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2. A OCUPAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS DO ALTO SOLIMÕES: O CONTEXTO POLÍTICO E

2.1. OS POVOS INDÍGENAS DA REGIÃO

Atualmente os povos indígenas do Alto Solimões vivem em terras indígenas cujas áreas somadas perfazem 1.400.415 hectares13. A maioria delas já está demarcada,14 mas existe por parte das associações indígenas um novo movimento pleiteando tanto a criação como a ampliação de terras indígenas. Essa demanda decorre do tamanho diminuto e descontínuo da maioria dessas terras demarcadas no período ditatorial e pelo fortalecimento da identidade étnica de alguns povos da região. Há também um considerável número de famílias indígenas que moram nas sedes dos municípios da região para onde se deslocaram em busca de serviços de saúde e educação.

Figura 2 - Mapa do Alto Solimões (Amazonas) principais rios e distribuição dos povos indígenas Fonte: Melatti (2011)

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Os dados sobre a situação jurídica terras indígenas, localização, extensão e povos que nela habitam foram coletados no Sistema de Terras Indígenas da Fundação Nacional do Índio em 31/01/2011.

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O processo de criação de uma terra indígena passa diversas etapas iniciando com os estudos antropológicos, seguidos pela restrição, delimitação, declaração, homologação e finalmente a sua regularização.

Os Kokama vivem em Terras Indígenas que se estendem ao longo do rio Solimões, desde o município de Benjamim Constant, na fronteira com o Peru, até o de Tefé, já no médio Solimões. Algumas de suas terras são exclusivas, como Sapotal e Sururuá, somando 185.650 hectares; outras, como Barreira da Missão e Guanabara comportam também aldeias ticunas e/ou cambebas, num total de 54.158 hectares.

Os dados populacionais sobre os Kokama são bastante diversos: o Instituto Socioambiental (ISA)15 indica números que variam de 786 índios kokama em 2005 (segundo o Cimi)16 a 9.000 em 2003 (segundo CGTT)17; ainda no site do ISA consta a presença de 19.000 Kokama no Peru em 2003 (cf. Ramos), e mais 792 deles na Colômbia em 2004 (segundo Unesco). O governo do estado do Amazonas18 apresenta atualmente como sendo 1.227 os Kokama que habitam o alto Solimões, mais 222 no médio Solimões. Já os números da Fundação Nacional Saúde (Funasa) datados de julho de 2009 contabilizam entre os Kokama: 5.872 no Alto Solimões, 152 em Manaus e 1.278 no médio Solimões e afluentes, totalizando 8.304 pessoas19.

Essa confusão de números revela a situação dos Kokamas enquanto povo que se tornou quase invisível durante décadas, como resultado do processo de assimilação e aculturação empreendido pelas políticas indigenistas oficiais. A recuperação da identidade étnica ainda enfrenta desafios, porém não mais semelhantes ao relatado pelo professor e liderança kokama Francisco Samias que, numa viagem a Brasília para cobrar da Funai a definição de um território para seu povo, ouviu como resposta que os kokamas não existiam. Samias respondeu ao presidente do órgão indigenista que ele não estava vendo ou conversando com fantasmas. Entretanto, para convencerem o governo que existiam como povo indígena, levaram décadas lutando até terem suas pequenas parcelas de terra indígena demarcada, algumas delas encravada no também limitado território dos Ticuna20.

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<http://pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-geral> acessado em17/04/2010

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O Conselho Indigenista Missionário é um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

17 Conselho Geral da Tribo Ticuna, que na época administrava o Distrito Sanitário Indígena do Alto Solimões

conveniado à Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

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Fundação Estadual de Política Indigenista do Estado do Amazonas (FEPI), Portal Oficial do Governo do Estado do Amazonas, disponível em:<www.Fepi.am.gov.br>acessado em 16/04/2010.

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<http://sis.Funasa.gov.br/transparencia_publica/siasiweb/Layout/quantitativo_de_pessoas_2009.asp> acessado 17/04/2010.

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Entrevista concedida à autora durante a primeira etapa do Curso de Licenciatura para Professores Indígenas do Alto Solimões, em julho de 2006.

A língua kokama pertence à família Tupi-Guarani e tem sofrido intenso processo de perda do uso, principalmente entre os mais jovens. Suas aldeias, no Brasil, estendem-se por todo médio e alto rio Solimões, ou seja, desde Tefé até Benjamim Constant e Tabatinga já na fronteira com o Peru e Colômbia.

Peter Gow, em artigo publicado21 sobre a questão da identidade dos Kokama que vivem no

Peru, apresenta estudos de autores que reforçam o que ele designa como “processo de ocultação da identidade” vivido ao longo do tempo por esse povo indígena, e que se reflete

nos dados imprecisos dos censos. Gow acrescenta que haveria uma dificuldade dos Kokama em admitir abertamente sua identidade indígena, como decorrência do baixo status e ao risco que esta pode lhes trazer diante de uma sociedade altamente refratária aos povos indígenas. Gow considera, desse modo, que muitos indígenas hoje nomeados como

“ribeirinhos” sejam Kokama, o que dificulta a definição de seu número real. Os autores

Agüero22 e Regan23 citados por Gow afirmam:

Os Tupi-Cocama, por medo ou vergonha, não mais se consideram indígenas, mas sim „peruanos‟. Existe, sem dúvida, devido à sua experiência histórica de contato com os brancos/mestiços, considerada adversa e negativa, uma espécie de encobrimento de sua própria identidade. Por causa disso, tentaram acomodar-se ao modo de vida daqueles que chamam „os peruanos‟. (Agüero, 1994, citado por Gow, 2003, p.61).

Vestem-se como os outros, vão à escola, consideram-se gente de sangue misturado ou ribeirinhos, não falam sua língua diante de estranhos e, às vezes, mudam de sobrenome. Em geral, os Cocama tentam apresentar-se como os milhares de mestizos da Amazônia peruana que têm ancestrais indígenas, mas sofrem por causa de seus sobrenomes. (Regan, 1993, citado por Gow, 2003, p.62).

Peter Gow cita ainda que uma das formas de apresentarem-se à sociedade local como ribeirinhos ou simplesmente brasileiros ou peruanos é assumirem sobrenomes que assim os identifiquem em contraposição aos nomes caracteristicamente indígenas. Outra maneira seria apresentarem-se fisicamente o mais próximo possível dos “civilizados”, uma

indicação para sua crescente aceitabilidade. Conforme Gow (2003, p.70) “Os Cocama

tribais existiam no passado e são os ancestrais dos Cocama contemporâneos. Situada entre povo tribal e estrangeiros, essa gente de hoje não é nem uma coisa nem outra”. Gow

21

Peter Gow: “EX-COCAMA”: Identidades em Transformação na Amazônia Peruana. In: MANA: Estudos de Antropologia Social. Rio de Janeiro. Vol. 9 (1): 57-79, 2003.

22

Agüero, Oscar Alfredo. El Milênio em la Amazônia: Mito-Utopia Tupi-Cocama o la Subversión del Orden Simbólico. Lima/Quito, CAAAP/Abya Yala, p.70,1994.

23

considera que esse processo já estava em andamento em meados do século XIX quando Paul Marcoy24 observou que os Kokama que encontrara já não seguiam seus costumes e só conservavam a língua, bastante alterada pelo contato constante com brasileiros e peruanos. Gow relata que um século depois, os Kokama não aceitaram que o SIL (Sociedade Internacional de Lingüística) traduzisse a bíblia para sua língua indígena e efetivasse uma educação bilíngüe.

Segundo o autor, isso gerou uma situação estranha no Peru, pois, embora estivessem entre os mais numerosos grupos indígenas daquele país, os Kokama não tinham o status de indígenas reconhecido pelo SIL e pelo Estado peruano. Entretanto o autor não revela as intenções do SIL em usar a língua indígena como meio de conversão religiosa, sendo que para os Kokama a sua língua está fortemente associada aos rituais de cura, negados pelos missionários - lingüistas. Ao longo de sua análise, Gow não considera o enorme peso que as políticas integracionistas tiveram durante séculos e que só recentemente começou a se reverter.

Essa identificação como ribeirinho ou caboclo atribuída aos Kokama, ficou muito evidente quando solicitei a vista dos registros das escolas indígenas na Secretaria de Educação de Tabatinga e encontrei os das escolas ticunas, mas não os das escolas kokamas, pois estes estavam todos na pasta destinada às escolas rurais. É possível avaliar a negação da identidade indígena dos Kokama pela comparação com o que ocorre aos Ticuna: estes, mesmo tendo claramente marcada sua identidade étnica, em especial pelo uso da língua materna, quando moram nas cidades, deixam de ser contados como alunos indígenas. Os Kokama, que são predominantemente falantes da língua portuguesa, nem sequer são identificados, inicialmente, como indígenas.

Soma-se a isso o fato de que muitas das aldeias kokamas situam-se em áreas que ainda estão em processo de demarcação, o que lhes têm custado muitos problemas, especialmente no âmbito da educação, impedindo que suas escolas sejam consideradas indígenas. Os professores que nelas lecionam ainda são muitos deles, não-índios – o que acentua as dificuldades das crianças e jovens em assumirem e valorizarem sua identidade kokama.

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Recentemente, nota-se uma rearticulação dos Kokama de vários municípios da região através de uma associação bastante atuante que luta intensamente pela demarcação de suas terras, pela criação de escolas especificamente indígenas, pelo ensino da língua kokama, pela substituição de todos os professores que não sejam da etnia, assim como pela busca de alternativas econômicas que não signifiquem a inclusão de seus jovens na massa de trabalhadores subempregados nas cidades. Vários professores kokamas passaram a freqüentar os cursos promovidos pela OGPTB, e atualmente, usam a Proposta Curricular para as Escolas Ticunas como uma referência para a elaboração de seus projetos políticos pedagógicos. Esse forte e recente movimento dos Kokama tem propiciado a revisão de suas práticas pedagógicas e a adoção dos princípios da educação escolar indígena específica que antes lhes era negado.

Os Kaixana vivem na região do Alto Solimões, às margens dos rios Putumayo, Içá, Japurá, Tonantins e Mapari. A maior parte da população está concentrada nos municípios de Tonantins, Japurá e Santo Antonio do Içá e em menor grau nos municípios de São Paulo de Olivença, Amaturá e Tefé, este último delimitando o médio Solimões. Segundo informações do Instituto Socioambiental25, em 2006 a Funasa registrava a existência de 505 Kaixana vivendo na região de Tefé, Japurá e Tonantins. Os números da Fepi26 dão como sendo 347 os Kaixana no Alto Solimões mais 97 no médio. Entretanto os números da própria Funasa de 200927 consideram a presença do povo Kaixana apenas em Tonantins, no Alto Solimões, num total de 456 pessoas.

Nesse último município estão situadas as suas maiores aldeias em terras ainda em processo de demarcação. Possuem uma única terra indígena exclusiva com 157.416 hectares, e outra que dividem com os Kokama com 61.058 hectares. Em Tefé os Kaixana dividem com os Ticuna e Kokama a área da Terra Indígena Barreira da Missão, que está plenamente assegurada. Segundo a Funasa (2009) a língua atual dos Kaixana é o português, embora os

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<http://pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-geral> acessado em17/04/2010

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Fundação Estadual de Política Indigenista do Estado do Amazonas (Fepi), Portal Oficial do Governo do Estado do Amazonas, disponível em:<www.Fepi.am.gov.br>acessado em 15/01/09. Em 2009 a Fepi foi transformada em Secretaria Estadual para os Povos Indígenas (Seind).

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<http://sis.Funasa.gov.br/transparencia_publica/siasiweb/Layout/quantitativo_de_pessoas_2009.asp> acessado em 17/04/2010.

professores que freqüentam o Curso de Formação da OGPTB mencionem a existência de falantes da língua kaixana entre as pessoas idosas.

A participação dos professores kaixanas de Tonantins num curso regular e específico de formação só teve início em julho de 2002, a convite da OGPTB, face às dificuldades de dar seguimento aos estudos no próprio município, que só recentemente passou a reconhecer suas escolas como indígenas. A participação nesse curso, junto com colegas de outras etnias da região, reforçou a luta pela identidade, pelo ensino específico, pelos seus direitos como povo indígena.

No Brasil, assim como os Kaixana, as aldeias dos Witoto estão situadas em terras indígenas partilhadas com outros povos, tanto em Barreira da Missão (Tefé) como em Méria (Alvarães). Observa-se, portanto que os Witoto concentram-se no médio Solimões e aqueles que habitam a região do Alto Solimões (município de Amaturá) não possuem terra específica demarcada, vivendo principalmente nas cidades.

Não há dados precisos sobre o número de Witoto que vivem no Brasil oscilando entre 42 (Funasa 2008 e 2009), 5939 em 1988, e 2775 em 1998 segundo o ISA28, embora se saiba que são mais de 6000 na Colômbia e de 3000 no Peru. Tal disparidade de números revela muito do descaso com que esses indígenas são tratados no Brasil, onde são vistos como remanescentes de índios colombianos, já desaldeados e sem direitos enquanto povo. Por volta de 1910, este os Witoto ficaram conhecidos pelas denúncias internacionais sobre a enorme violência a que foram submetidos pela empresa de exploração de borracha dirigida pelo peruano Julio Arana e que levou os Witoto quase à extinção29.

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<http://pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-geral> acessado em17/04/2010.

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Sobre o tema consultar: TAUSSIG, Michael. Xamanismo, Colonialismo e o Homem Selvagem: um estudo sobre o

Figura 3 - Aldeias e localidades Cambebas – Século XX Fonte: Instituto Socioambiental

Grupo de origem Tupi supõe-se que os Cambeba, assim como os Kokama, tenham se originado do tronco Macro-Tupi e num período remoto se dirigido para as proximidades do rio Amazonas. Por volta de 1550 eram encontrados no Solimões entre a foz dos rios Purus e Coari e um século mais tarde já haviam se deslocado rio acima desde o rio Juruá até o rio Javari (Porro, 1992). Segundo os cronistas da época os Cambeba eram muito numerosos e guerreiros, porém o contato com os brancos fez decrescer a população vítima de epidemias e, principalmente, das lutas de resistência aos conquistadores.

Os dados fornecidos pela Ocas (Associação dos Cambeba do Alto Solimões), referentes ao ano 2002, estimam a população total dos Cambebas no território brasileiro em torno de 1.500 indivíduos. Naquela região, os Cambeba foram incorporados às terras demarcadas para os Ticuna, iniciando recentemente um processo de afirmação étnica articulado pela Ocas com apoio dos Cambeba do médio Solimões. O ISA aponta que em 2006 havia um

total de 347 indígenas dessa etnia e, em 2009 somavam 474, incluindo os que viviam em Manaus30.

Em Tefé os Cambeba ocupam a Terra Indígena Barreira da Missão juntamente com outros povos indígenas. Ainda na região do médio Solimões, habitam as Terras Indígenas de Jaquiri e Igarapé Grande nos municípios de Uarini e Alvarães, somando 3.358 hectares e plenamente regularizadas. No Alto Solimões, os Cambeba também são encontrados nos municípios de Amaturá, São Paulo de Olivença e Santo Antônio do Içá como uma minoria entre os indígenas e sem área específica.

Embora haja grandes diferenças numéricas, de organização social, expressão cultural e lingüística entre os povos que vivem na área que inclui o médio e o alto Solimões, o professor Mellati (2009)31 identifica também proximidades. Segundo ele:

Por outro lado, os quase quatro séculos de presença de europeus e seus descendentes nesta área, e as extinções, deslocamentos, imposição de novas crenças e atividades que provocaram, fez distintos grupos étnicos indígenas se aproximarem, como catecúmenos num mesmo aldeamento missionário, como escravos num mesmo núcleo urbano, como remeiros numa mesma expedição, como trabalhadores forçados e endividados num mesmo seringal, como soldados de um mesmo batalhão, como associados de uma mesma organização indígena. Grupos locais de distintas etnias vivem muito próximos e até estabelecem alianças matrimoniais. Nesta área etnográfica, tudo leva os membros de grupos étnicos distintos a se "entrosarem", para usar um termo caro aos indígenas de Tefé.

Os Ticuna constituem o povo indígena mais numeroso do Brasil, sendo que em 2003 sua população foi estimada em mais de 30 mil pessoas32, havendo ainda de 5.000 a 6.000 no Peru e 8.35033 na Colômbia. Os dados da Fepi34 indicam a presença de 794 no médio Solimões e 31.854 no Alto Solimões, sem especificar data. Os números da Funasa35 apontam para 34.674 vivendo no alto Solimões, 1.236 no médio Solimões e afluentes e 432 em Manaus, totalizando 36.359 indígenas ticunas no Brasil. Contagem realizada no

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<http://sis.Funasa.gov.br/transparencia_publica/siasiweb/Layout/quantitativo_de_pessoas_2009.asp> acessado 17/04/2010.

31

MELATTI, Júlio César. Página do Melatti. Disponível em: <http://www.unb.br/ics/dan/juliomelatti/> , acessado em 02/10/09.

32

Banco de Dados sobre os Povos Indígenas do Instituto Socioambiental.

33

GARCEZ, C. L. L. Ticunas brasileros, colombianos y peruanos: Etnicidad y nacionalidad en la región de fronteras del alto Amazonas/Solimões. Tese (Doutorado), Universidade de Brasília/CEPPC, 2000.

34

Fundação Estadual de Política Indigenista do Estado do Amazonas (Fepi), disponível em:<www.Fepi.am.gov.br>acessado em 15/01/2009. Atual Secretaria Estadual para os Povos Indígenas.

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http://sis.Funasa.gov.br/transparencia_publica/siasiweb/Layout/quantitativo_de_pessoas_2009.asp> acessado 17/04/2010.

segundo semestre de 2010 pela Funai/Coordenação Regional do Alto Solimões indica 62.681 ticunas nessa região incluindo os índios que habitam nas sedes dos municípios.

O território ticuna no Brasil é composto por 20 áreas com Regulamentação Concluída36, com um total de 1.291.045 hectares, duas áreas com declaração de posse permanente (86.333 ha.) e duas em processo de identificação37. Embora essas terras sejam descontínuas

e terem sido alvo da exploração econômica e de vigilância como “área de segurança nacional” por estarem na faixa de fronteira, os Ticuna conseguiram manter parte do seu

território, ao contrário dos Ticuna do Peru e da Colômbia que não conseguiram a titulação

de “resguardos” grandes, embora ocupem de fato toda a área fronteiriça.38

Figura 4 - Mapa das Terras Indígenas do Alto Solimões Fonte: Funai, 2011

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A Homologação pelo Presidente da República, seguida do registro em Cartório de Imóveis e no Serviço de Patrimônio da União constitui o último passo na sucessão de procedimentos legais que garantem o reconhecimento de uma Terra Indígena, conforme a legislação brasileira.

37

FUNAI/Diretoria de Assuntos Fundiários/Sistema de Terras Indígenas, janeiro de 2011.

38

Fonte: Evaluación del proyecto Ticuna, Maria Emilia Monte, PRAIA/FIDA/CAF, 2001.

Distribuídas ao longo do rio Solimões, nos seus afluentes e ilhas, existem atualmente nos municípios de Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá e Tonantins – sub-região do Alto Solimões, aproximadamente 135 comunidades que concentram 90% da população ticuna no Brasil. No médio Solimões também existem aldeias, em menor número, localizadas em terras dos municípios de Fonte Boa, Anamã e Beruri e, inclusive, uma grande concentração de Ticunas num bairro da cidade de Manaus. Na Colômbia os Ticuna habitam a região próxima aos rios Amazonas e Putumayo. No Peru estão localizados no Departamento de Loreto.

A língua Ticuna é considerada isolada, tendo como principal característica o uso de

diferentes alturas na voz, “apresenta complexidades em sua fonologia e em sua sintaxe”

Soares (2011), peculiaridade que a classifica entre as línguas tonais. As pesquisas linguísticas desenvolvidas junto aos Ticuna desde a década de 80 por Marília Facó Soares, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), têm resultado na produção de diversos livros, artigos e materiais didáticos que vêm sendo utilizados nos cursos que Soares ministra para formação em magistério e licenciatura indígenas39.

Soares (2011) observa que alguns povos que vivem na região - como os Kaixana e Kokama - sofreram intensas perdas linguísticas, o que não ocorre entre os Ticuna40. Estes, mesmo vivendo em cidades grandes como Manaus, frequentemente mantém a língua ticuna no trato cotidiano com a família e outros Ticunas que os visitam.

Nas aldeias que se encontram do lado brasileiro, o uso intensivo da língua Ticuna não chega a ser ameaçado pela proximidade de cidades (quando é o caso) ou mesmo pela convivência com falantes de outras línguas no interior da própria área Ticuna: nas aldeias, esses outros falantes são minoritários e acabam por se submeter à realidade Ticuna, razão pela qual, talvez, não representem uma ameaça do ponto de vista lingüístico. (Soares, 2011)

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Entre as inúmeras produções destaco: SOARES, M. L. C. F. O Supra-segmental em Tikuna e a Teoria Fonológica.