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Capitulo I O Estado

2. Estado de Direito democrático

2.6 Portugal e o Estado Social

Da leitura da CRP, esta não deixa muitas duvidas quanto ao respeito dos objectivos fundamentais da competência do Estado de acordo com o texto constitucional, pois é logo no preâmbulo que ao Estado se detectam e atribuem preocupações de sociabilidade, bem como o objectivo de alcançar ou “abrir caminho a uma sociedade socialista, no respeito pela vontade do povo, visando a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno”64, não se podendo esquecer os preceitos iniciais da CRP onde se apela, e de forma enfatizadora, a ideia de democracia social e económica, num enriquecimento (limitado, segundo alguns) da concepção democrática, deixando desta forma para trás e de forma definitiva o modelo liberal

podendo constatar-se nos artigos 1º e 2º da CRP que 65:

62

CANOTILHO, José Joaquim Gomes: MOREIRA, Vital - Constituição da República Portuguesa Anotada Volume I Artigos 1º a 107º, p. 211-212

63 Idem p. 211-212

64

MIRANDA, Jorge - As Constituições Portuguesas. 6ª ed. Cascais: Principia Editora. 2013, op. cit. p. 239

65

GOUVEIA, Jorge Bacelar - Manual de Direito Constitucional Volume II § 38º O principio social e os fins do Estado 166. I e II, p. 848

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“Artigo 1º “Portugal é uma Republica soberana (…) empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”66.

Artigo 2º “A Republica portuguesa é um Estado de direito democrático (…) visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa”67.”

Quanto ao Estado Social, a CRP no seu artigo 9º nas suas diversas alíneas, será porventura o mais relevante de todos esses preceitos, cuja epígrafe se refere precisamente às “Tarefas fundamentais do Estado” que segundo o artigo 9º são tarefas fundamentais do Estado (deverão ser)68:

“a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam;

b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;

c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática os cidadãos na resolução dos problemas nacionais;

d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;

e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;

f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa;

g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em conta, designadamente, o caracter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e a Madeira;

h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.”

Essas tarefas fundamentais do Estado concretizam-se por sua vez em múltiplas tarefas de segundo grau ou de âmbito menor, atribuídas ao Estado em incumbências particulares, em

66 GOUVEIA, Jorge Bacelar - Manual de Direito Constitucional Volume II § 38º O principio social e os fins do

Estado 166. I e II, p. 848

67 Idem

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directivas reguladoras da actividade politica ou em obrigações concretas do Estado, como sejam a titulo de exemplo, na protecção do sector cooperativo e social de propriedade dos

meios de produção69, na disciplina da actividade económica e os investimentos por parte de

pessoas singulares ou colectivas estrangeiras70, na defesa da legalidade democrática na

garantia os direitos e liberdades fundamentais71, na coexistência dos sectores publico, privado,

cooperativo e social de propriedade dos meios de produção72, participação das organizações

representativas dos trabalhadores e das organizações representativas das actividades

económicas na definição das principais medidas económicas e sociais73. De entre as

incumbências prioritárias do Estado, “as de promover o aumento do bem-estar social e económico das pessoas, em especial dos mais desfavorecidos”74, na “promoção da justiça social e na igualdade de oportunidades e a correcção das desigualdades sociais na distribuição da riqueza e do rendimento”75, zelar pela “eficiência do sector público”76, “promover a coesão económica e social do território nacional eliminando progressivamente as diferenças económicas e sociais entre a cidade e o campo, entre o litoral e o interior”77,

“assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito”78

, “assegurar um bom ambiente de vida humana sadio e ecologicamente equilibrado”79, no direito “á fruição e criação cultural”80, “protecção dos planos”81, “direito ao trabalho”82 e na “protecção dos direitos dos

69 Artigo 81º alínea f) da Constituição da Republica Portuguesa

70 Artigo 87º da Constituição da Republica Portuguesa

71 Artigo 199º alínea f) da Constituição da Republica Portuguesa

72

Artigo 80º alínea f) da Constituição da Republica Portuguesa

73 Artigo 80º alínea g) da Constituição da Republica Portuguesa

74 Artigo 81º alínea a) da Constituição da Republica Portuguesa

75 Artigo 81º alínea b) da Constituição da Republica Portuguesa

76

Artigo 81º alínea c) da Constituição da Republica Portuguesa

77 Artigo 81º alínea d) da Constituição da Republica Portuguesa

78 Artigo 74º nº 1, nº 2 alínea a) da Constituição da Republica Portuguesa

79 Artigo 66º nº 1, nº 2 da Constituição da Republica Portuguesa

80

Artigo 78º da Constituição da Republica Portuguesa

81

Artigo 90º da Constituição da Republica Portuguesa “Os planos de desenvolvimento económico e social têm por objectivo promover o crescimento económico, o desenvolvimento harmonioso e integrado de sectores e regiões, a justa repartição individual e regional do produto nacional, a coordenação da política económica com as políticas social, educativa e cultural, a defesa do mundo rural, a preservação do equilíbrio ecológico, a defesa do ambiente e qualidade de vida do povo português.”

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trabalhadores”83, e finalmente o da “participação politica dos cidadãos na vida e actividade politica nacional”84.

Na concepção da actual CRP, o Estado não é um aparelho com objectivos, nem tem o poder para seleccionar livremente, por vezes, discricionariamente, os seus objectivos, pois enquanto

Estado constitucional estará sempre submetido á CRP, de acordo com o artigo 3º nº 285 e

comprometido na realização e prossecução dos objectivos que lhe são atribuídos constitucionalmente, estando, portanto, vinculado quanto aos meios e quanto aos fins, pois há no texto constitucional uma sequencia programática, um grau crescente de densificação muito relativa no enunciar os grandes objectivos do Estado. Tais tarefas não são mais do que fins ou grandes metas a atingir pelo Estado, as incumbências conexas com as funções como actividades típicas como sejam, a actividade politica, legislativa, administrativa, jurisdicional entre outras, correspondem a especificações as tarefas ao serviço primordial de direitos e interesses a salvaguardar ou a promover.

Entre as tarefas fundamentais do Estado, uma delas é garantir direitos, liberdades e garantias fundamentais e na efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, e neste caso haverá que atender ao modo em como se encontram redigidas as alíneas b) e d): onde ao Estado cumpre “garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelo principio do Estado de direito democrático”, incumbindo-lhe “promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização as estruturas económicas e sociais”86

De entre as tarefas fundamentais do Estado, encontram-se o princípio do Estado de direito democrático para o qual remete a alínea b) do artigo 9º e que decorre expressamente do artigo 2º da CRP. O principio do Estado de direito democrático tem na garantia dos direitos fundamentais, em especial nos direitos, liberdades e garantias que directamente interessam aqui (liberdades fundamentais) como uma componente essencial, pois ao consignar esta tarefa

82 Artigo 58º nº 1, nº 2 da Constituição da Republica Portuguesa

83 Artigo 59º nº 1 da Constituição da Republica Portuguesa

84

Artigo 109º da Constituição da Republica Portuguesa

85 “O Estado subordina-se á Constituição e funda-se na legalidade democrática”.

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do Estado, a CRP torna claro que as liberdades fundamentais e o Estado de direito não implicam apenas o seu respeito pelo Estado, numa postura abstencionista de não ingerência, constituindo-se também um encargo do mesmo, no sentido de os garantir e de os fazer observar e cumprir por todos, não bastando ao Estado uma atitude passiva de sujeição ou de omissão, mas sim uma postura activa para fazer valer esses mesmos direitos e liberdades fundamentais enquanto elemento objectivo da Republica e de um Estado de direitos e liberdades.

Por fim, “o principio do Estado social para o qual remete a alínea d) do mesmo artigo 9º este decorre directa e expressamente dos artigos 1º e 2º da CRP, surgindo agora transformado em tarefa fundamental do Estado na concretização de várias tarefas especificas como sejam a titulo de exemplo, o aumento do bem-estar e da qualidade de vida do povo e dos cidadãos”87, a igualdade real entre os portugueses, na efectivação dos direitos fundamentais de caracter económico, social, cultural e ambiental, na transformação e modernização das estruturas económicas, no fundo, e resumindo, trata-se de realizar a democracia económica, social e

cultural a que alude o artigo 2º 88 da CRP enquanto princípio da protecção da confiança.