção, produtores, trabalhadores rurais e os setores de comercialização, de armazenamento e transporte, levando em conta os instrumentos creditícios e fiscais, preços compatíveis com os custos de produção e garantia de comercialização, incentivo à pesquisa e à tecnologia, assistência técnica e extensão rural, seguro agrícola, cooperativismo, eletrificação rural e irrigação e habitação.115 O

115 Gustavo Elias Kallás Rezek fala da importância de tal política: “A existência da previsão legislativa e a execução efetiva de uma política agrícola são vitais para a viabilidade econômica e social do imóvel agrário. Os governos das mais variadas nações de nosso planeta dedicam especial atenção e incentivos à produção agrícola e pecuária interna, questão até de segurança e estabilidade nacional, diretamente relacionada com o abastecimento alimentar da população. São comuns, por isso, as disputas entre países, na Organização Mundial do Comércio (OMC), baseadas na questão dos subsídios agrícolas internos. É através da política agrícola que se desenvolve o setor produtivo do campo, evita-se o êxodo rural, criam-se empregos, aumenta-se a renda, incrementam-se as exportações e se permite o cumprimento da função social do imóvel agrário, seja ele a propriedade familiar ou a grande empresa agrária.” (REZEK, Gustavo Elias Kallás. Imóvel agrário, agrariedade, ruralidade e rusticidade. Curitiba: Juruá, 2007. p. 161).

art. 188 prevê a elaboração do “plano nacional de reforma agrária” com a destinação de terras públicas e devolutas compatível com a política agrícola.

O Estatuto da Terra – Lei n. 4.504/64 –, no art. 1º, § 2º, entende por política agrícola “o conjunto de providências de amparo à propriedade da terra” destinadas “a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias”116 no “sentido de garantir-lhes o pleno emprego” e de “harmonizá-las com o processo de industrialização do País”.117 A Lei n. 8.171/91 dispõe sobre a política agrícola, fixa seus fundamentos, define os objetivos e as competências institucionais, prevê os recursos e estabelece as ações e instrumentos (art. 1º).

O art. 3º da Lei n. 8.171/91, que enumera os objetivos da política agrícola, invoca, em seu inciso I, o art. 174 da Carta Magna, reafirmando que o Estado exercerá a função de planejamento, que será determinante para o setor público e indicativo para o setor privado, destinado a promover, regular, fiscalizar, controlar, avaliar atividade e suprir necessidades, visando assegurar o incremento da produção e da produtividade agrícolas, a regularidade do abastecimento interno, especialmente alimentar, e a redução das disparidades regionais. Os demais incisos do dispositivo citado apontam, como objetivos da política agrícola: sistematizar a atuação estatal, para que os segmentos da agricultura possam planejar suas ações e investimentos; eliminar as distorções das funções econômicas do setor; proteger o meio ambiente; promover a descentralização dos serviços públicos de apoio ao setor rural, visando complementar as ações dos demais entes da Federação; compatibilizar as ações de política agrária com as de reforma agrária; promover e estimular o desenvolvimento da ciência e tecnologia agrícola; possibilitar a participação de todos os segmentos do setor; prestar apoio institucional; estimular o processo de agroindustrialização; promover a saúde animal e a sanidade vegetal; promover a idoneidade dos insumos e serviços empregados; assegurar a qualidade dos produtos de origem agropecuária; promover a concorrência legal; melhorar a renda e a qualidade de vida do meio rural (art. 3º, incisos I a XVII).

116 Gustavo Elias Kallás Rezek adverte que o mais “correto seria nomeá-la como política agropecuária, e não

apenas, como política agrícola”. (REZEK, Gustavo Elias Kallás. Imóvel agrário, agrariedade, ruralidade e rusticidade. Curitiba: Juruá, 2007. p. 161).

117 Pinto Ferreira conceitua política agrária como: “o conjunto de princípios fundamentais e de regras disciplinadoras do desenvolvimento do setor agrícola”. (FERREIRA, Pinto. Curso de direito agrário. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 153).

São ações e instrumentos da política agrícola, que se devem orientar pelos planos plurianuais: planejamento; pesquisa tecnológica; assistência técnica e extensão rural; proteção do meio ambiente; defesa da agropecuária; informação; produção, comercialização, abastecimento e armazenagem; associativismo e cooperativismo; formação profissional e educação rural; investimentos públicos e privados; crédito rural; garantia da atividade agropecuária; seguro; tributação e incentivos fiscais; irrigação e drenagem; habitação rural; mecanização e crédito fundiário (art. 4º, I a XIX, parágrafo único).

Ao tratar especificamente do planejamento agrícola a ser coordenado, a nível nacional, pelo Ministério da Agricultura e Reforma Agrária (MARA), articulado com os demais entes federados e de forma integrada com as atividades de produção e de transformação agrícola com os demais setores da economia, a Lei n. 8.171/91 reafirma que será feito em consonância com o que dispõe o art. 174, da Constituição, isto é, de forma democrática e participativa, por meio de “planos nacionais de desenvolvimento agrícola plurianuais”, “planos de safras” e “planos operativos anuais”. Os planos de safra e os plurianuais serão elaborados de acordo com os instrumentos gerais de planejamento, considerando o tipo de produto, fatores e ecossistemas homogêneos, o planejamento das ações dos órgãos e entidades da administração federal direta e indireta, as especificações regionais e estaduais, de acordo com a vocação agrícola e as necessidades de abastecimento diferenciadas, formação de estoque e exportação, desenvolvendo e mantendo atualizada uma base de indicadores sobre o desempenho do setor, a eficácia, os efeitos e impactos dos programas dos planos plurianuais (arts. 8º, §§, 9º e 10, I e II).

Por sua vez, a Lei n. 8.174/91 atribuiu, ao Conselho Nacional de Política Agrícola, competência para controlar a aplicação da política agrícola, orientar na identificação das prioridades a serem estabelecidas no Plano de Diretrizes Agrícolas, opinar sobre a pauta dos produtos amparados pela política de garantia dos preços mínimos e assessorar o MARA.

O todo do planejamento da política agrícola contém diversos programas, tais como: Programa Emergencial de Frentes Produtivas, instituído pela Lei n. 9.745, de 15 de dezembro de 1998, resultante da conversão da MP n. 1.687, de 29 de junho de 1998 (reedição da MP n. 1.667, de 05 de junho de 1998), e regulamentado pelo

Decreto n. 2.618/98; Programa Especial de Financiamento para combate aos efeitos da estiagem na área de atuação da SUDENE, instituído pela Lei n. 10.193/01; Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária (RECOOP), criado pela MP n. 2.168-40, de 27 de agosto de 2001; Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, instituído pela Lei n. 11.326/06. A LC n. 93/98 criou o Fundo de Terras e da Reforma Agrária – Banco da Terra – com o fim de financiar programas de reordenação fundiária.