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Quicktime Janela de enquadramento cilindrico

No documento Reinventar a paisagem na era digital (páginas 156-160)

Fig

2003, montado em Leipzig. Como indica Haral Woeste, a partir de Rocky Nook (que aborda em profundidade a fotografia panorâmica digital numa publicação exclusiva sobre o tema), o êxito de Yadegar Assis

«(...) mostra-nos hoje uma sugestão do que era a magia das primeiras exibições de panoramas do séc. XVIII e do séc. XIX. Assis mostra uma ampla colagem que consiste em modelos 3D, fotos de detalhes, e fotos panorâmicas dos Himalayas em hon- ra do 50º aniversário da primeira escalada ao Monte Everest. Esta exposição de 36 metros de altura - juntamente com músi- ca atmosférica de fundo - produz a ilusão de que o observador estava no topo da montanha mais alta do mundo. O maior panorama do mundo permaneceu em exibição num contentor de gás adaptado, durante dois anos.”215

Muitos outros artistas, também exploram na atualidade, o modo de visualização do panorama, quer numa integração direta dessa linguagem nas suas obras, quer por referência indireta. Jorge L. Marzo, enumera alguns deles num estudo sobre o panora-

215 Cf. Woeste, H. A History of Panoramic Image Creation, http://www.graphics.com/article-old/history -panoramic-image-creation.

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 .47,48. Instalação de panorama do Monte Everest por Yadegar Assis (em formato rotunda num contentor de gás adaptado), Leipzig, 2003,2004.

ma: Edmund Kuppel, Marin Kasimir, Jeff Wall, David Hoffos, Maureen Connor, Mira Bernabeu ou Komar & Melamid216. Esta moldura de artistas contemporâneos de-

monstra bem o interesse renovado que o dispositivo do panorama constitui para a arte. Por sua vez, os panoramas atraem também as teorias da cultura e dos media. Segundo o autor, isso deve-se a uma “crescente necessidade de analisar as matrizes originais,

pelas quais se moldaram os padrões televisivos que usamos hoje em dia, e que estão em sintonia com o nosso horizonte imediato. O aparecimento da Realidade Virtual e da simulação por computador, praticamente omnipresente no entretenimento atual e na tecnologia de informação, conduz a uma análise do caráter “ilusionista” das técnicas e tecnologias de representação que nos são dadas (ou que nos atribuimos a nós próprios), e à importância do consenso social que foi gerado em torno delas.” O

autor considera por fim que “este tipo de pré-tecnologia moderna, representada pelo

panorama, supõe em parte o fundamento original sob o qual se construíram os atuais aparatos de visão e reprodução.”217

Este interesse recente pelo panorama é compreensível por parte de artistas con- temporâneos, mas igualmente pelos artistas dos novos media, ou os que recorrem às tecnologias digitais. Existe, provavelmente, a consciência de que o panorama do séc. XIX ocupa um lugar especial na trajetória que conduz aos media, como experiência global. Erkki Huhtamo, orienta também a sua reflexão nesta direção, sobretudo no contexto da sua análise histórica e estética dos panoramas em movimento, uma mo- dalidade menos considerada pela investigação, mas realmente precursora do mundo audiovisual dos nossos tempos. Como refere o autor acerca do panorama em sentido lato, apesar destes dispositivos do passado não estarem “ligados” em termos eletró- nicos,

“(...) possibilitava fazer algo que antecipava os media em rede do séc. XX: transportar a audiência “para além do horizonte”, dissolvendo a fronteira entre uma existência local e uma visão global de uma abrangência alargada. Sem obrigar o espetador a abandonar o seu ambiente familiar, o panorama “teleporta- va” o indivíduo para pontos-chave do mundo.”218

216 Cf.Marzo, J.L.The Panorama, http://www.soymenos.net/Panorama.pdf. 217 Ibidem, p.12.

Como o autor conclui, nem o panorama, nem o outro veículo que permitia “via- jar” por intermédio do olhar - o estereoscópio-, possibilitavam uma experiência em tempo real, como ocorre hoje com a televisão ou a internet. Este défice dos dispositi- vos do passado suscitou, no entanto, uma tentativa de compensação nos panoramas, através de um “incremento do sentido da presença, de uma quase-tangível qualidade

da imagem”219. Existiram realmente outras variantes do panorama, e se é verdade que

a representação espacial é determiante na ilusão criada pelo panorama, o panorama também desdobra uma extensão temporal através de uma construção cronológica do tempo. A dimensão temporal é particularmente evidente nas versões dos panoramas em movimento, mas é preciso ter presente que as primeiras panorâmicas em movi- mento consistiam, de facto, em simples pinturas: a ilusão do movimento (e conse- quente passagem do tempo) era feita, quer pela deslocação dos observadores, quer pelo desenrolar das pinturas.

Se os panoramas conheceram várias versões, devemos pelo menos fazer refe- rência a instalações com conceitos semelhantes como o diorama, que exibia sua- ves transposições entre imagens projetadas de paisagens, ou referir o cineorama, que constituiu uma adaptação mais sofisticado do conceito de panorama. Esta instalação de Grimoin-Sanson, que originalmente surgiu na exposição de Paris de 1900, combi- nava as pinturas de paisagens tradicionais dos panoramas com projetores de cinema (Fig.49 ). Esta construção deverá ter propocionado, na época, uma experiência signi- ficativa, permitindo uma visão de 360º, simulando, no interior de um edifício,cons- truído para o efeito, uma viagem de balão sobre Paris, através de uma sucessão de imagens. Este espetáculo era tornado possível com recurso a 10 projetores, situados por debaixo da plataforma que albergava os espetadores.

Por fim, diante dos diferentes formatos de panorama que acompanharam as ino- vações tecnológicas da fotografia e do cinema, é compreensível que apesar do reviva- lismo do panorama em algumas manifestações da arte atual, que continuam a recor- rer fundamentalmente a tecnologias tradicionais, na verdade o conceito do panorama voltou a ganhar outro sentido, precisamente com a arte digital. Bastaria nomear uma conhecida obra de Jeffrey Shaw, “Lugar - um manual de utilizador”, de 1995 (Fig.50).

dium of the 19th century, http://gebseng.com/media_archeology/reading_materials/Erkki_Huhtamo-Mo-

ving_Panorama.pdf, op.cit.p.2 219 Ibidem.

No arquivo de arte digital on-line, podemos encontrar uma descrição desta obra que, tal como é mencionado

“(...) dá continuidade á tradição da pintura de panoramas, da

fotografia e cinematografia no vetor de simulação e realidade virtual. O observador pode rodar interativamente a imagem projectada em torno de um écran circular e desta forma explo- rar um espaço virtual em 3D constituído por uma constelação emblemática de fotografias panorâmicas de paisagens.”220

O aparato tecnológico que permite experienciar esta instalação, coloca o espe utador no centro, sob uma plataforma móvel, de modo a contemplar à sua volta o écran circular, mediante um computador e uma câmara que funciona como interface, o espetador pode assim explorar a cena e as imagens de síntese digital através de zooms

220 Archive of Digital Art.https://www.digitalartarchive.at/database/general/work/place-a-useraposs-

-manual.html

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No documento Reinventar a paisagem na era digital (páginas 156-160)